Uma Flecha No Escuro escrita por Madame Baggio


Capítulo 2
Capítulo 01


Notas iniciais do capítulo

E mais um pra vocês pegarem o gostinho ;)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/699854/chapter/2

SUSAN!

Susan não tinha certeza se tinha sido o silêncio repentino ou se o seu nome sendo chamado o que realmente a acordou, porém não foi exatamente isso o que a deixou chocada.

A plataforma estava deserta.

Susan tentou respirar fundo. Não era possível que tivessem fechado a estação pelo dia e a deixado ali. Os guardas nunca permitiriam que alguém ficasse dormindo lá. Acalmando os nervos tentou reparar melhor no que tinha ao seu redor.

A estação parecia infinitamente mais velha do que parecera de manhã, desgastada. Não havia barulho de trem ali e o dia estava de repente mais frio. A única iluminação parecia ser luzes de emergência. Susan lembrava-se bem demais dessas luzes, por causa da guerra.

Seu olhar foi parar no banco onde ainda estava sentada e daí veio seu maior choque. Ao seu lado estavam seu arco e sua aljava cheia de flechas, ambos encostados contra o banco. Dobrada de forma cuidadosa estava sua capa preferida de veludo azul turquesa e sobre ela sua corneta.

Susan levantou-se de um pulo e mais uma vez olhou em volta, como se esperasse que algo diferente surgisse.

—Peter? Edmund? Lucy? –chamou, mas sua única resposta foi o eco da sua voz.

Estava começando a ficar um pouco assustada. Onde estaria?

Mexeu em sua bolsa, que ainda estava ao seu lado, e tirou um espelho de bolso. Seu rosto continuava igual, seus cabelos ainda estavam bem penteados e sua maquiagem estava como a tinha colocado antes.

Passou a mão pelas roupas e viu que não estavam amassadas ou sujas, mas frescas como se tivessem sido recentemente limpas. E tinham sido. Mas então porque Aldywich parecia tão velha?

Amarrou sua corneta ao seu cinto e então prendeu a capa em volta do pescoço. Não tinha ideia de onde ia sair, mas esperava não chamar a atenção saindo desse jeito. Trouxe sua aljava e seu arco para debaixo da capa e conseguiu esconde-los de forma satisfatória. Seria incômodo ter que carrega-los nas mãos, mas não ia arriscar expô-los por enquanto.

Não até descobrir onde estava.

Foi na direção onde seria a saída e encontrou escadas exatamente onde elas deveriam estar. Subiu os degraus correndo e deparou-se com uma porta fechada.

Estendeu a mão para a maçaneta, mas antes que realmente a tocasse a porta se abriu sozinha.

Era isso. Hora de descobrir o que estava acontecendo.

 

Susan atravessou a porta e se viu num túnel cheio de pessoas e muito iluminado. A porta pela qual saíra fechou-se sozinha e nela tinha um aviso de “Somente pessoal autorizado”.

Havia algo estranho naquela situação. As pessoas pareciam as mesmas, mas mesmo assim pareciam diferentes. Os cabelos, as roupas, o jeito que andavam juntos. Onde ela estava?

Um grupo de jovens estava vindo em sua direção pelo túnel. Eram cinco, três meninas e dois meninos, e todos usavam roupas curiosas. Pelos olhares curiosos que recebiam das outras pessoas em volta Susan deduziu que estavam fantasiados e aquele tipo de roupa não era comum.

—Olha, tem mais uma aqui! –uma das meninas, que tinha o cabelo vermelho (que era obviamente pintado, porque tinha dois dedos de raiz) comentou apontando diretamente para Susan.

—Você também está indo para Greenwich ver os Vingadores? –a menina que tinha cabelo azul perguntou.

Greenwich... Susana conhecia o lugar e, teoricamente, sabia voltar da sua casa para lá. Aparentemente estava em Londres. A pergunta era... Qual Londres?

—Sim. –ela respondeu suavemente –Vocês também?

—Sim! –a menina azul respondeu animada –Eu sou apaixonada pelo Homem de Ferro! Eu quero dar uma chance ao Stark de me ver antes que ele resolva casar com a tal da Pepper Potts.

