High School Manual escrita por Bird


Capítulo 28
Os jornais do bilheteiro


Notas iniciais do capítulo

E aqui morre todo o suspense de Beryl. Aos que esperavam um final melhor, minhas desculpas, mas eu vi a necessidade de quebrar o padrão dos finais felizes na fic.
Espero que gostem, e não fiquem tão tristes quanto eu, que escrevi.



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Thalia, será que o seu namorado merece um minutinho de atenção? — Luke disse com a voz brincalhona do outro lado da linha. 

— Meu namorado merece toda a atenção do mundo. – Respondi. – Mas na situação em que estamos, com a ameaça de sair da América, acho que tenho que engolir todos os livros que ver pela frente... 

Fiquei calada por alguns segundos. 

— Desculpa. – Disse. – Mas você sabe que estou fazendo isso para continuar aqui... Com você. 

Ele suspirou do outro lado da linha. 

 Claro. – Parecia chateado.  Mas sem faltar aula de novo para estudar, ok? 

— Não vai acontecer de novo. – Sorri com sua preocupação. 

 E sem cancelar um encontro também, ouviu? 

— Encontro?  

 É, vamos sair na sexta? 

Suspirei. 

— Na véspera do exame? – Ouvi o sinal da escola bater do outro lado da linha, indicando que ele teria que voltar para a aula. – Resolvemos isso depois, ok? 

 ...Ok. – A linha ficou muda e eu suspirei e me levantei. 

Jason havia saído para a escola sem trocar nenhuma palavra comigo, nem se importou com o fato de eu não ter ido com ele e de não ter dado carona. Eu entedia perfeitamente seu ponto de vista, mas uma hora ou outra, ele teria de parar com isso e entender o meu ponto de vista também. 

Coloquei café em uma caneca e bebi enquanto desbloqueei a tela do celular e vi mais uma vez o cartaz da peça O Fantasma da Ópera. A reação do bilheteiro com a foto de Beryl não foi a das melhores e só funcionou para dar mais nós na minha cabeça. 

Nós que eu precisava desatar. 

Encarei a chave do carro no balcão e juro que lutei contra a vontade de ir até o teatro, mas acabei perdendo. Peguei as chaves e tranquei a porta da frente.  

— Muito bem, é a hora de encaixar pelo menos uma das peça do quebra-cabeças. – Disse a mim mesma e acelerei em direção ao teatro. 

Pode chamar de impulsividade, e era mesmo, mas eu sabia que enquanto não desvendasse isso, não descansaria os pensamentos para estudar para a prova, então fiz o que a emoção mandava. 

Desci do carro e encarei a pequena fila de pessoas que compravam ingressos para a peça de hoje á noite. Quando os olhos do homem se encontraram aos meus, ele me reconheceu imediatamente e me olhou preocupado mais uma vez. 

Eu era a última da fila, teríamos muito tempo para conversar. 

— Você de novo não. – Ele resmungou. 

— Olha eu sei que você não é obrigado a aguentar uma adolescente te fazendo perguntas, mas ia significar muito para mim se... 

— Você já tem minha resposta, docinho. 

E essa  foi a hora que nenhum ser humano no mundo desejaria ser esse cara. O sangue subiu à cabeça e minha mente pareceu dar um nó, como se meu rosto estivesse vermelho e saísse fumaça por meus ouvidos. 

— Você... Será que você serve para outra coisa além de ficar lendo esse jornal de ontem e olhar para todos com essa cara de superior para todo mundo?! Essa mulher. – Coloquei a foto impressa de Beryl no vidro da bilheteria, ou quase soquei a foto lá. – É a mãe da "docinho" aqui e enquanto você não abrir o bico e me contar onde ela está, eu não saio daqui. 

Seu semblante mudou e ele me encarou. 

— Docinho, essa mulher morreu faz um ano. 

E as palavras que saíram de sua boca foram como um balde de água esfriando minha cabeça. O olhei confusa. 

— Não... E-Ela não morreu. – Desbloqueei o celular com as mãos tremendo e mostrei o cartaz da peça em que ela estava. – Ela estava aqui nesse teatro no natal passado. 

Ele me encarou com cara de pena depois de observar a foto. 

— Essa era a substituta dela nos palcos... Quando ela estava se embebedando no camarim. 

— Mas... – Funguei. 

— Está aqui a notícia... – Ele se abaixou e revirou um amontoado de jornais em sua escrivaninha. – Pode levar. E por favor, não volte mais aqui. 

Peguei o jornal como se estivesse pegando os pedaços da cara que eu havia acabado de quebrar com todas as revelações. Entrei no carro e joguei o celular no banco do passageiro enquanto encarava o jornal com lágrimas nos olhos. 

"A atriz mais renomada de covers da Broadway sofreu ontem um acidente de carro de madrugada. Aparentemente ela estava sobre efeitos de álcool e outras drogas. Ela foi levada até o hospital local mas não resistiu e acabou falecendo no dia seguinte.  

Ela não era vinculada a família e nem a amigos, o corpo será cremado e não haverá velório." 

Morta. Sozinha. Provavelmente presa nas ferragens de um caminhão, pedindo ajuda. Sem direito a últimas palavras. Sem direito a caixão e lápide. Apenas cremada. Como se não tivesse existido e não tivesse deixado legado nenhum e nem tivesse cativado milhões de pessoas em teatros de toda a América. 

Naquele momento, eu me permitir chorar. Me permitir me livrar de todas as lágrimas que estavam presas deste que perdi minha mãe no nascimento de Jason. Jason. Ele ficaria feliz em saber disso? Claro que não. Foi abandonado, mas tem um bom coração. 

E Zeus. Mais uma vez com suas mentiras, quase conseguiu impedir que eu e Jason realizássemos nossos sonhos. Aquele homem doente. Manipulador. 

Disquei o número de Zeus rápido e deixei mais um soluço escapar. Limpei as bochechas e aguardei impaciente ele atender. 

— Oi filha. 

— Filha?! Como consegue Zeus? Como consegue ser tão repugnante assim? 

Dei um breve tempo a ele, para que notasse a dor em minha palavras. Para que percebesse que todas as palavras de despedida, todos os abraços que eu lhe dei antes de se mudar para Berlim estavam tão quebradas quanto eu agora. 

— Você está morto para mim. Tão morto quanto Beryl está agora, ou estava no momento em que mentiu dizendo que ela estava viva e havia voltado. No momento em que iludiu os filhos e abriu novamente com uma faca a ferida cicatrizada no peito de Jason e no meu. 

Solucei. Queria que ele sentisse minha dor. 

— Fique avisado que se eu não passar no exame da faculdade, eu prefiro trabalhar em uma rede de fast food do que morar com você. 

— THALIA EU NÃO VOU ACEITAR QUE VOCÊ FALE ASSIM COMIGO.  

— MAS EU ACEITEI, ZEUS. ACEITEI SUAS MENTIRAS. SUAS VADIAS. TUDO QUE TINHA PARA AGUENTAR VINDO DE VOCÊ EU JÁ AGUENTEI.  

Solucei mais uma vez e engoli o nó em minha garganta. 

— Essa foi a gota d'água. 

Desliguei a ligação e segundos depois, desliguei o aparelho, para não receber mais ligações dele.


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Notas finais do capítulo

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