Um Momento para Recordar escrita por HatsuneMiku


Capítulo 3
Cap. 3




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[28 de Junho de 1989] [Esconderijo]

—Fredri?... Fredri?... Acorde!- Uma mulher estava sentada do lado de Fredrick, que acordava confuso- Fredri, é seu aniversário! Parabéns!

Quando sua visão focou, ele viu uma mulher de cabelos longos e castanhos, soltos no seu rosto. Ela sorria com seu sorriso acolhedor e com seus olhos azuis brilhantes. Ainda estava escuro. Mas o céu negro começava a ficar azul-marinho.

—Mãe... ?- Ele disse, tocando no rosto dela.

—Fredri, por que está dormindo aqui fora?

Ele se sentou. Olhou ao redor e viu a cesta. E o cobertor. Ele pegou o cobertor e cheirou ele, logo depois caiu novamente para trás, anda cheirando o cobertor.

—Fredri?

Ele não queria parar de cheirar aquilo, era como se fosse uma droga, que ele estava viciado. O cheiro de Amy era tão bom que ele esqueceu que sua mãe estava ali. Esqueceu onde estava. Esqueceu de quem era. Esqueceu de tudo. Só estava lembrando do cheiro de Amy.

—FREDRI!

—Huh...- Sua mãe o fez voltar a realidade, junto com um sorriso, ele se sentou novamente e apoiou as mãos atrás de si- Bom dia, mãe.

—Fredri, você pode me explicar por que dormiu aqui fora?

—Não sei, senti sono e dormi. Apenas.

Ela olhou para ele. Queria saber o que se passava por dentro daquele sorriso lindo, satisfeito, feliz.

—Feliz aniversário.

—Obrigado...

—Está acordado?

—Não inteiro. Parece que ainda estou sonhando...

—Por quê?- Sua mãe sabia como arrancar dele respostas.

—Foi incrível ontem, digo, hoje de madrugada.

—Ainda é madrugada, Fredrick.

—Eu sei, só um pouco mais cedo. Eu estava com medo e confuso, não sabia o que fazer... Então...

Ele abriu um sorriso maior ainda. A mãe olhava curiosa, queria saber o que tinha acontecido.

—Então... ?- Ela tentou.

—Posso falar mais tarde?- Ele disse e depois bocejou e se espreguiçou, estava exausto- Preciso... Me arrumar para o café e agendar as reuniões que o pai vai ter, além de receber Alex, Lance, Charlotte, Bethannie, Brian e... – Ele abriu outro sorriso- Amy.

—Hum... Então está com o dia cheio não?

—Sim, senhora- Ele olhou para ela sorrindo.

Ela retribuiu o sorriso e se levantou.

—Então vá fazer essas coisas logo, Fredrick.

—Sim, senhora.

Ela foi andando até o mini túnel e passou, andando em direção á mansão. Fredrick se jogou para trás de novo. Ele estava mais que feliz. Bem mais. Mas precisa resolver coisas, ele então pegou a carta de Vómater do bolso e olhou para ela novamente, leu mais uma vez. Queria ajeitar tudo antes da festa. Não queria ficar com ar pesado lá.

—Vamos, Fredrick- Disse ele para si mesmo, depois se levantou devagar- Coragem, o dia não vai andar sozinho... Nem seu aniversário.

Ele pegou a cesta e deu mais uma olhada nela. Ele puxou o presente que estava embrulhado: Ainda não sabia o que era; ontem não abrira. E nem abriu agora. Colocou na cesta e pensou em abrir depois do café. Ele dobrou o cobertor, não ficou tão bom; Ele não era acostumado a dobrar nada. Então ele saiu do esconderijo, em direção a seu quarto.

Quando chegou lá, colocou a cesta do lado da cama e o cobertor em cima dela. Tirou a roupa e foi tomar um banho. A água estava fria, mas ele não se importou, foi até bom, deu uma relaxada. Alguém bateu na porta. Ele rapidamente pegou a toalha e desligou o chuveiro; abriu a porta.

—Sim?- Disse ele entre a pequena abertura da porta.

—Senhor Fredrick, recebemos uma carta para vós.

Do jeito que a pessoa falava, era um mordomo.

—Ãhn... sim, sim. Er... De quem?

—Não tem remetente, senhor.

Curioso. Quem lhe enviaria uma carta sem se mostrar?

—Me dê. Obrigado.

—De nada, feliz aniversário.

Fredrick fechou a porta e viu o envelope, realmente não tinha remetente, apenas destinatário. Ele abriu e tinha duas folhas, e mais uma coisa que ele não identificou. Ele deixou em cima da cama e decidiu voltar ao banho.

