Puzzles escrita por CandleLove


Capítulo 3
Capítulo 3 Tempestade


Notas iniciais do capítulo

Peço desculpas pelo atraso em actualizar!



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Já se passaram três dias desde aquela “ultima noite”, a noite que eu partilhei com Mello. O resto daquela noite correu calmamente, de vez em quando Mello beijava-me, a testa, a face, os meus dedos e qualquer outra parte de mim. Continuou a dizer o quanto realmente me amava como se pensasse que eu duvidava dele.

Só mais tarde nessa noite que eu comecei a perguntar-me sobre isso.

Mello nunca tinha gostado de mim, nem um bocadinho o que é que o levou a nutrir sentimentos por mim? Não apenas isso o que o levou a ter uma emoção tão forte como amor por mim?

Enquanto pensava nestas coisas senti-me a afastar-me dele como se estivesse a defender-me caso ele fizesse algo.

Mas nada do género aconteceu.

Ele estava certo sobre aquilo de “apenas uma noite” ao amanhecer eu sabia que tinha acabado. Quando o sol da manhã apareceu preenchendo o quarto uma enorme dor percorreu-me e apenas tive vontade de chorar e implorar que aquele momento não acabasse.

É simplesmente maravilhoso o que o amor pode fazer a uma pessoa. Nunca pensei que o fosse sentir, mas senti. Numa única noite eu tinha me apaixonado completamente pelo loiro que eu pensava que me odiava.

Não tinha a certeza do que me fez apaixonar por ele tão depressa, talvez fosse esse diferente lado dele que eu havia visto. Talvez fosse esse sentimento acolhedor de quando ele me toca e faz o meu “eu” racional deixar de existir. Embora escusado seria dizer que tínhamos que nos separar.

Ele tinha-me beijado amorosamente uma ultima vez procurando dentro dos meus olhos novamente, de alguma forma dizendo tudo aquilo que eu precisava ouvir enquanto não dizia nada. Eventualmente eu consegui me afastar dele e voltar para o meu vazio, e sem vida quarto.

Deitei-me na cama olhando para a porta fechada querendo silenciosamente que ela se abrisse e que Mello estivesse do outro lado. Eu queria-o perto de mim, eu queria sentir as suas mãos e os seus lábios suaves percorrendo-me por completo novamente.

Mas isso nunca aconteceu.

Eu fiquei ali deitado toda a tarde, ouvindo como a vida continuava fora do meu quarto. Mas ainda assim nada aconteceu e como sempre todos me deixaram na solidão.

Finalmente no final da tarde eu de alguma forma disse a mim mesmo que precisava de tentar e continuar numa tentativa de sentir que não me tinha apaixonado por ele da forma que tinha. Durante o resto do dia eu fiquei sentado na sala comum com alguns dos meus robôs e tentava manter-me ocupado.

Não ajudava muito a nova ferida aberta do meu coração quando um certo loiro atravessava a sala de vez em quando. Eu observava-o durante o breve momento em que ele ali estava e reparava no quão normal parecia. Ele não parecia estar tão débil como eu estava debaixo da minha normal mascara. Eu disse a mim mesmo que precisava de me curar tão depressa como ele parecia ter feito.

E de alguma forma foi assim que eu superei os últimos dois dias.

Mas agora, é noite de novo e eu fui privado da habilidade de adormecer por uma razão que surpreendentemente não era o Mello.

Havia uma furiosa tempestade lá fora. De vez em quando um flash dos relâmpagos preenchia o quarto silencioso antes deste ser ocupado pelo barulhento som do trovão, seguido depois por uma chuva violenta que atingia a minha janela.

Eu odeio tempestades.

É estúpido e infantil, eu sei. Mas eu tenho as minhas razoes pessoais para detestar tanto esse fenómeno natural.

Toda a vez que o relâmpago iluminava o meu quarto seguido depois pelo trovão, os meus olhos já fechados espremem-se. As minhas mãos apertam com força os lençóis brancos, e rezava para não abrir os olhos e ver aquele sangue que uma vez me banhou. O sangue que me inundou e em que finalmente me afoguei.

Eu deixei os meus olhos abrirem-se lentamente, eles estavam fixos numa parede distante, não havia nada de anormal nas paredes ou no chão, não havia nada apenas o meu quarto.

Outro flash de luz perseguido pelo barulho do trovão e de novo os meus olhos fecharam-se. Eu sabia que ia continuar a repetir este processo até que finalmente parasse. Eu fazia-o sempre que havia uma tempestade.

Mas esta noite era diferente; eu não estava mais sozinho. Bom… já não tinha a opção de ficar sozinho.

Não fiquei nem um minuto para pensar. Isto era uma necessidade minha, ele iria compreender com certeza.

Depois de outro ruído súbito eu abri os meus olhos e depois de ter a certeza que não havia nada ali sai dos confins da minha cama e para fora do meu quarto, que por uma vez, não parecia tão seguro como antes.

