Blind Love escrita por Nanda Ackless


Capítulo 1
Tudo tem um começo


Notas iniciais do capítulo

Aiiiiii, adorei escrever essa maluquice. Espero que gostem da minha loucura.



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Tudo tem um começo

 

Eu corria pela floresta tentando escapar do grupo de quatro descerebrados que me perseguiam desde que eu dei a porra daqueles tiros.

Sou uma pessoa idiota, devo alertar logo.

Tropecei, levantei e tateei a segurar nas árvores próximas. Eles estavam ficando para trás. Mas eu corria meio às cegas. Tinha deixado meu óculos cair e tudo o que eu via era o borrão verde e marrom.

Em determinado momento me choquei contra algo e aquilo se mostrou mais sólido que uma das árvores em que tinha esbarrado antes.

A coisa sólida tinha braços, estes me agarraram e eu dei um grito que assustaria até os mortos – coisa idiota de se dizer agora –  ele me largou no mesmo instante e caí sentada a gemer.

A bunda doeu.

— Quer me matar sua idiota. – Gritou em minha direção e eu quase suspirei de alívio, estava vivo.

Isso não era coisa boa também. Os vivos podiam ser fudidamente piores que os mortos.

Eu não podia ver o homem com nitidez, mas o cheiro dele me alcançava com clareza: cigarro, terra, sangue fresco.

— Ah porra! – Falei, me joguei para trás e rastejei para longe dele.

— Volta aqui, ô deficiente. – Ele gritou em minha direção e não podia estar mais certo.

Deficiente visual.

— Não me machuque. – Disse erguendo a arma em sua direção e atirando sem noção.

Se tivesse carregada ele tinha se fudido naquela hora. Tinha apertado o gatilho feito uma alucinada e mirado na única coisa que se mexia na minha frente, ou seja, ele.

— Sua louca. – Ele gritou se jogando para o lado quando apertei o gatilho pela primeira vez, caindo no chão e apontando com algum tipo de arma na minha direção.

Atirou. Sei por que ouvi o barulho. E depois por que algo me acertou e caí que nem um saco de batatas. Gemendo alto, xingando feito uma puta de beira de estrada, e pedindo ajuda a papai do céu.

Toquei o troço em meu braço e descobri que era uma flecha.

— Você me machucou seu infeliz. – Gritei. -  Por que não acertou logo na minha cabeça?

Pelo menos eu teria morrido logo. Agora estava sem balas, sem óculos, cega e ferida, desprotegida com um homem alto, de boca suja e que podia roubar minha inocência.

— Você atirou em mim sua adolescentizinha idiota filha da mãe. – Ele cuspiu parando ao meu lado e tocando em meu braço.

Uma sombra que eu não consegui discernir ainda muito bem por que a luz estava as suas costas.

— Não sou adolescente, tenho dezoito. – Gritei marrenta a segurar o braço e tentar me levantar. – E não tinha balas só queria lhe assustar para fugir.

Levantei, sem a ajuda dele, devo informar. O bastardo não me tocava mais. Tinha se afastado e me olhava. Ia puxar a flecha, mas ele deu um tapa na minha mão.

— Ai! – Falei e tentei dar um tapa nele também, mas não deu certo. – É dos que gostam de bater em mulher seu idiota?

— Não tira essa porra daí assim não. – Ele disse se aproximando e segurando meu ombro.

— Não toca. – Falei lhe empurrando.

Gente, não dava. Ele tinha uns cinco metros mais que eu e parecia um armário de barba e cabelo comprido.

— Deixa essa merda aí, se puxar vai ser pior. – Ele disse muito perto e pude ver que tinha olhos azuis.

— Agora está preocupado? Por que atirou em mim então seu débil mental fedorento?

Ele não fedia, era implicância minha. Eu que estava fedendo e sabia.

— Olha quem me chama de fedorento. Não toma banho há quantos dias, desde sempre?

— Fedendo ninguém vai querer me violentar. – Soltei e ele deu um passo para trás.

— Tá me chamando de estuprador? – Ele falou puxando a flecha de qualquer jeito.

Foi de propósito. Só podia. Queria me fazer sofrer ainda mais.

— Se eu sobreviver, mato você. – Lhe avisei segurando o braço e sentindo sangrar.

A verdade é que ele tinha puxado a flecha do jeito certo e a melequenta não estava tão funda como parecia. Tinha varado minha jaqueta de couro e eu estava com duas blusas grossas por baixo.

Quem já dormiu ao relento sabe de como estar bem agasalhado é algo muito necessário, e eu vinha dormindo na floresta tinha uns dois dias.

Estava perdida, mesmo com os óculos.

Sou daquelas pessoas que não possuem nenhum senso de direção, que se perderiam em qualquer lugar com mais de dois cômodos e nunca esteve na mata mais que um passeiozinho no parque da esquina. Eu curtia muito mais correr pelo shooping sem nada mais para fazer do que entrar em uma loja para experimentar as roupas de grife que não tinha dinheiro para comprar, e agora estava usando uma jaqueta masculina da CK, de cinco mil dólares.

Algo de bom tinha que resultar do APZ.

Ouvi os gemidos dos descerebrados e estremeci procurando caminhar na direção contrária. Não estava com medo do cara de sotaque carregado, queria apenas escapar de ser devorada.

— Para onde está indo sua idiota? – Ele me perguntou me puxando pelo braço bom. – Quer ser devorada?

