Coven escrita por Artur Mota


Capítulo 4
Capítulo 03




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Celta olhou-se no espelho mais uma vez. Ela já havia colocado e tirado o vestido mais de vinte vezes, pensando se realmente valia todo aquele esforço.

“ Você deve ir! Sabe o quanto todos estamos felizes por vocês dois terem passado pelo teste da Linhagem, ainda mais como Dracul Al’Glacin!” Celta não podia conter o sorriso ao pensar nas palavras entusiasmadas do mentor            Irving e da alegria que iluminou o rosto de Finn.

Ela lembrava também que aquilo indicava o fim de seu sofrimento. Ela poderia enterrar para sempre aquele segredo que a atormentava a noite e a fazia sentir-se imunda da cabeça aos pés.

Esses pensamentos davam a coragem necessária para decidir ir ao Baile Do Sangue, uma comemoração feita para os aprendizes que foram aceitos pelo teste da Linhagem, e que teriam que passar pelos Testes dos Covens.

Celta caminhou até a saída do dormitório feminino, onde Finn a esperava. Seu irmão vestia um terno elegante que Gregório havia comprado especialmente para ocasião. Ele sempre estava lindo, com sua alta estatura, olhos verdes brilhantes e sorriso perfeito, sempre confiante; coisa que Celta definitivamente não era.

— Pronto para se aventurar em terras desconhecidas? – Perguntou a irmã, nervosa.

— Não se preocupe, eu te protejo das outras aprovadas. – Respondeu Finn com uma forçada expressão solene.

— Não se preocupe quanto a isso, elas estarão muito ocupadas pensando qual delas vai conseguir alguma coisa com você. – Disse Celta, dirigindo-se para a carruagem que transportaria os dois e mais três outros aprovados para o salão principal.

Ninguém exagera acerca da extensão de Castel.

Dos dormitórios dos aprendizes até o Salão levaria cerca de uma hora a pé. Claro que eles usualmente utilizavam um feitiço de relocação espacial para se locomover entre os vários prédios e campos onde ocorriam as aulas, mas aquele transporte era uma formalidade para o Baile do Sangue.

O casal que estava sentado de frente para os dois irmãos estava ocupado demais quase se devorando com beijos para notar a existência dos dois.

— Acho que  não vão se importar se conversarmos um pouco. – comentou Celta para seu irmão.

— Claro. – Respondeu Finn, olhando espantado para a vivacidade do casal. – Então, como você acha que serão os Testes?

Celta deu de ombros.

— Esse é um dos motivos dos Testes serem tão temidos, o mistério que os cercam. O que posso supor que ele varia muito de uma Linhagem para outra. – Celta fez uma pequena pausa. – E que os que falharam nunca mais foram vistos.

Finn pareceu considerar aquela possibilidade por alguns instantes, mas a ignorou com um gesto.

— Ainda bem que não vamos falhar, não é mesmo?

Celta suspirou.

— Assim espero.

O Salão estava apinhado de outros alunos de Castel, aprovados ou não, que dançavam ao som de uma banda contratada para ocasião.

Os grupos eram bem diferenciados. Haviam aqueles que tinham irmãos, como Celta e Finn, e comemoravam a aprovação de sua Linhagem, aqueles que só estavam acompanhando alguém e, como em toda festa, os que não deveriam estar ali.

Finn rapidamente localizou seu grupo de amigos e foi ao encontro deles, enquanto Celta procurava algum lugar onde pudesse se sentar um pouco e ficasse o mais longe possível. Estava exausta depois das provações daquele dia.

Daquele e de muitos outros antes dele. 

‘“Agora, pelo menos, terei um pouco de paz”

— Ei , garota, por que está tão triste? – Uma voz perguntou.

Celta ergueu os olhos. A garota que estava diante de seus olhos poderia ser considerada, no mínimo, a definição da pura alegria. A jovem tinha cabelos negros cortados na altura do ombro, a pele bronzeada indicava o tempo que ela gastava nas áreas esportivas de Castel e seus olhos cor de mel brilhavam com uma chama interna de pura vivacidade.

— Vou me sentar com você. – Anunciou a recém chegada, que então retirou os sapatos com um suspiro de prazer. – esses saltos estavam me matando. Segura aqui pra mim. – dito isso, ela empurrou os sofisticados sapatos nas mãos de Celta e murmurou um rápido encantamento e eles rapidamente se transformaram em sandálias, a garota os pegou de volta. – Muito obrigada! Me chamo. Helena...

— ... Dracul Al’Glacin – completou Celta.

— E como sabe disso? Por acaso está cursando aquela farsa de curso de clarividência da professora Lilian? Aquilo sim é um desperdício de tempo. – Falou Helena, revirando os olhos.

— Não, não estou. Eu só olhei para a insígnia do seu anel de Aprovada. – Respondeu Celta, indicando o símbolo  do dragão de gelo no anel de Helena. Igual ao que ela e o irmão usavam.

— Sempre esqueço que estou usando esse treco, perdoe a minha falta de atenção. – Falou como se aquilo não fosse nada importante. – e eu sei quem você é, Celta Al’Glacin. A aluna modelo de Castel.

 Celta ouviu como ela proferiu aquele título. Não estava acompanhado com o tom ácido e invejoso que costumava acompanhá-lo, parecia até respeitoso da maneira que Helena falava.

— Gostando do Baile? – Perguntou Celta, tentando iniciar uma conversa.

—  Não tem tanta pompa e nem muitos membros da alta sociedade mágica quanto pensei que teria. E tem música e caras interessantes, então, sim. – Ela olhou para Celta. – Olha, não me entenda mal, mas você não está tão feliz quanto alguém na sua situação deveria estar.

