Violetta - O Recomeço escrita por Clarinesinha


Capítulo 32
Capítulo 15 - E Agora!!! (continuação)




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Ao fim de um tempo Chica e Frederico descem com as 4 malas e um saco, Frederico logo se apercebe que nem Luzia, nem Luí­s conseguiram falar com Gérmen ou com Leon. E naquele momento também ele estava a ficar algo nervoso, ao fim ao cabo os sacrifí­cios que todos eles fizeram ao longo daquele tempo estava prestes a acabar.

— Eu não quero ser desmancha prazeres, mas temos que decidir o que fazer...aquele senhor deve estar para aí­ a chegar, e...

— O Frederico tem razão, o José deve estar aí­ a bater-nos à porta. Nós não podemos deixar que ele leve a Clara...não podemos...- diz uma Rosário aflita.

— Calma. Luí­s e Frederico coloquem as malas no carro, mãe põe a Clara na cadeira do carro, nós vamos sair daqui. Se alguém perguntar nós estamos no hospital, até para os miúdos. Vamos, não temos tempo a perder...

Assim todos fazem o que Luzia diz, enquanto Luí­s conduz sem saber para onde a esposa liga para a única pessoa que poderá ajuda-la, aquele que sempre considerou como um pai, Jorge Castro ou como é mais conhecido Professor Castro.

"— Estou...preciso de ir para casa."

"— Conseguiram?"

"— Não, mas preciso ir para lá...pela Clara."

"— Sabes que aquela sempre foi tua casa...eu vou dizer à Dália que estás a caminho."

"— Obrigado, não vamos poder ir aí­ tão cedo."

"— Não te preocupes...eu trato disso, assim que as coisas estiverem mais calmas aviso a Dália..."

Assim que desliga, coloca as coordenadas no GPS e olhando para Luís apenas lhe dá um olhar de quem diz "Confia em mim". Apesar de não saber para onde estava a ir, este acreditava que a sua esposa sabia perfeitamente o que estava a fazer. Depois daquela chamada algo misteriosa, Luzia marca um novo numero...

"- Gérmen..."

"- Luzia...estamos a caminho..."

"- Não...não vás para casa."

"- O que se passa Luzia? Passa-se alguma coisa com Clara?"

"— Não, volta para trás...o teu pai apareceu no hospital deve estar a caminho lá de casa."

"— Luzia...e a Clara eu não posso..."

"— Clara está comigo. Vai para o hospital, já te vou buscar..."

"— Para o hospital, Luzia é o primeiro lugar que o meu pai vai procurar."

"— Não ele já lá esteve. Entra pela entrada das descargas, vai lá estar alguém para vos ajudar a esconder até eu lá chegar."

"— Luzia..."

"Gérmen não discutas e faz o que te digo."

Assim que desligou, enviou uma mensagem e depressa se apercebeu que já chegara ao portão...passou um papel para Luís, que logo percebeu que era um código. Assim que o digitou, o grande portão de ferro abriu. Quando este se fechou, aproximaram-se cerca de quatro homens, cada um com um cão, Dobermanns...Luís não sabia de quem tinha mais medo se dos homens se dos cães. Assim que viram quem estava no carro...

— Boa Tarde Senhora Luzia, pode entrar. O Doutor já lhe deu livre acesso à casa, basta digitar o seu código.

— Obrigado, O meu carro está pronto? E Dália está em casa?

— O carro está pronto...e Dália já tem tudo pronto.- Luzia faz um leve aceno com a cabeça, e vira-se para Luís.

— Segue por esta estrada. Ao chegar insere este código...- e dá-lhe outro papel...- Assim que a porta se abrir dás este papel à senhora que te receber. Eu vou buscar o Gérmen, o Leon e a Violetta.

— Luzia...de quem é esta casa? Porquê toda esta segurança?

— Quando eu voltar nós falamos...por favor, eu tenho que ir buscar o Gérmen.- e virando costas corre até ao carro, que apenas agora Luís repara, e com toda a velocidade dá partida até ao hospital.

Luí­s olha para Frederico, que está tão ou mais confuso que ele, e decide dar partida ao carro seguindo por onde Luzia lhe indica. O caminho é estreito e bastante sombrio, e quanto mais andavam, mais intimidados ficavam. Ao fim de que eles pensaram que demorou uma vida, viram uma grande mansão daquelas que apenas se viam nos filmes: alta, de tijoleira, com heras a trepar pelas paredes. Saí­ram os dois do carro, Frederico com Clara ao colo...foram até à porta, olharam-se e Luís digitou o código que Luzia lhe dera, mantendo sempre Frederico e Clara atrás de si, como que querendo protege-los do que estaria atrás daquela porta. Assim que a porta abriu, à sua frente apareceu uma mulher roliça e com um grande sorriso na sua cara...Clara que até ali estava toda encolhida no colo de Frederico ao olhar para aquela mulher por entre as costas de Luí­s...

— "Oga", "Oga"... Frederico que até então não a tinha visto por estar mais focado em proteger Clara, olha para aquela mulher e fica surpreendido com o que vê à sua frente.

— Boa Tarde, olá princesa...eu não sou a Olga...- e fazendo um sinal para dois rapazes que se encontravam junto dela...- O meu nome é Dália, sou irmã da Olga. Trabalho para o Professor há tantos anos como a minha irmã trabalha para a famí­lia Castillo. Mas entrem, por favor.

— Eu...eu não sabia que a Olga tinha uma irmã, ela nunca...- diz Frederico algo surpreendido.

— Venham, tenho uma refeição leve preparada para vocês, assim que Luzia chegar, ela explica-vos tudo.

