Bruges escrita por SraLovegood


Capítulo 4
Capítulo IV


Notas iniciais do capítulo

Tô muito decepcionada com a falta de participação dos leitores nesse site. Muitos leem, e ninguém comenta.
Eu demorei para escrever por falta de inspiração, mas por problemas pessoais tô pensando em não escrever mais a fanfic. Esse capítulo aqui só saiu por causa de alguns comentários que recebi no Social Spirit. Então, se tem alguém aqui que gosta de ler nesse site, e gosta da estória, por favor, manifeste-se. Obrigada.
Odeio ser chata.
Enfim, boa leitura.



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Capítulo IV

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Londres, 23:00

Ainda naquela mesma noite, em que Mikoto estava indisplicentemente jogada no chão empoeirado do apartamento de seu cunhado assistindo uma maratona do Senhor dos Anéis, do outro lado da cidade, em um dos principais portos marítimos, seu marido, Fugaku, andava a passos certos em direção a um pequeno galpão com aparência degradante.

Quase não havia movimentação no porto, e a maioria das pessoas presentes se concentrava na área em que as grandes embarcações e navios estavam atracados. A iluminação também era precária, com grandes contêineres impedindo que a mesma fosse propagada no pequeno ambiente.

No seu encalço, prostrados quase teatralmente atrás de si, havia duas figuras um tanto quanto... exóticas. Um homem grande e pálido de cabelos platinados e olhos estranhamente roxos — o que mostrava a péssima qualidade da lente de contato— estava a sua direita, vestido todo de preto, no melhor estilo motoqueiro rebelde. Apesar de não incluir a parte sexy e sedutora que geralmente havia.

À sua esquerda, um homem com o tom de pele bronzeado e de olhos verdes, com um porte físico digno de um físico turista. Trajava roupas também pretas, mas em um estilo mais discreto.

O próprio Fugaku trajava um terno risca de giz preto, feito sob medida, com sapatos reluzentes e de aparência luxuosa.

Assim que as três figuras chegaram diante do galpão, atentos a tudo a sua volta, Fugaku ergue o punho e bateu sete vezes levemente no portão de aço. E como por passe de mágica, o portão começou a ser elevado, com um barulho ruidoso e metálico, as engrenagens implorando por um lubrificante.

Assim que o pesado portão foi suspenso até a altura necessário pros três visitantes entrarem, sem perca de tempo, os três se encaminharam para dentro, ouvindo o som retumbante do portão sendo baixado às suas costas mais que depressa.

Se do lado de fora a iluminação já era precária, no lado de dentro do galpão era quase inexistente. Não havia lâmpadas nem nenhum tipo de luminária. Tudo que iluminava o lugar eram as luzes provenientes de três lanternas, que pessoas que não podia ver estavam segurando mais atrás do grupo.

Apesar da pouca iluminação, entretanto, conseguia distinguir a silhueta de todos os presentes, ainda que não fosse suficiente para enxergar os detalhes.

Além dos três homens desconhecidos que seguravam as lanternas, havia somente mais dois. E apesar da visão de Fugaku ainda não ter se acostumado à mudança brusca de iluminação, não precisava de muito para reconhecer os dois a sua frente.

— Você está atrasado.

— Tivemos alguns contratempos, espero que entenda. — disse Fagaku sério. — Não leve para o lado pessoal.

Uma risada anasalado e aguda pôde ser ouvida.

— Se eu levasse, você já estaria morto, meu caro Fugaku. —voltou a falar o homem de forma descontraída, o que não combinava em nada com as palavras proferidas.

— Nós dois sabemos que isso não é verdade, Orochimaru. Você não pode fazer isso. — respondeu Fugaku firme.

— Na verdade, eu posso. E acho que você também sabe disso. — respondeu Orochimaru dando um passo a frente e permitindo que pudesse ser visto de melhor forma pelos outros.

Orochimaru vestia também um terno, mas de uma forma mais relaxada e despojada que Fugaku. A gravata azul frouxa e a camisa social branca amarrotada. Seus olhos âmbar brilhando no escuro, como os olhos de um anfíbio.