Eu atravessei o corredor mais depressa que o costume, desesperado para sair daquele local aberto e vulnerável. Quanto mais eu ficasse ali mais eu sentia que corria o risco das minhas memorias me apanharem e reaparecerem, neste local que eu outrora considerei seguro.

Assim que alcancei a porta abria instantaneamente e fechei-a atrás de mim, desesperado por fechar  a escuridão e o medo que eu havia tido no corredor.

O quarto estava quieto e sossegado, quase como o meu próprio com excepção dos dois corpos que respiravam nas suas camas.

Depois de outro momento para tentar silenciar a minha respiração pesada movi-me para perto da cama que estava mais próxima da janela; para perto de onde a minha segurança estava deitada.

Uma explosão de luz preencheu o quarto e antes que eu me pudesse controlar já estava abanando o braço dele, “Mello” eu sussurrei, tentando desesperadamente não acordar Matt que dormia na outra cama.

Ele virou-se para longe de mim sem abrir os olhos “Mello!” eu chamei apenas um pouco mais alto e puxando de novo o seu braço.

“volta para a cama Matt estou a tentar dormir!” Ele disse numa voz pesada e sonolenta.

“Mello” eu chamei novamente esperando que ele tivesse consciente o suficiente para reconhecer a minha voz.

“Raios!” ele atirou a minha mão para longe num movimento repentino que me fez dar um passo para trás. Mas assim que eu fiz isso ele se virou para mim, olhos bem abertos desta vez. A sua boca estava aberta para dizer algo mais mas parou ao ver-me.

Ele sentou-se com um pequeno olhar de protesto “o que é que tu estás aqui a fazer, Near?” ele perguntou quietamente, olhando uma vez para Matt para ter a certeza que este ainda dormia.

Olhei para baixo; não tinha palavras para expressar o meu medo por tempestades sem parecer ter metade da minha idade. Eu não queria parecer tão fraco ao pé dele.

A sua cabeça inclinou-se para o lado em confusão enquanto ele tentava encontrar os meus olhos de novo e eu sabia que ele ainda não tinha percebido “Tu lembras-te do que eu disse na outra noite, certo?” Ele perguntou.

Apenas aí outro flash de luz atingiu o quarto fazendo com que a minha mão se lançasse contra a dele que se encontrava em cima do cobertor. Eu tentei dizer a mim mesmo, enquanto apertava a mão dele na esperança de receber algum conforto da parte dele, que ele finalmente iria perceber.

Quando olhei novamente para ele, ele continuava a olhar-me com um olhar confuso.

Eu mentalmente dei um suspiro pesado, esta era a razão pela qual eu sou o numero um e ele o numero dois. Ele consegue ser tão absorto às vezes.

Eu então puxei pela mão dele, dando um passo para trás, “vem comigo”

Ele suspirou mas levantou-se, eu conseguia ver a fatiga nele “para onde?” perguntou

Eu não respondi; simplesmente puxei-o para fora do quarto e para dentro do corredor. Mas assim que a porta se fechou e a escuridão nos cercou já não parecia tão assustador.

Eu senti-me de alguma forma seguro pois ele estava aqui para afastar todas as memorias que pareciam sempre arranjar maneira de me assombrar.

De novo o súbito flash de luz seguido pelo estrondo do trovão percorreu todo o corredor; eu apertei a mão dele novamente com a minha.

“Near?” Ele perguntou. Nem tive que olhar para ele, conseguia ouvir pela sua voz que ele estava a perceber lentamente.

Eu puxei-o para o meu quarto silencioso fechando depois a porta; ainda assim nunca larguei da mão dele. Parecia que, como todos os outros, se eu o largasse ele iria desaparecer e eu iria ficar sozinho de novo.

Finalmente tive que olhar para ele e observar o seu olhar cansado e interrogatório. Eu não conseguia responder-lhe com palavras. Eu preferia que ele descobrisse sozinho a ter que admitir.

Puxei-o para a minha cama, sentindo-me uma criança pequena a puxar um adulto para lhe mostrar algo que havia achado, e forcei-o a sentar-se, só ai deixei as nossas mãos separarem-se e foi nesse momento que me senti vazio.

Um outro estrondo de trovão quebrou o silencio que se formara entre nós; antes que eu pudesse me controlar lancei-me para os seus braços sentando-me no seu colo. Os meus braços em volta do seu pescoço, as minhas pernas em volta da sua cintura e a minha cara enterrada na curva do seu pescoço.

Eu o sentia tenso em baixo de mim por um breve momento antes de ele relaxar e colocar os seus braços ao meu redor.

“Mais uma noite?” Perguntei calmamente.

“Tens medo de tempestades, Near?” Ele perguntou; eu escassamente acenei.

Ele riu uma vez enquanto se aconchegava a mim, enviando uma onda de conforto pelo meu corpo inteiro. Naquele momento eu estava tão contente por ter ido até ele e o ter trazido. Os barulhos lá fora já não me incomodavam tanto agora que eu tinha ele em meus braços.

