Mãe? Eu?! escrita por Yennefer de V


Capítulo 4
O Três de volta outra vez


Notas iniciais do capítulo

Hey!
Esse capítulo tá um tantinho tenso (só um pouco). Acredito eu que é o penúltimo.
Eu adorei o Louis, gente, não vou me surpreender se daqui a pouco tiver um plot pra uma one só dele.



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O casamento de Roxanne e Henry foi extremamente desconfortável no domingo à tarde. Lys ficou encarando o casal apaixonado como se eles pudessem lhe roubar Benjamin, o que era uma loucura, já que nem Roxanne nem Henry demonstraram tal desejo. Foi apenas uma ideia vaga de Dominique.

Ela, por sua vez, sentia Lys distante dela, divagando. À exemplo de Dominique, Benjamin não parecia festeiro. Não gostou da roupa formal (reclamou que era desconfortável), não gostou do tempo que a cerimônia demorou e gostou menos ainda da atenção que recebeu dos convidados.

Tanto Lys quanto Dominique entenderam que era cedo demais para envolvê-lo em tanta agitação. Lys tentou livrá-lo de todas as perguntas e formalidades com educação e discrição. Até Dominique se envolveu na missão, porque a história de Benjamin era uma situação delicada de se expor. Rosa ficou grata por finalmente conhecer o pequeno Benji, mas os deixou em paz depois de algumas breves questões superficiais.

Victorie também ficou ao lado deles como um escudo e Ted os ajudou. Dominique ficou extremamente grata pela ajuda da irmã.

Lys e Dominique acharam que era melhor para Benji que eles se retirassem mais cedo da cerimônia, mesmo que fosse falta de educação com Rox e Henry. Eles entenderiam.

[...]

Mais uma vez Dominique não conseguiu dormir à noite. Acordou de madrugada sentindo que não tinha descansado. Tentou dormir na cama de armar comprada para Benji sem sucesso. Sentiu falta do corpo de Lys perto do seu.

Esquentou o café velho do dia anterior com o feitiço lacarnum Inflamarae, encheu uma caneca e sentou-se à poltrona da sala, observando o dia amanhecer pela janela enorme que eles tinham.

Dominique estava cansada. Dos conflitos com Lys, de conviver com Benjamin sem entender seus sentimentos por ele, da falta de sono, da confusão que sua vida tinha virado.

— Maldita hora que fiquei bêbada. – ralhou consigo mesma.

Só que Dominique sabia que tomaria a mesma decisão se não estivesse bêbada. Ela se trocou no banheiro, pegou um saco de cereal, tentou pentear os cabelos e sumiu pela Rede de Flu sem acordar Benji nem Lys.

[...]

Dominique encontrou a recepção da Morada com as luzes já acesas. A porta da frente do castelo ainda não estava aberta, mas Dominique estranhou a ausência de Holly, que chegava cedo.

Ela estava mastigando o cereal com fúria, tomada de uma fome que não tinha sentido em casa.

— Holly? – chamou de boca cheia, andando na frente da fileira dos bancos de espera. – Holly?!

Ela viu a sala administrativa também iluminada. Supôs que Holly estava lá dentro remexendo em alguma coisa. Deu passos rápidos até a porta e girou a maçaneta.

Arrependeu-se amargamente.

— LOUIS! HOLLY! QUE MALDIÇÃO!

Seu irmão caçula Louis, que tinha dezoito anos, e a recepcionista Holly, que era dois anos mais velha, estavam seminus em cima do sofá, se enroscando loucamente aos beijos.

Louis, ao contrário de Dominique e Victorie, tinha os fios de cabelos negros. A maioria concordava que ele tinha puxado ao avô dos três, Monsieur Delacour. Louis era muito magro, com uma aparência quase doentia. Era tão pálido quanto Victorie. Os cabelos chegavam ao pescoço, para horror da senhora Weasley e ele tentava usar uns fios de barba mal feita no rosto. Seus olhos eram castanhos como os do pai.

Já Holly, que agora estava com uma cara séria, como se não tivesse culpa do ocorrido, era uma jovem de cabelos negros e muito curtos, com seios diminutos e também magrela. O jeito como ela se vestia lembrava um garoto.

— De novo?! – reclamou Dominique para ambos.

— Foi culpa do seu irmão. – reclamou Holly colocando habilmente a blusa. – Ele não trancou a porta.