Enquanto Luís, Frederico e Clara são mimados por Dália, Luzia segue até ao hospital junto de um dos seguranças da casa do Professor Castro, ela sabe que é uma questão de tempo para que a polícia volte a cercar o mesmo, assim que perceberem que Gérmen não voltará para casa de Mercedes, iram colocar quer a casa de sua tia quer o hospital sob vigilância.

— Entra pela entrada das descargas como sempre.- diz Luzia para o homem que está a conduzir o carro.

— Sim senhora.- diz o homem...- Ali está o Professor...- o carro para e Luzia sai indo em direcção àquele que sempre considerou um pai.

— Dália já me ligou, eles já estão instalados. Aqui está o novo código, este não deves dar a ninguém, apenas tu, Dália e Igor o devem saber.

— Ok. Onde eles estão? Temos que ir rápido, eles podem enviar polícias para aqui a qualquer momento para vigiar todas as entradas e saí­das.

— Eu vou chamá-los...- o Professor Castro sai até um depósito, abre a porta e de lá saem Gérmen, Leon e Violetta.

— Luzia, podes me explicar o que está a acontecer? Onde está Clara?

— Calma, eu conto-vos assim que estivermos em segurança, agora temos que sair daqui. Vamos...- e virando-se para o Professor...- Obrigado por tudo.

— Sabes que podes contar sempre comigo, tu és alguém muito importante para mim...e para elas também.

— Eu sei. Quando chegar e depois de dar algumas explicações eu vou vê-las...tenho saudades, há muito tempo que não as vejo.

E depois de se despedirem, entram todos no carro: Luzia à frente junto de Igor, o segurança que conduzia o carro, e os outros três atrás, sem saber o que se passava, sem saber se estariam a salvo ou em mais perigo. Gérmen tentava mostrar-se calmo perante uma Violetta ansiosa e um Leon preocupado, não sabia para onde estavam a ir e não tinha a certeza se deveria fazer alguma pergunta, contudo, a curiosidade é muito maior.

— Luzia, podes dizer-me para onde estamos a ir? Que relação tens com o Professor Castro? Onde está a Clara, onde está a minha filha?

— Calma, a Clara ficou com o Luís e com o Frederico. Quanto ao resto conto-vos assim que lá chegámos.

— Luzia...- esta vira-se para trás e sorri-lhe...- Tens a certeza que a Clarinha está bem?

— Sim tenho, eles estão em segurança...- e de súbito o carro para perante aquele enorme portão de ferro...- Podes Igor...- e o motorista que Gérmen agora sabia que se chamava Igor digitou um conjunto de números abrindo de imediato o portão. Assim que entram, têm a mesma recepção que Luís e Frederico tiveram, cães e seguranças à volta do carro.- Está tudo bem somos só nós...

— Dona Luzia, os outros visitantes já estão instalados.

— Obrigado. Igor vamos...- e o carro segue pela mesma estrada estreita e sombria até chegar à mesma mansão de tijoleira com Hera a subir pelas paredes.- Chegámos, vamos.

— Tia, mas e as nossas roupas?- pergunta Violetta.

— A Chica e o Frederico trataram disso antes de sairmos de casa da Tia Mercedes. Mas qualquer coisa podem pedir à Dália.

— Dália? Quem é a Dália?-pergunta Leon, enquanto Luzia digita de novo algum tipo de código e a porta se abre...

— Olga!- dizem os três ao mesmo tempo...

— Dália.- diz a senhora que olha para aqueles três com doçura...- a Olga é minha irmã.

— A Olga tem uma irmã?- pergunta Gérmen...- Nunca soube, bem na verdade ela nunca...

— Papá..."Bilu"...- e uma Clara muito feliz corre até Gérmen.

— Clarita...estás bem. Luzia podes contar-nos afinal onde estamos?- pergunta Gérmen ao lado de um Luís também bastante confuso.

— Tudo bem, vamos para a sala. Eu vou contar-vos tudo...Dália como é que ela está?

— Hoje estamos num dia bom. Ela está no quarto a descansar, assim que ela acordar eu aviso-te.

— Obrigado, bom vamos?- E assim que todos se sentam Luzia tenta começar a contar toda a história, daquela casa e dos seus habitantes, contudo...

— Podes contar logo o que se está a passar...eu pensava que sabia quem eras, mas...- diz Luís de uma forma algo brusca, mas que Luzia não leva a mal, afinal é uma parte da sua vida que nunca contara a ninguém, nem a sua mãe sabia, pois era a única forma de assegurar a segurança de Pilar e de Beatriz.

— Se não me interromperem eu conto-vos tudo...mas sem interrupções. Sei que tudo isto é estranho, mas quando acabar de vos contar vocês iam perceber que foi necessário. Eu cresci sempre em casa da Tia Mercedes, pensando que ela era minha mãe. E por sua vez que a minha mãe, a nossa mãe, era a minha tia...- e nessa altura olhou para Gérmen...- Ela não era uma presença muito assí­dua nos primeiro anos, mas quando estava connosco recompensava todo o tempo que não estava, e eu amava-a como todas as meninas amariam a tia que sempre lhe fazia as vontades todas. Sempre achei que ela queria recompensar-me por alguma coisa, mas nunca percebi exactamente o quê, pois para mim ela tinha a sua família na Argentina e claro que não podia viver comigo em Espanha. Vivi assim até aos 10 anos, até ao dia que cheguei a casa e ouvi alguém a discutir no escritório.

"- Tu não tens esse direito, não tens José...

— Tu nunca me devias ter enganado, eu mandei-te tirar esta coisa...

— É minha filha...minha e do amor da minha vida. Eu nunca devia tê-la deixado, eu devia ter...

— Filha daquele traidor, daquele...tu vens agora comigo para Buenos Aires e a tua irmã que cuide desta coisa.