Depois que acabou se secou e se vestiu com uma roupa simples; Uma camiseta branca, uma calça e um paletó. Normal. Ele então se deitou na cama pegando a carta.

Ele pegou uma das folhas, estava escrito 2 na dobra dela, ele pegou a outra e estava escrito 1. Ele começou pela carta 1. Quando abriu, era escrito com máquina de escrever, deveria ser alguém rico, naquela época era difícil ter uma dessas.

Então ele começou a ler:

Olá, senhor Fredrick Robbins.

Espero que leia esta carta e reflita do mesmo jeito que eu reflito sobre ela. Não tenho intenções de prejudicar sua vida, mas tenho intenções de muda-la.

Como tenho certeza, hoje é seu aniversário. 13 anos não é para qualquer um. Que tal comemorarmos? Vamos nos encontrar na pizzaria da cidade, o que acha?

Desejo ser o mais franco possível: Eu vou mudar sua vida.

Eu vou mudar sua vida de um jeito que ninguém nunca mudou, talvez você sinta dor, talvez você sinta alivio. Só saberemos no momento. Já que hoje é seu aniversário, que tal mudarmos ela de um modo drástico?

Se você está seguindo meu raciocínio, ótimo.

Se você está confuso, não posso culpa-lo.

Ontem foi uma noite estressante para você, não é?

Espero mudar sua vida mesmo. Porque é o único motivo por eu estar aqui, do seu lado.

E era isso. A carta terminava desse jeito, sem remetente. Fredrick começou a se preocupar. Quem era essa pessoa? Como sabia da noite anterior? Como sabia que hoje era seu aniversário? Como sabia seu nome? Ele só havia contado para uma pessoa: Amy. Mas ela não sabia escrever, como escreveria aquilo? E se ela tivesse contado para Brian? Não, ele também não sabia escrever. Sua mãe talvez. Mas como ela mudaria sua vida, e por quê? Aquelas não pareciam palavras que ela falaria. Não mesmo. Então quem?

Ele decidiu ler a outra, que era escrita a mão.

Não tenho muito o que falar, estou sendo obrigado (a) a escrever isso, que fique claro.

Não quero prejudicar sua vida, apenas muda-la.

Não quero atrapalhar você, apenas muda-lo.

Ontem foi um dia ruim?

Pois saiba que você merece sofrer mais.

Pois saiba que você merece se aliviar mais.

Pois saiba que,

Pode melhorar.

Mas também pode piorar.

O que você acha?

O certo ou o errado.

Como chegamos a ser o que somos.

Fredrick, eu e a pessoa que está me obrigando a escrever vamos mudar sua vida.

Que fique claro.

Na saúde e na doença.

Na alegria e na tristeza.

Na vida e na morte.

—Até que nada nos separe.

                                                    *

Fredrick estava suando. Aquilo era uma ameaça? O que ele podia fazer? Então ele decidiu pegar a outra coisa que estava no envelope branco. Era uma rosa. Uma rosa vermelha. Tinha um bilhete nela. Escrito:

‘’Mudar sua vida!’’

Fredrick estava começando a ficar assustado. Ele olhou o envelope, para ver se tinha mais alguma coisa. Nada. Ele então pegou um pote que estava no banheiro e encheu de água, colocou a rosa e pôs sobre a escrivaninha, e saiu do quarto. Talvez ele só estivesse com fome. Era isso.

—Bom dia, Fredrick.

Era uma voz grave, quando ele olhou quem era viu seu pai, um homem alto, barbudo, com cabelos grisalhos. O olhar dele havia mudado, não estava tão severo quanto antes.

—Bom dia.

Ele se sentou no seu lugar. A mesa era longa. E estava com várias coisas em cima dela. Ovos, sucos, café, pão, manteiga, requeijão, amendoim, frutas, leite e tapioca.

—Bom dia, filho- Ele olhou e viu a mãe.

—Feliz aniversário- Disse seu pai, ainda concentrado no jornal.

—Valeu...

O homem abaixou o jornal e olhou para o rapaz.

—Valeu... ?

—Desculpe. Eu quis dizer obrigado.

—Sem problemas...

Então Fredrick percebeu. Havia duas cadeiras a mais na mesa.

—Estamos esperando alguém?- Ele perguntou.

—Na verdade sim, querido- Disse sua mãe. Com um sorriso estampado no rosto.

—Quem seria?

—Ninguém importante.