Louis, vermelho como Dominique depois de um dia na praia sem proteção, saiu resmungando baixinho, sem olhar diretamente para a irmã.

— Eu esqueci.

Louis, como Victorie, não tinha a mais vaga ideia do que queria fazer na vida. Por isso ele começou a trabalhar com Dominique, para ganhar alguns preciosos galeões. Ele era capaz de fazer as rondas e ajudar tanto Dominique quanto Holly nas questões técnicas e burocráticas.

— Não esqueça mais. Vou ter pesadelos. – reclamou Dominique, deixando o cereal de lado no balcão, enquanto Holly começava a trabalhar.

Louis estava com um rolo de pergaminhos na mão, cada um de uma cor, que Dominique reconheceu como os prontuários dos moradores dos primeiros habitats.

— Quatro pelúcios já estão completamente curados. – informou Louis numa voz estranha, que não parecia a sua, sem olhar diretamente para ela. – Posso acionar a Divisão de Seres no Ministério?

— Pode. Qual é Lou, olhe pra mim. Todos somos adultos e damos amassos!

Louis ficou mais vermelho ainda. Holly gargalhou.

— Sua irmã faz coisa pior.

— Parem com isso. – reclamou Louis.

— E o outro pelúcio? – perguntou Dominique.

— O Cuidador falou que não tem jeito.

Dominique ficou estupefata.

— Como assim?!

— Ele vai ficar cego para sempre.

Dominique se lembrou de Benji e se entristeceu um pouco.

— Deixe-o aqui. Nós vamos dar um jeito.

Louis saiu resmungando algo sobre ter privacidade em seus assuntos particulares. Holly e Dominique desataram a rir.

[...]

Lys estava com o feitiço Cabeça de Bolha funcionando em toda a área do nariz até o pescoço. Era como uma película fantasmagórica que o permitiria respirar dentro do lago, para transfigurar uma parte da água como o ecossistema das ilhas Fiji. Toda parte externa já parecia um litoral para os machucados Caranguejos de Fogo que iam morar ali até se recuperarem. Eles tinham sido atacados por bruxos que queriam suas carapaças, que eram usadas para a fabricação de caldeirões, o que era absolutamente proibido pelo Ministério.

Dois Cuidadores e Louis tomavam conta dos grandes e perigosos caranguejos que expeliam chamas pelo rabo.

Dominique deixou Benji com Holly. Tanto o lago como o Congelado eram muito perigosos.

— Por que você veio tão cedo? – perguntou Lys com a máscara em torno da boca, fazendo sua voz ficar nasalada.

Dominique, preparando os prontuários dos Caranguejos de Fogo, elevou sua cabeça para o namorado.

— Não consegui dormir. – explicou. – É muita gente na cama.

Lysander balançou a cabeça afirmativamente.

— Podemos falar com ele. Para que durma na cama de armar.

Dominique queria rebater que precisava no mínimo de um quarto acústico para que Benji não a ouvisse fazendo aquilo com Lys, que precisava de um quarto para ficar nua e se trocar sem preocupação de Benjamin olhando para ela, que precisava de privacidade, que precisava de sua vida anterior em que Benji não fosse um empecilho entre eles.

Mas não falou nada. Lys tinha um trabalho de umas boas horas pela frente e precisava de tranqüilidade, de modo que ela só concordou com a cabeça, terminando de preencher os prontuários.

— Você não sabe quem eu peguei na sala administrativa... – comentou Dominique.

— Holly e Louis.

— Estraga-prazer.

[...]

— Aqui. – Louis colocou o pelúcio enfermo aos pés de Ben e Dominique, os dois sentados num banco do pátio.

A cerejeira estava como Dominique gostava. Lotada de flores quase avermelhadas, soltando pétalas que voavam fracamente pelo ar. Louis sofria com isso, pois seu nariz se enchia de pólen e ele espirrava sem parar.

Ben foi para o chão e começou a brincar com o pelúcio, ignorado sua condição ferida.

— O Ministério já levou os outros. – comentou Louis, sentando ao lado de Dominique no espaço que Benji tinha deixado vago.

Dominique, pela falta de sono, estava muito cansada. Tomava uma caneca de café que Holly sempre levava numa garrafa térmica (Dominique roubou).

