“Sejamos todos felizes! Sejamos todos felizes! Sejamos todos felizes! Sejamos todos felizes!”

Essa frase era o que ecoava na mente de Arizona quando se viu parada em frente à porta após entregar Sofia, as passagens e a esperança de volta à Callie.

“Eu fiz o que era certo! Arizona, você está certa, ela não estava feliz, sua filha não estava feliz ao ver a mãe daquele jeito. Isso, definitivamente, era o certo a se fazer. E você fez. Você já errou demais, ao menos uma vez tem que acertar. Parabéns, garota! Agora saia desta porta antes que você se arrependa.”

Arizona sacudiu a cabeça e conseguiu, mesmo com muita dificuldade, dar o primeiro e depois o segundo e com mais esforço ainda o terceiro passo para longe da porta. A cada passo que dava sentia o peito apertar mais e mais, e a garganta estava como se tivesse acabado de engolir uma bola de tennis. Ela precisava conseguir chegar até o carro e, mesmo sentindo aquilo tudo, mesmo o corpo tendo aumentado de peso, ela conseguiu. Abriu a porta e basicamente se jogou lá para dentro. Respirou fundo, ajeitou-se, segurou o volante, tentou dar a partida, mas não houve como. Entrou em um choro compulsivo, um choro magoado, dolorido. Ela precisava chorar, precisava tentar tirar de dentro de si tudo aquilo.

“Meu Deus, isso foi a coisa mais difícil que já fiz na vida! Se é o certo, por que me sinto tão despedaçada? Por que não consigo ir embora e me sentir bem? Por que agora quem está miserável sou eu? POR QUÊ? POR QUÊ? POR QUÊ? POR QUÊ? POR QUÊ? POR QUÊ?  Era o que Arizona pensava em meio ao choro que não conseguia parar.

Ela precisava conseguir mais força para sair dali. De repente se viu lembrando de tudo que a levou até aquele fatídico momento, sozinha em seu carro. Lembrou do início do romance com Callie, do quanto ela, justamente ela, que não se prendia a ninguém se viu completamente apaixonada tão rapidamente. Lembrou do Mark e do quanto era  inconveniente e conseguiu sorrir um pouco. Pensou que se ele estivesse ali era possível que aquilo não tivesse chegado aquele ponto. Lembrou de quando não queria ter filhos e das brigas que teve com Callie por conta disso e se sentiu uma idiota por tal ato. Lembrou do pavor que sentiu quando quase a perdeu junto com Sofia naquele maldito acidente de carro. Lembrou do seu acidente de avião do quanto também foi tomada por um medo enorme de nunca mais voltar a vê-las.

Neste momento percebeu que um dos maiores medos de sua vida se concretizara naquele instante e, pior, com a ajuda dela. Elas iriam embora, nunca mais iria ver Sofia sempre que quisesse, nunca mais encontraria com Callie nos corredores do Grey Sloan. Nunca mais, nunca mais, nunca mais!

“Eu acho que não vou conseguir!” – Pensou. “Mas e tudo de ruim que você fez Arizona? “ – Sua cabeça continuou...

Lembrou, então, do ano que tiveram após seu acidente de avião, do quanto tratou Callie mal, do quanto quis que sua esposa sumisse, do quanto a rejeitou, do quanto foi rude e egoísta. E, para seu desespero, lembrou também do quanto Callie foi paciente, amiga e aguentou tudo aquilo. E então lembrou do fatídico dia que cometeu um dos seus maiores e mais grotescos erros, o dia da traição e tudo que veio com ele.

“Foi ali, ali que a Callie começou a se despedir de mim. Foi ali que eu dei o start para o nosso fim!” – Falou Arizona, sem nem se dar conta de que falava sozinha no seu carro e com o olhar vidrado em um horizonte que ela mal via em sua frente.

“Eu mereço isso! Eu mereço muito isso!” - E por um segundo se sentiu conformada com sua situação atual, sentiu que aquilo era sua culpa, que ela merecia e tinha feito o certo. Conseguiu ligar o carro... Estranhamente, ter pensado que merecia não a piorou, ao contrario, deu forças para sair daquele lugar, mas parou e...

Lembrou-se do dia que conheceu Penny, do quanto isso foi torturante. Lembrou dos dias e meses que se seguiram tendo que ver Callie com a nova namorada, do quanto alugou horas a fio os ouvidos de Alex e April e do quanto se sentia a própria Meryl Streep quando tinha que atuar na frente de Callie, mostrando estar bem e feliz por ela, mostrando não se importar, mostrando não sentir mais nada.

A pontada no peito retornou com tudo e o nó na garganta também.

Continuou a pensar e lembrou-se do quanto se esforçou para seguir, lembrou-se das saídas com Richard e do quanto ele foi absolutamente amigo e solidário, e do quanto as noites foram divertidas. Lembrou-se das figuras que conheceu nestas madrugadas, umas loucas, outras lindas, mas nenhuma era ela. Lembrou também do momento em que desistiu de procurar... Foi quando Richard, todo preocupado, foi conversar com ela e falou que era merecia algo melhor. E ele estava certo - como sempre. E, então, lembrou do tribunal!

“Meu deus, nós chegamos a este ponto!”

Reviveu em sua mente cada segundo do antes, durante e depois daqueles dias infernais. Viu-se no corredor do hospital e reviveu o momento que se deu conta de que Penny estava levando seus amores embora, o momento em que viu sua família nas mãos de outra pessoa e do quanto aquilo foi absurdamente dolorido e inadmissível e, por isso, não pensou mesmo duas vezes antes de procurar um advogado. Lembrou do quanto Callie não estava “nem aí” para ela e seus sentimentos por Sofia, do quanto tentou deixá-la de fora de tudo...e...e tudo que ela permitiu que falassem no tribunal...(Sentiu uma raiva imensurável – o que a fez começar a falar sozinha dentro do carro, novamente).

“Como ela foi capaz disso? Como não pensou mesmo em mim nenhuma vez?! Sofia é minha filha também. Eu sou uma idiota, passei por tudo isso e agora a deixei ir. Como ela é capaz de não enxergar nada? Callie está cega! É uma burra mesmo, não vê um palmo à frente do nariz. Ela nem mesmo enxergou que eu ainda... (Parou! Não se sentia com coragem de pronunciar isso alto). Ela ama a Penny! Ela realmente ama a Penny! Acabou, Arizona! Acabou há muito tempo, e você teve culpa, muita culpa nisso. Penny é o que você não conseguiu ser, agora, aguenta!”

Ligou finalmente o carro e conseguiu sair da frente da casa de Callie.