Fechei os olhos e inalei todo o seu aroma, memorizando-o de novo.

Ele finalmente suspirou “Ok, só por ti.”

Soltei uma respiração em alivio e beijei a pele do seu pescoço antes de subir um pouco até à sua orelha e sussurrar “Obrigado”

“Porque é que estás tão assustado por causa de uma coisa como tempestades? Não é como se algo te acontecesse desde que estejas aqui dentro.” Ele perguntou-me a única coisa que eu não queria que ele fizesse e que ao mesmo tempo sabia que ele a ia fazer.

Eu não disse nada. Não podia. Ok, eu posso estar apaixonado pelo Mello mas eu nunca iria dizer porque é que eu tenho medo para ninguém. Foi uma promessa que eu fiz a mim mesmo à alguns anos.

“Sabes,” Ele disse finalmente com um suspiro “Uma parte de estar apaixonado por alguém é saber confiar nela.”

Confiar nele? Confiar no Mello? Mas… depois de tudo aquilo que ele me fez passar fisicamente e todas as vezes em que ele gritou comigo dizendo que me odiava. Como é que é suposto eu confiar em alguém depois disso? Isso significaria que eu não o amava? Espero que não!

“Como queiras!” Ele finalmente disse num tom irritado, “Tu não precisas de me dizer se não quiseres.”

Eu acenei e beijei novamente o seu pescoço em sinal de gratidão.

Ele então puxa-me um pouco para trás fazendo com que eu ficasse a olhar para ele, depois aproximou-me mais dele fazendo com que não houvesse quase nenhum espaço entre nós “Tu és tão viciante, sabias?” Ele perguntou beijando-me antes que eu tivesse tempo de dar uma resposta.

Eu sabia que a minha temperatura elevava ao máximo só de sentir os lábios dele nos meus de novo. Eu apertei mais os meus braços no seu pescoço aprofundando o beijo ;  eu queria tanto mais dele do que me estava a dar.

Aninhei-me com medo quando um outro estrondo fez tremer todo o quarto, os meus braços apertaram mais Mello mas desta vez por uma razão diferente.

Mello sorriu dentro do beijo e afastou-se ainda com o mesmo sorriso no rosto. Ele moveu-se para longe de mim deslizando na minha cama me puxando o tempo todo até que estávamos finalmente na cabeceira.

Ele puxou-me para que eu estivesse sentado no seu colo novamente. Eu senti-me estranhamente (mas completamente) seguro nas suas mãos, as mesmas mãos que apenas conheciam como magoar pessoas. Era quase estranho, mesmo agora, sentir o quão gentis elas eram.

“Tu és realmente viciante, Near, por mais que eu saiba que tenho que ficar longe de ti, eu não consigo” ele disse.

Eu olhei para ele “estás a dizer que me amas?”

“Essa  é uma das razões pela qual eu não consigo.”

“Oh.” Eu disse simplesmente, deixando intencionalmente a minha voz desvanecer. Cada minuto que eu passava com Mello eu sentia que estava a ficar um pouquinho melhor em demonstrar-lhe que o amo. Esta era uma provocação que eu vi as raparigas usarem para terem aquilo que querem; se Mello for tão previsível como eu sei que ele é vai cair direitinho.

“Sim, Near! Estou a dizer que te amo, ok?” ele perguntou levemente irritado de novo.

Dei um pequeno sorriso enquanto me aconchegava a ele “isso é bom.”

“vais me dizer de volta?”

“Amo-te Mello” eu disse facilmente e verdadeiramente cada palavra.

Ao mesmo tempo estava a tentar lutar contra o pensamento de quantas mais “últimas noites” nós realmente teríamos. Logicamente, eu sabia que não podíamos simplesmente deixar um verdadeiro relacionamento crescer entre nós (não com toda esta história de sucessor). Mas tinha que haver uma maneira de fazer com que isto funcionasse. Tinha que haver algum tipo de resposta.

“Isso é bom.” Ele disse num tom sonolento.

Olhei para ele e vi que já tinha os seus olhos fechados; ele era incrivelmente atraente quando tinha os olhos assim; ainda mais quando dormia. Eu alcancei-o e dei-lhe um leve selinho antes de descansar nos seus braços de novo; desejando-lhe silenciosamente boa noite.

Sim, o amor havia se tornado uma emoção mais simples para eu exprimir. Mas no fundo da minha mente eu interrogava-me em que dor ele iria inevitavelmente me deixar.


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Notas finais do capítulo

Ok então não é exactamente o melhor final para o capitulo e certamente não é o final que a minha mente pervertida estava à espera. Mas sempre que eu escrevia algo eu pensava "espera isto é um capitulo... então porque parece um One-shot?"
De qualquer das formas


CONTINUA!

— Pff review
—- CandleLove



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