Na manhã seguinte ao dia de Ação de Graças, todos nós acordamos cedo, por volta das oito da manhã. Fiz as malas enquanto Kyle tomava banho. Eu já havia tomado banho e me trocado. Tinha vestido uma calça jeans azul escura cintura alta, um suéter azul royal e meu All Star preto de sempre.  Lá fora, a chuva caía intensa com direito a trovões e relâmpagos.
Quando terminei de arrumar as malas, fui para o andar de baixo, na sala. O sr.Blake estava sentado no sofá junto de Chloé. Quando me viram se aproximando, olharam para mim e o sr.Blake disse:
–Estávamos conversando sobre a volta de vocês. Será que o Kyle a deixa no aeroporto?
Olho para Chloé de cenho franzido.
–É claro que sim. Que pergunta é essa?
Chloé que está vestindo sua jaqueta de couro dá de ombros e diz:
–Não sei, Kyle anda esquisito comigo ultimamente.
Balanço a cabeça negativamente.
–Ele te leva sim, não se preocupe. Espero que você consiga pegar seu voo com essa chuva.
Chloé suspira e apoia o queixo nas mãos enquanto olha para o carpete no chão.
–É, eu também.
Passado alguns minutos, Kyle desce as escadas com a minha mala de rodinhas vermelha e a sua mala de levar no ombro. Ele vestiu uma blusa preta e lisa de manga cumprida com gola V, calça jeans azul escura e seu All Star.
Sorrio.
–Você comprou uma calça azul? - pergunto quando ele para ao meu lado. Seus cabelos estão úmidos.
Ele olha para sua calça e sorri. Depois olha para mim.
–É, não tinha preta na loja e eu gostei dela.
Dou risada.
–Também gostei.
E tinha caído muito bem nele! A calça era skinny num tom azul escuro e toda lisa.
–Bom, é melhor irmos andando. - Kyle diz. - Você quer que eu te leve até o aeroporto? Vamos passar por lá.
Olho para Chloé e ergo as sobrancelhas. Ela revira os olhos para mim e diz:
–Sim, eu agradeço.
Reprimo um sorriso.
O sr. Blake se levanta do sofá.
–É uma pena que o Tom ainda esteja no mercado. Sei que ele gostaria de se despedir de vocês.
–É mesmo uma pena. - digo. - A chuva deve tê-lo pego desprevinido. Mas mande nossos cumprimentos para ele.
O senhor de idade baixinho com óculos retagular assente.
–Bom, então vamos indo porque a estrada é longa para nós.
Nos dirigimos até a porta e Kyle a abre. Pega o guarda chuva na pequena varandinha e vai guardar as malas no carro. Por um momento eu, Chloé e o sr.Blake ficamos olhando para ele. Chloé foi a que quebrou o silêncio entre nós primeiro.
–Titio, muito obrigada por ter me recebido. Sentirei saudades do senhor, fique bem, certo?
–Claro que sim, Chloé. - ele assente e a puxa para um abraço apertado. - E você tome juízo, ouviu? E vê se aposenta essa jaqueta de couro.
Tento esconder meu sorriso, mas o sr.Blake ri e eu acabo rindo também.
–Ah titio! Pare com isso. Para sua informação foi essa palhaça aqui que está rindo - ela aponta para mim. - que me deu essa daqui.
O sr. Blake continua a rir.
–Mesmo assim.
Chloé fica exasperada e diz.
–Ai tio, tchau. Fique com Deus. - dá um abraço rápido e sai na chuva até o carro. Abre a porta de trás e entra.
Eu viro para o sr. Blake e ele sorri para mim. Se aproxima ainda mais e pega minhas mãos.
–Querida saiba que foi um prazer tê-la aqui. Espero que volte mais vezes.
–Obrigada Danny. - já tinha aprendido a não chamá-lo de sr.Blake porque ele não gostava de tal formalidade. - Espero vê-lo em breve e desculpe qualquer coisa sobre mim ou sobre Kyle.
