20 anos depois - A salvação da Escola Mundial escrita por W P Kiria


Capítulo 10
Capítulo 8




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Capítulo 8

“Como assim fechar a Escola Mundial?” Jaime refez a pergunta, mas Carmen ainda estava muito nervosa. “Daniel?”

“O conselho diretor vai votar isso no final de dezembro, mas é bem provável. Já tem anos que estão com essa ideia, mas a diretora Olívia sempre bateu contra e uma parte do conselho também se negava. Agora, com a morte dela, é bem provável que isso mude.” Explicou o rapaz, ainda afagando a cabeça da esposa.

“Mas para isso eles precisam da aprovação de todo o conselho, certo? E meu pai e meu sogro são do conselho, eles nunca iam concordar com isso.” Garantiu Maria Joaquina.

“É, meu pai também é. E eu lembro que, quando abriram a escola para investidores, isso foi explicado. Ninguém tem mais ações do que ninguém, nem pode vender a sua parte para alguém que já possua, e as decisões tem que ser unânimes.” Recitou Jorge, forçando a memória.

“Sim, na época era assim. Mas uma grande parte do conselho quer a venda, estão oferecendo muito dinheiro. E vocês sabem que, mais do que lucrar com a escola, é dever dos investidores aplicarem dinheiro quando a escola precisa.” Explicou Carmen, tentando controlar os soluços.

“O problema todo é dinheiro então?” Perguntou Davi.

“Não, a escola tem todas as salas completas, uma porcentagem baixíssima de alunos, rende um dinheiro bom aos investidores todos os meses e há anos não passa pela situação contrária. Mas a pessoa que está atrás de comprar o lugar está oferecendo, de uma vez, mais do que eles lucrariam em dez anos.”

“Mas será que não é alguém querendo reestruturar a escola? Sabe, investir nela.” Tentou Marcelina, mas o casal negou.

“O interesse é no prédio e no terreno, a instituição de ensino eles querem que se dane. Do que entendi que a Olívia disse uma vez, querem fazer daquilo uma fábrica.” Contou Carmen, e Jaime coçou a barba curta.

“Isso me lembra de alguém, mas não sei quem.” Comentou ele, enquanto Paulo e Koki concordavam.

“Mas se o problema não é dinheiro, Carmen, o que nós podemos fazer para ajudar?” Perguntou Cirilo.

“Eu não sei. Eu só sei que, juntos, nós já fizemos grandes coisas. Nós salvamos o acampamento do avô da Alicia, e resgatamos a Maria Joaquina. Se nós nos unirmos, eu tenho certeza que podemos salvar a escola.” Desabafou a mulher, ansiosa.

E então, um silêncio recaiu sobre eles. Os casais se encararam e tiveram aquela conversa pelo olhar, enquanto os solteiros trocavam de pés desconfortavelmente. Carmen e Daniel encararam os amigos, decepcionados.

“Então é isso?” Perguntou o rapaz, suspirando.

“Qual é, Dan, você sabe que a Escola é tão importante para a gente quanto é para vocês. É só que...” Jaime suspirou, dando de ombros. “As coisas mudaram, né?”

“Quando tudo isso aconteceu, nós erámos crianças, sem nenhum conflito.” Ponderou Margarida. “Agora temos obrigações, empregos, responsabilidades, e tudo isso atrapalha.”

“Nem vocês? Paulo, Koki? Vocês sempre foram as mentes diabólicas.” Tentou Carmen.

“Ca, eu sou só um programador.” Desculpou-se o japonês.

“E eu um professor de matemática. Além disso, meu emprego pode ficar na corda bamba se descobrirem que eu to tentando ajudar a salvar uma escola concorrente.” Lembrou Paulo, chateado.

“Eu posso usar meus contatos e levar isso à imprensa, mas a Sara toma todo o meu tempo livre.” Desculpou-se Valéria.

“E eu já estou atolado em processos. O máximo que posso fazer é dar uma assessoria jurídica.” Lamentou Jorge.

