Mãe? Eu?! escrita por Yennefer de V


Capítulo 5
As (não tão) maluquices de Roxanne




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Lysander realmente sabia onde Dominique se enfiava cada vez que tinha um colapso nervoso. No Chalé das Conchas.

Ted e Victorie a encontraram em seu sofá quando chegaram dos respectivos trabalhos. Dominique conseguiu dormir enquanto esperava a irmã, mas não tinha capacidade nem forças para preparar algo pra comer.

Victorie a acordou aos chacoalhões.

— Que bom que você está aqui. Pedi demissão de novo. Vamos beber.

[...]

Dominique (bêbada) estava em cima da vassoura velha de Ted, flutuando perto da sacada do quarto do casal. Enquanto isso, Victorie estava debruçada sobre o muro. Ted estava preparando alguma coisa para Dominique comer, que estava falando sem parar, insultando e chorando aleatoriamente.

Já Victorie, apenas leve do hidromel, contava sua própria história, e nenhuma ouvia a outra.

— Um maldito bicho-papão! Fogo por todo o lugar, eu e Lys morrendo, seu irmão dando amassos com a Holly, que devia ter impedido o bicho das trevas de entrar na Morada, Benji soluçando de pavor... – repetia Dominique sem parar em cima da vassoura.

— Não posso ser fotografa. Eu não gostava de ser jornalista, era uma coisa ridícula fazer aquelas matérias superficiais e sem sentido, qual o ponto de ter largado aquilo para tirar fotos para as mesmas matérias? Acho que nunca vou me dar bem em trabalho nenhum. Vou abrir uma loja no Beco Diagonal para vender todas as tralhas contra as artes das trevas que o Ted estoca aqui em casa...

— Não vai não. – falou um Ted paciente.

Ted chegou à sacada, a noite se tornando escura lá fora. Ele pousou o café de Victorie na mureta (forte, como ela gostava) e um prato de ovo frito com enormes tiras de bacon para Dominique.

Ela levou a vassoura até perto deles e começou a mastigar nervosamente. Finalmente parou de falar.

— ‘brigada ‘ed. – conseguiu pronunciar.

Ted fez um aceno com a cabeça como se não tivesse sido nada demais.

— Vou buscar o armário amanhã com o bicho-papão.

Dominique assentiu enchendo a boca como uma amalucada. Ted e Victorie ficaram colados ombro a ombro, Victorie ainda resmungando sobre a dificuldade de se encaixar em uma profissão, tomando o café com tanto nervosismo que Ted fez menção de sumir com a garrafa de hidromel que elas já tinham quase esvaziado.

— Você vai passar a noite? – perguntou Victorie, já que o Chalé das Conchas tinha uma porção de quartos (Gui e Fleur foram morar na França depois que os filhos cresceram).

— Por favor. – choramingou Dominique, lembrando da dificuldade que era dormir em seu apartamento.

Ted teve o bom senso de mandar uma coruja para Lysander, avisando-o, já que estava com as duas bêbadas aos seus cuidados. Dominique pegou no sono em seu antigo quarto numa maravilhosa e pequena cama de dossel.

[...]

— ‘dia. – resmungou Dominique para o casal, com uma dor de cabeça que pulsava.

Victorie estava largada no sofá com os olhos fechados. Ela raramente bebia. Mesmo nas festas que ia quando era jornalista, bebia pouco. Ted estava lendo O Profeta Diário, os cabelos azuis e os óculos descendo pelo nariz.

— Bom dia. – desejou Ted. Victorie fez um barulho incompreensível com a boca que podia ser “bom dia” ou “me mate”.

Dominique abriu a geladeira e pegou a caixa de leite.

— Onde vocês guardam o cereal?

Ted arqueou as sobrancelhas.

— Não comemos cereal.

Dominique ficou levemente confusa. Até lembrar que o cereal era a comida de Benji. O café da manhã de Benji e Lys.

— Vou ficar só com o café. – resmungou, pegando uma caneca limpa.

[...]

Dominique não foi trabalhar. Mandou outra carta para Lys explicando sua decisão. Ficou com Victorie, as duas reclamando de suas próprias vidas. Também juntaram toda a coleção de badulaques contra as trevas que Ted juntou na casa ao longo de seu casamento e jogaram no antigo quarto de Louis, como um depósito (Ted não ficaria nada feliz, eram suas preciosidades).