Então Fredrick voltou a olhar o prato vazio. Pegou uma tapioca e um café com adoçante, apenas. De repente perdeu toda a fome que sentia. Aquilo era anormal. Mas tudo bem.

—Licença.

Fredrick se levantou e ajeitou a cadeira. Sua mãe olhou confusa.

—Vai comer apenas isso?

—Estou sem fome no momento- Ele limpou a garganta- Pai, queria ter uma conversa com o senhor em particular.

Seu pai olhou para ele e seus olhos brilharam.

—Claro, me encontre no meu escritório as 7.

—Sim. É... Você!- Ele chamou a atenção de uma criada.

—Sim?

—Quero que você chame a madame Brice, para o meu quarto. Quero conversar com ela.

—Sim, senhor.

Madame Brice era a alfaiate de lá. Era boa, e em alguns dias atrás, Fredrick pediu para que ela fizesse um vestido. Ele não usaria, era para outra pessoa... Madame Brice era alta e muito magra. Tinha os cabelos negros, sempre em um impecável coque na cabeça, bem em cima. Ela geralmente usava preto, desde que perdeu o marido. Apesar de Fredrick não conhecer ela muito bem, sabia que era uma boa pessoa. Ela usava um óculos meia-lua e os seus olhos eram verdes. Muito verdes, vivos até demais. Era muito pálida. Ela fazia quase todas as roupas dos Robbins. Era espetacular.

Fredrick então subiu as escadas, lentamente. Ele queria parecer responsável para os pais; Mas na verdade, por dentro ele tinha desmoronado. Ele então, no alto da escada, olhou para o relógio. 6:24. Faltava apenas seis minutos para Brian e Amy chegarem, eles sempre chegavam nessa hora. Quando entrou no quarto se deparou com as cartas. Ele leu elas novamente. Tentando entender o sentido de tudo aquilo. Então ele guardou as cartas dentro da gaveta de sua escrivaninha, queria ter certeza que ninguém veria aquelas cartas até ele descobrir de quem era. Depois ele ouviu batidas na porta.

—Entre- Disse ele se ajeitando.

—Sr. Fredrick?- A voz suave de Madame Brice entrou em seu ouvido.

—Madame Brice, entre. Feche a porta. Vamos conversar.

—Claro- Ela obedeceu e ficou em pé. Como quase sempre, usava um vestido preto, não havia decote algum; Ia até o pescoço.

—Bom, a madame fez o vestido que pedi?

—Claro, mas a dama deve experimenta-lo, para poder ajustar.

—Sim, claro. Ela vai chegar daqui a pouco. As sete terei um encontro com meu pai. Mas a dama estará aqui, então mandarei uma criada pegar suas coisas e virem aqui.

—Aqui?- Perguntou ela olhando para o quarto.

—Sim, aqui- Ele esbouçou um sorriso maroto- A criada trará para você as coisas que precisa e a senhorita Amy Rodney.

—Amy Rodney...- Repetiu ela para lembrar do nome- Desculpe a pergunta, mas... Você gosta dela?

Um sorriso maior ainda se abriu no rosto dele.

—Não gosto. Mas amo ela muito.

—É claro. E... Oh, desculpe. Eu esqueci que hoje era seu aniversário. Parabéns.

—Claro, obrigado. Bom, pode voltar a seus afazeres, quando Srta. Rodney chegar, mandarei uma criada para você.

—Sim.

—Obrigado.

Ela saiu do quarto quase não contendo de empolgação. Quando ela saiu, Fredrick esperou um pouco para saber se ela não voltaria- e não voltou. Ele se jogou na cama de costas e pegou alguns papeis de seu criado mudo, e começou a lê-los. Eram apenas dizeres sobre a monarquia, hierarquia, as coisas que ele deveria saber, como se comportar e etc. Nada de importante na verdade.

Ele olhou para o relógio e se levantou, saiu do quarto e foi para o escritório do pai, onde ele se encontrava com o jornal.

—Desculpe entrar sem bater.

—Não tem problema, sente-se- Ele apontou para a cadeira na frente da escrivaninha.

Fredrick se sentou e olhou para ele.

—Temos assuntos a tratar, não é Fredrick Robbins?

—Com absoluta certeza, senhor. Mas antes quero que você leia a carta que Vóma... Desculpe. Que minha vó materna me enviou.

—Eu já li.

—Hum... Então já sabe do que se trata a carta?

—Sim.

—Bom, então, comece a falar.

—Claro, quero que saiba que o fiz com você durante todos esses anos foi porque estava descontrolado e...

—Bêbado.

—Exatamente. Não sabia como expressar meus sentimentos, e me incomodo de ver você e seus... Amigos. Principalmente quando você está com aquela garota... A...