Stark... Susan lembrava desse nome. Ele era um playboy americano que namorava qualquer cantora de ópera/atriz que aparecia. Ela tinha lido uma vez que ele era um visionário ou algo do tipo. Mas... Seria esse Stark? Qual era o nome dele mesmo?

—O Stark é muito baixinho! –um dos meninos falou. Ele usava uma capa vermelha e tinha um martelo na mão –Eu quero é um Thor pra me jogar na parede e me chamar de lagartixa!

Thor? Esse não era o deus nórdico do... Hum, do que mesmo? Susan não gostava muito de mitologia nórdica, porque era estranho demais. Sempre preferiu a grega.

—Vem com a gente. –a menina ruiva falou de novo –Você parece meio perdida.

Susan deu uma risada, que esperou não tivesse saído muito forçada.

—Um pouco. –ela admitiu.

—Adorei a sua capa. –a última menina, uma loira de sorriso bem tímido falou –Pelo jeito você também é fã do Thor.

—Isso. –ela falou com cuidado, com medo de dar pistas –Eu sempre preferi homens... Altos. –era um chute, mas deu certo.

Eles se aproximaram e se apresentaram (Rose, Didy, Jim, Julie e Pat), enfiaram-se todos no metrô e seguiram viagem.

Susan respondia as perguntas deles com um certo cuidado. Disse seu nome e sua idade, mas o resto de tempo teve que ficar em guarda. Obviamente não estava em Nárnia. Devia estar em Londres, mas era tudo tão estranho. Não reconhecia algumas das palavras que o grupo que conhecera usava. Ficou chocada com os comentários que faziam sobre as outras pessoas, a falta de pudor em praticamente tudo.

Julie, a loirinha tímida, percebeu o desconforto de Susan e comunicou aos demais. Eles a apelidaram de Santinha e a garota ficou com a impressão de que aquilo não era um elogio.

Não queria perguntar o que estavam indo fazer em Greenwich, já que dera a entender que estava indo la pra começo de conversa, mas prestando atenção na conversa ouviu duas senhoras atrás de si.

—Um absurdo! Eles praticamente destroem Greenwich e agora vão fazer festa para eles?

—Mas eu ouvi que eles ajudaram na limpeza e em grande parte da reconstrução. O tal do Stark até doou dinheiro.

—É pra comprar todo mundo, pra que nós esqueçamos o que eles fizeram.

—Gente velha é um saco. –Pat resmungou e os amigos dele concordaram.

Susan estava chocada com a falta de respeito.

Finalmente eles chegaram a Greenwich. Massas e massas de pessoas estavam se movendo na mesma direção que eles, a rua parecia um circo. Era um empurra-empurra, havia pessoas com cartazes que gritavam contra e a favor dos tais Vingadores que os cinco pareciam amar tanto. Susan tentou escapar em meio a multidão, mas Rose agarrou seu braço e continuou puxando-a junto.

Pat e Jim podiam ser magrelos, mas pareciam dois bois. Empurrando conseguiram chegar razoavelmente perto do palco que estava montado.

Ouvindo mais conversas aleatórias Susan chegou a uma história que seria mais ou menos assim: Londres tinha sido atacada por extraterrestres, que pareciam muito ter saído de Star Trek (seja la o que isso quer dizer), Thor tinha vindo em toda sua glória dourada e sarada (ela não tinha certeza do que isso era também) salvo o dia, mas destruído um bom pedaço da biblioteca no processo. Esses tais de Vingadores tinham voluntariado para a limpeza e para pegar um bicho que os aliens tinham deixado para trás. Uma das teorias era que agora eles fariam experimentos com o tal bicho. Outra era que esse bicho já era um experimento deles que tinha fugido. Também tinha a teoria de que eles só estavam ajudando na limpeza porque tinham medo de que alguma coisa alien caísse em mãos erradas.

