Andarilhos escrita por Timeless


Capítulo 2
Despertar.


Notas iniciais do capítulo

Olá, eu agradeço o comentário do último capítulo, obrigado. E os que leram também. Agora um novo capítulo pelos olhos de Talia.



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Luz…

      Sons…

                Escuridão…

                             É tudo que eu lembro…

Estava frio. O vento cortante batia no meu rosto. Minha consciência outrora apagada retornava a mim aos poucos. Tudo estava tão confuso e uma dor de cabeça tinha me pego de jeito. Abrir meus olhos, e demorei a acostuma-me com a luz. Senti algo pinicante. Era grama. Estava em uma floresta, ou melhor, deitada no meio de uma floresta. A copa das árvores eram verdes e viçosas. A altura deveria passar de vinte metros, fato que dificultava a passagem de raios solares. Com dificuldade, consegui sentar. Ao meu lado uma mochila marrom. Peguei-a e com cuidado, a pus no colo e abrir. Lá havia uma identidade.

— Talia. Idade: Dezenove anos. Cidade, borrado. Assim como todo documento. — Pensei, assumi que era meu.

Talia… Eu gostei. Vasculhando mais, percebi que lá dentro tinha ainda, uma garrafa d'água, comida, corda e um canivete. Bem conveniente, eu diria. E por último, um espelho. Olhando-me nele, levei um susto. Eu era completamente diferente. Meus cabelos eram cacheados, compridos, uns cinco centímetros abaixo dos meus ombros, e totalmente prateados. Levei um susto com meus olhos violetas, eram grandes e expressivos. Minha pele era chocolate, fato que causava contraste a meus lábios avermelhados e marcantes, tudo em um rosto oval e meio bochechudo. O meu corpo era cheiinho, porém, com curvas. Olhei para meus braços, e percebi que vestia um moletom rosa escuro; por baixo, uma regata branca. Em baixo, um short jeans e um tênis azul ciano com uma faixa rosa clara fina. Coloquei a mochila nas costas e comecei a anda em frente. Eu deveria ser média, chutaria 1, 75. Até porque não me sentia muito alta. Andava pela aquela mata, ouvindo um barulho de água corrente. Meu calçado ficava sujo com a terra da estrada. Eu me sentia naqueles cenários de ficção, era tudo muito surreal.

— Devo estar perto de um rio. — Murmurei olhando a minha esquerda. Não me lembrava de nada, de onde vinha, meu país, meus pais, minha casa; só do meu planeta. Terra. Lugares, os biomas. Que coisa trivial! Porém, seja lá onde estava, tinha certeza que não era Terra. O ambiente parecia não mudar nunca. Sempre árvores verdes, grama e flores. Estava perdida, mais essa agora. Continuei em frente, me sentindo exausta. Parece que tinha passado a noite em claro. Deveria ter passado horas andando, ou não. De forma alguma tinha ideia da passagem do tempo por aqui. Meu corpo estava doendo um pouco, e essa dor de cabeça persistia. Resolvi parar me deitar. Achei o rio que ouvia e decidir ficar perto dele. Fiquei em uma pedra, usando a mochila como travesseiro, fechei os olhos. Senti algo no bolso da frente. Chequei, era um lindo pingente. Ele um floco de neve com as pontas de diamante azul, era bem construído e elaborado. Bem pesado para um pingente. Porém, quando a luz bateu nele, surgiu uma espécie de holograma. A imagem estava horrível mas, eu conseguia ouvir a voz.

Talia…

Se pode me ouvir

É porque chegou até aqui

Veio aqui por uma razão.

Eu não posso mais cuidar dele…

Você é a primeira…

Ache o coração de cristal…

Eu confio em você.

Vá até os picos glaciais.

Ache os outros, e a neve.

Na hora certa você só terá que apalpá-lo…

A luz se expandiu até ofuscar minha visão, tanto que tive de colocar a mão no rosto, quando voltou ao normal, só tinha um floco de neve. Real. Minha cabeça tinha parado de latejar, porém, em contraponto, tinha agora essa voz estranha. Quem era essa mulher? Até porque a voz soava feminina. Picos glaciais? Coração de cristal? O que diabos está acontecendo?! Me levantei novamente e comecei a andar de novo. Por sinal, nessa floresta é perigoso demais até parar para dormir. Continuei minha caminhada. O sol estava no seu ápice, e isso me fazia suar demais, sorte que minha blusa era com mangas. Limpei meu suor com a mesma, e prendi meu cabelo em uma trança. Segurando nas alças da mochila, refletir sobre tempo. Se acordei, ao amanhecer, atualmente deve ser meio-dia. Pelo menos, em hora da Terra. Aos poucos, via alguma coisa. Uma vila! Graças a Deus! Não andava mais sem rumo. Se bem que, desde que eu cheguei, não tive um. Mas isso não interessa! Porém, era diferente, meio… medieval? Bom, ainda estava longe e levaria mais de meia hora. Que ótimo. Foi aí que uma série de gritos desesperados, interromperam meus pensamentos. Parecia que alguém estava sob tortura. Eu deveria não ir… mas, eu sou teimosa e fui. Correndo até a direção do som, me escondi detrás de alguns arbustos que tinha. Sorrateiramente, espiei o outro lado. O que vi, mais inusitado, impossível. Tinha um garoto preso em uma árvore pelos pulsos, erguido do chão. Um cipó fazia isso com o coitado. Era engraçado, no entanto, não podia deixá-lo lá. Mas, era engraçado. Sai dos arbustos e me tornei visível ao… preso. Ele continuava a gritar e se debater por ajuda.