—Amy?

—Sim, Amy. Eu me incomodo bastante por ver você junto com ela.

Fredrick então pensou um pouco.

—Por ?

—Quando eu tinha sua idade também me apaixonei, Fredrick. Mas meu pai nunca me deixar ficar junto com ela, dizia que era inapropriado, pois, eu não ficaria com ela no final das contas.

—E por que repete isso comigo?

—Porque você não pode ficar com ela.

Fredrick engoliu em seco. Como não podia?

—Como... assim?

—Fredrick, quando completar 17 anos, você vai herdar meu lugar. A prefeitura vai decidir com quem você tem que se casar. Geralmente você não faz ideia de quem é a moça. Mas se não fizer, será executado.

—Então, você não ama a mamãe?

—Não, e ela sabe disso. E eu também sei que ela também não me ama. Somos apenas... ‘’parceiros’’.

—Então... Ela sabe que você traí ela?

—Eu não traio ela, Fredrick. Veja bem, eu e ela concordamos em fingir que somos apenas amigos. E então ela sabe sim. Eu estou com garota que lhe falei mais cedo. A de quem eu realmente gosto.

—E ela não se incomoda?

—Não.

—Por que ela não faz o mesmo?

—Com quem ela ficaria? Pelo o que conheço, sua mãe nunca foi de ficar com homens... Entende?

—Não...

—Ela... Ela não se sente... Atraída por homens, compreende?

Então Fredrick entendeu. Por isso ela nunca se sentia incomodada quando Brian apertava os peitos dela. Por isso ela compreendia como conquistar uma mulher... Fredrick Robbins era filho de Elizabeth Robbins; Uma homossexual.

—Eu...

—Eu sei.

—Isso... Isso é verdade?

—Total. Jurei a mim mesmo que nunca mais iria mentir para você.

Fredrick ficou pensativo, o que ele poderia falar? Estava, além de confuso,, muito ruim. Sentia uma dor de cabeça horrível. Quando alguém bateu na porta.

—Entre- Falou Sr. Crarkson.

Era uma criada.

—Licença, não quero atrapalhar. Sr. Fredrick?

—Sim?

—Tem uma visita para o senhor.

—Obrigado. Avise que não vou demorar.

—Sim, senhor.

E então ela fechou a porta. Fredrick encarou o pai como nunca tinha encarado antes.

—Mais alguma coisa?- Perguntou Fredrick.

—Sim. Mas acho que sua visita é mais importante, depois do almoço nos falamos.

—Pai, depois do almoço tem minha festa.

—Então nos falamos quando você quiser.

—Justo.

—Até mais.

—Até.

Ele se levantou e fechou a porta, desceu até o andar de baixo e viu os visitantes no sofá; Brian, Alex, Lance, Charlotte e Bethannie. Mas nada de Amy.

Quando eles viram Fredrick começaram a pular ao redor dele, feito loucos.

Fredrick riu daquilo. Até perguntou para Brian:

—Briy, onde está Amy?

—Uma moça toda de preto aqui parecendo a Jesucreia passou e perguntou o nome dela, depois levou ela lá para cima. Se pegaram ela não sei, mas tudo bem.

Fredrick então pediu licença e subiu as escadas. Ele abriu a porta do quarto e Amy estava lá; Provando o vestido.

Ele sorriu.

—Fredrick, diga a essa mulher que você não encomendou nenhum vestido para mim!

—Mas eu não posso mentir- Disse ele com um sorriso maroto- Sinto muito.

Ela bufou.

Ele riu.

Então ele se sentou na cama e ficou observando atento. Ela parecia uma princesa. O vestido era até o joelho: Era amarelo, em cima justo. Amarelo claro em cima, e amarelo escuro embaixo. Uma fita vermelha de cetim no meio e a parte de baixo com um pouco de volume.

—Amy, vire um pouco.

A Madame Brice colocava um monte de alfinetes no vestido.

—Pronto, agora tire com cuidado. Amy obedeceu, mas, antes de tirar ela olhou para Fredrick. Ele ficou corado e foi para o banheiro, havia entendido que ela não queria ele olhando. Quando ela falou que ele podia voltar ela estava vestida com sua roupa normal, e eles estavam sozinhos no quarto.

—Então?- Perguntou ele ao sair do banheiro, com as mãos no bolso e um sorriso brincalhão no rosto.

—Quais são as consequências de matar o primogênito Robbins?

—Hum... Não sei ao certo, mas acho que pode chegar a pena de morte.