“Nós podemos conversar com os nossos pais, ver o que podemos fazer. Mas é bem isso, gente, estamos de mãos atadas.” Suspirou Majo, encarando os amigos. “Essa é, realmente, é parte mais triste de crescer.”

~*~

Mais tarde, já no alto da madrugada, Paulo e Alicia estavam em sua cama, pensativos. Aproveitando que as crianças estavam desmaiadas desde a casa de Carmen, haviam namorado um pouco e agora estavam perdidos em pensamentos.

“Eu queria poder fazer algo, sabe? Para ajudar a salvar a escola.” Suspirou o homem, atraindo a atenção da esposa. “Mas se a Janaína descobrir, eu to na rua.”

“Você tá infeliz lá, né?” Perguntou a morena, recebendo um aceno afirmativo.

“Mas o salário é bom, né gata? E ano que vem vou ter mais salas, vai aumentar ainda mais.” Ele deu um sorriso amarelo, encarando o teto.

“Eu vi como você ficou quando a Carmen te chamou de mente diabólica.” Ele riu com a lembrança.

“Eu realmente judiava muito dos nossos professores. Hoje vejo que isso não é tão bom quanto eu imaginava, porque é horrível pegar uma garrafa de água furada por um compasso.”

“Você sente muita falta da loja, não é?”

“E você não?”

“Ah, era legal ajudar as crianças a tramarem contra os amiguinhos. Me lembrava de quando erámos pequenos.” Alicia sorriu saudosa. Os dois caíram no silêncio de novo, encarando o teto. Então, de repente, a garota se ergueu nos cotovelos, dando um beijo longo no marido.

“O que foi isso, Alicia?”

“Minha benção.”

“Para o quê?”

“Para você largar o emprego e a gente reabrir a loja.”

“O quê?” Paulo sentou em um pulo, e Alicia fez o mesmo. Ela o encarou sorrindo, segurando sua mão. “Ali, mas o dinheiro...”

“A gente vende o carro, Paulo, e vai se virando enquanto isso. E tem aquele dinheiro que estávamos economizando para a viagem para a Disney, que pode ficar mais para a frente.”

“Alicia, só a escola do Lucas vai custar uma nota.” Constatou o homem, lembrando que o filho não teria mais a bolsa de filho de professor.

“Ajudamos a salvar a escola Mundial e colocamos ele e a Isis para estudar lá, como sempre quisemos e não podíamos porque você dava aula em outra escola.” Ela estava animada. “Paulo, eu andei fazendo alguns cursos online de administração, e posso garantir que sei muito mais do que sabia sete anos atrás. Nosso negócio vai dar certo.”

“Alicia, não sei... E se faltar algo para as crianças?” Ele mordeu o lábio inferior, abraçando os joelhos. “Se nós não tivéssemos os meninos, eu ia embarcar de cabeça. Mas agora tem o Lucas e a Isis.”

“Cadê o cara confiante que me beijou no meio de um show?” Ela segurou o braço dele, carinhosamente. “Lembra o que prometemos? Que, se estivéssemos juntos, conseguiríamos vencer qualquer parada? Então, essa vai ser só mais uma.”

“Você confia mesmo que isso vai dar certo, minha linda?”

“Nós não conseguimos passar por todos os obstáculos, mantendo nossa promessa? Essa vai ser só mais uma.” Alicia sorriu, beijando o marido com carinho.

“Com você me propondo isso nua e me beijando, não tem como eu não acreditar também.” Os dois riram baixinho. “E então, o que eu faço?”

“Vai até a sala da Janaína segunda e pede a conta. Acho que você consegue até um acordo, e aí saí com os direitos trabalhistas. Eu já conversei com o Dan mais cedo, o armazém ainda está vazio. Semana que vem começamos a ir atrás do nosso sonho.”

“Eu ganhei na loteria com você, não é?”

“Sempre tive certeza disso. Agora, que tal aproveitar que nossos diabinhos ainda estão adormecidos e namorar mais um pouco?”

“Eu te amo demais.” Ele riu, a empurrando de volta para o meio dos lençóis.

