Eu estou parecendo uma idiota tão preocupada com essas coisinhas bobinhas, minha nova vida mal começou, ok, começou esquisita pra caramba, mas é melhor eu não ficar tão pilhada. Tenho que parar de tentar encontrar aquele menino bonitinho. Mas acho que preciso de um celular novo, ou dar uma batedeira nova pra minha mãe... Paaara...

— Levei o cachorrinho pra fazer a necropsia, ele tava com pneumonia- explicou Maria Luiza.

— hm- murmurou Paulo, saindo em seguida da sala e indo pro seu quarto.

— O que ta acontecendo com o esquisitão ali?- sussurrou Maria Luiza.

— Não sei, mãe... Ontem encontrei ele chorando com o cachorro morto na mão, ele tem se comportado meio estranho, parece que tá sei lá... triste...- contou Bia.

— Não fale como se ele nunca tivesse ficado triste!- Robson sussurrou.

— Não, óbvio que já ficou, mas ele nunca demonstrou isso tão a flor da pele, é até estranho- comentou Bia.

— Filha, tenta conversar com ele e saber o que está acontecendo, pode ser? Estamos preocupados- Maria Luiza.

— Tudo bem, mãe, vou tentar mais vezes...-.

Todos estavam reunidos no grande novo sofá na sala, conversando, brincando, Bia comentou da menina estranha que se locomove rápido e discretamente pela escola e parece que ouve os pensamentos dela, todos riram, mas ainda estavam preocupados com Paulo lá dentro no quarto. Maria Luiza levantou pra começar a preparar o jantar e Robson mudou o canal pro futebol. Bia foi andando pro seu quarto no fundo do corredor, passou pela porta do seu irmão e viu ele aparentemente dormindo e continuou seu trajeto pro quarto.

— Espera- ouviu Paulo depois de ter passado por sua porta. Voltou lentamente, andando de trás pra frente e parou novamente na sua porta, entrou e se sentou na cama onde ele estava deitado.

— O que tá acontecendo, maninho?- perguntou preocupada.

— É que... – hesitou em falar algo, mas desviou...- Nada, te chamei só pra você fechar a porta...- respirou fundo e colocou seu rosto no travesseiro.

— Cara, ta sendo difícil pra mim também... Tá tudo muito estranho, eu sei, mas é isso que vai nos mudar pra melhor! Vamos tirar o melhor dessa situação toda, mano!- disse entusiasmada.

— Mana, você é incrível, mesmo quando não sabe o que se passa, fala as coisas certas...-.

— Incrível ta sendo você me elogiando... To conhecendo outro lado seu, Paulo?-.

— Talvez seja realmente isso que esteja acontecendo...-.

— Como assim?- fez cara de dúvida.

— Deixamos esse papo pra outro dia... Sério, to sem condições agora...- voltou com a cabeça pro travesseiro de novo.

Bia se levantou, saiu, fechou a porta e foi pro seu quarto. Arrumou seus livros pro segundo dia de aula, sentou-se em sua cama e ficou encarando seu celular, se perguntando muitas vezes se mandava uma mensagem pro menino.

*pegando celular*

*salvando numero* ‘’Pietro Vendedor... não, não... Pietro loja de eletrônicos... não... só Pietro’’

*digitando* O-I, T-U-D... ‘’não, muito sei lá... aff... o que eu falo?’’

‘’Já sei... Vou ligar’’

*chamando*

Deram quatro toques e uma voz bem grossa disse ‘’Alô’’, ela logo abriu um sorriso, ficou sem reação... novamente um alô do outro lado da linha e nada dela falar...

— A-ah... Alô... Pietro?- meio tremula.

— Olá...- voz cabisbaixa... – Olha... sinto informar você, mas Pietro não pode falar no momento...-.

— É-é... Quando posso falar com ele?- perguntou Bia.

— Olha, menina, vou te abrir o jogo... O Pietro não vai poder falar tão cedo... Você já é a décima que liga... Deve ter o conhecido na loja em que ele trabalha. Saindo do turno ontem, ele sofreu um acidente, ele tá em coma e, mesmo se não tivesse, acho que não retornaria pra você tão cedo-. Desligou.

Bia ficou sem reação, pasma, boquiaberta, todos os jeitos possíveis de não acreditar no que acabara de acontecer. Ela não sabia se ria, se lamentava, se achava ele um canalha ou ficava com pena mesmo assim. Deixou o celular de lado e se encaminhou pra cozinha e perguntou a mãe se queria ajuda com a janta.

— Rala a cenoura pra mim, minha filha- pediu Maria Luiza.

— Posso antes colocar uma música pra animar? Essa cozinha é enorme, vamos dançar e cozinhar!- disse sorrindo.

— Estranho, você parece irritada-.

— Irritada com o que? Ta tudo bem! Tive um primeiro dia de aula estranho, meu cachorro morreu e meu irmão ta triste... Tem razão, talvez eu esteja irritada-.

— Conseguiu tirar algo dele?- perguntou Maria.

— Olha, ele me elogiou... Tem alguma coisa muito estranha nele. Parece sei lá, sensível...-

— HAHAHAHAHA, Paulo sensível agora é novidade!- riu Maria.

— Pois é... Mas tem alguma coisa nisso tudo...-

Continuaram a cozinhar, ouvindo música, conversando, rindo, o de sempre... Pelo menos essa parte ainda estava normal... Mas Bia ainda não tinha tirado da cabeça o lance do acidente do Pietro, cabuloso.