—Por que você fez isso?

—Porque eu quis. Tudo que eu faço agora tenho que ser questionado? Acabei de levar uma noticia que não tenho a menor ideia se é ruim ou super ruim.

Ela riu.

—E... Acho que você não quer falar sobre isso.

—Na verdade é totalmente ao contrário, confio em você. Muito.

—Então?

Ele sorriu um pouco mais e então apontou para a cama, enquanto ela sentava, ele trancava a porta.

—Por que o senhor está trancando a porta? Devo me preocupar?

—Na verdade é porque esse assunto é meio... Constrangedor... Acho.

—Então fale.

—Bem, tenho várias conversas. Escolha.

—A primeira- Disse ela sem saber ao certo qual era a primeira.

Ele andou até a escrivaninha e abriu a gaveta, pegou os envelopes e entregou a Amy.

—Fredrick, não sei ler- Disse ela, aflita pelo amigo sempre esquecer.

—Eu sei. Apenas observe.

Ela então abriu o envelope. Pegou as duas cartas e abriu.

—Tá... o que está escrito? Se não me engano, uma é feita com máquina, e a outra á mão. Acho.

—Está certíssima. Deixa que eu leio para você.

Ele leu a carta, ás vezes balançava a cabeça; mostrando que estava tão confuso quanto Amy.

—Quem enviou a você?- Ela perguntou.

—Não diz- Disse ele preocupado- Amy, acho que estou assustado. Não se o que fazer, será que essa pessoa vai me matar?

—Provavelmente.

—Obrigado por me reconfortar.

—Desculpe, Fredrick. Estou tentando entender por que você está mostrando isso para mim.

—Acho que você é a única pessoa que confio totalmente, não sei.

—Mas, em que eu posso te ajudar ? Fredrick, não sou a pessoa mais inteligente do mundo.

—Não é. Mas é inteligente o suficiente para entender que você é minha única esperança.

Ela então olhou para ele. Viu seus olhos azuis pedindo ajuda.

—O que você quer que eu faça, Fredrick?

—Escute.

—Está bem.

—Eu não sei quem escreveu. E acho que não é nenhum conhecido, conheço a letra de todos que conheço...

—Mas ele deixou claro que estava sendo obrigado a escrever.

—Exato. Então isso leva a conclusão que a pessoa é uma conhecida, mas sabe que eu conheço a letra... O que não faz sentido...

—Por quê?

—Se fosse um conhecido, não usaria essas palavras... Você e Brian não sabem escrever, Alex não sabe onde é a festa, nem Charlotte e Bethannie. Lance... não é o tipo dele... fazer isso.

—Concordo.

—Então, meu pai não escreve assim, e se pediu para alguém... Isso é improvável. Não sei, mas acho que... algo me diz que não foi meu pai. Minha mãe, nada a ver... Então, quem?

—Como quer que eu descubra?

—Não quero que descubra; quero que escute.

—Continue, então.

Fredrick começou a andar pelo quarto.

—Amy, hoje de manhã estive em uma conversa com meu pai. Para ajeitar as coisas entre nós, entende?

—Sim.

—Ele me deu informações... que eu nunca... nunca saberia sobre a carta de Vómater...

—Como por exemplo?

Ele parou de andar pelo quarto e encarou a garota, se sentou ao seu lado e pegou uma mão dela com as duas dele.

—Amy, prometa que não contará a ninguém.

Ela fez um gesto de zíper na boca e assentiu com a cabeça.

—Minha mãe... Minha mãe é...

Ela percebeu a preocupação e que ele estava começando a tremer.

—Fredrick, não importa o que você diga. Eu não vou ser ‘’menos’’ sua amiga.

Aquilo foi reconfortante para Fredrick.

—Minha mãe é homossexual, Amy.

Ela franziu a testa.

—Você é mesmo filho dela?- Ela perguntou.

—Claro. Óbvio que ela foi obrigada, mas é.

—E você conversou com ela?

—Não... ainda não...

—Acho que deveria conversar com ela primeiro então.

Ele olhou para os olhos dela, procurando mais respostas.

—Você... você acha?

—Claro, é dela que estamos falando. Não sei. Acho que isso seria...  legal.

Então Fredrick ficou frustrado. Legal? Como aquilo era legal?

—Amy, está dizendo que minha mãe ser de outro gênero é legal?

—Não, é que...

—Amy, não acredito que você está insinuando que minha mãe é... Estranha.

—Fredrick, eu não disse isso.

—Mas foi como se dissesse- Ele se levantou e andou um pouco, com as mãos na cintura- Preciso ficar sozinho.