No geral Susan ainda estava bem confusa. Não entendia exatamente onde estava, embora parecesse Londres. Alguma coisa não estava certa, principalmente com as pessoas. Não estava entendendo nada desses Vingadores também. No começo tinha achado que eram atores ou algo do tipo, mas estava começando a ficar na dúvida. O nome Stark continuava aparecendo. Alguém tinha dito Tony Stark e ela tinha quase certeza que não era esse o nome do homem que ela lembrava. Fora esse havia o tal do Thor (deus nórdico?), Hulk (oi?), Viúva Negra (isso não era uma aranha?), Gavião Arqueiro (???) e um Capitão América.

Esse último também soava familiar por algum motivo, só não conseguia se lembrar bem porque. Era como se fosse uma notícia velha em sua cabeça, que prestara atenção apenas parcialmente e agora estava querendo ser lembrada.

O prefeito de Londres subiu no palco e pediu silêncio. Ele fez um discurso meloso sobre Londres ser uma cidade secular que já sobrevivera a muitas coisas e guerras, que o que acontecera fora triste, mas que a cidade sobreviveria como sempre. Era fácil ver que ninguém estava preocupado como o que ele tinha dizer e só estavam esperando por esses Vingadores.

—Eu gostaria de agradecer, do fundo do coração, ao homem que lutou para salvar nossa bela cidade. Príncipe Thor de Asgard!

Príncipe Thor de Asgard? Isso só podia ser brincadeira. Era ainda mais ridículo do que Nárnia!

Thor era realmente um homem alto e forte, parecia um viking. Ou como Susan imaginava que um viking seria. Ele parecia se deliciar nos aplausos e na animação de seu público, agradeceu a todos, disse que Londres era uma bela cidade, que a batalha tinha sido feroz, que sem a ajuda de sua adorada Lady Jane ele não teria vencido...

A cada minuto que passava Susan tinha mais certeza de que isso só podia ser um teatro.

Thor então fez um discurso um pouco mais sério sobre a importância das pessoas se ajudarem e agradeceu a todos que tinham se voluntariado para ajudar a arrumar a biblioteca. Então ele chamou os demais Vingadores.

O urro da plateia foi ensurdecedor.

O primeiro homem a entrar era moreno e estava usando um terno muito bonito. Até de onde ela estava Susan podia ver que ele era caro. Ele tomou o microfone de Thor e se apresentou como Tony Stark (“caso algum de vocês estivesse vivendo na lua nos últimos anos”, ele mesmo falou de forma arrogante). Definitivamente não era o Stark que Susan se lembrava, mas até então não precisava existir só um no mundo.

Stark aparentemente doara uma boa quantia para ajudar no reparo dos danos feitos no lugar. O homem podia ser arrogante, mas também sabia muito bem como cuidar da plateia. Susan estava mais uma vez pensando em como fugir, aproveitando da distração dos demais, quando o Capitão América subiu no palco.

Foi o uniforme que fez Susan lembrar. Ele era um “herói” americano, um soldado ou algo do tipo. Ela se lembrava bem porque era na época em que estava nos Estados Unidos com os pais e as pessoas não paravam de falar dele. Lembrava-se de ter trocado cartas com Peter, que achava todo aquele teatro ridículo.  Lembrava-se de ir ao cinema e ver trechos de batalhas dele. Mas tinha algo mais... Algo...

Ele tinha desaparecido! Antes de ela deixar os Estados Unidos e voltar para Londres. Disseram que ele tinha morrido em combate. Então seria esse outro? O que estava acontecendo?

Susan tinha que sair dali, imediatamente. Começou a se afastar devagar para o lado, buscando sair do meio das pessoas. Foi quando levantou os olhos e viu um homem no telhado atrás do palco. Ele estava posicionando algo que parecia muito... Uma arma! Ele ia atirar em alguém no palco! Como ninguém estava vendo isso?

Susan hesitou na beirada da multidão. Alguém ia morrer e ela ia ser a única a ver de onde vinha o tiro?

Sabia que ia se arrepender depois, mas não podia ficar parada. Jogou a capa para trás dos ombros, pegou uma flecha e deixou a aljava cair no chão. Quando o primeiro grito de alarme soou sua flecha já estava voando pelo ar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E ai?

Comentem!

B-jão