Não beberam nada, pois Victorie não era muito fã e Dominique queria estar sóbria quando chegasse a noite. Ela tinha uma visita para fazer.

Um dos pontos altos foi que Dominique comeu direito, finalmente. Victorie era muito boa na cozinha.

[...]

Decidiu bater na porta do apartamento. Chegar pela Rede de Flu era muito invasivo. Só com Victorie e os pais se permitia tal exagero.

Henry abriu a porta serenamente, revelando seu corpo inteiro no portal.

— Olá Dominique. – sorriu ele.

Henry era muito bonito. Talvez porque fosse mais velho do que Lysander, Lorcan e Ted, ou porque estava sempre sorrindo e de bom humor, ele exalava uma energia inebriante. Talvez fosse sua profissão que se dedicava somente a cuidar do corpo. Dominique não sabia e se repreendeu por pensar nisso.

— Oi Henry. Roxanne e Molly estão em casa? – perguntou Dominique.

Dominique sempre ficava sem graça em se meter na vida alheia, ainda mais sem avisar com antecedência. Ela não gostava que fizessem isso com ela também.

— Roxanne está com Pandora. Mas... – Henry estava com um mordedor infantil circular de plástico, todo mordido, como se um cachorro tivesse avançado nele.

Dominique se lembrou do pelúcio de Benji. Mas o Três nunca faria tal estrago.

— Hoje é lua cheia. – lembrou Henry.

Dominique praguejou. Era o pior dia para ter tido aquela ideia. Lorcan, o namorado de Molly, que trabalhava com Rosa na Cúpula dos Guardiões, era o guardião lobisomem (Rosa era a guardiã bruxa). Infelizmente, a filha deles nasceu com licantropia.

Sendo guiada por Henry pela cozinha até a sala, que tinha dois sofás de dois lugares, a lareira, um baú de madeira vermelho aberto, com seu conteúdo espalhado pelo tapete (muitos brinquedos de criança multicoloridos e barulhentos) e o carrinho de Pandora que levitava, ela encontrou as duas.

Dominique deu graças a Merlin por Benji já ter oito anos. Depois ficou confusa com o pensamento.

No meio do tapete havia uma loba de sessenta centimentros. Como não sabia andar, a pequena Pandora estava “nadando” no tapete com suas quatro patas. O focinho rosado cheirava os brinquedos. A boca às vezes mastigava um dos brinquedos ferozmente para largá-lo de lado inutilizável, e outras vezes soltava um barulho que lembrava um rosnado irritado.

Pandora tinha pequenas garras pouco afiadas, não perigosas, Dominique constatou. Ela estava muito interessada no cheiro do jantar. Seus olhos lupinos observavam tudo analiticamente, levantando a cabeça do tapete, curiosa. Sua pelugem era cinza muito clara e ela parecia irritada pela imobilidade no chão.

— Quando ela aprender a andar estamos ferrados. – Henry sorriu, largando o brinquedo no chão com os outros, sentando no sofá.

— Dominique! – Roxanne sorriu. – Está tudo bem?  Como estão Ben e Lys? Você quer um chá?

Roxanne se levantou para abraçá-la. Dominique o retribuiu tortamente. Tentou fazer carinho em Pandora, mas a loba a mordeu sem muita força.

— Cruzes. – Dominique comentou. – Está todo mundo bem. – respondeu para Roxanne, que enfiou um brinquedo aleatório na boca de Pandora. – Não quero chá, obrigada.

— Sem morder! – brigou Roxanne em voz suave. - Ela toma a Poção do Acônito, mas fica agressiva. – explicou para Dominique. – Acho que é a infância.

Dominique, que sabia mais de criaturas e seres mágicos que todos naquela sala, assentiu.

— Sim, ela provavelmente só está testando o limite de vocês. A Poção do Acônito a mantém consciente de seus atos, não se preocupem.

Henry olhou para Dominique, surpreso.

— Não me olhe assim, eu trabalho com animais mágicos.

Roxanne sentou ao lado de Dominique, pedindo com o olhar que Henry cuidasse de Pandora. Ele se sentou no chão com as pernas cruzadas.

— Onde está a Molly? E o Lorcan? – perguntou Dominique.

