Bruges escrita por SraLovegood


Capítulo 3
Capítulo III


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente: me desculpem pelo enorme atraso! Eu sinto muito!
Na verdade não foi pela falta de tempo nem nada disso, mas pela mais pura falta de inspiração mesmo. Eu tenho há dias tentado escrever alguma coisa e eu odiei tudo. Não gostei muito dos dois primeiros capítulos que escrevi, então queria começar a escrever algo melhor.
Eu já estava com o capítulo 75% escrito, aí tinha decidido que hoje eu iria terminar ele, mas aí quando fui ler, eu não gostei de nada do que estava ali. Então exclui tudo e reescrevi! Sim, eu escrevi esse capítulo todinhooooo hoje! Haha
Não tá exatamente perfeito, mas acho que tá melhor que os outros dois. Eu ainda estou consolidando meu estilo de escrita, então pode haver muitas oscilações de um capítulo para o outro, mas acho que esse foi o mais próximo do estilo de autora que eu gostaria de ser. Como falei, não tá perfeito, mas achei melhor que os outros.
E um ponto também importante: eu tenho uma dificuldade imensa em escrever cenas do Itachi e do Sasuke, dificuldade essa que não tenho com personagens como o Madara por exemplo. Sei lá, é meio estranho hahaha
Mas enfim, obrigada mesmooooo por quem favoritou, comentou e tals! É tããããoooo importante gente!
Sério mesmo!
E por favor, aos leitores fantasminhas, apareçam!
E eu tô aceitando comentários com críticas também, gente!
Uma leitora aqui do Nyah!, aliás, fez um comentário sobre a Mikoto, e com isso eu percebi que não passei a impressão que queria sobre ela, então isso ajuda as vezes sabe haha!

** ESSE VAI PRA VOCÊ BROMMIE**

É isso! Comentem! Favoritem! Apareçam hahaha



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Entre muitas, uma das coisas que fazia Sasuke se sentir desconfortável era ficar surpreso ou não saber como agir. E ele estava terrivelmente surpreso e não fazia a mínima ideia de como agir no presente momento.

Inconscientemente, ao fitar o homem na soleira da porta, lembrou-se das figuras místicas que sua mãe sempre pintava. O moreno de cabelos longos poderia muito bem ser o modelo inspirador dos mesmos. Só que um pouco mais selvagem e com o toque angelical levemente distorcido, entretanto.

Sua situação não melhorou ao notar que seu acompanhante bizarro e alegre tinha acabado de sair em direção ao caro e já arrancava com o mesmo pra longe dali. Estranhamente, não sabia se ficava feliz ou infeliz  com sua saída.

Sasuke sempre foi do tipo de pessoa que é difícil de socializar-se e nessas ocasiões, que pra ele sempre foram mais que constrangedores, ele sempre podia contar com sua mãe ou seus tios para fazer as honras. Até mesmo Naruto, às vezes.

Mas não havia nenhum deles ali. Apenas ele, segurando uma mala, parado que nem um idiota e de frente para o que foi durante muitos anos um dos autores mais admirados por si.

E se a situação já não fosse complexa pelo pequeno problema de socialização de Sasuke, o fato de o homem a sua frente ser tenebrosamente lindo também não estava ajudando.

Veja bem. Sasuke conviveu sua vida inteira com pessoas tenebrosamente bonitas. Como seu tio Izuna e sua mãe, então ele entendia de pessoas bonitas. E mesmo se não os conhecesse, ele mesmo, mesmo que a contragosto, sabia que era tenebrosamente lindo (tenebrosamente lindo, essas eram as palavras que sua mãe gostava de usar). Mas aquele homem a sua frente desafiava a capacidade ímpar de sua mãe em conseguir adjetivos para ele. Falar que ele era tenebrosamente belo não parecia o suficiente.

E quando você soma tudo isso, o resultado é um Sasuke extremamente tímido e mudo.

Para sua sorte, o homem a sua frente parecia não ter esse problema.

— Você deve ser Sasuke Uchiha. —ouviu a voz rouca do moreno a sua frente pronunciar. Parecia que ele talvez tivesse acabado de acordar, e julgando pelas suas roupas casuais, não duvidou disso.