—Claro- Ela colocou as cartas na cama e saiu. Mas antes que pudesse encostar a mão na trinca, Fredrick a interrompe.

—Amy.

—Sim?

—Você... Não conte a ninguém, não mencione a ninguém, se dizer a alguém eu...

Ela encarou ele. O que ele podia fazer? Mata-la?

—Você vai se arrepender. Não... Evite cruzar comigo hoje.

—Sim, claro. Juro não contar a ninguém.

E então ela saiu, fechando a porta atrás de si.

Fredrick então ficou olhando pela janela. Viu nada além de grama, quilômetros e quilômetros de grama. E apoiou as mãos na janela e suspirou. Estava muito confuso naquele momento. Ele não queria ver ninguém, conversar com ninguém, queria ficar sozinho. Para tentar colocar a cabeça em ordem. Mas, mesmo assim, alguém bateu na porta. Ele ignorou, não queria ninguém. Mesmo assim, a pessoa entrou no quarto.

—Huh... Fredrick. Achei que você não estava aqui. Sorry.

Ele se virou para ver quem era. Era Brian.

—Brian, quero ficar sozinho.

—Isso não vai ajudar a resolver os problemas...- Disse Brian enquanto fechava a porta- Vamos, Fredrick. Me conte o que está acontecendo. Eu fico sem graça assim...

—Sem... graça?

—Sim. Egua meu irmão! Você e a Amy estão cheio de segredos! Eu fico me sentindo excluído... Apesar de eu já saber parte deles...

Então Fredrick soltou a janela e se sentou na cama.

—Brian... A Amy te disse...

—Não, eu descobri sozinho.

—Como?

—É muito estranho que alguém que não seja parente beijar na bochecha para se despedir, e também é estranho uma pessoa sair de casa escondida. Já que ela estava com seu presente, tive certeza que ia te encontrar. Além que quando ela chegou em casa ficou calada. Só falava quando a gente puxava assunto, e mesmo assim... Também é estranho duas pessoas corarem quando a gente fala de beijo... Fredrick eu não sou idiota.

Fredrick então olhou para Brian. Um olhar de culpa.

—Desculpe... Eu... Não queria dizer para muitas pessoas...

—Mas deveria ter contado para mim que você e Amy estão... Namorando.

—Não estamos namorando. Apenas ficamos... Duas vezes...

—O QUE? Duas vezes? Caraca vei. Ce é loco.

Fredrick sorriu.

—Bom, mas isso é tudo. Ela ainda não disse o que sente por mim...

—Ué, então ela não sente nada, só está com vergonha de falar...

Fredrick olhou para o amigo. Brian estava com o dedo no lábio.

—Como...

—Fredrick, parece até que você não conhece minha irmã!

Então Fredrick pensou. Repassou mentalmente tudo que sabia sobre Amy, ela adora pizza, apesar de preferir doce. Ela adora mistérios, e gostaria de saber ler. Ela ama seus amigos, e as cores favoritas dela são amarelo e vermelho.  Realmente, ele não conhecia Amy. Não tinha a menor ideia de como ela se comportava em situações. E pensar que ele sabia tudo.

—Fredrick, minha irmã não é bem minha irmã, você sabe disso né?

—Como assim?

—Ele é adotada- Sussurrou Brian.

—Como?

—Adotada. Eu achei ela uma vez. Tava andando na cidade. Então eu vi a garotinha mais bonitinha que eu já tinha visto. Ela tinha cara de uns 4 anos. Eu perguntei para ela onde estava seus pais, porque ela estava sentada num papelão.

‘’Ela falou que não tinha pais. Aquilo doeu na minha alma. Eu perguntei se ela queria ter um pai. Ela falou que sim. Eu peguei ela no colo e levei para casa. Quando pai viu, quase teve um infarto. Nós limpamos ela e colocamos umas de minhas roupas. Foi divertido. Ela era muito animada. Apesar que uma calça minha cobria suas pernas inteiras. Eu ri bastante naquele dia. Ai ela transformou uma das minhas roupas em vestido. Eu fiquei com raiva mas gostei da ideia, já que ela não tinha nenhuma roupa’’

‘’Então toda roupa que eu ganhava de doação, nós dois transformamos em vestido. Ela me fez bem. Era uma das piores fases da minha vida. Então, como não sabíamos seu aniversário, colocamos o dia que eu achei ela; 8 de Abril’’

Fredrick não podia acreditar. Ele realmente não sabia nada sobre ela.

—Eu... Sou um péssimo amigo...