— Molly está de plantão. Lorcan está em uma reunião com os guardiões.

— Mesmo transformado? – surpreendeu-se Dominique.

— Não faz diferença na Cúpula. – Roxanne sorriu. – Por que você está aqui? Duvido que veio levar mordidas da Pandora.

Dominique se lembrou. Eram quase sete horas da noite, esperou o dia todo para falar com Roxanne.

— Vim falar sobre o Benji.

Roxanne esperou, incentivando-a com o olhar.

— Aquela história que você contou sobre destino e tal. Você realmente acredita naquilo?

Rox riu.

— Claro que sim. Por que mais você o acharia numa rua cheia de trouxas?

— Para você adotá-lo com Henry. Porque vocês querem crianças.

Henry olhou para trás, intrigado, levando uma mordida da maldosa Pandora.

Roxanne olhou para Dominique como se ela não entendesse nada.

— Nós não queremos o Ben. Ele veio pra vocês. Nós vamos ter nossas próprias crianças quando os céus quiserem. Agora, nós temos a Pan.

— Mas... Você é boa com crianças. Henry se deu bem com o Benji.

— Henry se dá bem com metade do mundo quando ele é simpático. E todo mundo que leva uma pipa para um garoto criado trouxa vai se dar bem com ele. Isso não tem a ver com Benjamin ter vindo para nós. Acredite, ele não veio. A Pandora já toma todo nosso tempo.

— Verdade. – concordou Henry, correndo para ver o jantar, que ele estava fazendo como trouxa (começou a cheirar queimado).

Pandora reclamou alto pela falta de companhia.

— Rox... Eu seria uma péssima mãe.

Dominique passou a contar o episodio em que fizera Ben chorar, dos pelúcios, quando se esquecia de alimentá-lo, quando dava respostas atravessadas, quando não ouvia o que ele falava e por fim, o incidente com o bicho-papão.

Á essa altura Henry já tinha voltado e felizmente, tinha salvado o jantar de queimar.

Rox sorriu para Dominique.

— Molly é uma péssima mãe. Ela trabalha dez horas por dia. A Pan vai me chamar de mãe qualquer dia desses. Você é só uma pessoa sem experiência.

Pandora chegou “nadando” aos pés de Dominique e mordeu seu tênis, claramente satisfeita.

[...]

Lys a esperava ansioso.

— O que você foi dizer a Roxanne?

Dominique se limpava das cinzas pela viagem na Rede de Flu. Procurou Benji com o olhar. A primeira coisa que viu foi Três, saltitando entre as banquetas da cozinha.

— Lys! Era pro Três ficar no habitat!

— Ben ficou muito assustado. É só por hoje. E ontem – falou Lys em tom de desculpa, mas ainda alterado.

Benji estava colocando um lençol de super-herói na cama de armar. Aparentemente, Lys o convenceu a mudar de cama. Ele ouviu a voz de Dominique e olhou para ela.

 - Onde você foi ontem? – perguntou chateado.

— Dormir na minha irmã Victorie. – respondeu Dominique.

— Por quê?

— Às vezes ela fica muito assustada. – respondeu Lys, olhando com nervosismo para Dominique, mexendo num punhado de fios do cabelo dela.

— Eu fiquei assustado e dormi sozinho nessa cama. – anunciou Benji, como se estivesse querendo falar a novidade há muito tempo.

Dominique sentiu vontade de rir.

— Uau. – ela exclamou. – Que corajoso. Talvez você possa dormir em outro quarto?

Benji olhou para Lys e de volta para ela.

— Não tem outro quarto.

— Minha prima Lucy é ótima em montar quartos com magia. – falou Dominique. – O que você acha?

Benjamin pareceu cogitar a ideia por um instante.

— Posso dormir com o Três?

— Nem pensar. Vamos jantar cereal com bacon, por favor.

[...]

Lys perguntou quando é que ela tinha tido certeza. Dominique não soube exatamente o momento preciso. Tinha alguma coisa a ver com ter visto Benjamin na rua, sozinho, tão perdido e ignorado que ela precisava ter feito alguma coisa. Ou na preferência dele por bacon e cereal, que eles tinham de sobra no armário da cozinha porque Dominique não sabia cozinhar. Ou talvez fosse porque Benji era tão teimoso quanto ela. Ou porque ele os amou antes mesmo deles terem a certeza da guarda permanente, mostrando para Dominique através do bicho-papão.

