Estava fazendo tanto frio naquele dia, o céu estava repleto de raios e brilhantes relâmpagos. Por incrível que possa parecer eu não tinha medo deles, eu não me importava com os clarões e com os raios que pareciam partir o céu no meio, não me importava com o barulho; eu podia ter muitos medos para um garoto de 10 anos, mas aquele não era um deles.

Estava quase dormindo, quando ouvi cinco batidinhas na porta de madeira velha, sabia quem era. Ela abriu a porta devagar, pois a cabeça para dentro e falou:

“Eu posso ficar aqui com você?” disse entrando com um cobertor sobre os ombros, sem esperar uma resposta.

“Pode.” Falei rindo.

“Não é nada disso que está pensando, eu não estou com medo. Eu vim pra ver se está tudo bem com você.”

“Claro que sim!” ironizei.

“Você é um idiota, chega pra lá!” falou se deitando ao meu lado, e fechando os olhos.

***

“P-pode.”

“Obrigado.” Disse se encolhendo por causa do frio.

“Vamos lá pra cima, no meu jipe tem roupas limpas, você vai poder trocar, e... você está com fome?” perguntei.

“Não muito.” Falou baixo.

“É... então vamos?” disse e ela olhou para os meus olhos.

“Vamos!”

Nós subimos até o morro das luzes, que a essa altura já tinham se apagado. Às vezes eu olhava de soslaio para a ruiva, ela não parecia nada bem, seus olhos sempre estavam direcionados para o chão, e ela se abraçava durante todo o tempo. Ela tremia, e a cada passo que dava parecia sentir dor, não sei se física ou psicológica.

“Como foi a festa?” tentei mudar de assunto mais logo me arrependi de ter perguntado.

“Foi legal, até... você sabe.”

Silêncio novamente. Não sei por que mais me sentia desconfortável ao seu lado, talvez por que a tenho tratado mal desde a primeira vez que a vi, ou por que ela me notou quando mais ninguém fez isso.

“Porque me salvou?” perguntou subitamente.

“Por que era o certo a fazer, não podia deixar aquele mostro abusar de você.”

“Mas você não gosta de mim.”

“O que não me dá o direito de ser um mostro também!” ela me olhou diretamente nos olhos e deu o que parecia ser um sorriso.

“De qualquer jeito obrigado. Eu não sei o que acon...”

“Acho melhor não ficar pensando nessas coisas.” A interrompi.

Ela se calou e continuamos a subir a ladeira de terra. Até que chegamos onde o meu jipe estava estacionado. Eu fui até ele,  abri a mala para pegar as roupas, e a vi se sentar com cuidado em uma pedra grande, e olhar para as luzes apagadas.

Peguei as roupas – que consistiam em um conjunto de moletom do orfanato, com calça e camisa de manga cumprida de cor cinza. – e fui me aproximando devagar.

“Desculpa.” Ela falou de repente.

“Desculpa pelo que?”

“Por hoje de manhã. Eu não contei nada para o diretor.” Ri por ela está se desculpando de algo tão estúpido.

“Sem problemas, e me desculpa por ter sido um idiota com você, hoje não foi um dos meus melhores dias.” Disse e ela sorriu.

“Eu te desculpo por ter sido um idiota.” Falou enquanto se levantava e pegava as roupas da minha mão, e ia para trás do jipe se trocar.

POV’s Lydia

Eu me sentia tão suja, tão machucada. Eu queria gritar, eu queria chorar até não aguentar mais, mas não podia fazer isso, eu sou Lydia Martin, e sou mais forte que isso.

Troquei de roupa, vesti o moletom que tinha um logotipo do Orfanato Eichen, me perguntei o porquê, ficou um pouco folgado, mas não me importei. Joguei aquele vestido o mais longe que consegui, e prendi os meus cabelos. A minha maquiagem deveria está completamente borrada, mas eu não ligava mais para ela.

Sai de trás do carro, e Stiles estava sentado na pedra onde eu estava há poucos minutos, quando me viu ele me encarou por um tempo, parecia ter se lembrado de algo, mas não perguntei o que.

Me aproximei, e me sentei ao seu lado, a pedra era grande o suficiente para nós dois. Olhei para o lado e vi que ele encarava uma solitária luz no horizonte, ela piscava às vezes, parecia está se apagando mais não estava.  Aquela luz parecia comigo nesse momento, querendo se apagar, mas tendo que continuar acesa.  

“Eu nem te conheço direito mais já te devo muita coisa.” Falei e ele me olhou rapidamente.

“Não me deve não.”

“Na verdade eu devo. E muito!” ele olhou para frente novamente. “Obrigada mesmo, Stiles.”

“Você nunca vai parar de me agradecer?” falou brincalhão, uma coisa que eu nunca imaginaria do garoto escuro, era assim que a minha mente o apelidou.

“O que fazia aqui?” perguntei, mas logo me arrependi, eu não podia sair perguntando sobre a vida alheia desse jeito.

“Sei lá.” Foi à única coisa que ele disse.

A luz que jazia sozinha no meio da escuridão havia se apagado, e eu comecei a olhar para os lados. Vi uma “cama” feita com um colchão de acampamento e vários cobertores no chão, se não houvesse ninguém ali, eu me deitaria sem pestanejar, mas a cama era do Stiles, eu não podia me deitar...

“Quer se deitar?” falou me tirando dos meus pensamentos, e vendo como eu olhava fixamente para a cama.

“Eu posso?”

“Claro, se não se importar com o desconforto.”

“Nessa altura do campeonato, não me preocupo mais com nada.” Fui me levantando e deitei no colchão, me cobrindo com um cobertor.

Stiles voltou a olhar para frente.

“Stiles...” falei um pouco baixo.

“Sim?” falou me encarando.

“Prazer, Lydia.”

“Prazer.”

“Boa noite, Stiles. E obrigado mais uma vez.” Disse fechando os olhos e me encolhendo.

“Boa noite, Lydia.”