— Sim, sou. — respondeu Sasuke. Se repreendendo mentalmente logo em seguida por não ter uma resposta menos vaga.

— Ótimo. Estava a sua espera. — falou o moreno enquanto dava as costas para Sasuke e adentrava a casa. — Entre, Senhor Uchiha.

Sasuke ainda ficou alguns segundos encarando as costas do homem que já tinha adentrado a casa, indeciso. Quando percebeu que o homem tinha virado para si e arqueado uma sobrancelha, notou que ficou mais que alguns segundos parado.

Decidindo não fazer mais papel de bobo do que os últimos minutos já lhe proporcionaram, Sasuke adentrou a casa, encostou suavemente a porta e deixou sua mala perto dela.

Ao levantar a cabeça para encarar o homem a sua frente, ficou surpreso ao notar que o mesmo lhe observava atentamente, o que só serviu para deixá-lo ainda mais tímido e acuado. E pela primeira vez se arrependeu de negar todas as tentativas de Madara e Naruto em fazê-lo alguém sociável.

Pela primeira vez também, notou que o homem que o observava tinha olhos incrivelmente negros, como duas pedras de obsidianas. E o fitava com uma intensidade curiosa tão profunda, como se pudesse ler sua alma, que Sasuke sentiu-se tentado a dar um passo para trás.

Não aguentando mais segurar aquela estranha troca de olhares, Sasuke pisou, e no momento seguinte, o moreno de cabelos longos já não olhava mais pra ele. E foi quando Sasuke se convenceu de que tinha sido apenas uma impressão sua.

Observando um pouco o ambiente, Sasuke notou que estava na sala da casa, que assim como o lado exterior da mesma, era uma mistura perfeita de casa de campo com uma casa familiar americana.

Pelo que Sasuke percebeu, aliás, todas as casas da cidade eram. Naquela mistura clássica de pedra, madeira e grandes janelas de vidro.

Estranhamente sentiu o ambiente da residência em questão muito acolhedor.

—Acho que ainda não fomos apresentados formalmente. — falou o moreno de cabelos longos parado no meio da sala de estar, com aquela aparência tão casual e com a voz tão profissional.

E essa era uma coisa com que Sasuke sabia lidar.

— De fato. — respondeu Sasuke com uma voz calma e também profissional. —Então acho que devemos começar novamente. Sasuke Uchiha. — disse estendendo a mão. — Apesar de eu saber que provavelmente você já sabe meu nome.

O moreno mais velho fitou por alguns segundos a mão estendida de Sasuke.

— Certo. — respondeu enquanto apertava a mão do outro. — Itachi Van Hart.

Itachi, Sasuke pensou no nome como se testando o som do mesmo. Quase cometendo a garfe de falá-lo em voz alta.

— É um prazer conhecê-lo, Senhor Van Hart. — falou Sasuke sinceramente e talvez deixando transparecer um pouquinho sua empolgação por está de frente para um dos seus autores favoritos.

Itachi pareceu não perceber.

— O prazer é meu senhor Uchiha. — Itachi falou cordialmente, em um tom de voz que não deixava transparecer a veracidade de sua afirmação, entretanto. Parecia dizer apenas porque julgava ser apropriado e educado.  — Por favor, sente-se. — apontou uma poltrona vermelha em um dos cantos da sala, próximo a uma bonita lareira, sendo que o próprio Itachi sentou-se em outra idêntica de frente para a mesma.

— Por favor, me chame de Sasuke. Sasuke está bom. — disse Sasuke enquanto se sentava. Na sua face uma expressão contrariada. “Senhor Uchiha” lhe lembrava demasiadamente seu pai.

— Certo, Sasuke. — disse Itachi enquanto cruzava as pernas e encarava o outro.

Estranhamente, ouvir a voz rouca de Itachi pronunciando seu nome provocou em  Sasuke reações conflitantes. Sasuke tentou não pensar muito nisso e apenas concentrar-se em ser profissional, como o outro estava sendo. Não tinha tempo para essas coisas. Muito menos com essa pessoa.

Ele estava a trabalho afinal, foco!

— Acho que agradecer por ter aceitado vir diretamente para cá. Foi gentil de sua parte.

Novamente, Sasuke sentia como se ele realmente não ligasse para tal fato. Ainda que soasse sincero da parte dele.