Serviu a mesa com sua mãe, fez o prato de Paulo e levou no seu quarto, pois ele estava mais reservado e depois foi pro seu quarto pegar o celular. Pegou sem olhar, pôs no bolso e foi almoçar na mesa com seus pais. Quando de repente ouve o celular tocar bem baixinho e aumentando conforme tocasse mais e quando pegou o celular, parou de tocar. Robson chamou atenção sobre celular na hora do almoço e ela o guardou... Mas não deixou de notar sete chamadas do Pietro. Seria aquele homem se desculpando por ser rude ou teria Pietro saído do coma e decidido ligar pra mim ao invés das outras milhões de garotas que ele dava o telefone durante o expediente? Ela terminou de almoçar, lavou seu prato, escovou os dentes, tudo pensando nessas hipóteses ditas anteriormente, até que assim que se sentou na sua cama, o celular tocou novamente, ela pensou em não atender, mas não custava nada.

— Alô?- Bia.

— Beatrice, né? Quero me desculp...-

— Agora o senhor quer se desculpar? Nem pra respeitar o Pietro em coma, você não respeitou e agora deixa eu adivinhar? Quer se desculpar por ser rude e por falar todas aquelas verdades? Já imaginei mesmo! Não precisa!-

— Calma, meu Deus! Não lembro de você ser tão faladeira e revoltada assim, hahahah-.

— Como assim? Do que você tá falando?- perguntou duvidosa.

— Sou eu, Pietr..-

— Para com isso, quer mesmo que eu acredite que ele acordou do coma agora e decidiu ligar só pra mim, ao invés de todas as outras? Não vai rolar, deixa o cara em coma e paz!-

— Beatrice! Aquilo era um amigo meu que estava te zoando enquanto eu fui ao banheiro. Quando voltei, ele já havia desligado, eu tentei te retornar e você não me atendeu- disse rindo entre palavras.

— Não estou entendendo...- mais uma vez muito confusa.

— Olha, deixa... Eu não dou meu telefone pra ninguém, eu tinha comentado com ele que tinha dado meu telefone a uma garota e dei o azar de você ligar na hora em que ele estava próximo, não acredita nele-.

Ela já havia sido trouxa uma vez e isso a deixou mais confusa agora... Como ela saberia que ele só deu o telefone a ela? A parte do coma era brincadeira, mas... e o resto? Restava a dúvida.

— Como posso acreditar?- perguntou Bia.

— Eu não sei, apenas acredite... Meu amigo é um idiota e, não sabia seu nome-.

— Verdade, tinha isso... nem percebi, eu tava irritada demais, desculpa-

—Tudo bem, me desculpa você por esse transtorno, meu amigo não tem noção- disse Pietro sem graça.

— Explica pro seu amigo que eu ainda estou meio deslocada, não estou acostumada com esse tipo de zuera, vai com calma, haha- disse ela sem graça também.

— Esquece ele... E a gente? Como fica?-.

— É-é... Você que sab-be ué...- totalmente sem jeito.

— Durante a semana, na parte da tarde você ta livre?-

— Por enquanto sim, futuramente que vou arranjar o que fazer, mas agora estou com o tempo livre!-.

— Olha, então podemos sair amanhã? O que você gosta de fazer?-.

— Podemos, claro! Se você quiser no shopping mesmo, perto do seu trabalho, mais fácil pra você, não?-

— Não, eu não trabalho mais ali... Eu trabalho só durante as férias. É a loja do meu pai-.

— ah... Então sei lá... Onde você sugere?-

— Você curte zoológico? Podemos fazer um piquenique no gramado de lá- sugeriu Pietro.

— Olha... Não curto zoos... mas curto pequinique!-

—Então, jardim botânico?-

— Perfeito! Piquenique no jardim botânico!- disse Bia entusiasmada.

— Tudo bem, te busco onde?-

— Me buscar?- ‘’ achei que iríamos andando...’’

— Sim. Aqui é uma cidade grande, achou que iríamos andando?- riu Pietro.

— Bom, eu mal sei meu endereço, mas é perto de um mercado verde- disse com dúvida.

— Pão de açúcar? Se for esse, te busco na porta dele então-

— Esse mesmo, combinado! Que horas?-

— 14h pode ser?-

— Com certeza- ela quase não se conteve de alegria.

— Então tudo certo, beijos!-

‘’ Muitos, se Deus quiser...’’ – Tchaau...-

—CARAMBA, EU TENHO UM ENCONTRO!- pensou alto demais.

Colocou música bem alta e começou a dançar, mal ouviu as batidas na porta. Era Paulo, o que ele queria? Seja lá o que fosse, ela estava ocupada demais dançando. Paulo deu a meia volta, bem triste e voltou pro seu quarto. Passaram-se alguns minutos e a Bia cansou de dançar e saiu do seu quarto e deu de cara com Paulo saindo do quarto também, de mochila.

— Ei, aonde você ta indo?- perguntou Bia

— Na hora que eu quis te contar, você estava ocupada demais pra poder me ouvir-

— Fala agora! Me desculpa!-

— Não, Beatrice, tarde demais, eu queria sua ajuda aquela hora- .

— Você parece que tá de tpm, não é possível...-

— Devo estar, mas você não pôde ouvir minhas explicações, agora estou de saída-.

— Saída pra onde? Você não conhece ninguém aqui-

— Desde quando precisei conhecer as pessoas? E você teve chances de saber pra onde vou.-

— Fala isso pelo menos, nossos pais vão se preocupar! Amanhã temos aula!-

— Eu vou voltar pra nossa cidade, Beatrice, agora vê se não me enche- nisso ele saiu e bateu a porta de casa e seguiu seu trajeto.

Beatrice não entendeu nada. Ficou se sentindo mal, pois quando Paulo precisou dela, ela tava comemorando um encontro com um cara que conheceu numa loja de eletrônicos, ela não poderia estar se sentindo pior naquele momento. O que será que estava acontecendo com Paulo?