É uma tarde fria pra porra, fria demais pro Rio de Janeiro. Eu e minha família nos mudamos do interior de São Paulo, de uma cidadezinha bem fria, ou seja, adiantou nada, chegamos há um mês, estava bem calor até, separamos nossas roupas de praia e tudo que tinha direito, porque alertaram que ao vir pro rio, é bom se programar rápido, porque São Pedro é meio indeciso sobre algumas regiões... Dito e feito, o tempo virou no dia seguinte, um foda-se bem grande de São Pedro pra gente, ainda era verão e já estava um frio de congelar o rabo e, nós que havíamos nos livrado de nossos agasalhos, pois não queríamos vir com muita mudança e também estaríamos vindo pra um lugar em que precisaríamos no mínimo de um casaquinho merda. Ainda bem que não preciso me lament...

— Paulo Vitor, que cara é essa?- Bia estava observando ele fazer caras e bocas

— Bom, só tava imaginando o quão é engraçada essa situação, ainda bem que podemos comprar casacos, senão teria sido um desperdício-

— Verdade... É até bom que teremos roupas melhores, pensa só-.

— Hahaha, só falta irmos às compras e assim que sairmos da loja, o sol sair também... É até engraçado-

Bia e Paulo eram filhos de Maria Luiza e Robson, cariocas, se mudaram pra SP por motivo algum na adolescência e quando quiseram voltar, não tinham perspectiva, muito menos dinheiro, porém, Robson, toda semana religiosamente jogava na loteria e o cliché de toda historinha aconteceu, ele ganhou na loteria e eles voltaram pro Rio de Janeiro. Bia e Paulo eram adolescentes bem inteligentes e modernos, porém, dentro dos recursos que tinham na pequena cidade. Agora eles eram ricos, recém-mudados pra um lugar estranho, com pessoas estranhas, rotina diferente e, novos planos.

Maria Luiza ainda estava decorando o novo apartamento da família, Bia e Paulo já estavam se adaptando e logo começariam a escola, ainda não tinham saído por ali sem os pais, pois ainda era um lugar desconhecido com pessoas desconhecidas. Bia já arrumara seu quarto quase da forma que sempre sonhou, pendurou suas fotografias amadoras em um mural em uma das paredes e todos os dias se lembrava da sua vida antes, amigos, ex... Bom, parte complicada essa, viu que o Vitor, mesmo que o namoro tenha sido fruto de uma amizade linda, era um idiota e viu que não passou de um aprendizado pra vida. Ela nunca pensou que seu pai ganhando na loteria, ela amadureceria tanto com as coisas que aconteceriam durante o tempo em que planejavam a mudança. Não foram amadurecimentos em relação à responsabilidade, mas sim sobre as pessoas, ela abriu os olhos e deixou de lado a ingenuidade, viu que ela havia muito mais pra expandir sua mente, que as amizades eram maravilhosas, mas que poderiam ser mantidas a distância, pois agora ela tinha decidido que ia melhorar, mais e mais e pra isso, teria que abrir mão do seu apego com a vida quase sem perspectiva na pequena cidade. Suas melhores amigas Lynda, Sabrina e Suzanna fizeram uma festa linda de despedida, rolou bastante choro, ultima saída juntas, ultimo filme juntas, ultimas fofocas, ultimas festinhas juntas e só se veriam de tempos em tempos dali pra frente.

Paulo era um garoto estranho, andava com uns garotos estranhos e muitas vezes trocava bastante de galera, era bem estranho. Mas ele tinha um melhor amigo chamado Caio, sempre estava com ele em casa, nas festas de família, já tinha sido adotado de coração por eles. Bia chamava de irmão, os primos de primo, Paulo não chamava, mas ria quando ouvia Bia gritar maninho pela casa, Caio também não esquentava, mas preferia ser chamado de Caio. Paulo e Caio, os melhores amigos esquisitões, juntos em casa e com galeras estranhas na rua, Robson até brincava dizendo que eles faziam parte de um cartel, será? Pra Paulo tanto faz onde ele estava, ele só tinha o Caio de amigo mesmo. Na hora da despedida, foi no aeroporto mesmo, não rolou chororô nem nada, os dois sussurraram um no ouvido do outro, provavelmente um ‘’sem viadagem’’ e cada um foi pro seu lado.

Maria e Robson fugiram pra SP na adolescência, o que era muito estranho, pois a família de ambos apoiava o relacionamento deles. Casaram e compraram um terreno na pequena cidade, comiam do que plantavam, construíram uma casa, vendiam algumas coisas do próprio plantio e quando se deram conta, já haviam conquistado uma clientela e então daí surgiu a ideia da quitanda. Viveram nessa rotina por uns anos até conseguirem funcionários e ganhavam um bom dinheirinho, até aí estava tudo muito bem, até que veio a Beatrice e o Paulo um ano depois. A situação deu uma apertada e quando as crianças já estavam na escola, eles voltaram a trabalhar na quitanda, até o momento em que já não lucravam tanto e o que ganhavam era o suficiente para manter a família. Contudo, ainda eram uma família feliz, Robson e Maria eram pais extrovertidos, era um ambiente familiar muito bom, um por quatro e quatro por um.

Boa sorte pros quatro.