— Bom, na verdade eu não sabia que eu iria vir diretamente pra cá. — Sasuke respondeu sinceramente e erguendo uma sobrancelha.

— Não? — perguntou Itachi também arqueando uma sobrancelha e não escondendo sua curiosidade. —Mas Izuna me garantiu que não haver haveria problemas.

Oh, Izuna. Isso explicava muita coisa.

Internamente, Sasuke já planejava algo para se vingar do tio. Custava tê-lo avisado?

— E certamente não há. — respondeu Sasuke em um tom que encerrava o tópico.

— Ótimo, fico contente. — respondeu Itachi sinceramente.  — Pois assim podemos começar o quanto antes.

Sasuke torcia para que sua expressão de desagrado não tivesse sido exposta tanto quanto supôs que foi. Não era sua culpa se estava terrivelmente cansado e faminto e exausto. A perspectiva de trabalhar tão longo chegou não lhe animava. E agora também tinha certeza que odiava Naruto e suas ideias estúpidas.

— Sim, é claro. — respondeu Sasuke tentando soar o mais convincente possível.

— Izuna o informou sobre o objetivo do trabalho? — a voz de Itachi era extremamente profissional e Sasuke se pegou desejando que não fosse. Se iriam trabalhar juntos, ao menos poderiam conversar mais abertamente, quem sabe.

Se havia uma coisa que tinha aprendido em todos esses anos como editor, era que um ambiente tranquilo e leve era essencial para o bom rendimento do trabalho.

— Na verdade ele só disse que eu saberia o que fazer.

E era a verdade.

Na noite anterior, após sair da casa de sua mãe, ligou para o Uchiha mais velho e conversou com ele sobre  a mudança entre ele e Naruto. Inusitado — ou não. Izuna sempre sabia das coisas — o tio não pareceu surpreso. E parecia até estranhamente alegre. Talvez estivesse um pouco bêbado, supôs.

Mas quanto ao trabalho, ele não disse mais que isso. Apenas falou que Sasuke saberia o que fazer e, mais estranho ainda, disse que sabia que Sasuke era o homem perfeito para o trabalho, como se soubesse ou esperasse o tempo todo que fosse Sasuke a ir.

Tento não pensar muito nisso, pois conhecendo seu tio, não duvidava de nada.

— E eu espero que realmente saiba. — respondeu Itachi em um tom que Sasuke identificou como irritação.

Por um momento temeu que tivesse dito ou feito algo ofensivo.

— Bom, me diga o que que quer que eu faça, e eu o farei. — disse Sasuke em um tom defensivo. — Já trabalhei com dezenas de autores, e acredito ser capacitado para o trabalho.

— Eu não duvido disso, Sasuke. — respondeu Itachi com um estranho sorriso de canto.

Um sorriso que pareceu muito, muito perigoso aos olhos de Sasuke. Instintivamente afundou mais ainda na poltrona.

— Então... ?

— Então... — Itachi ponderou. — Aconselho  que descanse e durma um pouco. Mais tarde podemos conversar sobre o trabalho.

Sasuke resolveu não questionar sua surpresa com a mudança de ideia nem muitos menos verbalizá-la, uma vez que se viu muito contente com a perspectiva de descansar. E conseguir algo para comer.

— Certo, então. — disse Sasuke. — Devo ligar para avisar quando eu vier? Ou o senhor liga? Não quero incomodar.

— Na verdade pensei que você poderia simplesmente me chamar. O quarto em que você vai ficar é ao lado do meu. — respondeu Itachi novamente com um sorriso de canto.

— Como...?

Sasuke parecia extremamente confuso.

— Estou convidando-o para ficar aqui, Sasuke. — falou Itachi calmamente. — Eu considero que seria mais prático. Poderíamos ter mais tempo para trabalhar e evitaria contra-tempos.

Sasuke parecia estático.

— A não ser, é claro, que você não queira. — falou Itachi serenamente, e pela primeira vez Sasuke viu algum sentimento real na voz do mesmo. Quase como se dessa vez ele realmente estivesse  tentando ser gentil. — Eu entenderei se quiser ficar em um hotel. Talvez já tenha feito as reservas.

