San Peter: A Escola dos Mimimis Amorosos (Vol.1) escrita por Biax


Capítulo 26
Lili Arrasando Corações




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Abri a porta do quarto da Lili e entrei, a encontrando desfazendo sua mochila e colocando as roupas dobradas em cima da cama.

— Tudo bem? — Ela perguntou despreocupadamente.

Puxei a cadeira na escrivaninha e me sentei. — Sim, e você? Chegou cedo.

— É... Eu queria voltar logo pra te fazer companhia, mas pelo que vi você não ficou tão sozinha assim — falou com um tom malicioso.

— Ai, Lili! — Coloquei as mãos no rosto, lembrando do que tinha acontecido. — O Yan tinha ido pra casa do Mateus, mas ele voltou hoje de tarde.

— Ele sabia que você ia ficar sozinha?

— Sim, eu falei, na sexta. Ele achou que eu ia pra sua casa de novo.

— Então ele voltou mais cedo pra ficar com você? — Me olhou, curiosa.

— Não sei... Talvez.

Abrimos um sorriso bobo ao mesmo tempo. — E o que fizeram a tarde toda?

Contei a ela desde a quadra ao refeitório, incluindo a menina nova, campeã de xadrez.

— Quê? Você deixou ela jogar no seu lugar? O que você tem na cabeça?

— Mas o que tem? — perguntei, confusa. Não tinha sido nada demais.

— Era o momento de vocês dois, e você deixou ela entrar no meio! — Revirou os olhos.

— Mas foi tão rápido. Assim como ela chegou, foi embora.

— Sei. — Mostrou a língua para mim.

Tateei meus bolsos da calça, e entreguei o celular que Viktor tinha me dado. — O Viktor pediu pra te entregar. Ele disse que você esqueceu no carro.

— Ah... Valeu. — O deixou na cama e começou a guardar suas roupas no guarda-roupa.

— Vocês vieram juntos no carro do seu pai?

— Sim, mas não fui eu que chamei. Meu pai que perguntou se ele não queria vir com a gente. — Negou com a cabeça, como se seu pai estivesse louco.

Dei risada. — Que traíra.

— Sim! Pra você ver.

— E como foi o seu final de semana? Ele foi lá te encher?

— Só hoje. Sábado nem vi sinal dele. — Ela se sentou, segurando uma camiseta no colo. — Ele deve estar enjoando, ou viu que não vale a pena tentar me reconquistar.

— Por que tá falando isso?

— Sei lá. — Deu de ombros, parecendo chateada. — Ele não ficou fazendo gracinha comigo. Lembra quando estávamos conversando e eu falei que ele não tentou fazer nenhuma gracinha? — Afirmei. — Então, ele continua daquele jeito. Ele tá conversando “normal” comigo.

— Então você acha que ele desistiu?

— Não sei, mas é uma possibilidade.

— Então vamos comemorar, ué. — A cutuquei com o pé.

Lili deu um sorriso desanimado. — Não é pra tanto.

—  Eu não te entendo, Lili, sinceramente.

Ela passou a mão no rosto e suspirou. — Nem eu, Bru. Não me entendo. Não sei nem o que quero da minha vida.

— Você ainda gosta dele?

— Eu... Às vezes acho que sim, às vezes que não.

Como sempre, eu não sabia o que dizer. Provavelmente nada que eu falasse ajudaria em alguma coisa, então talvez fosse melhor mudar de assunto para fazer ela esquecer um pouco daquilo.

— O Mateus perguntou se você tinha namorado.

— Quem é Mateus? — perguntou, fazendo uma cara de quem estava se esforçando para lembrar de alguém com aquele nome.

— É o menino que tava do lado direito do Yan. O de cabelo castanho claro.

— Ah... — Pensou, lembrando. — Ele é bonitinho, hein. Talvez eu consiga sair desse sofrimento com ele.

— Vai é acabar com mais um sofrimento.

— Mas quem sabe não valha a pena?

— Como assim?

— Bom, parece que os dois da lista resolveram me abandonar. Então posso dar uma chance pra esse aí.

— Lili — repreendi, achando que ela tinha ficado doida de vez.

— Que foi? — questionou, fazendo uma carinha inocente.

— Você nem conhece ele.

— Isso não é um problema. Você pode me apresentar.

— Você tá muito apressadinha, dona Lili.

Ela riu. — Acho que sinto falta de ficar com alguém. Tô carente — dramatizou, fazendo um biquinho.

Quem será que tinha problema? Ela por já querer procurar outra pessoa ou eu que achava isso estranho e rápido demais?

— Você tá achando que eu vou chegar beijando ele, né? — Ela cruzou os braços.

— Não — respondi rápido.

Lili me olhou com cara de “você não me engana”. — Não sei se fico ofendida ou dou risada por você pensar isso.