— Achei que você tivesse uma boa politica em não causar confusão. Matar-me não seria uma escolha sábia.

— E eu realmente tenho. Apenas acredito que talvez não se importariam se eu o fizesse. — disse com um sorriso.

Fugaku estremeceu, intimamente atingido pelas palavras proferidas pelo homem pálido.

— Te desafio a tentar. — falou Fugaku entre dentes.

A risada aguda do outro pôde mais uma vez se ouvida. Orochimaru dando passos até está a apenas alguns centímetros de distância de Fugaku. Faguku mal conseguindo acompanhar a velocidade em que o homem fez isso. Prontamente os dois homens a seu lado colocaram a mão na cintura, em busca das armas.

—Você não deveria me tentar, Fugaku. Lembre-se de quem precisa de quem aqui. — disse o homem sussurrando em seu ouvido. Fugaku estava estático. — E você deveria relaxar. Parece tenso. — disse em tom de confissão. — Sabe, é por esse e outros motivos que eu prefiro o Madara. Ele é muito mais divertido.

O sangue de Fugaku ferveu. Não era segredo pra ninguém o quanto o irmão do meio dos Uchihas odiava seu irmão mais velho e seu sucesso. Fugaku fazia de tudo para quiçá esquecer-se da existência de Madara.

— Não ouse me comparar ao idiota do Madara. — disse entre dentes.

Orochimaru deu um pequeno sorriso prepotente quando percebeu que alcançou seu objetivo de irritar Fugaku.

— Ah, problemas familiares. Tão complexos. — disse Orochimaru divertidamente enquanto se afastava de Fugaku. Não parecia se importar de está praticamente na mira de duas armas.

— Já chega. — uma voz grave e séria pode ser ouvida. — Não tenho tempo para seus joguinhos, Orochimaru. Ande logo com isso.

— Você também não tem nenhum sendo de humor, Kisame. — disse Orochimaru enquanto voltava para perto do seu parceiro. — Mas tudo bem, que as suas vontades sejam feitas. Sigam-me.

Orochimaru seguiu na frente, sem realmente se importar que estivessem o seguindo. Kisame foi logo atrás dele, suspirando e também afrouxando o nó de sua gravata cinza, como se achasse tudo aquilo muito tedioso.

Fugaku mesmo que relutantemente e ainda furioso com a ousadia de Orochimaru, seguiu atrás dos dois. Os homens a seu lado agora segurando firmemente suas armas.

Caminharam até chegar ao lugar onde os três homens estavam com as lanternas. Perceberam que assim como os seguranças de Fugaku, os três também estavam armados.

— Abram esse aqui. — disse Orochimaru apontando para uma grande caixa de madeira do tamanho de um carro.

Um dos homens com as lanternas seguiu para a caixa e retirou todos os cadeados que a rodeavam, para logo em seguida abrir a grande tampa com um pé de cabra.

— Você pode olhar por si mesmo. — disse Orochimaru enquanto se encostava à lateral da caixa. Sua postura ainda relaxada.

Fugaku fez um pequeno sinal para que os homens a seu lado não o acompanhassem. Chegou perto da caixa e olhou para dentro.

No interior havia dezenas de embalagens marrons uma sobre a outra, todas cuidadosamente enfileiradas.

— Está tudo aí. — falou Kisame. — Pode pedir pros seus homens contarem se quiser.

Fugaku se empertigou e  voltou para perto dos outros dois.

—Não é necessário. — falou com uma voz firme, tentando soar profissional. — Creio que vocês não ousariam nos enganar.

— Você me diverte, Fugaku. — falou Orochimaru rindo, ainda encostado a caixa, enquanto seus homens fechavam novamente os cadeados e fechavam.

Fagaku estreitou os olhos para Orochimaru, numa tentativa de mostrar que não estava brincando. Orochimaru pareceu não se importar.

— Se isso é tudo, terminamos por aqui. — disse Fugaku deixando transparecer sua irritação. — O dinheiro será depositado como o combinado. E espero que façam a entrega sem atrasos.

— Ora, que pressa Fugaku. — disse Orochimaru. — Até tinha cogitado convidar-lhe para tomar um drink.