—Não, não é. Apenas não sabe de nada- Disse Brian com as mão levantadas- Eu posso te ajudar nisso, se quiser.

—Claro que eu quero. Mas antes... Pode chamar ela para mim?

Ele assentiu e foi pela escada. Depois de um tempo pequeno lá estava Amy, na porta.

—Chamou?

Ele deu tapinhas na cama, do seu lado. E pediu para fechar a porta. Ela fez.

—Sim?

—Amy... Tem muita coisa que eu não sei sobre você. Mas uma coisa que eu sei, é que você é a melhor pessoa que alguém gostaria de ter ao lado. Como amiga, esposa, mãe, tia, como qualquer coisa. Você... é incrível.

Depois de dizer isso, ele deu um abraço nela, ela sentiu sua manga molhando.

—Fredrick...

Ela abraçou ele de volta.

—Bom, acho que você tem mais alguém para conversar...- Disse ela abrindo um sorriso, depois ele a largou.

—Tenho, valeu por tudo, o.k. ?

—Claro.

—Bom, volte lá para aquele bando de sem nada para fazer. Preciso falar com minha mãe.

Ela assentiu com a cabeça e foi embora. Ele olhou para as cartas. Colocou elas no bolso e foi até a porta. Antes de bater, ele ouviu uma mulher chorando, abriu imediatamente e viu a mãe chorando no colo do pai.

—Mãe... ?

Eles olharam para Fredrick. Ela num pulo, abraçou ele, que abraçou de volta.

—O que está acontecendo?

—Fredrick, vou deixar você e sua mãe a sós.

O pai saiu. E fechou a porta.

—Mãe... o que tá acontecendo?

Ela mostrou um papel, era uma carta, escrita a mão. Ele nunca vira essa letra antes, se sentou na cama e viu o que era:

Querida Elizabeth.

Quem está escrevendo está carta nada menos que a dama de companhia de sua, amada, mãe.

Estou aqui para dizer que na madrugada desse sábado, ela teve um infarto, e morreu.

Eu sinto muito.

Ela estava dormindo quando houve o ocorrido.

Fomos para o hospital o mais rápido que pudemos, mas, ela morreu antes de chegarmos lá.

Sua mãe, uma mulher de idade, separou os bens dois anos antes, já pensando em sua morte.

Fredrick ficará com o dinheiro, de valor alto.

Você ficará com uma parte da mobília e as joias.

E seu marido, ficará com a mobília e outros assuntos, que ela já tratou com ele, na última visita dele.

Desejo a você um bom dia, e feliz aniversário para Fredrick.

                Elize.

Que belo aniversário Fredrick estava tendo. Mãe agora virou órfã.

—Mãe, eu sinto muito...

—Não, Fredrick, a culpa não é sua.

—Mas...

—Shh... Fredrick ás vezes perdemos as pessoas mais importantes da nossa vida. Mas temos que lembrar em ser positivos. Elas passaram a vida cuidando de nós, e queremos cuidar delas também... Mas nunca conseguimos... Sua avó foi uma mulher incrível... Nunca me julgou, mesmo sabendo de assuntos...

Fredrick percebeu que era sobre sua mãe ser homossexual.

—Mãe... não precisa mais esconder, eu já sei- Ele disse com um sorriso no rosto.

—O que?

—Sobre seu... gênero.

Ela arregalou os olhos.

—Você, sabe?

—Papai me disse hoje de manhã.

—Fredrick, sinto muito nunca ter te contado, eu só...

—Tudo bem, deve ser assustador.

—Na verdade é bom- Ela abriu um sorriso- Não sei ao certo. É como se ser diferente é bom.

—Entendo...

—Bom, vejo que você tem alguns papeis no bolso.

—Ãhn... nada de importante... Não quero preocupa-la.

Ela olhou para ele com um sorriso e se sentou ao seu lado.

—Fredri, você é um ótimo amigo, filho e depois um ótimo marido, pai... vô, bisavô... Entende?

—Sim...

—13 Anos é o começo da sua vida ainda- Disse ela apontando para o espaço- Você vai ter uma vida pela frente, uma ótima vida.

—Espero.

—Acho que seus amigos vão ficar com raiva, é melhor você voltar.

—Mas a vovó...

—Já superei- Disse ela com um sorriso no rosto- Eu ainda acho que ela vai chegar aqui e criticar tudo que faço.

Eles riram, era exatamente o que ela fazia.

—Então vou indo, você está bem mesmo?

—Claro, nunca estive melhor.

—Então...