Ok. Ele tinha acabado de me salvar. Na minha cegueira, estava caminhando em direção aos descerebrados, como um porquinho para virar toucinho e bacon.

Gente do céu, tinha uma vida que eu não comia bacon, que vontade dos infernos de comer carne me deu agora. Por que eu tinha que pensar nisso, não comia há dois dias e minha barriga roncou como uma moto harley de um milhão de cilindradas.

— Fica parada aí. – Ele ordenou, virou, acho, e avançou nas coisas que vinham na nossa direção.

Ele os estava derrubando com uma faca. Acho que era uma faca.

Dei uns passinhos para trás e comecei a correr.

Pá.

Não vi a árvore e ela levou a melhor.

Qualquer um e qualquer coisa acabava levando a melhor sobre mim, sou um zerinho a esquerda na conta, daqueles que não serve para muita coisa, por que ninguém usa decimais no dia a dia.

Desculpa aí, tenho dessas de divagar.

Estava no chão, testa doendo, ombro doendo, com certeza com um galo de desenho animado a sair da minha testa, tonta e ficando cega de vez, por que tudo escureceu.

Apagão. Escuridão. Desespero.

— Nããããããooooooo!!!!

Dei outro de meus berros.

— Não liga não que ela é uma histérica. – Ouvi o bastardo da floresta falar, mas não vi com quem.

— Não se preocupe, ninguém aqui vai ferir você. – Uma voz mais velha disse a minha esquerda.

— Acho que ela é cega e um tanto débil. – O bastardo de novo.

— Não sou débil e nem cega. – Falei me sentando e segurando minhas pernas, encolhida no canto da cama de uma cela, rodeada por estranhos que mal conseguia enxergar. – Sou míope, ok?

— Boa merda. – Ele soltou se afastando para que outro homem se aproximasse.

— Qual o seu nome? Ele perguntou com um sotaque menos pronunciado que o do Robin Hood.

— Becca. – Disse estreitando os olhos para discernir suas feições.

Ele estava próximo o bastante para notar muito dele: rosto e corpo.

Gaaaaaato.

Limpinho, em comparação com o idiota que encontrei na floresta, e de quem já tinha pegado ódio mortal, daqueles para a vida toda.

Coroa enxuto da porra aquele, todo no filé. – Meus pensamentos atuais giravam sobre comida. - Quase pulo em cima e o devoro ali na frente de todos. Dava minha virgindade pra ele sem pensar duas vezes, bastava ele estalar os dedos.

Ah! Merda!

Olhei para sua mão e vi algo brilhar.

Aliança. Casado. Me matem.

A vida não é uma droga?

Juntei aquela decepção a minha listinha de coisas que ainda me fazem sofrer. No topo ficava minha revolta por não saber quem seria A em Pretty Little Liars. A porra da série estava na metade da quarta temporada quando o mundo foi para o brejo e não imaginam com meu mundo ruiu quando descobri que nunca desvendaria aquele mistério.

— Eu não disse que era uma demente. – O sujinho rosnou para o coroa gostoso.

— Becca, estava com alguém, algum grupo? – Ele me perguntou com muita calma, achando que o idiota da floresta estava certo, ou que eu ainda estava lesada pela pancada na cabeça.

— Estou sozinha. – Respondi e tentei dar uma chorada para criar simpatia, mas meus olhos estavam secos.

Fiz uma careta de dor e uni a minha melhor imitação de garotinha perdida e inocente. Aquilo não ia enganar ninguém, mas vai que cola?

O coroa tudodebom sorriu de leve e me encarou fixo.

Estava tentando me hipnotizar? Eles eram vampiros? Tinha pulado de Madrugada dos Mortos para TVD?

— Becca se quiser pode ficar conosco. Somos boas pessoas e você não precisa ter medo.

— Não tenho medo de você. – Disse e ele me encarou todo paternal.

Pai só tive um meu filho, não me olha assim não.

— Bom. – Ele mexeu a cabeça. – Sou Rick. Esse senhor é o Hershel e aquele é o Daryl. – Disse e apontou para o sem noção que tinha me acertado com a flecha. – Temos outras pessoas conosco e você poderá conhecê-los depois.

Uma mulher entrou quando ele ainda falava e o cheiro de comida tomou todo o lugar. Me ajeitei toda feliz, por que só podia ser para mim.

— Essa é a Carol. – Rick falou e a mulher me entregou uma bandeja onde um prato com carne e arroz me deu um alô.

— Para você. – Ela disse sorrindo e se afastou.

Agarrei a colher e comecei a devorar sem me preocupar em parecer uma maldita refugiada de guerra, ou uma sobrevivente de algum holocausto.

Opa! Eu era!

Estava faminta. A última coisa que comi tinha sido alguma coisa já passada de uma lata, que me forcei a engolir por que ainda não cheirava tão mal e não tinha outra opção.

— Obrigada. – Disse em direção ao delicioso coroa e ele se levantou para se afastar.

— Fico de olho nela. – Daryl avisou e os demais saíram.

— Não sou perigosa, para ter um carcereiro. – Disse a ele com a boca cheia.

— Vá se acostumando. Não confio em você e vou estar de olho em tudo que fizer.

— Vá à merda! – Disse e voltei para meu prato.

— Vá você. – Ele respondeu e sentou em uma cadeira, e ali ficou, sem me encarar, até que dormi novamente.


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