Meu estranho amor escrita por Eduardo Marais


Capítulo 10
Ah, sei lá o que está havendo!




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Sem conseguir dormir ou relaxar, sabendo que no quarto vizinho estava sua grande paixão, Regina rola sobre a cama sem encontrar um espaço adequado para seu corpo.  Ah! Já chega! Preciso resolver essa situação horrível!

Regina se levanta e sai de seu quarto. Caminha pelo corredor e para na frente da porta do quarto de David. Acaricia a madeira e encosta a testa sobre a superfície do material que separava seu corpo do corpo de David.

— Dave, você está acordado?

— Não posso dormir sabendo que Mary está na casa de Amintas.

— Ela fez a escolha, Dave.

— Mary sabe que eu a amo e que aceitei a presença da criança em nosso casamento.

— Por que não sossega seu coração? Abra-se para as possibilidades, meu querido...

Regina estende a mão e segura o trinco da porta. Força-o, mas percebe que a porta estava trancada. David havia trancado a porta para evitar que algum encontro acontecesse.

— Tem medo de ceder aos meus encantos e ao meu perfume, Dave?

— Não, Regina. Não quero confusão com Amintas, então, por favor, vá embora! Não pretendo perder meu...minha sanidade!

— Eu perturbo sua sanidade?

— Não, Regina! É Mary quem perturba a minha sanidade! Ela está brincando com minha vida e com a minha alma! Será que é tão difícil para você entender??

Na manhã seguinte, Regina percebe que estava sozinha em casa. David já havia partido e certamente não retornaria tão cedo naquele apartamento.

“Como você está, Regina?”

— Acabei de acordar. Tenho bastante serviço com minha editora hoje, porque estamos a todo vapor na preparação do lançamento do meu livro!

“Ah, querida! Eu estarei ao seu lado neste dia!”

— Obrigada, Mary. Mas liguei para dizer que David chegou aqui ontem à noite, completamente bêbado.

“E o que ele queria com você?”

— Estávamos Emma, Killian e eu quando ele pediu ajuda para acalmar o coração dele. O que você pensa que está fazendo com esta fuga?

“David está me pressionando e eu estou me acostumando com a maternidade. Não posso ceder aos melindres dele e deixar meu filho sem meus cuidados.”

— Mas você pode conciliar, Mary. Sabe que David está sendo gentil ao aceitar seu filho!

“Caso ele não me aceitasse com o meu filho, poderia ir embora. Ele me pressionou e eu decidi sair de perto dele.”

— David dormiu aqui em meu apartamento. Emma e Killian foram embora e decidi deixá-lo dormir aqui comigo. Ele me pediu apoio e resolvi oferecer.

Mary fica em silêncio do outro lado da linha. Não iria dar importância para aquela provocação, porque sabia da paixão louca de Regina por David. Porém, David também sabia disso e deveria preservar-se e em vez disso tinha ido buscar conforto nos braços de Regina!

— Ele dormiu no quarto vizinho, mas na madrugada ficamos conversando. Falamos sobre nossos sentimentos e ele estava sofrendo, mas depois se acalmou.

“Quer saber, Regina? Eu saio da disputa e você pode ficar com David. Não vou competir com sua beleza, seu sucesso profissional e sua grande paixão por ele...no momento, será melhor para que David seja cuidado pela sua devoção. Boa sorte para os dois!”

Eu não acredito que minha sorte mudou! Meu David? Jamais pensei que poderia pronunciar isso! Obrigada! Confesso que mereço! Agora me resta...comemorar ou lamentar?

Naquela manhã, Regina aguarda a chegada de David no restaurante. Quando ele chega, não demonstra entusiasmo em ver a cunhada aguardando sua presença. Mas, provavelmente, ela trazia notícias de sua doce e furiosa Mary.