Ele saiu e desceu a escada. Lá estavam seus amigos. Amy estava no ombro de Alex. Bethannie estava no ombro de Brian e Charlotte em cima do ombro de Lance. Eles haviam feito um chão de travesseiros. Estavam brincando de briga de galo. Eles não paravam de rir. Até que Amy caiu para trás junto com Alex. Ela caiu em cima dele, os dois se olharam e começaram a rir sem parar. Ficou entre Charlotte e Bethannie, até que Brian chamou Charlotte, que se distraiu e eles venceram. Brian e Bethannie ficaram dançando. Amy e Alex não pararam de rir. Charlotte e Lance estavam vendo se os dois estavam bem, ainda rindo. E Brian e Bethannie estavam fazendo uma dancinha. Fredrick, quando se aproximou apenas Charlotte e Lance lhe deram ‘’oi’’. Brian e Bethannie gritando: VENCEMOS! Amy e Alex estavam rindo e sussurrando algo um para o outro, o que fazia eles riram mais ainda.

—Do que estavam brincando?

Todos olharam para ele.

—Querra de galo, e eu venci!- Disse Brian.

—Legal...

Ele ficou olhando Amy e Alex, pareciam achar que estavam sozinhos, não paravam de rir e sussurrar coisas um pro outro.

Brian percebeu e puxou Fredrick pela gola do paletó até a debaixo da mesa.

—Oun, me larga!

—Shh.

Eles foram para debaixo mesa.

—Você tá com ciuminhuuuu!- Falou Brian enquanto cutuca Fredrick.

—Claro que não! Dá onde você tirou isso?- Fredrick rebateu tirando a mão de Brian, corado.

—Fala sério, olha como você fica olhando Amy e Alex, não se esqueça que vai ter jogo da garrafa hoje!

—Como eu vou esquecer se você fica falando a cada dois minutos?!

—Hehe... Ei, é verdade que sua mãe é lesbica?

—Como você sabe?

—Fala sério cara, ela nunca se sente atraída por mim, o que você acha?

—Por que será...

—E outra, a última vez que entrei no quarto dela tinha certas revistas debaixo dos papeis dela...

—O QUE?!

—Pois é.

Fredrick ficou boquiaberto, como não notou?

—Bem, eu preciso ir. Falou- Brian falou e depois saiu debaixo da mesa.

Fredrick também saiu e foi direto para a sala.

—Fredrick que horas vamos à pizzaria?- Perguntou Bethannie.

—Daqui a pouco, deixa eu me arrumar.

—O.k.

Ele subiu as escadas e foi para o quarto, como ele iria almoçar na pizzaria, decidiu abrir logo o presente de Amy.

Era um agasalho, era bege amarronzado, tinha uma cara de urso em um lado. Ele decidiu usar, colocou um short e uma blusa branca, colocou o casaco e calçou tênis. Queria parecer menos Robbins possível. Madame Brice havia deixado o vestido de Amy em cima da cama dele, ele pegou e levou até ela.

—Fred! É o...

—Seu casaco, pois é, foi você que fez não?

Ela assentiu com a cabeça, orgulhosa.

—Toma, minha vez de te dar um presente.

Ela pegou o vestido e olhou ele.

—Não posso aceitar.

—Estou mandando você usar, Srta. Rodney.

Ela corou.

—Sim, Sr. Robbins.

—Hoje sou apenas... Fredrick. Nada de Robbins.

—Esse é o motivo das roupas?

—Sim, quero parecer um adolescente normal. Que está comemorando 13 anos de vida.

Ela riu e foi ao banheiro.

—Ei, cara!

Fredrick se virou e viu Brian, seguido de Alex, Lance, Charlotte e Bethannie.

Fredrick colocou as mãos no bolso e sorriu.

—Vamos?

Logo depois Amy apareceu com o vestido, correu até Alex e sussurrou algo que o fez rir. Ele pegou na mão dela sussurrando algo, ela assentiu e pegou a mão dele também, Fredrick prometeu a ele mesmo que iria ignorar.

—Então- Falou Brian,- Tô morrendo de fome, ôôô aniversariante.

Todos concordaram.

—Deixa eu chamar o motorista...- Falou Fredrick indo para fora, mas ele bateu em alguém.

—Desculpe, Sr. Robbins.

Ele viu o motorista.

—Por favor, por hoje é Fredrick.

—Sim, Fredrick- O motorista sorriu e apontou para o carro. Todos entraram e eles foram até a pizzaria, tirando Brian e Alex irritando Bethannie dizendo que o laço dela parecia uma borboleta morta que tinha sido queimada com uma tesoura, a viajem foi de gargalhadas e conversas.


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