— Não. Chega, o Gérmen já não precisa de mim. Ele está casado à espera do primeiro filho. Agora vou tratar da minha filha, daquela que abandonei por tua causa...

— Eu nunca te disse que a abandonasses...

— Não tu foste mais baixo...tu pediste para eu a tirar..."

— Eu queria continuar ali, mas tudo o que tinha ouvido era suficientemente horrí­vel, não pensei muito e saí­ de casa. Com apenas 10 anos eu não sabia para onde ir e a única pessoa de quem me lembrei foi da minha melhor amiga: Pilar Castro. E assim quando dei por mim estava à porta de casa da minha amiga, com um taxista à espera de ser pago. Assim que abriram a porta, apareceu-me uma senhora de aspecto doce e um sorriso aberto, o taxista contou-lhe por alto a mentira que eu inventei para que ele me levasse até ali, Dália pediu-lhe desculpa, pagou-lhe e levou-me para a cozinha. Assim que lá cheguei vi Pilar, corri para ela e desabei, toda a minha vida tinha sido uma mentira e eu não sabia o que fazer. Como é que uma miúda de 10 anos poderia reagir depois de saber que afinal a mãe era a tia e a tia era a mãe...a minha cabeça estava uma confusão. Depois de me acalmar, a Dália levou-nos até ao pai de Pilar: o Doutor Jorge Castro.

— Tu conhecias o Professor? Tu conhecias o Professor durantes todos estes anos?

— Sim. O Professor foi como um pai para mim, ao longo de todos estes anos ele sempre esteve ao meu lado. Lembras-te como hesitei em me envolver contigo?

— Sim...levei meses para te convencer a tomar um café na cantina do hospital, e outros tantos para um jantar.

— Eu sempre tive medo...medo de sofrer o que a minha mãe sofreu. E tu tinhas uma história, tinhas uma filha...e o meu medo era mais forte...

— E o Professor...

— O Jorge ajudou-me, ele fez-me ver que todas as histórias são diferentes, e se não arriscamos nunca podemos saber se vai resultar ou não...e depois tu tinhas um trunfo...vamos dizer que antes de teres apostado já tinhas o jogo ganho logo à partida.

— Um trunfo? Não estou a perceber...

— Sim, um trunfo, um talismã...tu tinhas a Tati. Eu apaixonei-me por aquela sapeca desde o primeiro dia que a vi...- e entreolham-se completamente apaixonados.

— Luzia, mas eu ainda não percebi uma coisa: se esta casa é do Professor, porque é que tem tanta segurança?- e neste momento uma menina com cerca de 10 anos, linda de olhos azuis, cabelo castanho entra na sala...

— Tia Luzia...estava com tantas saudades. Hoje é um dia bom e já estive a fazer desenhos com...

— Princesa...que saudades. A Dália já me contou- diz Luzia, abrindo os seus braços e abraçando a menina...- Esta menina é a razão da segurança...esta é a Bia, filha da Pilar.

— Eu nem sabia que o Professor tinha uma filha, quanto mais uma neta.- diz Luí­s completamente atónito com tudo o que estava a acontecer.

— Tia, onde está a tua amiga? Ela...- e antes mesmo de Vilu acabar a frase...

— A Pilar está lá em cima...mas antes...- e virando-se para a pequena Bia...- Princesa porque não vais com a Dália até à cozinha e fazem aquelas bolachas maravilhosas para o nosso lanche?

— Vou fazer para a mamã também...- e corre em direcção a Dália.

— Dália leva a Clarinha também, acho que se vai divertir mais na cozinha do que aqui.

— Sim Menina, vamos Princesas...- e assim que saem as três, Luzia retoma a história...

— Os anos passaram e eu e a Pilar tornámo-nos muito mais que amigas eramos como irmãs, eu sabia que tinha irmãos, e a mãe sempre me dizia que um dia eu vos conhecia, mas esse dia nunca chegava, então eu desisti  de perguntar ou mesmo de o desejar. A Pilar adoptou-me como irmã e eu adoptei-a também. O Professor acabou por ser a figura paterna na minha vida, sem a mãe saber. Quer eu quer a Pilar sonhávamos em ser médicas, eu queria seguir Ginecologia e ela Pediatria, fizemos a faculdade juntas até que Pilar se enamorou por um médico do Hospital onde fizemos o estágio. Nunca fui com a cara dele, porém Pilar estava tão apaixonada, conhecem aquela frase "O Amor é fogo que arde sem se ver" , bem o amor queima-nos mesmo...eles envolveram-se a tal ponto que ela fugiu com ele. O Jorge ficou de rastos, colocou os melhores detectives à procura dos dois, mas nunca conseguia nada. Até que um dia, passado uns dois anos, descobrimos que ela estava "presa", ou se quiserem feita prisioneira numa mansão em Algeciras. O tal médico era de origem árabe, seguindo os costumes rígidos, para além de ser uma pessoa bastante, vamos dizer possessiva. Conseguimos depois de muito esforço tirar a Pilar daquela casa e trouxemo-la para esta casa que foi comprada não em nome do Professor, nem em nome da Pilar e sim em nome da Dália. Foi a forma que encontrámos de as esconder sem que houvesse qualquer registo em nome dos Castro.

— Deve ter sido duro para o Professor Castro...eu nem quero imaginar...

— Foi Gérmen, foi um período difícil para nós. E não podíamos contar a ninguém...sofríamos os dois entre as quatro paredes do consultório dele...

— Porque é que nunca me contaste nada Luzia...porque é que me escondeste tudo isso.

— Porque na altura nós ainda estávamos a namorar, e apesar da minha relação com a Pilar e com o Jorge não era uma história que pudesse contar assim do nada...