— Não! Na verdade... — Sasuke parecia meio enrolado com as palavras, ainda tentando digerir as informações soltas pelo outro. — Quer dizer... eu ainda não fiz as reservas. Foi tudo muito rápido e eu não tive tempo.

— Isso quer dizer um sim? — falou Itachi encarando Sasuke fixamente.

Sasuke se viu incapaz de não devolver o olhar.

— Sim, é um sim. — falou por fim.

— Certo. — falou Itachi também se levantando de sua poltrona. — E aliás... não precisa Sasuke.

Sasuke por um momento temeu que o mesmo dissesse que não poderia ficar na sua casa. Seria humilhante pro seu ego Uchiha.

Pra sua sorte, Itachi pareceu entender bem sua confusão. Bem até demais.

E ainda fitando profundamente seus olhos, disse:

— Me chame de Itachi. Apenas Itachi.

Por algum motivo, a fala do outro pareceu quebrar a tensão instalada nos ombros de Sasuke desde  que ele chegara.

Afinal, não havia o que temer, certo? Era apenas seu trabalho afinal. Só tinha que se esforçar para cumpri-lo.

Sasuke viu-se incapaz de não sorrir. Por algum motivo.

— Certo... Itachi.

********

 

 

Depois de tantos anos trabalhando no seu cargo atual, Madara tinha adquirido algumas táticas para tornar as coisas menos tediosas para si. Como por exemplo, desligar-se completamente das reuniões nos primeiros quarenta minutos, ainda que sua postura em nada demonstrasse que realmente não estava prestando atenção.

Sabia bem que todas elas começavam com irritantes apresentações e bajulações intermináveis, então apenas se dispunha a assentir quando seu nome era pronunciado.

Depois vinha a parte em que apresentavam sua proposta a ele, e caso ele gostasse, não havia porque não aceitar. O que na maioria das vezes torcia para que acontecesse. Poupava trabalho. Caso a proposta não fosse satisfatória para os negócios, ele apresentaria a sua, e de uma maneira tão persuasiva, que tão prontamente era aceita pelo negociante. Era tedioso.

Lembrou-se de uma época em que seu pai tinha lhe dito que os negócios eram um ramo perigoso e para os astutos, em que só os melhores conseguiam se destacar.

Ainda tinha esperança que descobrisse que isso fosse verdade.

Assim que enfim o elevador parou no andar de seu apartamento, começou a desabotoar a camisa social azul que vestia. A gravata já há muito retirada e repousada junto com o blazer em um dos braços.

Passou alguns segundos procurando as chaves, e logo depois abriu seu apartamento, se permitindo um suspiro de alívio, que demonstrava todo o cansaço que sentia. Tanto físico quanto mental. Aquelas cadeiras do escritório eram extremamente desconfortáveis, e passar o dia sentado encarando papéis não fazia nada bem para suas costas.

Apesar de já passar das 22:00 da noite, não se importou em ligar as luzes. Conhecia seu apartamento bem o suficiente para não tropeçar em nada, e só queria um pouco de descanso de ambientes claros e cegantes.

Caminhando com passos certos, alcançou o sofá e jogou-se no mesmo, suas costas aprovando imensamente a nova posição. Suas roupas e pasta do trabalho em algum lugar no chão, largadas no meio do caminho.

Ficou satisfeito ao notar que os travesseiros e cobertores que deixou na noite anterior no sofá ainda estavam lá, e após alguns minutos de briga entre o bom senso e o cansaço, decidiu que dormiria ali mesmo. Apesar de seu estômago reclamar intensamente com a falta de alimento (pensando bem, não se lembrava de ter almoçado).

Apenas queria dormir e esquecer todos aqueles problemas e pormenores idiotas da sua vida chata. Dormir e, se tivesse sorte, sonhar com uma realidade feliz e recheada de sorrisos presunçosos e abraços reconfortantes. Com garotos de cabelo negro e respostas afiadas. Com beijos saudosos e apaixonantes.

Droga.

Afundou sua cabeça contra o travesseiro, grunhindo em frustração. Agora mais desperto que nunca. Passou as mãos pelos cabelos já naturalmente rebeldes e respirou fundo, enviando aqueles pensamentos persistentes para o fundo de sua mente.  Não poderia se dar ao luxo.

