Capítulo Quatro

— SURPRESA! — A multidão no pequeno restaurante mexicano gritou, me assustando. Eu dei um salto, mas sorri quando vi os rostos tão familiares. Fiz a nota mental de matar Jacob quando chegarmos em casa. Lentamente, andei para cumprimentar cada um, mas parei incrédula e levando as mãos à boca, que estava aberta em um perfeito “O”, quando vi um rosto que, embora fosse muito amada, era incrivelmente inesperado.

— Alice! — gritei, as mãos, antes cobrindo minha boca, passeava pelo meu cabelo. Eu estava confusa, mas extremamente emocionada. Sentira tanto, tanto a falta da minha melhor amiga vampira. — Alice, o que diabos você está fazendo aqui!  — não era uma pergunta, apesar de tudo.

Ela riu, a voz de sinos de sempre, antes de me puxar para um abraço e sussurrar para que apenas eu ouvisse.

— Eu vi que você ia ganhar uma festa surpresa, então eu vim também.

Eu ri muito. Aquilo era a cara de Alice.

No meio da minha refeição, eu notei que a perna de Jacob tremia incontrolavelmente ao meu lado. Coloquei minha mão no seu joelho, suavemente. Era estranho; eu sabia que isso só acontecia quando Jake estava nervoso, com medo, ou seriamente aborrecido. Eu não gostei de nenhuma das minhas opções.

Ele colocou a mão escaldante sobre a minha, e eu percebi que ela estava um pouco úmida. Então me restavam duas teorias; estaria ele nervoso ou com medo? Sacudi minhas cabeças, expulsando meus pensamentos, antes de me virar para falar com Charlie e os outros convidados. Charlie falava sobre pesca com a minha gerente, Leina, sobre pesca, enquanto os meus colegas da faculdade — que chegaram minutos depois de mim — conversavam sobre o exame de Fisiologia que tínhamos feito. Notei que Josh, também da faculdade, se interessara por Alice. Ah, se ele soubesse...!

De repente, todos que estavam naquela mesa viraram a cabeça para a esquerda, onde Jacob tinha se levantado. Como todos os olhos estavam sobre ele, eu presumi que os meus também deviam estar, mas eu não conseguia deixar de olhar ao redor da mesa. Meus olhos pararam sobre Charlie, que tinha o maior e mais abestalhado sorriso que já vi na minha vida. Isso me deixou ainda mais nervosa. Passando mais uma vez meu olhar ao redor da mesa, parei em Alice. Seus olhos dourados, de ouro líquido, estavam virados na minha direção, mas fitavam o nada.

Alice estava tentando ver. Ou já tinha visto alguma coisa. Ou talvez o problema foi não ter visto nada ainda... Minhas mãos começaram a tremer. Embora não soubesse o que era, sabia que algo estava acontecendo com seu dom. Aquilo me deixou ainda mais nervosa do que o sorriso imbecil de Charlie.

Jacob limpou a garganta e sorriu para mim; eu senti meu rosto queimar. Eu devia parecer um tomate, mas não me importei. Estava nervosa demais para me importar com o constrangimento. Jacob segurou minha mão e se ajoelhou. Eu engoli em seco quando percebi seu intento. Ah, não, Jacob, não! Não faça isso agora, por favor, não faça isso agora...!

— Bella — ele começou, quase engasgando com as palavras que dizia. — Desde quando te conheci em La Push, na praia, quando você flertou comigo descaradamente, eu estive total e completamente apaixonado por você. — Eu estremeci, minhas mãos tremendo descaradamente com a intenção por trás do flerte descarado. Não, Jacob, por favor, não faça isso agora... Não agora, ao menos... Mas ele ignorou o meu nervosismo e continuou.

— Mas essa estúpida queda de cachorro que eu tinha — Trocadilhos, eu presumi. Ah, Jacob! — se transformou em algo maior quando você foi me procurar com as motos. Algo muito maior; eu me apaixonei por você. Então eu passei por um momento difícil — Ele mordeu o lábio inferior; eu percebia que estava falando de quando se transformou. —, e você era a única pessoa com quem eu podia conversar; isso só aprofundou ainda mais meus sentimentos por você. Agora, três anos depois, nós estamos aqui, e eu gostaria de te perguntar uma coisa, Bella; você quer se casar comigo?

A multidão suspirou vários “awwwws” e eu fiquei tonta. Casamento. Engoli em seco; eu era jovem demais. E Jacob, então? Era ainda mais novo do que eu! No que ele estava pensado, me pedir em casamento em frente a toda essa platéia? Ah, céus, Jake, você vai se machucar tanto, tanto...! Todos os olhos estavam sobre mim, e eu mordia meu lábio. Eu tinha que responder.

— Jake — eu sussurrei, olhando nos seus olhos tão cálidos e tendo uma raiva inumana de mim mesma. — Jake, você é meu mundo inteiro, você sabe disso. Mas — eu acrescentei a palavra bruscamente. — Eu amo você, de verdade Jake, eu amo você mais do que tudo. Mas eu sou simplesmente muito nova, Jake. E você ainda mais! Quer dizer, eu tenho só vinte e um. Vinte e dois, agora — me corrigi. — Jake, eu sinto tanto, tanto...

Eu olhei para o anel que descansava em sua palma apenas mais uma vez enquanto lágrimas desciam incontrolavelmente pelas minhas bochechas.

A mesa inteira se calou e eu corei, sabendo que todos os olhos descansavam sobre mim, assim como os ouvidos. Depois de um minuto, Jacob não falou nada, como se esperasse que alguém saísse de baixo da mesa e gritasse “Primeiro de Abril!”.

Mas nós não estávamos em Abril. Ah, Jake. Eu peguei minha bolsa e pendurei no meu braço.

— Você sabe que eu te amo — sussurrei no topo da sua cabeça, a beijando, e saí do restaurante.

Eu corri tanto quanto podia na volta para casa, minhas lágrimas embargando minha visão. No meu prédio, não esperei por um elevador, estava com pressa demais — corri escada acima, sem conseguir parar de chorar. Eu era horrível, merecia o inferno.

Quando finalmente entrei no meu apartamento, tudo que eu queria era um pijama macio e sorvetes. E talvez um banheiro — tinha tanto nojo de mim mesma que podia vomitar.