Fugaku, que já se encaminhava com seus homens para fora do galpão, ignorou a fala de Orochimaru.

— Mas eu também ficaria ansioso em voltar o quanto antes para casa se uma mulher bonita como a sua estivesse me esperando.

Fugaku estancou, virando rapidamente os olhos em direção à figura sorridente de orochimaru. Abriu a boca para falar algo, mas fechando os olhos, apenas virou e retomou seu caminho, já longe demais para escutar quando  Orochimaru disse:

— Ah, Fugaku. Tão previsível.

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Sasuke considerou bastante agradável o quarto em que ele estava instalado. Sem contar extremamente confortável, o que seu corpo agradecia imensamente.

Era médio, e não continha muitos móveis, apenas o necessário. Uma cama grande de casal, com lençóis azuis e brancos a cobrindo, um guarda roupa de madeira, uma escrivaninha também de madeira, na qual já repousava seu notebook ainda desligado em cima, e em frente a cama uma lareira pequena e bem ornamentada. As paredes possuíam uma cor de bege claro.

Contudo, o melhor de tudo — fora o fato de que também era uma suíte, pois sim, isso agradou Sasuke imensamente —, era a grande janela que o mesmo possuía. A mesma janela vermelha e de vidro que tinha observado pelo lado de fora da casa. Quando aberta, ela permitia o fácil acesso do ar frio do final do outono e, o mais incrível, uma bela vista.

Ele conseguia ver o parque que tinha em frente à casa, as árvores balançando e derramando seu manto âmbar e ouro de folhas, e o sol refletindo as águas escuras que circundavam a cidade de Bruges. Era uma linda vista. Daquelas que você só ver nos finais de filmes de romance. Então, quase que espontaneamente, a mente de Sasuke começou a divagar e ficcionar com cores, formas, palavras, imagens. Chegou à rápida conclusão de que não era atoa que Itachi tivesse tanta inspiração para escrever.

Quando foi mostrar-lhe o quarto, Itachi dissera a Sasuke que ainda não tinha almoçado também, então iria preparar algo para comer enquanto Sasuke podia tomar um banho ou descansar. E naturalmente, ele disse isso naquele tom de voz indiferente e de quem não ligava a mínima. Sasuke tinha certeza, aliás, que ele não se importaria se ele resolvesse se incendiar.

E não que ele se sentisse magoado ou algo assim com o pensamento. Longe disso. Só era curiosa a forma de Itachi agir. Ele nem o conhecia mesmo, afinal.

Sasuke terminou de secar como pode seu cabelo com a toalha, e pegou uma nova blusa para vestir, que já tinha separado com antecedência.

Suspirando, saiu do quarto em direção ao andar inferior.

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Bruges, 13:30

Por conta do grande movimento de turistas, Bruges possuía muitos lugares onde uma família ou mesmo um casal de namorados poderia parar para fazer uma boa refeição. E esse era um desses lugares. O Bruges Coffe era um lugar aberto e arejado, com mesinhas bem trabalhadas e de aspecto limpo na calçada, onde as pessoas podiam tomar um sol e deixar as crianças correndo na praça em frente.

E foi por isso que resolvera escolher aquele lugar em específico. Dezenas de pessoas circulavam, a risada alta das crianças e as vozes de estrangeiros falando em seus respectivos idiomas abafava uma conversa mais íntima, e não era um lugar que levantava suspeita.

Ao menos foi isso o que o moreno de cabelos curtos pensou ao marcar um encontro naquele lugar. Mas agora, olhando em volta e ficando com dor de cabeça com tanto barulho, pensou se não seria melhor ter marcado em um beco mesmo, ou algo assim. E sua pele pálida começava a arder com o sol.

Olhou pro seu relógio mais uma vez, e viu que ainda faltavam alguns minutos para o horário estipulado, então não podia nem ao menos culpar o outro pela sua irritação. Resolveu culpar os pombos absurdamente brancos que comiam farelos de pão na calçada, que eram jogados pelas crianças.

Por um momento pegou-se pensando no garoto que fora buscar mais cedo na estação. Tão inocente de tudo. Quase o fazia acreditar na pureza dos seres humanos. Quase. Pois algo lhe dizia que seria de outra forma caso ele tivesse sido exposto à corrupção daquela família. Bom, ainda podia ser.