— Desculpe-me por ser rude, mas tenho uma reunião na empresa em duas horas. Temos de ser rápidos na conversa. O que soube de Mary? Faz três semanas que não sei nada sobre ela e o menino.

— Já que você quer ser direto, serei objetiva: Mary disse à minha mãe que não pretende retornar para nossa cidade, tão cedo. Quer esperar a licença maternidade acabar e depois retomar sua profissão, como Professora. Disse que Amintas já conseguiu uma entrevista em uma Universidade e tão logo a licença acabe, ela irá trabalhar por lá.

— Então...ela me descartou da vida dela? E nosso casamento?

— Não disse nada sobre isso. – Regina dá de ombros. Estende a mão e segura a mão do loiro. – Deixe-a seguir a vida com o pai do filho dela. Reconstrua a sua e saiba que estou aqui para ser a mulher forte que você precisa.

David retira a mão e cruza os braços. Olha para a parede de vidro do restaurante e Regina consegue ver gotinhas claras surgirem em seus cílios.

— Ela terá de me dizer isso, olhando em meus olhos. Quero que ela me diga em que Amintas é melhor do que eu. Quero que ela me diga que não me ama mais.

— Mary me disse que eu poderia ficar com você.

David encara a cunhada.

— Não amo você, Regina. Tampouco sou um cachorrinho para ter o dono trocado.

— Podemos unir nossas solidões...nossos corpos...nossos sentimentos...

— Sexo, fazemos com qualquer um, Regina. Mas amor, fazemos somente com quem amamos.

Qualquer um? Outra vez me colocando na condição de qualquer um? Ah! Quer saber? Eu não preciso me alimentar das migalhas da mesa de Mary!

— Faça o que achar melhor. Mas se ela não quis falar com você por três semanas, é porque Amintas cobriu todas as lacunas. E deve ter feito coisas mil vezes melhor do que você faz! – Regina se levanta e sai do restaurante.

No final daquele mês, toda a família Mills e amigos de Regina encontram-se numa livraria em um elegante shopping do centro comercial da cidade, para o lançamento do primeiro livro da antiga colunista de uma revista feminina.

— Esse pãozinho tá com gosto de meia suja. – Killian usa o guardanapo para cuspir o pão com creme.

— Por que Emma não veio? – Regina sorri para os convidados. Queria aparecer bem nas fotos.

— Ela estava com dois pacientes recém-chegados. Será que alguém vai ter coragem de comprar seus livros? E ainda comer esse patê?

Regina começa a rir. Estava nervosa e poderia rir de qualquer desgraça, que não fosse a sua. Ela aponta para a entrada do salão.

— Está vendo aquele homem ordinário que está entrando com aquela loira peituda?

— Não dá para vê-lo, porque os peitos delas estão impedindo a minha visão.

— Ele é o homem que me demitiu da revista. Poderia criar algum efeito pirotécnico com aquela pseudo jornalista que roubou minha coluna? Vou atrair a atenção dele e você se incumbe de animar um pouco este evento.

Killian olha por cima do ombro e sorri. Seria divertido desde que não estragasse a festa de Regina! Mas para que a festa ficasse mais animada, os meios justificariam nos fins! Vamos lá!

Amigos presentes, ex-colegas de trabalho, pessoas que já conheciam o trabalho de Regina, alguns jornalistas, duas atrizes e convidados sem vínculo algum, apresentavam seus exemplares para receberem dedicatórias e aproveitavam para trocar algumas palavras com a bela escritora. Tudo dentro da normalidade de um lançamento de livro.

— A quem eu escrevo a dedicatória?

— Amintas Rochut.

O som produz um choque dentro do corpo de Regina e de maneira involuntária, ela salta e fica em pé. Inclina-se sobre a mesa e abraça o homem largo como se o quisesse quebrar ao meio.

— Que bom que você veio!! – ela se afasta e segura o rosto dele. – Mary veio com você??

— Veio. Ela está falando com Zelena. Virá falar com você em breve.