Virando no sofá, e encarando o teto, Madara pensou que talvez trabalhar naquelas coisas tediosas o dia todo não fosse tão ruim assim. Ao menos não permitia que viesse a se distrair com... ele.

Suspirou. O bom senso vencendo a batalha contra o cansaço.

Levantou-se e decidiu procurar algo para comer.

Caminhou a passos lentos e arrastados em direção à cozinha, que era ligada a sala no estilo cozinha americana. No caminho quase tropeçando na pasta que jogou no chão.

Olhando bem, parecia que muitas coisas estavam jogadas no chão. Quase não conseguia ver o chão de madeira do piso. Decidiu que arrumaria isso no seu dia de folga, ou então contraria alguém para fazê-lo.

Ao abrir sua enorme geladeira, descobriu que ela também estava enormemente vazia. Havia algumas caixas de leite e suco, mas pelo cheiro desagradável, não apostaria sua boa saúde ao tomá-los. Se possível, irritou-se ainda mais.

Só queria dormir, e não conseguia. E agora até mesmo uma boa alimentação lhe era privada.

Pensou em sair e comprar algo para comer, se repreendendo mentalmente por não ter comprado algo no caminho para casa. Havia dias que não ia até ali, então deveria ter imaginado que não houvesse nada comestível. No dia anterior tinha jantado na empresa, então não se importou e nem verificou isso.

Hoje não parecia ser seu dia. Era pedir demais um prato de comida?

E enquanto fazia seus passos para o quarto, a fim de colocar uma roupa mais confortável para sair para comprar algo, seus movimentos foram interrompidos pelo barulho insistente da campainha.

 Surpreso, virou o corpo em direção à porta do apartamento e fitou-a intensamente, na esperança de que ela de alguma maneira lhe respondesse quem o estava perturbando tal hora da noite.

Decidindo que a porta não cederia diante de seu olhar irritado, e tendo quase a certeza — apesar de que torcia para estar errado — de que era sua vizinha pedindo açúcar (a mulher parecia sempre adivinhar quando ele estava em casa!), rumou em direção à porta, decidido que não estava disposto a ouvir mais uma vez o barulho irritante da campainha.

Ao abrir a porta, se viu diante de três agradáveis surpresas. Primeira: não era sua vizinha! E se permitiu um sorriso aliviado por isso. Sorriso este que só aumentou pela constatação da segunda surpresa. Pois parada diante da sua porta, estava uma das três pessoas mais queridas por si, e melhor ainda, em mãos, trazia o terceiro item.

Seus olhos se revezaram algumas vezes entre a figura sorridente de Mikoto e da pizza que a mesma trazia em mãos, que exalava um cheio tenebrosamente bom.

— Se estiver ocupado posso voltar outra hora. — disse Mikoto com um ar ainda sorridente, e sem realmente demonstrar que se importava se estivesse atrapalhando.

— Como você sabia? — perguntou Madara com uma sobrancelha arqueada. Não precisava de maiores explicações para Mikoto.

— Fugaku deixou escapar que Amiko estava viajando. Então deduzi. — falou a mulher enquanto passava por baixo do braço de Madara e adentrava a casa. Madara não deixou de notar o leve tom de contrariedade de Mikoto ao pronunciar o nome do marido.

Mikoto não se importou em ligar as luzes, assim como Madara. Dirigiu-se prontamente a cozinha e colocou a pizza e o refrigerante que trazia consigo em cima do balcão.

Madara não se importou com a quase invasão de sua cunhada a sua casa. Ela era uma das poucas pessoas que sempre seria bem-vinda. Apesar de lembrar-se bem de um episódio há uns dois anos em que ela batera a sua porta às 03:00 da madrugada.

Por um momento também se questionou em quem mais poderia ser, visto que poucas pessoas sabiam que ele possuía aquele apartamento. Era preferível assim.

Fechou a porta e se dirigiu ao balcão da cozinha, sentando-se em frente à mesma.

— E quanto à comida? Também deduziu que eu não deveria ter nada para comer?

— Oh, não. Apenas achei que sempre é uma boa hora para uma pizza.

— Eu amo sua capacidade de dedução, Mikoto. — disse Madara com um sorriso cúmplice.