Celta entendeu o que ela queria dizer. Em um dia era uma Lilith,  condenada a trabalhos de péssima remuneração e até a trabalhos forçados em alguns casos, a uma vida cheia de sofrimento, suor e dores. Então, da noite para o dia,  tornou-se uma Dracul Al’Glacin um dos Covens mais respeitados e influentes do Império.

— Acho que estou apenas um pouco cansada, é só. – Disse Celta com um sorriso forçado.

Helena parecia indignada.

— Não posso permitir uma colega de Coven ficar sentada a noite toda durante o Baile! – Dito isso, ela pegou as mãos de Celta e a puxou para a pista de dança.

— Eu não sei dançar!  - Falou Celta por cima da música para Helena.

— Nem eu! – Gritou de volta, sorrindo. – É só deixar a música te levar e não ficar parada! Já é alguma coisa. –  então ela começou a fazer exatamente o que disse e Celta a seguiu, não tinha como não se contagiar pela energia dela.

Fazia muito tempo desde que ela havia se permitido algo como aquilo. Sempre preocupada com o amanhã e olhando temerosa para a porta de seu dormitório, esperando o pior acontecer.

Celta não percebeu quando, mas permitiu-se ficar tão empolgada quanto Helena.

— Acho que preciso colocara algum líquido dentro de mim ou eu morro. – Falou Helena quando a banda tinha mudado para uma música mais lenta e as duas foram descansar um pouco.

— Acho que já te superei há tempos.

As duas então se encaminharam para a mesa onde estavam as jarras de bebidas, mas um estranho colocou-se no caminho delas.

Tratava-se de um jovem alto, louro e bem-vestido.  Um típico integrante do alto escalão mágico; integrante da família Dracul Al’Pyrin, como Celta pôde perceber pela insígnia em seu anel.

— Ora, ora, o que temos aqui? – o tom de deboche pingava de cada palavra. – A pequena estrela Lilith.  Bom, acho que meu pai está certo; aceitam qualquer lixo no Sangue. – O pequeno séquito de seguidores riram forçadamente diante daquelas palavras.

Helena fez menção de ajudar a amiga, mas esta indicou com uma rápida troca de olhares entre as duas.

— Ora, ora, o que temos aqui? – Falou Celta em sua melhor imitação do jovem. – um típico riquinho clichê tentando intimidar a colega de sala mais pobre, tentando fazê-la se sentir inferior com expressões batidas de todos os livros e programas televisivos dos últimos tempos. – O Dracul Al’Pyrin tentou falar algo, mas Celta o ignorou. – Antes que você rebata meu comentário com alguma outra brilhante frase do seu parco arsenal, deixe-me ser bem clara: não sou melhor nem pior do que você por causa das circunstâncias de meu nascimento. Sou melhor do que você por que tenho talento, algo que o dinheiro não pode comprar. – Ela fez uma pequena pausa. – E ainda mais, fui aprovada como Dracul Al’Glacin pelo Sangue, caso seu narcisismo esteja tampando seus olhos. E , para terminar, eu e meu irmão permanecemos em Castel por nosso próprio esforço e capacidade e não porque nossa tataravó abriu as pernas para o homem certo.

Todos da pequena multidão que havia se formado permaneceram em silêncio; mais de um com a boca levemente aberta. Os expectadores alternavam seus olhares entre Celta e o jovem, esperando a explosão de uma tempestade.

— Ora, sua  vagabunda de merda... – ele segurou o braço  da jovem bruxa com força, os nós dos dedos brancos devido ao esforço. – Está na hora de ensinar a escória o lugar que lhes cabe.

— Tem razão. – Rebateu Celta com a voz firme e ameaçadora. Então, ela deu um soco no rosto de seu agressor, sentindo o nariz quebrar sobre seus punhos. Antes que ele se recuperasse do golpe e da surpresa que o acompanhou, Celta deu uma joelhada na virilha do jovem, fazendo com que ele caísse  no chão.

— A “vagabunda de merda” , que por a caso é a terceira melhor na aula de defesa pessoal,  vai lhe ensinar onde é seu lugar: bem longe dela. – falou audivelmente para a multidão e depois se afastou da pista de dança,  onde uma quantidade impressionante de pessoas ignorou o que acabou de acontecer.

— O..QUE..FOI...AQUILO?! – perguntou uma extremamente empolgada e admirada Helena. – Sabe quantas garotas, garotos, professores ou qualquer outra pessoa já falou dessa forma com Daniel Al’ Pyrin?! Sabia que dizem que ele será o próximo líder do Coven dele?

— Então tenho pena deles. – Falou Celta, mas sua expressão rapidamente assumiu um ar preocupado. – Será que fiz besteira?

— Claro que você fez besteira, mas isso não significa que não tenha sido a coisa mais sensacional dos últimos tempos! – Helena então olhou para Celta, seus olhos cor de mel brilhantes de tanta alegria. – Pronto, está decidido.

— O que?

— Você é minha nova melhor amiga, gostando ou não! – A jovem então observou o grande relógio próximo á banda. – santa Medeia! estou elegantemente atrasada par encontrar uma pessoa! Espero te ver nos testes, cabelo de Raposa!

Helena saiu tão rapidamente quanto apareceu.

Havia muitas coisas que Celta não sabia sobre aquela bruxa. Nunca haviam conversado e mal haviam se visto antes daquele dia. Mas há pessoas que simplesmente são assim, que mal aparecem na vida de alguém, mas já consegue cravar profundamente sua marca, que começam a tecer os laços de uma profunda e duradoura amizade, que nem se percebe que começou.

E Celta tinha certeza de uma coisa, Helena Al’Glacin, sem sombra de dúvida, seria  uma dessas pessoas.


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