–Eu ouvi tudo o que você acabou de falar,mas, me dá uma chance Alice. Me dá uma chance de fazer você ver que eu não sou totalmente aquele cara da fraternidade.
Olho para ele angustiada.
– Matt, por favor...
–Eu gosto sim de beber e gosto de ficar chapado com brownies ou cigarros de maconha, mas não sou um completo idiota e, por mais que tenha feito e mostrado o contrário, nunca encostaria um dedo pra te machucar. Não por querer. Aquilo não foi por querer.
Sinto meus olhos começarem a encher de lágrimas e eu os fecho e começo a balançar a cabeça enquanto ele ainda segura minha mão.
–Por favor, para. - digo e fungo.
As lágrimas escorrem por minhas bochechas e meus lábios tremem.
–Para, por favor. Eu... - respiro fundo e solto minha mão da dele. Limpo meus olhos e meu rosto e olho para ele. - preciso de um tempo de tudo isso. Eu... não posso te prometer nada e nem dizer que não amo o Kyle porque eu...
Matt se endireita, ficando ereto e diz:
–Olha, não diz mais nada, tudo bem? Eu não quero ouvir você dizendo isso sobre o Kyle e não quero que você chore porque aí sim vou fazer besteira. - ele balança a cabeça e dá as costas para mim.
Observo-o sentar no sofá preto e pegar o controle remoto da televisão. Ele deixa num canal onde está passando Friends, tão tarde da noite e eu levanto-me da banqueta, contorno o balcão e sento-me no sofá mantendo um pouco de distância dele. Não sei se ele está realmente prestando atenção no programa, mas o episódio logo me distrai e eu me pego rindo baixinho quando Joey beija a mãe de Rachel num episódio de festa surpresa para ela. Começo a me sentir sonolenta e acabo adormecendo mais rápido do que poderia perceber.
***
Quando acordo, estou de volta na cama macia e quente. Minha cabeça dói e sinto dor em todo o corpo. Sento-me ao ver que há uma folha de papel rasgada ao lado do travesseiro. Pego a folha e leio.
"Alice, não te acordei para você ir para a Academia de Ballet. Não achei que você acordaria bem para ir. Eu tenho que ir para a faculdade e depois para o trabalho, então, tive que sair.
Por mais que eu quisesse voltar de noite e ver você ainda no meu apartamento, sei que isso não vai acontecer. Sei disso e não tenho a ilusão de que você vai atender ás minhas expectativas. Sei que precisa voltar para o seu apartamento e fazer uma nova chave ou achar a velha e comprar um celular novo e seguir com a sua vida normalmente. Saiba que a noite passada e a madrugada foram as melhores que eu poderia ter passado. Eu só te coloquei na cama quando foi cinco e meia da manhã e eu tinha que sair de casa. Não pude dormir. Estava vendo você dormir e achei fascinante. E ainda pude ver isso de graça!
Obrigado por ter ficado aqui e ter sido franca comigo, sei que foi e prometo não te pressionar mais. Prometo também que não farei nada para interfirir em seu relacionamento com o Kyle. Sei que, se vocês chegarem a terminarem, será muito melhor se não for por minha culpa, por eu ter feito algo. Não farei nada disso.
Não sei se você tem dinheiro para pagar um táxi de volta para casa, talvez você tenha, mas deixei vinte dólares em cima do balcão da cozinha, caso você precise. Sei que você vai embora então, por favor, quando você sair, coloque a chave debaixo do tapete da porta.
Sinta-se a vontade se quiser tomar um banho, comer alguma coisa ou se quiser ficar...
Bom, acho que é só isso.
Matt".
Olho para a carta que estou segurando e mal posso acreditar em todas as palavras que acabara de ler. Eu me sentia confusa, estranha e meu coração parecia que se derreteria a qualquer momento. Mas ao mesmo tempo aquilo tudo fora tão errado! Tão errado! Kyle surtaria e eu estava surtando antecipadamente.
Levanto-me da cama. Tenho que sair do apartamento de Matt muito rapidamente. Tenho que... pensar e resolver muitas coisas. Tenho que me movimentar.
Calço minhas botas e pego minha bolsa. Saio do quarto carregando a carta. Viro-a e pego uma caneta em cima do balcão, talvez a mesma que Matt usara.
"Matt, obrigada por ter deixado os vinte dólares. Eu tenho dinheiro então deixarei seus vinte dólares aqui, intocáveis. Obrigada por ter sido compreensível e ter me respeitado. Estou surpreendida.
Eu tenho que ir, você sabe.
A".
Vou até a porta e pego a chave na fechadura. Quando estou do lado de fora, tranco-a e  a coloco debaixo do tapete como Matt pedira. Desço as escadas e deixo para trás uma das noites mais estranhas da minha vida. Mas eu sentira certa simpatia por tudo o que acontecera.
***
No táxi de volta para o meu apartamento, tudo o que eu podia pensar era em tudo o que eu tinha que resolver. Todos os aspectos, todas as brigas e refazer algumas áreas da minha vida.
Quando o táxi para em frente ao prédio onde eu moro, agradeço ao taxista e pago exatos vinte dólares para ele.
A manhã está nublada e escura, mas ainda não está chovendo. Subo as escadinhas e passo pelo portão. Quando o segurança me vê, ele diz:
–Oi mocinha, você perdeu a chave do seu apartamento ontem? Ela caiu aqui e só fui ver depois que você tinha saído.
Sinto-me aliviada e sorrio para ele.
–Ah que bom! Que bom que o senhor achou.
–Eu a entreguei para o seu namorado. Ele chegou aqui há algumas horas. Está lá em cima.
Meu sorriso se esvai do rosto no mesmo instante e me sinto congelada.
–Ah, sim. Obrigada. - agradeço e me dirijo até o elevador.
Entro e logo depois a porta se fecha. Encosto minha cabeça no aço frio enquanto ele sobre trinta andares. Encaro as luzes fluorescentes do elevador e já sinto a bile começar a subir pela garganta. Eu sei o que está por vir.
Quando a porta do elevador se abre, meu coração dispara. Lá está ele. Está parado em frente a porta amarela do meu apartamento. A cor vibrante de seu cabelo em contraste com sua blusa de frio branca e a calça jeans preta.
Saio do elevador e ando até ele. Paro a sua frente e Kyle,muito sério, me olha. Como se de certa forma, conseguisse ver toda a noite anterior através dos meus olhos. Eu me sentia culpada, mas nada havia acontecido. Nada além de ter ido dormir na casa de Matthew. Mas isso seria suficiente para começar a terceira guerra mundial.