~*~

“Mário? Mário? Mário Ayala, acorda.” Rosnou Marcelina, irritada. O marido abriu os olhos preguiçosamente, a encontrando de pé ao lado da cama. “A Olívia está chorando tem quase uma hora.”

“Marcelina, eu coloquei ela no berço tem meia hora, não tem como ela estar chorando há tanto tempo.” O homem sentou na cama, esfregando os olhos. “Amor, você tomou o remédio?”

“Eu não preciso de remédio, Mário.” Ela entregou a filha, dando a volta na cama e se deitando. Mário suspirou, começando a ninar a criança. “Foi um dia agitado, desculpa.”

“Eu sei, Marce, mas você não pode descuidar do tratamento.” Ele disse carinhoso, vendo-a pegar o potinho de remédio ao lado da cama e tomar um comprimido. “Vai melhorar, anjo.”

“Eu me sinto tão impotente, Mário. Eu... É como se eu repudiasse a nossa filha.” Marcelina estava enrolada no lençol, escondendo o rosto.

“O terapeuta já disse que ficar se culpando só piora tudo, Marcelina. Depressão pós-parto é algo que acontece mais do que as pessoas gostariam de dizer, ainda mais depois de um parto difícil como o que você teve.”

“Eu queria poder fazer algo para ajudar a salvar a escola. Assim nossa filha poderia estudar lá um dia.” Ela suspirou, fechando os olhos.

Mário suspirou, se abaixando a beijando a testa dela, antes de sair com a filha em direção ao quarto dela.

“Vai dar tudo certo, princesa. A mamãe vai conseguir ficar bem sem o remédio, cuidando de você do mesmo jeito que ela cuida quando está medicada. Ela só precisa do nosso amor.” Prometeu o pai, vendo o cachorro deitado ao lado do berço da filha. “Enquanto isso, eu e o Rabito II vamos cuidar muito bem de você.”

~*~

“Jorge?” Margarida apareceu na porta do escritório do apartamento. Ainda havia caixas para todos os lados, mas ele já havia tirado os livros mais importantes. “Volta para a cama, gatinho.”

“Eu to tentando achar alguma coisa, alguma brecha.” Ele lia três livros de uma vez, vidrado.

“Jorge, são quase 4h da manhã. Você nem leu o processo completo ainda.”

“Eu consegui pela internet.” Ele coçou os olhos, cansado. “Eu me sinto um inútil, Margarida. Venci grandes processos, para empresas fraudulentas e sem índole. E não sei o que fazer para salvar um colégio bom, que faz o bem, mas é administrado por uma corja podre.”

A modelo suspirou, se aproximando e fechando os livros. O namorado nem reagiu, cansado demais. Ela o pegou pela mão, fazendo com que ele se levantasse a abraçasse.

“Vem, vamos dormir. Vai pensar melhor depois de uma boa noite de sono.” Pediu ela, o guiando pelo corredor do apartamento. Quando chegaram na cama, ele já estava praticamente dormindo. “Vem, lindo, deita.”

Ela o ajudou a deitar, o cobrindo com o lençol. Ele bocejou, abraçando o travesseiro.

“Sabe? Às vezes eu até esqueço que você só está comigo por interesse.” Resmungou ele, antes de cair no sono de vez.

Margarida sentiu os olhos cheios de água, enquanto se levantava e ia apagar a luz do quarto. Deitou ao lado de Jorge na cama, chorando baixinho até pegar no sono, se perguntando até quando ele ia jogar isso em sua cara sem perceber que as coisas haviam mudado.


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Notas finais do capítulo

Olá, olha eu aqui! Essa semana está meio tumultuada, não tive muito tempo para escrever. Mas aqui está, um capítulo novo para vocês!
Percebi que não havia apresentado ainda a história de Marilina e Jorgerida mais a fundo, então cá está ela!
Agora as coisas começarão a andar e o tempo vai passar, já tivemos muitos capítulos rodando em torno de um único dia!
Digam se gostaram, ok?
Abraço.



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