E às vezes nem precisava. Estava no sangue.

— Quando você me disse que queria se encontrar comigo, eu não achei que fosse literalmente. Se soubesse tinha trazido um buquê de flores.

Tobi não precisou se virar pra reconhecer o dono da voz. O sotaque carregado e cantado era suficiente.

— Olá pra você também, bonitão. — disse enquanto observava o recém-chegado sentar a sua frente.

—Assim você realmente me faz acreditar que me quer.

— E se eu realmente quisesse? — Tobi arqueou a sobrancelha encarando olhos extremamente verdes a sua frente.

— Teria que te decepcionar informando que meu coração já foi há muito roubado. — o homem abriu um sorriso.

— Então não use esse tom de flerte comigo, Mondini. Você não tem ideia do quanto é irresistível. — Tobi disse apoiando o rosto em uma das mãos e fingindo um olhar apaixonado.

O homem a sua frente riu.

— Talvez eu tenha. — disse ele. — Tá vendo aquela moça ali? — apontou para uma moça no balcão no interior da lanchonete. Tobi assentiu. — Eu a convenci a colocar meu pedido na frente de todos os outros. — falou com um sorriso culpado.

— Você é terrível! — disse Tobi. — Deveria ter me avisado. Há minutos eu quero um novo café, mas a fila enorme não me permite aproximação.

— E por isso eu pedi dois. — declarou como se fosse à coisa mais óbvia do mundo.

— Acho que realmente estou me apaixonando por você.

— Eu sei.

Não houve muito tempo para conversas, uma vez que foram interrompidas pela moça do balcão, que pelo visto fizera a questão de levar o pedido pessoalmente. O sorriso insinuante que a mesma deu não passou despercebido por nenhum dos dois. Era uma loira de olhos azuis, muito bonita. Se possível o ar de culpado do de olhos verdes se atenuou ainda mais.

Tobi balançou a cabeça em sinal de descrença assim que a moça saiu.

— Agora sei como você consegue todas aquelas pistas e informações. — Tobi disse após bebericar o café.

— É um talento nato. — o outro respondeu. — Não que eu me sinta muito a vontade de usar de tais artifícios, mas às vezes é necessário. E como vê, muito útil. — disse apontando para o café.

— Eu não duvido de suas habilidades. Afinal, graças a ela, conseguimos bem mais que meros cafés.

A frase de Tobi, apesar de descontraída, mostrava o desvio de rota para assuntos mais sérios. O homem pareceu levemente tímido.

— Tivemos sorte. — declarou.

— Eu acredito em esforço e dedicação, não em sorte. — falou Tobi assumindo de vez um ar mais sério. Seus olhos voltaram-se para os pombos culpados na calçada. — O que fazemos agora?

E aí estava a pergunta de um milhão de dólares. Aquela que rondava as suas cabeças há dias.

— O de sempre: esperar. — respondeu o homem. Seu cenho franzido e seus lábios crispados. — Essas são as ordens. — completou não escondendo o tom irritado e contrariado que em nada combinavam com seu rosto bonito e jovial.

Tobi não precisava de muito para saber como o homem a sua frente estava desgostoso com aquelas ordens. Se bem conhecia Lorenzo, sabia que provavelmente ele já se metera em alguma discussão acalorado com a sua superior por causa disso.

De todos eles, Lorenzo foi o que mais se esforçara para chegar até onde estavam, e ele sentia-se ultrajado em não completar seu objetivo de vida. Sentar e esperar com certeza não combinava com a personalidade do loiro.

Mas Tobi sabia que essa não era a única coisa que perturbava o mesmo. Porém considerou que ainda não era o momento apropriado para entrar em tais questões.

O próprio Tobi não estava muito contente com o rumo lento em que a situação estava caminhando, pois apesar de desconhecido por todos — ou quase todos —, ele também tinha os seus próprios objetivos. Mas ele tinha paciência. Alguns dias a mais ou a menos não iria fazer diferença. Tinha certeza que mais cedo ou mais tarde o Império Uchiha cairia, e ele só queria está lá para dar o primeiro golpe.

