Fran... escrita por Just Bella


Capítulo 1
Fran...


Notas iniciais do capítulo



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É engraçado o fato de, somente nesses últimos tempos, eu tenho me lembrado de cada pequeno detalhe seu, mesmo os mais mínimos e imperceptíveis, mesmo aqueles que nem eu mesmo sabia que eu tinha percebido, sendo que antes daquele dia eu não conseguiria listá-los como consigo fazer agora.

Lembro-me das suas manias. Você sempre colocava duas colherzinhas de açúcar no café e mais a pontinha de mais uma. Essa pequena pontinha sempre parecia ser uma diferença enorme, sendo que quando você não a colocava, fazia careta pois estava muito amargo para o seu paladar. Lembro-me de cada traço de seu rosto quando você fazia essas caretas.

Você sempre se preocupou com sua aparência. Lembro-me daquela pequena “cerimônia” que você fazia antes de dormir. Tomava um banho, passava um hidratante corporal com um aroma suave de vinho (porque você simplesmente ama vinho). Depois de escovar os dentes, você lavava seu rosto com um sabonete para diminuir a oleosidade na pele e depois passava uma loção com a mesma função, deixava os cabelos bem soltos e os penteava cuidadosamente (o que demorava pelo menos uns dez minutos) para finalmente se aninhar em meus braços e dormir um sono tranquilo. Eu olhava para você até que conseguisse pegar no sono e pensava, toda noite, “cara, ela é linda demais pra mim”. Você sempre usava minha velha blusa de motelom do Led Zeppelin para dormir, e quando eu a botava para lavar, digamos que nós simplesmente não dormíamos. Ocupávamos a madrugada com aquelas “outras coisas” que um casal de namorados costuma fazer.

Você sempre tomava chá à tarde comigo, não importava se iria se atrasar para algum compromisso. Os chás da tarde eram sempre mais importantes que qualquer coisa para mim, você sabia disso e fazia questão de participar. Você sempre elogiava meu chá, não importava quantas vezes você já tinha elogiado anteriormente outros chás que eu fizera. Você era assim, gentil, amorosa, carinhosa com todo mundo, não importa quem fosse. Você sempre agradecia a diarista por ter vindo limpar o nosso pequeno apartamento, não importava se você já tinha feito isso em todas as outras terças e sextas-feiras nos quatro anos em que moramos juntos. Você sempre cumprimentava animadamente qualquer um que visse na rua, especialmente quem era conhecido. Você sempre comprava docinhos para alguma criança de rua. Você nunca conseguia achar alguém feio, só mal-arrumado, na sua visão existiam milhares de tipos de belezas diferentes no mundo e você cada um desses tipos. Você sempre fazia questão de elogiar os cozinheiros nos restaurantes, não importa se são aqueles da lanchonete de beira de estrada que ficava no caminho para casa dos meus pais, os quais você me convenceu a visitar e passar o natal junto deles desde que começamos a namorar sério, rompendo os vários anos de conflitos que tive com eles depois de sair de casa e morar no outro lado do Reino Unido. Você me ajudou a me conciliar com minha família, e graças a isso pude pegar meu sobrinho nos braços poucos dias depois do nascimento dele, pude visitar meus irmãos, pude pedir desculpas ao meu pai por tê-lo xingado dos mais feios nomes antes de entrar num ônibus rumo à uma vida incerta e cheia de riscos, pude abraçá-lo de novo. Nunca consegui te agradecer o suficiente por isso.

Você desenhava tão bem e em qualquer lugar. Se eu te contasse que juntei todos os guardanapos em que você desenhou enquanto esperava o nosso prato chegar em algum restaurante, você acreditaria? Estão todos guardados numa caixinha em que você deu seu primeiro presente para mim, um chaveirinho em formato de guitarra que você mesma fez num cursinho de artesanato enquanto estávamos na universidade, e junto com aquele chaveirinho um pedido de namoro tímido. Planejava dar essa caixinha cheia de guardanapos junto com o anel que eu usaria para te pedir em casamento, mas você não me deu tempo pra isso.

Eu devia ter percebido. Eu devia ter percebido que não, não estava tudo bem. Devia ter notado que as coisas estavam preto e branco pra você, que aos poucos o mundo estava perdendo a graça, que nada mais parecia fazer sentido. Mas você não deixava nenhum sentimento ruim transparecer, você sempre sorria, colocava a mim em primeiro lugar, dizia que estava ótimo, que tudo estava ótimo e não podia melhorar. Mas eu fui cego, cego e egoísta. Eu te disse, lembra? Eu te disse que mesmo que tentasse, eu sempre acabava me colocando em primeiro lugar. Eu disse pra você, eu sou estúpido, egoísta e mal-agradecido. Mas você não ligou, você continuou me amando incondicionalmente e eu aprendi a amar você do modo que você merecia ser amada por ser simplesmente você, esse grande sol de inverno que aquece e ilumina esse meu mundo frio, gelado, sem-graça. Eu aprendi a amar. Você é tudo que eu tinha.

E eu não cuidei de você como seu pai exigiu de mim quando o conheci.

Eu devia ter notado.

Eu sou seu namorado porra, é minha obrigação notar se tem algo errado.

Eu sou um cavalheiro, como você sempre dizia. É minha obrigação salvar e cuidar de minha donzela.

Por que você fez isso Francinne? Por que? Por que você não me disse nada, eu podia ter te ajudado, eu moveria montanhas e universos para te tirar dessa, eu deixaria você chorar no meu ombro a madrugada inteira e pouco me importa se eu tinha que acordar cedo de manhã, eu faria de tudo pra botar sinceridade nos seus sorrisos, você sabia, sabe disso. Então por que Fran?

Por que você me deixou? Por que você se matou?

 


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Notas finais do capítulo

Eu nem shippo fruk, mas eu tava muito inspirada :'DD enfim, se gostarem, comentem por favor ♥
Eu sempre reviso, mas SEMPRE tem algum errinho, se você achar um, me avisa? owo



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