Semanas se passaram e o peso do meu exame também. Havia conseguido uma nota relativamente alta para entrar na faculdade de direito e ser apresentada na cerimônia de formatura da escola, eu não poderia estar mais feliz. 

A não ser por Zeus, é claro. Ele tinha voltado no domingo seguinte ao meu exame. Não encontrou roupas em meu guarda-roupa nem objetos pessoais em meu quarto. Não conseguiu me ligar, por conta do meu chip cortado em duas partes. Eu tinha conseguido me livrar dele por um tempo. 

E não foi só isso que eu consegui. Depois de algumas noites revezando entre a casa de Luke e Annabeth, finalmente encontrei um homem que ofereceu um bom preço por meu carro. Quando disse a Luke que queria vender meu carro, ri em ver sua cara inquieta. O carro era minha única herança, depois que eu própria me deserdei. Além de ser lindo, estava em ótimo estado, então consegui vender por um preço ótimo para comprar o apartamento que eu tanto queria.  

Ficava próximo a faculdade, com suíte, quarto para hóspedes, cozinha americana e tudo mais. Claro que eu não teria mais os luxos na mansão Grace, mas isso era melhor do que tudo, afinal, era meu apartamento.

Não estava completamente mobiliado. Na verdade, estava longe disso. O emprego de meio período que consegui próximo de casa estava mantendo a geladeira cheia, mas não pareceu dar um jeito em tudo. Pensei em vender meu notebook para finalmente parar de dormir no sofá, mas Luke me conteve e me convenceu a juntar mais um pouco o salário até conseguir mobiliar os outros compartimentos da casa além da cozinha e da sala. 

E por falar em Luke, estávamos muito bem, obrigado. Ele conseguiu a vaga que queria em uma faculdade local no curso de medicina, próximo da minha. As aulas ainda não começaram, e alguns coordenadores irão a cerimônia de formatura, que acontece nessa noite, para conhecer e parabenizar seus novos alunos. Annabeth, que conseguiu a vaga que tanto queria para arquitetura, será a oradora da turma e está comigo no telefone lendo seu discurso e muito nervosa, diga-se de passagem. 

— Mas você realmente acha que esse parágrafo ficou bom ou  só está dizendo porque sou sua amiga?— Ela perguntou. 

— Claro que... 

— Não fale de boca cheia de salgadinhos, Thalia! 

Engoli os salgadinhos e ri. 

— É claro que não, Chase. – Respondi sua pergunta anterior. – E eu não tenho culpa se você me interrompeu no meio de um filme incrível. – Desliguei a pequena televisão da sala e prestei mais atenção em suas palavras. 

— Que bom que gostou, vou passar para o próximo parágrafo.— Enchi a boca de salgadinhos novamente enquanto ouvia seu discurso e opinava nos parágrafos. 

Por fim, ela se deu por satisfeita e antes de desligar disse: 

— Obrigada pela ajuda e não vá se atrasar hoje!— Fez uma pausa e suspirou cansada. — Você tem sorte de poder passar o sábado descansando em paz, meus irmãos me enchem o saco na maioria das vezes. 

— Eu já disse que pode vir morar comigo se quiser. – Disse com voz de deboche. – E claro que não me atraso para abrir a porta do apartamento para você e Silena. 

— Boa garota, até mais. 

Annabeth recusou morar comigo pela distancia da sua casa, e eu não a culpo, ela sempre foi muito familiar. Mas aqueles meios-irmãos dela eram o inferno na terra, e eu sei porque passei umas quatro noites em sua casa e logo voltei para de Luke quando não tinha o apartamento. 

Sobre a cerimônia de hoje, ela aconteceria a tarde, quase no pôr do sol. Nossa vestimenta seria a beca preta com faixa vermelha tradicional junto com o chapéu. As meninas queriam vir apenas para fofocar um pouco durante a maquiagem e matar a saudade que as férias causam. 

E elas vieram. Silena chegou primeiro, me deu um caloroso abraço e entrou já falando que eu teria que chamá-la para decorar o local e colocar uns quadros nas paredes vazias e sem vida. Eu concordei, é claro. Tinha o mesmo pensamento. 

Annabeth chegou alguns minutos depois, com as três becas e chapéus em mãos, ela entrou e suspirou cansada.  

— Eu quase não dormi essa noite graças a empolgação. Então vamos logo acabar com a porra do ensino médio. 

Nós rimos e nos arrumamos demoradamente. Conversamos muito e Silena contou que passou num exame para um intercâmbio na França por 4 anos. Eu e Annie ficamos felizes é claro, ignoramos completamente o fato de ficarmos sem uma das nossas melhores amigas e nos empolgamos junto a ela. 