Sem mais palavras, sabendo que elas viriam mais cedo ou mais tarde, Madara e Mikoto puseram-se a comer num silêncio agradável e reconfortante.  Mikoto mais que Madara. Era impressionante como aquela pequena mulher conseguia comer como com um soldado feroz.

Apesar de Madara realmente apreciar a presença da sua cunhada, ele também sabia que as visitas de Mikoto também nunca eram despropositadas. Com Mikoto havia sempre um mas.

Era até cômico a forma como as pessoas costumavam subestimá-la. Mikoto, apesar do que muitos acreditavam, não era uma mulher que se deixava ser facilmente derrotada. Ela lutava com unhas e dentes, mesmo em situações que sabia que não haveria alternativa senão aceitar.

O que levava ao ponto.

— Ele já foi? — perguntou casualmente, enquanto brincava com o líquido escuro no seu copo.

— Esta manhã. — respondeu a morena parando com um pedaço de pizza a centímetros da boca.

— Você sabe que ele vai ficar bem, né? — disse Madara.

— Você está tentando convencer a mim ou a si mesmo? — perguntou Mikoto tentando soar descontraída, apesar de ser nítido que toda a leveza de momentos atrás ter sido substituída por uma grave tensão em seus pequenos ombros.

— Os dois, eu acho. — respondeu Madara sinceramente.

Apesar de Sasuke ser mais próximo de Izuna, Madara tinha passado grande parte da infância do garoto junto dele, época em que Izuna estava concentrada demasiadamente no começo da formação de sua editora. Foi impossível não se apegar ao garotinho doce e emburrado. Que mais tarde viria a se tornar um dos seus maiores pontos de preocupação. Sempre vira Sasuke como um filho. E poderia dizer que talvez Sasuke o visse como um pai, sendo que ele nunca foi sutil em esconder que por vezes preferia sua companhia à do pai.

Não podia realmente culpar o garota. Apesar de Fugaku ser seu irmão, ele também não era a pessoa que mais gostava de ter em sua companhia.  O que parecia ser recíproco. Fugaku não era bom em esconder também o quanto desgostava de Madara.

Talvez nisso Sasuke e seu pai fossem parecidos, afinal.

— É só que... é impossível não pensar no que aconteceu, Madara.

A mulher a sua frente demonstrava um semblante melancólico.

— Já faz anos, Mikoto. — disse Madara em uma constatação, mesmo sabendo que isso não seria suficiente. Nunca seria.

— E não dói menos. — disse a mulher suspirando e apoiando o rosto em um dos braços sobre o balcão, o cabelo cobrindo seus olhos negros e brilhantes. — Penso que talvez eu não tenha lutado o suficiente...

— Você fez o que achava que era certo. O que de fato o era, Mikoto. Seu maior pecado não pode ter sido proteger aqueles a quem você mais amou.

Mikoto levantou os olhos em direção aos negros de Madara, por um momento tentando absorver para si mesma a certeza de suas palavras.

— Minha vida se resume a um armário cheio de “e se”. — disse ela já mais composta. — E às vezes eu me pego desejando que algum deles fosse minha atual realidade. Talvez não houvesse tanta mágoa.

— Você se arrepende? — perguntou Madara.

— Soa muito egoísta da minha parte se eu dissesse que sim? — pergunta ela com um leve sorriso culpado.

— Sim, soaria. — responde Madara  com um sorriso leve e descontraído. Sem julgamento.  — Mas...?

— Mas... — começou Mikoto com um sorriso verdadeiro e brilhante se desenhando em seus lábios bem feitos. — Quando eu olho para ele, para Sasuke, eu penso que valeu a pena. Porque eu o amo tanto, Madara. E é por isso que penso que não aguentaria perdê-lo também.

— E você não vai... nós não vamos. — disse Madara sério. E a certeza brilhava em seus olhos; Mikoto permitindo-se acreditar. — Você sabe que Izuna tem sido cuidadoso. Ele nunca deixa Sasuke desprotegido. — terminou Madara com uma voz mais serena e com um leve toque de orgulho.

Mikoto deu um sorriso maroto. Madara ergueu uma sobrancelha bem feita.

— O quê? — perguntou evasivo.

— Não se faça de desentendido. Não combina com você. — disse Mikoto soltando uma pequena risada.