— Ei você!— O chamei levantando a cabeça, já que ele estava bem alto. Ele virou em minha direção. Tinha olhos puxados. Um cabelo preto e bagunçado e uma pele meio branca. Não era magro, tinha massa, porém era mesmo magrinho. No peso. Depois de tudo, cheguei a conclusão que era asiático.

— Quem é você?— Ele tinha uma fala mansa, com um sotaque bem presente. Eu conseguia entendê-lo, era estranho isso. Mas, eu não lembro de onde vim. E acho que na Terra, não existe gente que nasce com cabelo prata. Então, eu poderia ser da Ásia.

— Eu sou a Talia. Eu acho.— Respondi hesitante.

— Como você não sabe quem você é?— Ele indagou arqueando a sobrancelha direita.

— Eu não lembro de nada. Eu tô sem rumo e… ouvi você gritar.— Respondi com as mãos na cintura.

— Obrigado por vir. Mas, dá me tirar daqui?

— Tenha nervos.— Tirei minha mochila das costas e comecei a procurar o canivete. Fui até o cipó e comecei a cortá-lo. Aí, ele rompeu de vez, levando o meu querido colega ao chão. Só consegui ouvir ele cair como uma jacá madura.

— Obrigado pela delicadeza.— Ironizou massageando a cabeça.

— Não está mais pendurado. Me agradeça por isso.— Respondi da mesma forma guardando o canivete na mochila— A propósito, quem é você?

— Hiro. Eu sou o Hiro.— Respondeu ficando de pé. Agora dava para vê-lo melhor. Ele usava uma blusa de mangas, branca, estampada com bicicletas marrons, no pulso esquerdo, duas pulseiras masculinas; uma mais grossa preta e uma mais fina cinza. Uma calça jeans azul meia suja de terra e uma All star preto. Ele era…bonitinho. Tinha um rosto característico do onde veio, meio afilado com lábios pêssego finos e olhos negros e profundos, mas com um quê de castanho cor terra.

— Nossa!— Ele exclamou me assustando.

— O que foi?!

— Seus olhos. Eles são violetas. Como isso é possível?— Revirei os olhos. Peguei a mochila e ia em direção da vila quando aquele maluco me chamou.

— Espera! Você não pode ir. É perigoso andar por aqui.

— Quem é você pra me dizer o que fazer? Eu só quero ir para civilização, falou?— Hiro foi até a minha frente.

— Eu sou alguém que quer ajudar. Como você acha que acabei pendurado? Porque eu quis? Me prenderam lá. E, sinceramente, não quero que aconteça com você também.— Admito. Isso me pegou de surpresa. Suspirei.

— Certo. Quem ou que, te colocou ali?

— Eu não sei, foi tudo muito rápido, mas vão voltar. Posso ir com você?

— Olha, você está tomando meu tempo. Mas, parece legal e, sobre… vir comigo? Contanto que fique um metro e meio no mínimo longe de mim. — Um sorriso apareceu na cara do garoto.

— Sério?

— Sim.— Afirmei querendo ter uma espada para acabar com o meu sofrimento.

— Legal. Vamos?

— Vamos.— Falei com voz de tédio. Ótimo, agora tinha esse maluco no meu pé. Porque raios eu disse isso?!

°°°

— Eu nunca vi alguém que tivesse cabelo prata. Ou olhos violetas.— Hiro comentou pulando as pedras de um riacho. Último obstáculo até a vila. Eu sei que ele tentava quebrar o gelo, até porque ninguém falava nada nos últimos minutos. Era fofo isso, mas, pra ser honesta, eu não me sentia muito bem.

— Eu também nunca vi.— Falei para não deixá-lo falar completamente sozinho. Terminamos de atravessar. Continuamos em frente. Na Terra deveria ser uma hora da tarde.

— Eu tenho pergunta. Você não parecia saber seu próprio nome. Por que você acha que não se conhece?— Ele indagou a mim.

— Eu não tenho memória. Nem sei de onde eu vim. Acordei sozinha com uma mochila, por sorte sei meu nome, e eu quero respostas.— Respondi. Não falei sobre holograma. Até porque tinha acabado de conhecê-lo.

— Eu também.— Isso me pegou de surpresa. Ele também não tinha memória?

— Como assim?

— Acordei só. Sem recordar como vim parar aqui, ou qualquer outra coisa. Aí fui capturado por umas criaturas que levaram minha mochila, que tinha um documento só com meu primeiro nome, me deixaram inconsciente. Fiquei pendurado por horas. Até você me salvar.— Narrou para mim.

— Eu não fazia ideia.

— Então, e você Talia, lembra de algo, fora isso?

— Não. Nadinha.— Respondi. A alguns minutos da vila, ouvimos barulho incomuns da floresta. Fato que nós deixou em alerta. Hiro parece que viu alguma coisa, já que estava mais branco que o normal.

— Talia, corre!— Ele exclamou me empurrando.

— O quê?!

— Corre!— Puxando minha mão, nós dois, aceleramos o passo. Estava completamente confusa.

— Hiro, o que diabos está rolando?

— Aquelas coisas! Não parecem ser nem um pouco amigáveis! Acho que são bichos! Lobos.

— Lobos! Você disse lobos, mesmo?!— Exclamei em pânico. Acabamos em uma parte da floresta sem saída. E oficial, estávamos mesmo, super ferrados!


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, comentem e até a próxima!



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