— O que vai acontecer com ele? – perguntou Benji para ninguém em particular, fazendo festa com o pelúcio, que se comportava como um cachorro de trouxas.

Dominique, que sabia que o animal não tinha destino certo e devia ter sido levado pelo Ministério, olhou para Louis firmemente para que ele não desse uma de suas respostas sem noção.

— Você vai ficar com ele. – respondeu Dominique.

Benjamin olhou para ela, desconfiado.

Eu?! Onde vou colocá-lo?

— Vamos deixá-lo no habitat. Eles gostam de minas. – explicou Dominique.

Louis olhou para ela, intrigado. A irmã ia disponibilizar um habitat inteiro só para um animal ferido para sempre?!

— Você tem que visitá-lo, alimentá-lo e fazer companhia. – Dominique anunciou. – Se não, nada feito.

Benji abriu um sorriso verdadeiro, o primeiro que Dominique o viu dar desde a noite na rua de trouxas. E a abraçou.

— Obrigado! – falou empolgado. – Ouviu isso Três?

Louis olhou para Benji visivelmente confuso. Dominique também não parecia ter entendido.

— Três?!

— É o nome dele. Está na coleira. Acho que ele gosta.

Louis riu. Dominique, tonta de sono, ficou olhando para Benjamin.

Três.

Quando era adolescente, Dominique tinha mania de ver todas as coisas importantes da sua vida em três. Ela teve três apelidos. Era filha de um casal com três filhos. Tinha três azarações preferidas. Três bruxas da história da bruxidade preferidas. Três objetos mágicos, três invenções trouxas, três matérias, três N.O.M.s...

Ela teve certeza, quando se apaixonou por três pessoas diferentes, que Lys seria seu companheiro, porque Lys tinha um apelido de três letras.

Três.

Benjamin.

Ben.

Três.

Adormeceu no banco branco, duro e desconfortável, observando a cerejeira balançar com o vento e Benji perseguir seu novo amigo, Louis ao lado dela.

[...]

Acordou no sofá da sala administrativa com o corpo dolorido. Saiu para a recepção, mas encontrou um rapaz que não reconhecia direito lá. Olhou para o relógio na parede. Já tinha passado da hora do almoço de Holly. Onde raios ela estava?

— Boa tarde senhora Weasley. – desejou o jovem. – Holly ainda não voltou, então dei entrada em um animal. – disse, parecendo orgulhoso do feito.

Tanto Dominique quanto Lys gostavam de contratar jovens recém formados de Hogwarts com boas notas em Trato das Criaturas Mágicas, preferencialmente. Dominique achava que era uma boa maneira de apoiá-los nessa fase de transição entre a juventude e a vida adulta. Por isso, a rotatividade entre os funcionários de cargos mais fáceis era alta. Holly era uma das poucas que ainda os acompanhava (Dominique era muito grata por isso, ela era muito boa no que fazia).

Dominique bocejou e coçou os olhos. Estava esfomeada.

— Qual é o animal? Quais são os sintomas? – perguntou, tentando ajudar o moço.

— Não sei qual o animal. O dono não quis dizer.

Como assim não sabe qual é o animal?! — Dominique esganiçou.

— Eu coloquei o armário lá no pátio para não atrapalhar a recepção. – informou o jovem, claramente satisfeito.

Dominique sentiu o corpo ficar tenso. Podia ser qualquer coisa. Alguém querendo se livrar de problemas sem perguntas. Um animal trouxa. Um animal que sofreu maus-tratos. Um animal perigoso.

Ela correu pelo enorme portal que dava no pátio. Sufocou um grito.

Havia muitas labaredas de fogo queimando a cerejeira, em torno dela, lambendo os bancos, mas não havia fumaça. Dois corpos imóveis jaziam no chão, claramente mortos. Lys estava lá no meio, tossindo sem parar, gritando por Benji.

Benji estava encolhido, chorando, olhando abismado para a cena, seu corpo sentado e contraído na porta de um habitat. Ele soluçava alto. Três, o pelúcio, estava em seu colo, ganindo.

Uma segunda Dominique também estava no meio das chamas, de joelhos no chão, sufocando monóxido de carbono, prestes a desmaiar. O armário que o jovem funcionário deixou entrar estava perto de um dos bancos, aberto.

Um bicho-papão. O bicho-papão de Benji.

