O dia amanheceu mas o sol não queria aparecer, se escondia atrás de nuvens gordas e brancas como algodão que lotavam o céu. Era como se ele estivesse prevendo o rumo que as coisas tomariam deste dia em seguida, Miguel despertou meio dolorido pela posição, mas nem isso, nem a falta do sol caloroso de Grotas foram de capaz de abalar a felicidade que resplandecia em seu peito, ainda se lembrava bem da noite anterior, da sensação de ter Olívia em seus braços, e ele sabia que não esqueceria isso nunca, e que sempre iria querer mais dela. Estava tão mergulhado em seus pensamentos que não ouviu quando Santo adentrou o celeiro e levou um ligeiro susto ao ver o homem parado em sua frente.

—Eai cabra como ta sendo a hospedia?- Perguntou Santo esticando a mão para Miguel,  que de pronto a aceitou e se pós de pé.

—Eitaa boa que só.- Disse abrindo um sorriso, mas então virou-se constrangido afinal havia dormido com sua filha, por hora achou melhor deixar o assunto quieto, afinal Olívia que deveria falar disso ao pai.- Só de tá longe daquela fazenda já to melhor, lá o ar é difícil de respira.- Não deixava de ser verdade, mas não era isso que lhe dava tanta alegria.

—Eitaa so, cabra te imagino.- Santo podia bem imaginar o quanto deveria ser viver ao lado de um Saruê.- Mas e tu, pronto pra embarcar no projeto?

—E se tô.- Disse arregaçando as mangas da blusa.

—Te prepara viu, vó manda Olívia traze café pra tu, café preto e forte, que o dia hoje é longo.- Foi o que Santo disse antes de virar as costas e sair.

Enquanto isso Olívia tentava parecer normal, mas seu sorriso quase rasgava seu rosto, tudo parecia tão perfeito aos seus olhos, tão certo, oque mais queria era ver Miguel mas resistiu a tentação de correr para seus braços, primeiro tratou de tomar um bom banho perfuma-se e vestiu um vestido de alças e acima da coxa azul marinho com detalhes laranja pós uma bota de cano curto de saltinho pequeno penteou os cabelos e foi em direção a cozinha de sua casa.

—Bom dia!!- Exclamou assim que adentrou o aposento depositando um beijo na face da avó e outro na de sua mãe.

— Oxi qual motivo dessa alegria essa hora menina?- Perguntou dona Piedade a neta- Viu passarinho verde?

— Vi foi revoada!-Parecia realmente que sua alegria não teria fim.

—Que é o motivo?- Luzia não deixou de estranhar tal atitude levando em conta que a menina chegará tarde no dia anterior.- Fui dormi tu não tinha chegado, tava com Lucas?

—Sim- Mal disse isso Olívia apressou-se em beber um gole de café, afinal não podia dizer com quem realmente esteve, não para a mãe. Ela já pensava no que inventaria para responder a mãe que parecia pronta para lhe jogar um monte de perguntas quando seu pai entrou pela porta.

—Bom dia pras mulheres da minha vida!- Falou depositando um beijo no topo da cabeça das três e por último em Isabel que acabara de entrar na cozinha.

—Olívia- Chamou após cumprimentar todas.- Filha tu pode ir adiantando as coisa pra mim?- Perguntou lhe dando um olhar cumplice, que a menina entendeu na hora.

—Mas essa ela mal comeu, e nem me deu uma boa explicação por ontem homem.- Disse Luzia aperriada.

— Ela vai levar comida então mulhê, problema resolvido, e isso eu converso cum ela.- Disse sentando na mesa ao lado da esposa.

—Já to indo então painho, mainha, Bel boa aula, e tchau vó.- Disse recolhendo comida pela mesa e pondo em uma vasilha grande antes de sair.

    Assim que deixou a família para ir ao encontro de Miguel ficou pensando, como contaria ao pai que havia passado a noite anterior com Miguel, será que ele aceitaria? Como reagiria? Ela se preocupava, mas não tanto quanto com a reação da mãe que com certeza diria que ela estava traindo a família com um Saruêzinho. Mas então balançou a cabeça afastando essas preocupações, pensaria nelas quando fosse a hora, não adiantaria de nada preocupar-se com isso agora, quando chegou a porta do celeiro seu coração se acelerou, parecia estar a galope, criou coragem e entrou.

 -Bom dia- Disse anunciando sua presença ao rapaz que estava de costas.

  Assim que ouviu a voz de Olívia, Miguel virou rapidamente com um sorriso estampado no rosto, assim que alcançou a menina beijou seus lábios carinhosamente, ela claro não pode deixar de corresponder, mas quando estavam para aprofundar o beijo Olívia que estava prestes a enroscar os braços no pescoço do garoto lembrou-se da vasilha que tinha nas mãos, e parou o beijo devagar.

— Bom dia! Trouxe café.- Disse mostrando a vasilha onde tinha pão com manteiga e queijo fresquinho, rosca, pedaço de doce de goiabada e uma garrafa térmica com café.

—Visse, que café em.- Logo os dois se sentaram a poram-se a comer.

  Durante o café falaram sobre assuntos casuais, como o projeto as expectativas e coisas assim, até que Miguel resolvem tocar no assunto que ela mais queria evitar.

—Neguinha quando tu vai falar com teu pai?- Aquela pergunta fez Olívia engolir em seco.

—Oxi Miguel não sei, painho ta tão focado no projeto hoje, mas não tarda em falo visse.- Disse passando a mão pela nuca, ela realmente não tinha ideia de como contar isso ao seu pai mesmo ele sabendo do que sentia por Miguel e não vendo problema nisso.

—Ta bom neguinha, quando tu tive pronta.- Disse Miguel pegando a mão da menina entre as suas, ele já se aproximavam para um novo beijo quando o barulho de alguém entrando no celeiro assustou os dois e se afastaram rapidamente.

—Tão de café tomado já em, bom, preparados pra trabalhar?- Perguntou Santo animado, ele mesmo estava achando a situação estranha, animado para trabalhar com um de Sá Ribeiro.

  Miguel e Olívia se olharam por um momento, aquele projeto era realmente uma coisa especial tanto para ela como para ele, Olívia sonhou aquele projeto, Miguel o estava tornando real, eles estavam mais do que prontos então responderam juntos.

—Claro!- Disseram uníssonos.

—Então bora, que o dia é longo e tem muito pra acontece!- Disse Santo dos Anjos sem ter noção de como suas palavras estavam certas.