— Mas...eu podia ter te ajudado...eu...- Henrique não estava a cobrar nada, apenas sentia que poderia ter ajudado a mulher que amava naquela altura complicada da sua vida.

— Henrique não me competia a mim contar. Apesar de Pilar ser alguém importante para mim, ela era filha do Jorge.

— Eu percebo...mas se eu soubesse...- Luzia abraça-o percebendo que ele apenas queria ter tido a hipótese de a consolar naqueles momentos difíceis, como todos os casais fazem.

— Bem quando esta chegou, vinha irreconhecí­vel...para além de ter sido mantida em cativeiro, ele bateu-lhe selvaticamente. A segurança desta casa sempre foi algo que prezámos, pois não podíamos correr o risco daquele homem a encontrar.

— Parece uma história de novela...- diz Leon...- desculpem mas...

— É parece mesmo, infelizmente não é. Ela foi melhorando aos poucos, até descobrirmos que ela estava grávida...daquela princesa que viram à pouco.

— O que é que correu mal?- pergunta Luí­s...com o seu faro de médico apurado ele sabia que algo tinha acontecido.

— A gravidez foi sempre de risco, pois para além de todo o trauma físico que ela suportou já grávida, todo o seu emocional estava em baixo. Por duas vezes ela tentou matar-se, por duas vezes ela quase perdeu a Bia.

— Como é que ela está? Onde é que ela está?

— Está lá em cima, no quarto...à terceira tentativa nós não conseguimos...nós não chegámos a tempo. Aos sete meses ela conseguiu fechar-se na casa de banho e cortou os pulsos.

— Tia e o que aconteceu...se a Bia está viva, e a Pilar está lá em cima...

— Naquele dia Pilar parecia estar bem, levantara-se da cama, vestira-se e estava animada por arrumar o quarto dos seus pequenos. Ninguém pensou que de repente tudo se alterasse. Dália fora chama-la para jantar, e quando chegou ao quarto que seria dos bebés não viu ninguém, estranhou porém encaminhou-se até ao quarto de Pilar...abriu a porta e não viu ninguém, foi até à porta da casa de banho e viu-a fechada, bateu e chamou por Pilar. Como não teve nenhuma resposta tentou abrir a porta, mas ela estava fechada...nenhuma porta tinha chave, pois ela já tentara fechar-se no quarto uma vez e atentado contra a sua própria vida. Dália gritou por Pilar e por ajuda, o professor não estava em casa apenas eu e os seguranças. Igor, o chefe de segurança assim que percebeu o que se passava arrombou a porta, e o que vimos foi aterrador. Dália chorava e Igor ficou tão petrificado como eu. Em segundos eu reagi, coloquei umas toalhas ao redor dos pulsos, disse a Igor que fosse buscar o carro e a Dália que ligasse ao Professor, Pilar precisava de ir para o hospital apesar de ser perigoso toda a exposição que ela teria."

— A Bia nasceu nesse dia? Tu disseste bebés?- pergunta Violetta com algumas lágrimas nos olhos...

— Sim. A Beatriz e o Beni nasceram nesse dia com sete meses de gestação. A Bia era pequena mas graças a Deus com saúde, mas o Beni nasceu com problemas respiratórios, e infelizmente não sobreviveu. E a Pilar...entrou em coma.

— Mas ela acordou certo? Porque caso contrário ela estaria no hospital e não aqui?- diz Luís...

— A Pilar acordou, passado cinco anos. Mas infelizmente com algumas sequelas...por isso fiquei com tanto medo pela Violetta...eu sabia...por experiência o que poderia acontecer.

— E como é que ela está? Quer dizer que sequelas Pilar tem?- pergunta Gérmen...

— Bem depende dos dias...

— Como assim, depende dos dias como?- pergunta Luí­s.

— A maior parte dos dias ela não se lembra de nada, em outros ela simplesmente parou no tempo e pensa que ainda estamos no secundário...e nos dias maus ela chega a ser agressiva.

— Então e a Beatriz? Ela não se lembra da própria filha?- diz uma Violetta bastante impressionada.

— Não, para a Pilar a Bia é minha afilhada e neta da Dália...

— Mas...e a Bia...como é que ela reage a tudo isto?- pergunta Luís.

— Como devem calcular foi...complicado. Não é fácil explicar a uma criança de cinco anos que a mãe não tem qualquer memória de um dia a ter gerado dentro dela...mas aos poucos fomos explicando-lhe o que se passava e hoje ela sabe que a mãe tem uma doença que a fez esquecer dela.

— E tu sempre tiveste ao lado dela...por isso muitas vezes desaparecias, e nunca sabí­amos onde estava..

— Eu não podia dizer nada, era e é a segurança da Pilar e da Bia que está em jogo. Por isso Gérmen, eu vos trouxe para cá, não há lugar mais seguro que esta casa.

— Eu nem sei o que te dizer Luzia, apenas agradecer-te por confiares em nós...e por nos protegeres...

— Pilar é a minha irmã de coração, foi a irmã que escolhi...mas tu és meu irmão de sangue, não podia abandonar-te. Mas agora temos que ir, não quero deixar os meninos tanto tempo sozinhos...e não sei o que se está a passar naquela casa.

— Luzia, não há mesmo problema nós ficarmos aqui, quer dizer o Professor...e a Pilar?

— Não te preocupes, e depois a Bia vai adorar ter companhia. Ela passa a vida sozinha nesta casa...- neste momento Bia aparece com Clara pela mão e Dália atrás com um prato cheio de bolachas...- Veem, eu disse-vos elas vão-se dar muito bem...

— Tia, a Dália disse que a Clara vai ficar a morar cá em casa...é verdade?