— Então pelo visto terei que bancar a babá por mais algum tempo. Isso vai ser extremamente divertido. — disse Tobi com uma expressão de tédio e um suspiro frustrado. — Só quero saber quando vai começar a ação que me prometeram.

Lorenzo não respondeu, contudo não era necessário verbalizar o quanto ele gostaria de assumir o lugar de Tobi. Mas ordens eram ordens.

E o relógio estava correndo.

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Bruges, 14:00

Desde que saíra de casa, Sasuke acostumara-se a comer comidas de restaurantes ou requentadas. Não que antes disso também não tivesse comido tais, pois na mansão Uchiha haviam aquelas dezenas de empregadas que tinham a habilidade fenomenal de fazer com que a comida também tivesse gosto de comida de restaurante.

E quando se mudou para casa de Izuna a comida era realmente de restaurante, visto que nenhum dos dois sabia cozinhar ou tinha tempo para isso.

Os anos em que dividira o apartamento com Naruto foram dias infindáveis e recheados de macarrão. Macarrão, macarrão e mais macarrão. E não importa que Naruto tenha dito milhares de vezes que aquilo na verdade era Lámen, para ele sempre seria macarrão.

Quando passou a morar sozinho, já tinha aceitado que essa era sua sina, então há muito não dava mais importância para isso ou ficava irritado por toda aquela comida cara com gosto de papel.

Mas, apesar disso, Sasuke também já tinha provado comidas boas. Já fora há muitos jantares de grandes chefes de cozinha, muitas recepções com pratos exóticos e maravilhosos. E tinha a comida de seu tio, Madara.

É, Madara sabia cozinhar. Lembrava-se bem da sua infância e de todos os pratos recheados de doces e salgados. Mais salgados que doces.

Então, com sua vasta experiência com os mais variados e diferentes tipos de comida, Sasuke podia com toda a certeza julgar a comida de Itachi. E a conclusão que chegou foi que Itachi tinha tanto talento quanto Madara para a comida.

Nos primeiros minutos associou os pensamentos a sua terrível fome, mas depois admitiu que o homem realmente sabia o que fazia.

Sasuke perdeu alguns minutos divagando como o escritor a sua frente parecia de repente alguém normal, que tinha uma casa, preparava sua própria comida.

Mas ao mesmo tempo, não conseguia atribuir à palavra normal aquele homem a sua frente. Itachi com certeza não era alguém normal. E não só pela beleza assustadora que o mesmo possuía, mas também por alguns fatores que os olhos analíticos de Sasuke, herdados de sua mãe, puderam observar.

Devido a sua paixão por livros e sua dificuldade em socializar-se com outras  pessoas, Sasuke desde cedo tendeu a ser uma pessoa observadora. E não era difícil para ele ler as pessoas, pelo contrário. Era realmente muito bom nisso. Existiam poucas pessoas que conseguiam driblar seu ótimo senso analítico. E entre essas estavam seu tio Madara, sua mãe — apesar de tentar não pensar nisso, desde criança Sasuke tinha a sensação que Mikoto... sabia mais que aparentava. Era algo estranho, e como dito, preferia não pensar. — e com certeza seu maior desafio de vida: seu outro tio, Izuna.

Seu tio tinha a incrível habilidade de deixá-lo mais confuso que qualquer outro. Não por ser uma pessoa fechada, como era Madara — ao menos para aqueles que não o conheciam bem — mas por sempre expressar sentimentos demais, emoções demais. E  Sasuke se via incapaz de separar cada uma delas por trás dos olhos sempre tão perspicazes de seu tio, e também não fazia ideia de quais eram reais e quais não eram. Izuna era ótimo na arte de dissimular.

Mas ademais, todas as outras pessoas eram simples de ler.

Mas Itachi se provara alguém tão enigmático quanto Izuna. E a seu próprio modo.

Itachi tinha o jeito fechado de Madara e a incompreensividade de Izuna. Era como Sasuke conseguiu descrevê-lo.