Olho para o garoto de cabelos vermelhos que está vindo em nossa direção atravessando o pequeno gramadinho debaixo do guarda-chuva transparente.
–Imagine querida, não há nada com o que você tenha que se preocupar.
Sorrio de lado.
–Eu preciso te dar uma coisa.
Observo o sr.Blake soltar uma das minhas mãos e enfiá-la no bolso da sua calça jeans. Ele tira de lá uma moeda que reconheço. Arregalo os olhos e balanço a cabeça negativamente.
–Não sr. Blake eu não posso...
–Pode sim! - ele insiste me entregando o florentin.
Seguro a moeda na palma da mão e fico sem graça sem saber o que fazer.
–Mas e a coleção do senhor, eu...
–Eu tenho outros dois florentins guardados. Não se preocupe.
Sorrio e abraço-o.
–Muito obrigada! Vou guardá-lo muito bem.
Ele sorri.
–Tenho certeza que sim.
Kyle chega ao meu lado e eu me despeço o sr.Blake. Falo que vou esperar Kyle no carro. Quero dar um pouco de privacidade para os dois.
Atravesso a pequena calçada e sou atingida por pingos grossos de chuva. Entro no carro e bato a porta. O rádio está ligado tocando uma música de rock que não conheço.
–Ele te deu uma moeda? - Chloé pergunta do banco de trás.
Olho pela janela salpicada de pingos de chuva e vejo Kyle dar um abraço em seu pai.
–Sim.
–Então ele deve gostar muito de você. Muito mesmo.
Sorrio de lado e sinto-me honrada por aquilo.
Observo Kyle atravessar o pequeno jardim em direção ao carro. Ele contorna o carro e entra batendo a porta.
Coloco o cinto de segurança e Kyle também. Ele liga o carro e eu olho pela janela novamente. O sr.Blake acena para nós e todos nós fazemos o mesmo dentro do carro com as janelas fechadas.
Kyle começa a dirigir deixando a pequena casinha para trás. Sinto um aperto no coração ao ver pelo retrovisor o sr.Blake olhando enquanto nos afastamos cada vez mais.
Olho para Kyle que fita o retrovisor na altura de seus olhos com as sobrancelhas levemente franzidas.
–Você está bem?
–Sim. - ele diz distraído.
O caminho até o aeroporto foi rápido e quando estacionamos do lado de fora, Chloé já estava com mala no ombro.
–Obrigada gente. Vejo vocês em Nova York. Tomem cuidado.
–Bom voo. - digo ao mesmo tempo que Kyle diz tchau.
Chloé bate a porta e atravessa a calçada larga e grande. Kyle e eu ficamos observando-a entrar no aeroporto e depois ele começa a dirigir novamente, o aeroporto ficando para trás.
–Você está bem mesmo? - pergunto.
–Sim, só fico preocupado em deixar meu pai aqui.
–Ele está bem Kyle. - digo colocando a mão em seu ombro direito.
Ele olha para mim rapidamente e volta a atenção para a rua. Kyle não diz nada, nem eu. Até que não me aguento e pergunto se posso mudar de estação na rádio.
–Pode, desde que não seja para colocar em Justin Bieber.
Sorrio enquanto procuro alguma estação de rádio onde esteja tocando uma música do meu agrado.
–Olha, algumas músicas dele são boas.
Kyle resmunga e eu dou risada.
–Mas não vou colocar em nenhuma dele, fica tranquilo.
Paro quando ouço a voz do Shawn Mendes nos alto-falantes do carro. Kyle me olha.
–Está brincando, certo? Você não gosta de The Neighbourhood?
Dou risada.
–Mas eu também gosto de Shawn Mendes.
Kyle revira os olhos.
–Assim você vai fazer eu bater o carro. Essa música ruim está me distraindo.
Reviro os olhos e não respondo. Me concentro em ouvir as notas do piano no começo de "Mercy" enquanto olho a chuva caindo pela janela.