— Sim Princesa. A Clara, a Violetta, o Leon, o Frederico e o Gérmen...eles vão ficar todos cá em casa durante uns tempos.

— A sério! Mas quem são eles? O avô sabe?

— O teu avô sabe sim...não te preocupes, eu nunca traria ninguém cá para casa sem o conhecimento do teu avô. Bem e o Gérmen é meu irmão...

— Como a mamã? - pergunta Bia...

— Não, princesa. A mamã é apenas minha irmã de coração...tu sabes. O Gérmen é meu irmão, a minha mãe é a mesma que a dele. A Clara e a Vilu são minhas sobrinhas, o Leon é o namorado da Violetta e o Frederico é um amigo.

— Vamos ter a casa cheia...mas e a mamã? E se ela tiver um dia mau?

— Já pensaste que a mamã pode até gostar de ter visitas?- Bia ficou a olhar para Luzia...e depois sorriu...- E agora antes de me ir embora vens comigo ver a mamã?

— Sim...vais contar-lhe sobre as visitas?

— Vou tentar, vens ajudar-me?

— Sim...- e assim sobem as duas até ao quarto de Pilar, que nesse dia estava num dia positivo, ou seja, tinha parado no tempo e pensava estar no secundário. Sim este era um bom dia, porque o mau era quando ela se recordava de tudo o que ela sofreu. E nesses dias são necessárias medidas mais drásticas: calmantes e amarras.

Assim que Luzia entra no quarto, sorrirem uma para a outra e abraçaram-se. Luzia conta por alto toda a história da vinda de Gérmen para Sevilha, contudo ela diz que Gérmen é um amigo e não seu irmão, conta-lhe acerca da fuga de hoje, e consequentemente de estarem neste momento escondidos naquela casa.

Enquanto isso José, o seu advogado, o oficial de Justiça e a polícia chegam a casa de Mercedes. José está em pulgas para ver as netas, ele tem a certeza que ainda naquele dia estará com as elas, não havia como Gérmen saber que ele estava a caminho, nem como fugir, uma vez que a polícia iria cercar a casa de Mercedes. Assim que tocam à campainha, todos que estão em casa de Mercedes sabem quem está ao portão...é Xavier que vai até ao portão, deixando Chica com as crianças e Rafael com Mercedes e Rosário.

— Boa Tarde...- diz Xavier bastante calmo, sem deixar transparecer toda a ansiedade que se vive dentro de casa.

— Boa Tarde, viemos executar duas ordens do tribunal...a Dona da casa...- olha para o papel que tem na mãe e de seguida de volta para Xavier...- Dona Mercedes Gimenez, está?

— A dona Mercedes está sim...mas necessito de saber quem vai entrar...temos crianças na casa...e se entrarem todos podem assusta-los...

— Entendo...vamos fazer assim entro eu e um polícia, e estes dois senhores?

— Façam favor de entrar...- e fazendo-os entrar Xavier encaminha-os até à entrada da casa, assim que entram fá-los esperar no "hall" de entrada...- Só um minuto eu vou chamar a Dona Mercedes...

Quando entra na sala, Xavier apenas acena com a cabeça...e todos os que estão na sala ficam com a certeza que eram quem esperavam...Mercedes pede a Chica que leve as crianças até à cozinha e que as entretenha com alguma coisa...e embora Tati desconfie que algo se passa por ver todos tão ansiosos, vai sem muita discussão. E com um outro aceno de cabeça, Mercedes indica a Xavier que os mande entrar.

— Por favor, queiram entrar...- diz um Xavier prestativo, mas algo incomodado com tudo o que está a passar.

Assim que os quatro homens entram, paira no ar um ambiente de raiva, de desconforto, ansiedade e muitos mais sentimentos que nem dá para descrever já que parece que todos se misturam entre si...José olha para uma Rosário angustiada...já esta olha para Ramiro com olhos de pura raiva. Por sua vez Mercedes olha para José, com ódio nos mesmos...é um ódio que nem esta sabia que um dia poderia sentir contra alguém. José estava no topo da lista de pessoas que Mercedes mais desgostava, nunca fora a favor do casamento da sua irmã com ele, ela sabia que José jamais iria esquecer Angélica e que apenas se casara com Rosário para tentar mostrar a todos que podia dar a volta por cima. Mas naquele momento, ela desprezava aquele ser mais do que tudo na vida.

— Boa Tarde. José...nunca pensei voltar a ver-te na vida. Mas, parece que me enganei, já que conseguiste voltar a enegrecer a minha vista com a tua pessoa.

— Mercedes, sempre tão afável...vamos deixar de rodeios. Onde estão as minhas netas? Onde está o Gérmen?

— Quem és tu para chegares à minha casa e começares com as tuas exigências?- diz Mercedes bastante serena, mas severamente.

— José...- diz uma Rosário chorosa...- Ele é teu filho...estás a tirar as filhas ao teu próprio filho...por favor pensa no que estás a fazer...

— Tu não tens moral para dizer nada...tu és uma...- e quando José ia avançar contra Rosário, Rafael coloca-se à frente da madrinha, impedindo que este faça algo...

— Nem te atrevas a tocar com um dedo na minha irmã. Eu posso estar velha, e não ter a tua força, mas posso-te garantir que o Rafael tem muito mais força que tu.

— Vamos acabar com este bate boca. José, por favor acalma-te...Rosário, não podes fazer nada contra isto, o José ganhou a guarda das netas...

— Doutor Ramiro Ramirez, só tu para seres o advogado do Diabo...agora percebo como é que...Quanto é que pagaram ao juiz?

— Minhas Senhoras, sei que tudo possa ser difícil, mas o facto é que eu tenho que cumprir a lei, e por isso pergunto onde estão as meninas para que possamos resolver isto a bem.