O homem possuía um sempre calmo e indiferente semblante, como se estivesse alheio a todas as sensações e emoções ao redor, ainda que Sasuke tivesse presenciado algumas demonstrações de sarcasmo ou ironia. Mas além disso, parecia que tudo era cordial e indiferente. Como se ele não se importasse.

O que levava a mais uma questão: como alguém assim conseguia escrever coisas tão esplêndidas? Livros com tanta emoção que chegavam a saltar das páginas. E a conclusão que chegou foi que, assim como Izuna, havia milhares de emoções ali, ele só sabia esconder tão bem quanto Madara.

E Sasuke pegou-se dando um sorriso de canto ao pensar em alguém tão parecido aos seus tios. E simultaneamente.

Mas o pior de tudo eram as sensações que a presença inquietante de Itachi provocava nele. Ele conseguia distraí-lo sem nem mesmo tentar. Contudo, continuou atribuindo isso ao fato de encontrar alguém tão bonito quanto ele mesmo. Era difícil não se desconcentrar diante da figura surreal de Itachi. Perdeu a conta de quantas vezes durante o almoço foi flagrado por Itachi em sua contemplação. Sentiu-se e sentia ainda totalmente constrangido por isso, mas era quase ... magnético. Não conseguia evitar. E pela primeira vez, arrependeu-se de ter aceitado o convite para ficar ali.

E enquanto ele se perdia no enigma e na beleza que aquele homem possuía, o mesmo parecia nem notar sua presença. E isso era algo inédito para Sasuke. Não é como se muitas pessoas já tivessem o ignorado antes. E ignorar não era bem a palavra, pois percebia que o homem o notava sim, mas de uma forma... normal. E o inquietante era que aonde quer que fosse, Sasuke sempre torcia para encontrar alguém assim, mas inexplicavelmente sentiu-se muito contrariado pela constatação do fato.

Ele acompanhava de perto a figura altiva de Itachi subir as escadas, estando há uns três passos atrás do mesmo. Sasuke após algum tempo notou que a casa era bem maior do que tinha conseguido notar anteriormente, pois já não fazia ideia em que parte da casa estavam ao dobrar um último corredor a direita e quase bater nas costas de Itachi ao vê-lo parar diante de uma porta no fim do corredor.

Itachi virou-se para Sasuke, e agora Sasuke se viu realmente impelido a dar alguns passos para trás. Itachi estava muito perto.

— É meu escritório, vamos trabalhar aqui. Entre.

Assim que Itachi abriu a porta e adentrou, Sasuke o seguiu.

O escritório de Itachi era muito bem organizado e no estilo vitoriano. Algumas cortinas vermelhas cobrindo janelas grandes vidro, e móveis de madeira.

Sasuke acompanhou com os olhos Itachi se encaminhar pra sua mesa de trabalho e puxar o notebook que estava em cima, assim como dezenas de papéis. O moreno de cabelos longos fez um gesto de cabeça para Sasuke se aproximar.

— Esse é o meu novo livro. Está tudo aqui: os rascunhos, o plot e o manuscrito. — disse Itachi encostando-se na parede atrás da mesma e dando espaço para que Sasuke conseguisse observar melhor o material. —Se quiser ler tudo antes de começarmos a falar sobre os problemas, sinta-se a vontade.

Sasuke mal desviava a atenção dos papéis em cima da mesma de Itachi, mas escutava as instruções com perfeição.

Não era como se nunca tivesse feito aquilo, mas estava levemente... nervoso. Como se não pudesse falhar.

Finalmente conseguira uma chance de se provar, e não ia falhar.

— Posso levar pro quarto para ler?

— Não será necessário, você pode ficar aqui se quiser,

Oh, isso surpreendeu a Sasuke. Itachi não parecia o tipo de sujeito que gostava de ter seu espaço pessoal invadido.

Mas, ansioso para começar logo com o trabalho, e o cansaço sendo esquecido por si, Sasuke sentou-se na cadeira em frente a escrivaninha e começou a devorar aquelas palavras tão bem trabalhadas, da forma que só um grande fã poderia fazer.

Só esperava que conseguisse ser profissional.


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Notas finais do capítulo

Comentem, vai decidir o futuro do próximo capítulo e dará ânimo para escrever!
Capítulo não revisado.



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