Grandes lágrimas invadiram o rosto de Dominique, que pegou a varinha do bolso de trás do jeans e avançou com fúria para a cena. O Lys imaginário também estava ajoelhado, tentando sugar o ar em volta, dando a mão para a falsa Dominique. A clara figura dos pais de Benji jaziam precariamente no chão, já mortos.

Quando chegou perto da cena, ela se transformou. As labaredas sumiram, os corpos e os falsos Lys e Dominique. Ela viu a si própria dentro de uma jaula, gritando por ajuda.

Gui, seu pai, Lys e Victorie a observavam de fora com expressões de tédio, como se não a ouvissem. Dominique tinha medo da falta de liberdade.

Riddikulus! – berrou ferozmente, Ben a observando no canto, petrificado, o pelúcio bem preso em suas pernas.

A cena se transformou. Os ferros da jaula ficaram moles e se transformaram em pedaços de madeira. A falsa Dominique conseguiu sair de lá e se juntou aos três, seu pai, sua irmã e seu namorado, todos subindo em vassouras que antes eram as grades de sua jaula e saindo em disparada para o céu.

O bicho-papão se lançou de volta ao armário, sem mostrar sua verdadeira forma, como se fosse uma lufada de ar.

— BEN! – Dominique gritou indo ao encontro dele, ainda travado na porta de um habitat, chorando aos soluços.

Benjamin passou uma mão nos olhos, secando-os.

— Você viu? – perguntou baixinho.

— Sim. Esse é um animal que se chama bicho-papão. Ele se transforma no nosso pior medo. Você viu meu pior medo? É o de ficar presa numa jaula. – explicou ela. – Esse bicho bota medo em todo mundo.

— Achei que era de verdade.- soluçou ele.

— Não, é só um animal muito ruim. Ele não devia estar aqui, o moço o aceitou sem ver o que era.

Dominique pegou Benji pela mão, que tremia dos pés a cabeça. Ela o abraçou, apertando-o forte contra sua barriga.

— Obrigado. – ele disse, limpando o nariz na camiseta dela. Três, já recuperado, se enrolava aos pés deles.

— Eu não vou morrer assim, Ben. Nem o Lys. Nós podemos conjurar água. Olhe.

Ben se separou dela por um instante.

Aguamenti!

Um jato de água desproporcional ao feitiço, muito largo e grande, saltou da varinha dela, lembrando uma fonte. Ela mirou para o céu e a água ficou caindo neles como chuva.

— Nós também podemos desaparecer dos lugares. Abrir buracos. Respirar na fumaça. Lys toda hora tem que entrar no lago por horas para cuidar dos animais marinhos. Nós podemos pular de prédios e frear nossa queda. Bruxos não morrem assim.

Benjamin, todo molhado, com o pelúcio claramente incomodado com a água, que foi se esconder embaixo de um banco, ficou olhando para a varinha dela.

Finite. - exclamou Dominique e a água parou de jorrar.

— Mas eu não sei se vou ficar com vocês. – Benji baixou a cabeça. – Vocês nunca disseram isso.

Dominique, sem saber o que dizer, o abraçou de novo. O armário com o bicho-papão ficou se chacoalhando e Três estava tremendo embaixo do banco.

Lys, Holly e o recepcionista novato os encontraram assim no meio do pátio. Dominique largou Benji e foi com uma fúria descontrolada até o novato.

Você está despedido!

O novato ficou pálido e sem reação como um Tronquilho. Lys a fitou sem entender. Dominique nunca era grosseira assim com os funcionários. Em geral, ela se dava muito bem com eles.

— O q...?

Dominique o ignorou e ficou de frente para Holly.

— Você pode fazer o que quiser com meu irmão, mas não aqui. Se algo assim tornar a acontecer, eu juro por Merlin Holly, não me importo com a nossa amizade, eu te demito também.

Holly, que sempre era autoconfiante e nunca levava Dominique a sério, não a contrariou. Dominique estava descontrolada. Lys pegou em seu braço.

— O que aconteceu?

— Um bicho-papão foi o que aconteceu. – explicou Dominique, desvairada. – Atacando Ben, botando fogo em tudo.

Os olhos de Lys se abriram em compreensão. Dominique continuou a andar porta afora, em direção à recepção.

— Onde você está indo?

— Você sabe, inferno, você sabe.


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Notas finais do capítulo

Yey!
O que acharam da ~tensão~?
Tadinho D:



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