— Elas não estão cá em casa...e antes que me pergunte pode revistar a casa à vontade...- diz Mercedes...

— Eles não tiveram tempo de fugir...não tiveram...estás a mentir...só podes...- diz um José bastante nervoso.

— Bom está à vontade...revista a casa. Só peço que quando forem à cozinha não assustem as crianças...filhos da Luzia, minha sobrinha.

— Peço então o favor de abrirem os portões para que os restantes policiais possam entrar e fazer a vistoria.

Mercedes acena a Xavier para que o faça, e este dirige-se ao portão fazendo entrar os restantes policiais. E enquanto estes procuram pela casa, jardins e até mesmo na casa que é de Chica e Xavier, Tati foge da supervisão de Chica e esconde-se atrás de um cortinado ficando a observar tudo o que era tido e subentendido entre os que estavam na sala.

— Onde está Violetta? Onde está a Clara? Rosário não vale a pena esconde-las, porque nem que tenha que ir até ao fim do mundo eu vou encontra-las. E o Gérmen...esse teu filho...ele vai ter o que merece...

— E o que é que o teu filho merece José? Porque eu tenho a certeza de uma coisa, ele merecia um pai diferente porque tu não és nem foste um pai...sempre foste um ditador.- Mercedes está a atingir o seu pico de raiva...e já não aguenta ter que ver aquela pessoa à sua frente e muito menos dentro da sua casa.

— Ele vai para a prisão...- diz um Ramiro com um ar mais sério do mundo, mas com uma voz o mais sarcástica possível.

— José!- Rosário grita implorando...-Tu não podes fazer isso. Ele é teu filho, sangue do teu sangue...faz o que quiseres comigo, mas não faças uma atrocidade dessas com o nosso filho...

— Ele deixou de ser meu filho quando se casou com aquela mulher...

— José, por favor, eu imploro-te...- e neste momento Rosário perde todo o orgulho e coloca-se de joelhos perante o homem que tem a vida do filho nas mãos...- por favor retrocede neste teu desejo de veres o teu filho preso...eu imploro-te...

E é neste momento que tudo acontece rápido demais, pelo menos para quem está perto, mas para Tati que está escondida parece que tudo está em câmara lenta. Assim que Rosário se ajoelha e acaba de falar, José num acto de nítida raiva bate-lhe, Rafael ainda tenta chegar à madrinha e tentar evitar o que estaria para acontecer, contudo tudo acontece perante os seus olhos sem que ele possa fazer alguma coisa e Rosário é projectada contra a esquina de uma mesa...

— Avó...Avó...- grita Tati saindo do seu esconderijo...-Mau, tu és mau...- Tati num acesso de raiva que ninguém nunca tinha assistido atira-se a José...- tu magoaste a minha avó...tu...- este pronto a desfazer-se daquela criança levanta a mão estando a milímetros de lhe bater, porém é impedido por alguém...

— Se o Senhor tocar com um dedo sequer na minha filha...eu posso até ir preso...mas você não vai sair daqui com vida...- diz Luís com um ar de pura raiva. Abaixa-se e pega em Tati, que chora agarrada ao pai...Luzia entretanto correra até junto da mãe...

— Mãe...mãe...por favor...mãe acorda...abre os olhos...por favor. Luís...

— Calma amor, pega na Tati por favor- mas nem uma larga a mãe nem a outra larga o pai...- Mercedes chame uma ambulância...- e enquanto Mercedes liga depressa para a emergência médica, Tati continua a não largar o pai por nada...e Luís não larga Luzia que não larga a mãe da mãe...

— Papá...a avó...ela não vai...embora...como a mamã...pois não? Eu...

— A tua avó vai ficar bem, tem calma...agora vai...- e nesta altura Luzia, que se mantinha junto deles, separa-se daquele abraço e perdendo toda a razão que ainda lhe restava...

— Eu...vou...acabar...consigo...eu...juro...- e chegando-se perto de José bate-lhe com toda a força que tem ainda consigo.

— Luzia...- grita Luís...deixando Tati junto de Mercedes...- Por favor amor tem calma...- chegando-se junto da esposa, afasta-a de José e senta-a, Tati que estava ao colo da tia chega-se perto de Luzia e tenta-a acalmar com festas e beijinhos nas mãos...Luzia podia não ser a sua mãe de sangue, mas fora aquela que a amou como filha, mesmo quando ela lhe negava qualquer amostra de afecto no início...Luzia nunca desistiu dela.

— Mamã...a vovó vai ficar bem...eu sei. Tal como eu soube da Vilu...- diz Tati baixinho só para que Luzia ouvisse...

No meio de toda esta confusão, os paramédicos já tinham chegado, estando a levar uma Rosário inconsciente para a ambulância. Luís pede a Rafael que fale com Chica para ficar com as crianças mais novas, uma vez que Tati não se descolava de Luzia...e apesar do hospital não ser um local indicado para ela, ele sabia que ambas precisavam do apoio uma da outra. Mercedes também quis ir, ela não iria ficar em casa sem saber o que se passava com a irmã. Entretanto, os polícias que faziam a revista à casa aparecem dizendo que não há sinal de Violetta, Clara ou de Gérmen...o que levou a uma nova explosão de raiva, desta vez de Raimundo.

— Eu não sei o que se passa aqui...mas eles têm que estar em algum lado...não podem ter simplesmente desaparecido da face da terra...isto está a cheirar-me a fuga e com a vossa ajuda.

— Não sei se reparou, mas neste momento estou pouco me importando com o que o Senhor acha ou deixa de achar.

— Pois devia...porque eu...nós vamos apresentar uma acção contra todos vocês por obstrução à justiça.