Dominique não soube responder.

Talvez tivesse sido a bravura dele em encarar o luto. A facilidade com que ele tinha aceitado Lys e Dominique em sua vida. O amor dele pelos animais mágicos. O nome besta que ele deu ao seu pelúcio, Três. Todas as vezes em que ele se mostrou uma criança corajosa, indo dormir sozinho, enfrentando seus pesadelos. Aceitando uma nova família em seu coração com facilidade. Reclamando do casamento de Roxanne. Se fascinando por cada toque de magia que via, mostrando que fazia parte daquele mundo e merecia pais que soubessem explicar para ele cada fragmento mágico do universo.

Ela não soube o momento preciso. Não tinha sido um momento, nem dois, nem três. Haviam sido todos os momentos juntos, unidos, em que ela e de improviso, o amou.

[...]

— Eu nunca vou te chamar de mãe! – bradou Ben, com o pelúcio enroscado em seus pés, correndo pelo pátio.

— Você está certo, porque não sou sua mãe. – Dominique gritou de volta.

Louis e Holly finalmente assumiram o namoro. Era hora do almoço, então ambos estavam enroscados ao pé da cerejeira, conversando baixo.

Holly e Dominique ficaram apenas uma semana sem falar uma com a outra. Depois, Holly pediu desculpas, Dominique a abraçou e tudo voltou a ser como era antes.

Dominique estava desorganizada com um monte de pergaminhos ao seu lado. Estava com vontade de chorar. Holly tinha entregado os prontuários para ela em ordem e Dominique tinha feito uma bagunça. O problema era que Dominique adorava trabalhar no pátio, o que não era muito aconselhável.

— Holly-pelo-amor-de-Merlin. – choramingou Dominique. - Não sei o que eu fiz.

De novo?!

Holly a ajudou a organizar rapidamente. Ela parecia conhecer tudo como se tivesse decorado.

Louis abaixou e falou algo com Ben. Os dois gargalharam.

Lysander apareceu com uma coruja-anã pousada no braço, cor de terra. Ele fez a coruja ir até a cerejeira e ela ficou pousada lá, seus olhos amarelados os observando.

— O criador está vindo buscar. Ela teve alta. – explicou Lys.

Ele sentou ao lado de Dominique, passando um braço por seus ombros. Holly aproveitou para puxar Louis pelo braço, falando baixinho algo no ouvido dele. Louis ficou vermelho como um pimentão, mas concordou e foram rumo a recepção.

— Argh. Vão se pegar na sala administrativa de novo. – resmungou Dominique.

— Deixe-os em paz. Eles não têm uma casa e um quarto só deles.

Lys e Dominique, graças a Lucy, tinham dois quartos em seu pequeno apartamento. Finalmente Dominique voltou a aproveitar Lys como gostava. Benji não parou de ter pesadelos, mas sabia tomar Poção Para Acalmar e voltar a dormir. Foram poucas as vezes que ele teve que acordar Lys e Dominique por ter se assustado de madrugada.

— Lys! – chamou Benji. – Posso ir até o lago com você hoje?

— Não. – respondeu Lys automaticamente. – Quando você estiver no sétimo ano de Hogwarts.

— Vai demorar muito!

Dominique olhou para Ben, seu garoto de nome de três letras. Talvez Roxanne estivesse certa. Talvez Ben estivesse destinado a eles desde o inicio. Para Dominique, Benji, no fim, foi uma decisão. Uma decisão de amá-lo durante o tempo que ele precisasse ser amado, como Lys.

Lys nunca mais perguntou se Dominique queria ter filhos. Ela ia responder que não.

Eles tinham Ben e isso era melhor que qualquer filho.

Lys olhou para ela, como se soubesse o que ela estava pensando, e passou delicadamente seu nariz em sua bochecha.


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Notas finais do capítulo

Oi pessoal! Acho que terminei!
O que acharam? =)

Curiosidades (na minha cabeça)

[1] Benji nunca chamou Dominique de "mãe" nem Lys de "pai"
[2] Ben foi pra Grifinória.
[3] Eles não tiveram filhos biológicos.
[4] Benji só conseguiu viajar com pó de Flu depois de adulto.



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