— Vou terminar as dedicatórias e depois quero minha família comigo!! E você conosco!

Momentos mais tarde, Regina está radiante, protegida pela sua família a amigos verdadeiros, exuberante em sua nova trajetória. Feliz, não se furta a abraçar e ser abraçada, beijar e ser beijada, compartilhando a leveza de sua alma...até ver ao longe, Mary permitindo que David a abraçasse e a beijasse nos lábios.

Então, tudo se desmorona e nem mesmo o sucesso da brincadeira vingativa de Killian com a loira, agora estimulada por determinados complementos alimentares, é forte o bastante para manter o brilho nos olhos e na alma de Regina. Tudo estava resumido ao contorno daqueles lábios que se beijavam.

Nossa! Aquilo era humilhação demais! Por que ela estava permitindo ser tão humilhada? Estava apreciando aquela situação? Estava sentindo prazer em rastejar e lamber os restos do banquete de Mary? Quem estava criando aquela situação?

— Não deveria permitir que ele fizesse isso com você. – Killian fala ao ouvido de Regina.

— Ele? David não está fazendo nada comigo! Esse é o problema.

— David? Não. – ele ri e aponta para o coração de Regina. – Falo dele! Está deixando-se ser enganada por ele e está apreciando sua posição de pedinte.

— Tudo será diferente daqui em diante, Killian. Vou arranjar um amor para mim.

O homem sorri sarcástico e aponta para Amintas num canto da livraria, conversando e rindo muito ao lado de Zelena que carregava o pequeno Johnathon nos braços. Parecia um casal feliz.

— Acredito que você conseguirá, sim. Há tantos outros homens solteiros e disponíveis!

Regina não se entende mais. O que a estava matando? A reconciliação entre Mary e David? O reencontro com o homem que a demitira? O sucesso de seu livro já detestado por ela? Ou o sorriso escancarado de Zelena para as piadas de Amintas?

Nos dias seguintes, a chegada de Charlotte ao lado de seu jovem marido Corfu, tranquiliza a alma atormentada de Regina.

— Meu belo amigo Killian está namorando? Isso é maravilhoso! Todas as pessoas deveriam amar! – a mulher mais velha sorri. – Corfu está me proporcionando o mais belo pôr do sol de minha vida. Faz bem aos meus olhos e aos meus últimos dias.

— Do que está falando? – Regina acha graça. – Continua ingerindo os complementos alimentares de Killian?

As duas riem e permanecem em silêncio olhando o grego nas águas da piscina.

— O quadro de minha doença agravou-se e não terei muito tempo.

Os olhos assustados de Regina ficam presos no rosto da avó. Nunca havia pensado na possibilidade da morte de Charlotte. Ela deveria ser eterna. Linda, sorridente e eterna!

— Quando tempo?

— O tempo suficiente para deixar Corfu bem amparado e o tempo suficiente para ver as minhas netas amando belos homens. Já presenciei a felicidade de Mary com a chegada de Johnathon e agora a reconciliação com David; estou vendo a vitória de Zelena sobre a solidão; e vi sua vitória em seu campo profissional, Regina. Mas quando a verei amando de verdade?

— Um dia, vou encontrar o amor, Charlotte.

— Você tinha os mais belos e perfeitos homens para complementarem os seus dias, mas os empurrou para a condição de amigos. Surgiu uma veterinária linda e capturou o cachorrão do Killian. Depois, Zelena veio rápida e está investindo em Amintas...mas pelo que Killian me contou, o coração de Amintas pertence a você.

— Killian tem o hábito de não conseguir manter a língua parada.

— Amintas ama você, Regina. Podemos sentir o cheiro do amor dele.

— Mas eu não amo Amintas!

— E também não ama David. Que se dane! – Charlotte se levanta e caminha para a piscina, estendendo os braços e sendo acolhida pelo marido, que a conduz para dentro da água.


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