— O Doutor não deve ter percebido que o seu "cliente" agrediu a minha sogra, e ia agredindo a minha filha que tem apenas 8 anos...e depois de saber que a minha sogra está bem...vai ter notícias do "MEU" advogado...agora peço o favor de saírem todos da minha casa...

— Claro...- diz o oficial de justiça...- mas teremos que voltar a falar convosco com mais calma...a ordem é para cumprir, e temos que ter a certeza que não houve obstrução de justiça.

Depois de dizer isto, o oficial de Justiça deu sinal e todos os polícias saíram, bem como José e o advogado, se bem que estes dois últimos com cara de poucos amigos e espumando pela boca, mas tudo aquilo era o que menos preocupava Luís. Ele sabia que Gérmen, Vilu e Clara estavam seguros naquela casa...ninguém sabia daquele lugar...e assim iria ficar.

Assim que chegam ao hospital, Rodrigo e o Professor Castro estão à espera de Rosário...e enquanto Rodrigo entra com esta, o outro fica à espera dos quatro que vêm de carro. Assim que para o carro, Luís ajuda Mercedes a sair e Luzia retira Tati do mesmo, pegando-lhe ao colo. Jorge Castro dirige-se até Luzia que coloca Tati no chão e apenas abraça aquele que sempre considerou um pai, aquele que nunca teve a oportunidade de ter...e chora...chora como há muito tempo não chorava.

— Ela vai ficar bem minha pequena...tens que ter fé...

— Eu não...não a posso perder...não posso...

— Luz...olha para mim...minha Luz...a tua mãe vai ficar bem. Se tu acreditares, ela vai sentir e...

— Disseste-me a mesma coisa há 10 anos atrás...e...

— Eu sei...mas ela voltou para nós. Pode não ser a mesma...mas continua connosco...

— Eu não quero a minha mãe pela metade...eu não quero...- e olhando para aquele que considerava de pai, percebeu o que tinha dito...- Desculpa...desculpa...eu...

— Tudo bem, tu estás nervosa...e sei que tu nunca a abandonaste apesar dela estar por metade...

— Eu nunca o faria...ela é...ela minha...- e cala-se sentindo que está a ser observada por Mercedes...

— Eu sei...vem vou-vos levar para o meu escritório...lá estão mais confortáveis. A sala de espera não é local de crianças...aliás o que está a Tati a fazer aqui?

— Ela não quis deixar a Luzia sozinha...- diz Luis...- e olhe que bem tentámos...- Tai continuava agarrada á cintura de Luzia, não a largava por nada.

— Eu sei que...talvez ela não devesse estar aqui. Mas eu preciso dela, assim como ela precisa de mim.

— Tudo bem...vamos...Princesa...- o professor fala com Tati que continua agarrada a Luzia...- É o teu tio que está a tratar da avó...e tu sabes que ele é o melhor médico do mundo...

— Não. O melhor médico é o meu papá...depois a mamã e só depois o tio Rodrigo.

— Bom, uma vez que o pai e a mãe não podem lá estar com a tua avó...acho que o Tio Rodrigo é o melhor médico que a avó pode ter, certo?- pergunta Luís.

— Sim...mas ainda preferia que fosses tu a tratar da minha avó...

Quando por fim estão a chegar ao escritório do Professor, Luzia lembra-se de Gérmen...será que devia falar com ele? Rosário era sua mãe, mas José ainda andava à procura deles...e Luzia sabia que Gérmen não iria conseguir ficar naquela casa fechado sem poder sair, enquanto a mãe estava não se sabe como. Assim enquanto esta dúvida permanecia na sua cabeça...Tati adormeceu ao seu colo, enquanto Luís tentava aclamar uma Mercedes cada vez mais nervosa. Passado o que eles acharam terem sido dias, Rodrigo aparece com o Professor Castro, Luzia olha para Rodrigo e depois para o Professor e de novo para Rodrigo...

— Acabem logo com esta agonia...como é que ela está? Como está a minha mãe?- a cara de Luzia já tem uma ou outra lágrima...ela nem sabe o porquê delas...mas não as consegue evitar.

— Luzia, a tua mãe bateu com alguma violência...o que provocou um traumatismo grave...

— Para de rodeios Rodrigo...eu sou médica, sei o que ela provavelmente tem, conheço todos os sinais e sintomas, não preciso que me expliquem...preciso saber como ela está?

— Luz...a tua mãe entrou em coma...- e neste momento Luzia quebra...- ela num coma profundo, nós não sabemos se ela vai acordar.

— A minha irmã...ela morreu?- pergunta Mercedes perdida na conversa.

— Não, não tia...- diz Luís tentando acalmar Mercedes...- ela ainda não morreu. Mas pode vir a acontecer...é isso que o Professor quis dizer, certo?- e dirige-se aos dois que continuam em pé.

— Neste momento o estado dela é estável, apesar do coma, vamos estar a vigiá-la 24 horas, e realizando alguns testes para...

— Para ver se o cérebro dela ainda trabalha...- diz Luzia com lágrimas caindo que nem flocos de neve no inverno...

— Sim minha Luz...neste momento é a única coisa que podemos fazer. – e abraça Luzia como um pai faria, depois desta deitar Tati, que dorme tranquila, no sofá.

— Eu preciso falar com o Gérmen...ele precisa saber...

— Luzia, sabes que o José ainda está por aí à procura deles...para além de haver uma acção contra ele. Se porventura Gérmen aparecer...

— Eu sei...eu sei que ele pode ir para a prisão, não precisas de me lembrar.

— E mesmo assim estás a pensar em dizer...depois de todo o trabalho para o esconder.