— Não sei do que está falando. Acho que tanta pizza tá começando a afetar seu cérebro. — falou Madara enquanto se levantava e pegava os pratos para colocar na pia.

— Não desconverse. Sabe que não caio nessa. — falou Mikoto enquanto seguia seu cunhado para a pia com a intenção de ajudar a lavar as louças e de atormentá-lo ainda mais.

— Não estou desconversando. Só acho realmente que nos desviamos do foco dessa conversa. — disse enquanto entregava um copo para Mikoto enxugar.

— Não foi você mesmo que disse que Izuna está mantendo Sasuke seguro? — disse ela numa voz cantada.

Madara se viu incapaz de responder.

— Você também nunca se perguntou como seria se fosse diferente? Se tivesse escolhido outro “ e se”? — perguntou Mikoto agora mais séria, quase num tom de confidencialidade.

Madara encarou a morena e viu-se incapaz de mentir. Não pra ela.

— Todos os dias. — disse sério.

— Você se arrepende?

— Soa muito egoísta da minha parte se eu dissesse que sim? — disse imitando a resposta da mesma de minutos atrás.

— Soaria. Pois ao contrário de mim, você ainda teria esse “e se” te esperando. — disse enquanto cruzava os braços.

— Você está errada. Eu não teria. — disse Madara numa voz cansada e melancólica. Um sorriso triste se desenhando nos seus lábios. Os movimentos para lavar o prato em suas mãos cessados, os olhos fixos no azulejo da pia.

— O que você quer dizer com isso? — perguntou Mikoto, visivelmente curiosa, mas num tom de voz cuidadoso. Não era a primeira vez que pisava nesse terreno em uma conversa com Madara, mas era a primeira que o via tão cabisbaixo. Não que ele sempre não estivesse. Mas dessa vez havia no mesmo um ar quase... resignado.

Madara levou alguns segundos para processar as palavras de Mikoto.

— Oh, você não sabe? — perguntou ele.

— Do que você está falando, Madara? Está me assustando. — disse ela alarmada.

Como se para descontrair o ambiente,  Madara soltou uma pequena risada, e voltou a seu trabalho com os pratos.

— Ele está... — começou Madara. — Ele está namorando. — sentenciou  Madara, numa tentativa de soar o mais indiferente possível.

— Uou! Quer dizer... nossa! Eu não sabia...

— Acho que essa era a intenção. — disse Madara enquanto secava as mãos e encaminhava-se para o sofá. Mikoto seguiu-o.  — Um dos funcionários da empresa dele é irmão da minha secretária. Eu a ouvi comentando com alguns outros funcionários no final de uma reunião.

— Oh! Isso é terrível! — disse Mikoto indignada. Intimamente Madara apreciou isso. — Que funcionária anti-ética! Você deveria demiti-la!

Ou talvez ele tivesse falado cedo demais.

Foi incapaz de não rir diante da linha de raciocínio da morena. Mikoto pareceu contente em conseguir provocar tal reação no mesmo.

— Talvez, mas o café dela é maravilhoso.

— Bom, é um ótimo argumento. — disse Mikoto enquanto se sentava ao lado de Madara no sofá.

Os dois permaneceram naquele silêncio confortável e acolhedor. Cada um com seus próprios pensamentos e próprios arrependimentos.

— Mas aposto que você é mais bonito que ele. Ou ela.

— Acho que eu me sentiria melhor se fosse. Mas não faz diferença, certo?

— Talvez faça. Nunca se sabe. — disse Mikoto.

— Há muito já não me permito ter esperanças, e você sabe disso.

— Sempre devemos ter esperança. — disse Mikoto misteriosamente.

— Nesse caso, você deveria seguir seu próprio conselho. — falou fitando a lua através da sacada aberta de seu apartamento. A lua criando sombras nos seus perfis.

— Apesar de querer negar, eu sou uma Uchiha agora. E Uchihas são péssimos em seguir conselhos, ou de notar coisas que estão a um palmo de distâncias de seus narizes aristocráticos.

Por algum motivo, as palavras de Mikoto tinham quase que um ar profético.

— É, eu sei. — disse Madara reflexivamente. — Nossos narizes são lindos.

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

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