— Está quase na hora. – Silena disse passando um batom escuro em meus lábios e dando os toques finais. 

— O que vamos fazer depois que a cerimônia acabar? – Perguntei. 

— Thalia Grace rainha das festas está muito inocente hoje. – Diz Annie. – Hoje vamos dançar muito, garota. Prepare seus pés. 

Sorri em ver Annabeth tão ansiosa. Seu celular tocou e era Percy, ele viria com os outros meninos nos buscar, e já estava esperando na frente do apartamento. Nós pegamos o elevador e sorrimos para Percy, Luke e Charles com buquês em mãos. 

Luke trouxe rosas azuis, pintadas talvez, diferente de Percy e Beckendorf que trouxeram rosas vermelhas. 

— Você sempre tem uma surpresa, não é? 

— E mesmo assim nunca te surpreendo. – Ele me beija. 

— Muito lindo o casalzinho aí, mas precisamos chegar logo. – Diz Percy. – O carro da oradora não pode se atrasar. 

Rimos com o comentário de Percy, entramos em seu carro e ele acelerou em direção a escola. O campos teve a grama aparada e portava grandes arranjos de flores brancas. Havia também inúmeras cadeiras disposta para um palco branco e bem iluminado. O sol se punha vagarosamente e algumas luzes coloridas começaram a iluminar a plateia. 

— Annabele! Finalmente você chegou, tem um discurso para apresentar! – Dionísio empurrou Annabeth para que fosse em direção ao palco e acompanhou ela, mas não antes de nos chamar atenção. – Crianças, vão logo para seus lugares, a cerimônia já vai começar! 

Nós seguimos o caminho coberto por um tapete em direção as cadeiras para os estudantes, próximas ao palco para que subíssemos para receber o diploma. Luke segurava minha mão, mas parecia um pouco inquieto então resolvi conversar com ele depois que cumprimentamos nossa turma e nos sentamos.  

— Tudo bem? – Perguntei.  

— Sim, só um pouco nervoso. – Ele sorriu, garantindo que estava bem.  

— Seus pais vieram? – Sorri.  

— Sim, vi eles de longe. Estão muito ansiosos.   

— Você também está?  

Ele sorriu.  

— Claro que estou. E vou acabar o ano da melhor maneira possível. – Ele me beijou e observamos Dionísio subir no palco e chamar a atenção do publico.  

— Hoje fechamos um ciclo muito especial e significativo na vida dos alunos de Half Blood High School, e antes de entregar os diplomas apresentando os estudantes para seus novos coordenadores, – Fez um pausa indicando na plateia uma fileira inteira de coordenadores representando as faculdades. – temos o discurso da oradora desse ano, Annabeth Chase.  

Os aplausos calorosos começaram, principalmente na fileira de trás, onde Percy assobiava e isso causou gargalhadas nos alunos próximos.  

Ela subiu no palco com um sorriso aberto e verdadeiro. Se dirigiu até o centro do palco e começou o discurso que tanto eu quanto ela sabíamos de cor e salteado.   

— É muito difícil falar por um grupo de pessoas tão grande e diferente entre si, mas posso tentar ser breve e dar-lhes o orgulho de ter me escolhido como oradora dos formandos de Half Blood High School de 2013. – Ela respirou fundo e parou por alguns instantes. A plateia toda se calou e não havia dúvidas que era possível escutar uma pena cair à um quarteirão de distância. Ela continuou. – Foi aqui nesse colégio, que aprendemos a conviver e crescer juntos, aprendemos a respeitar as diferenças e superar obstáculos. Este não é momento em que surge apenas o término do ensino médio, é a certeza de que outro caminho surge à frente. Caminhos que nos trarão coisas novas, novas amizades e experiência de vida. Mas não devemos esquecer das velhas lembranças, dos amigos que aqui conhecemos e que jamais esqueceremos. Devemos buscar um estilo de vida construtiva, trabalhar a mudança, buscar o que engrandece a vida, lutar por dias melhores, construir a própria história e buscar um sentimento que nos transforma.  

"O tempo muda, transforma e passa, mas fica na memória a lembrança dos momentos bons. Somos todos eternos aprendizes. Tudo que fomos, somos e seremos passa pela dedicação e agora nos resta seguir em frente e ir em busca do que a vida nos guarda.Quem sabe logo à frente nos espera o amor da nossa vida, ou então aquela chance que sempre sonhamos, a vida passa num instante, o mundo gira, são encontros e desencontros. Renasça das cinzas e busque os seus sonhos."  

Os aplausos começaram e os chapéus voaram.

Fim do terceiro ano do ensino médio, 2013