— Sim, a mãe é tão minha mãe como dele. Eu não vou esconder isto dele, não posso...nem quero. A decisão será dele...e não minha.

— Tudo bem. Vais ligar-lhe?

— Não vou lá...amanhã. Hoje preciso de descansar...vou só ao meu consultório, preciso ir buscar uns exames de um paciente...

— Já te disse que não precisas de te preocupar com trabalho agora...- diz o Professor.

— Eu sei...mas esta paciente é daquelas que não posso mesmo deixar de uma hora para outra...- Luís olha para Luzia...- Não me olhes assim...aliás não me olhem assim. Ela está a tentar engravidar há algum tempo e não estava a conseguir...e se tudo deu certo como eu acho vou poder dar uma alegria aquela família.

— Tudo bem...vai lá. Eu vou andando para o carro com a Tati e com a Tia Mercedes...

E assim cada um segue o seu caminho...Luzia entra no seu consultório e pega nos exames, o primeiro que abre é o da tal doente...e constata que deu positivo. Colocando o segundo exame na sua bolsa encaminha-se até a um quarto onde está um casal à sua espera, que a olha ansioso...Luzia apenas lhes sorri e acena com a cabeça, fazendo-os saltar das cadeiras abraçando-se e abraçando-a a ela. Depois de algumas palavras e de alguns cuidados que a mulher devia ter, Luzia pede que remarque a próxima consulta, pois apesar de ela estar de baixa Luzia irá querer acompanhar aquela gravidez. O que deixa o casal completamente sem palavras e apenas agradece a Luzia a sua dedicação.

Assim que chega ao carro, Luís olha para ela...e esta apenas lhe sorri, o que Luís corresponde percebendo que tudo deu certo com a tal paciente e que pelo menos isso correu bem. Quando chegam a casa e depois de deitarem Tati e irem ver dos filhos, eles vão-se deitar...Luzia disfarçadamente leva o outro exame que ela trouxe do hospital para a casa de banho. Ela fecha a porta e abre o envelope...e o resultado a faz feliz, se bem que não era assim que ela queria descobrir e muito menos celebrar. Ela estava grávida, de novo...e apesar de ter sido algo inesperado e algo que a deixava com algum receio, já que a gravidez de Tomás não tinha sido fácil, era algo que a fazia muito feliz. Ela saiu da casa de banho já pronta para se deitar...e assim que chegou à cama, abraçou Luís...como se tivesse medo que ele fugisse dela...

— Luzia...eu sei que está a ser complicado, mas a tua mãe vai sair desta...eu tenho a certeza.

— Eu gostava de ter essa tua certeza, porque eu estou a sentir que ganhei algo muito importante...mas que vou perder outro.

— Não te estou a perceber...o que queres dizer com ganhares algo? Luzia...

— Eu não fui só ver os exames da minha paciente, fui buscar outros...- Luís continua sem perceber e continua a olhar para Luzia...- eu fiz uns exames no início desta semana.

E ao dizer isto entrega o envelope com o seu nome a Luís, que a olha sem perceber...esta incentiva-o com apenas um olhar a abrir e a ler, o que ele faz com alguma relutância...ao ler o que está escrito, Luís fica com lágrimas nos olhos, sem saber como agir ou o que falar levanta-se da cama, anda de um lado para o outro...e finalmente ajoelha-se na cama com as duas mãos na face de Luzia...

— Nós vamos ser pais...nós vamos ter mais uma filho...

— É o que parece. Eu sei que não foi planeado...e nós tínhamos decidido ficar com os 4...e que chegava muito bem, mas aconteceu...e...- Luís interrompe-a e beija Luzia...

— Amor...eu estou feliz. Tens razão não foi planejado, não foi nem desejado...mas neste momento é muito. E eu já o amo...tanto quanto aos irmãos dele, ou dela.

— Percebes agora o ganhar algo e perder outro...

— Tu não vais perder a tua mãe...não vais...e este bebé vai ser mais uma razão para que ela não nos deixe...ele vai precisar do mimo da avó.

— Ele...ou ela...- diz Luzia sorrindo...

— Sim...mas já falaste com a Alice? Já tens consulta marcada?

— Não. Eu só tive os resultados hoje...eu nem falei com ela sobre as minhas desconfianças, eu própria fiz o requerimento das análises.

— Sempre a querer fazer as coisas sozinha...bom amanhã de manhã, falamos para o hospital e marcamos...

— Luís eu quero ir falar com o Gérmen de manhã...não vou esperar.

— Parece que te esqueceste de tudo o que aconteceu na gravidez do Tomás...eu não te posso perder, Luzia...tu quase...

— Eu sei bem o que aconteceu...não te preocupes, podemos tentar marcar para amanhã mas da parte da tarde, até porque eu quero ver a minha mãe.

— Tudo bem...mas vou andar atrás de ti desta vez. Vou ser tão chato...que acho que me vais deixar no fim desta gravidez...

— És tão exagerado...eu nunca me fartaria de ti...nunca mesmo.

A noite passou...uns sonhando com novos filhos, outros com o que fariam para proteger os seus, outros com o que podiam fazer para recuperar o que eles achavam que era seu por direito...

O amor e o ódio são sentimentos ambíguos, e que andam constantemente de mãos dadas...porque tu só odeias alguém que já amaste uma vez...e nunca poderás chegar a amar alguém com todo o teu coração se não odiares alguma parte dela, nem que seja aquele sinal que o teu par tem naquele sítio que te deixa irritado a ponto de odiares aquele maldito sinal...

Amar não é fácil, assim como toda a rosa tem espinhos, o amor também os tem...

Amar pode queimar, pode cegar, pode chegar a ser doentio...

E é nesse ponto que pode virar odio...


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