Arregalei os olhos. — Não fica ofendida, eu não quis dizer nada disso. Não tô pensando coisa errada de você...

— Tô brincando, menina. Relaxa.

Revirei os olhos, aliviada e sem graça por não ter entendido a brincadeira.

— Eu sei que é meio estranho, mas um dia você vai entender. Eu acho.

Muitas pessoas têm o costume de me falar isso, mas normalmente são adultos...

 — Você ficou linda com esse vestido.

Olhou para baixo, passando a mão no tecido. — Obrigada. Ganhei de uma tia... — Levantou. — Já vou me trocar.

— Por quê?

— É muita coisa pra ficar na escola...

— Não é não! Pode ficar com ele. O Júlio precisa te ver.

— Por quê?

— Porque sim! Se o Mateus que nem te conhece já ficou caído, imagina ele.

Lili considerou e deu um sorriso sapeca. — Tudo bem.

— E o Viktor não falou nada sobre o vestido?

— Não. Mas ficou olhando bastante. — Balançou a saia com as mãos, como se dançasse.

— Isso é bom. — Dei risada.

Lili terminou de guardar suas coisas enquanto comentava dos momentos em que Viktor ficou a olhando, e assim que acabamos por ali, levantei.

— Vamos descer?

— Espera. — Correu para o banheiro e se olhou no espelho, ajeitando o cabelo. — Vamos.

Naquele momento percebi que eu, às vezes, tinha uma invejinha do jeito dela. Além de ser bonita, sabia lidar com as coisas de um jeito calmo e até engraçado. Espero ser assim quando crescer.

Saímos do quarto.

Haviam garotas andando de um lado para o outro no corredor, entrando e saindo dos quartos. Algumas acenavam para nós, e acenávamos de volta. Descemos, fomos para o jardim e nos sentamos na nossa mesa.

De longe, vi a mesa que Yan costumava ficar, e ele estava lá, com Gabriel e Mateus.

Notei que Mateus começou a olhar em nossa direção. Yan, que estava de costas para nós, se virou para saber o que seu amigo tanto olhava, e rindo, voltou para frente.

— Que foi? — Lili perguntou, e olhou para trás rapidamente.

— O Mateus tava olhando pra cá.

Lili deu uma risadinha. — Você acha que ele teria coragem de vir aqui?

— Não sei... — De repente, arregalei os olhos com o que vi.

— O quê? — perguntou, ansiosa.

— Ele levantou.

— Ai meu Deus. Ele tá vindo?

— Não. Só levantou, mas tá olhando pra cá várias vezes, e olha pro Yan também.

— Deve estar querendo que Yan arranje uma desculpa pra vir.

— Acho que sim... Ah! Ele saiu da mesa.

Lili sorriu de um jeito animado.

Alguém passou por trás dela, me tapando a visão, e quando percebi, vi que era Viktor, que se sentou ao lado de Lili.

— E aí, deu o celular pra ela? — perguntou para mim.

— Dei... — Tentei ver o que estava acontecendo lá trás, mas não conseguia enxergar.

Ele se virou para Lili. — Por que você ainda tá de vestido?

— Porque eu quero.

— Melhor você trocar de roupa, hein. Vão brigar com você assim.

— Quem?

— Alguém da direção. — Deu de ombros. — Tem que colocar o uniforme.

— Então por que você não tá com o seu? — Apoiou o queixo na mão, desviando o olhar dele, desinteressada.

— Eu já vou colocar.

— Então quando você colocar o seu, eu visto o meu.

Viktor riu baixinho, levantou e saiu.

Começamos a rir. Um pouco depois, James e Júlio chegaram com suas mochilas. Júlio já estava com a cara emburrada, sabe-se lá por quê.

— Olá! — James cumprimentou, sorridente, quase achando graça de alguma coisa.

— Oi, James — falamos juntas.

— Oi — Júlio se pronunciou, olhando para Lili por mais tempo do que para mim, meio desconfiado.

— Já descemos de volta — James avisou. — Ele não tá se sentindo muito bem, né? — Colocou a mão no ombro de Júlio, que o olhou com uma cara mortal. James riu e começou a empurrá-lo. — Já voltamos!

Lili se debruçou na mesa, rindo. — Que cara foi aquela?

— Ele já chegou irritado. Por que será que ele tava daquele jeito?

— Vai saber.

...

— Por que ela fica dando bola pra ele? — Júlio perguntou, irritado, caminhando cabisbaixo para o dormitório.

— Você fala como se eles conversassem o dia todo — retrucou James.

— É quase isso.

— Não é não. Eles são vizinhos, é normal conversarem.

— Vizinhos não trocam bilhetinhos. Eu não esqueci daquilo. Ela ficou toda animadinha. — Júlio afinou a voz na última parte, soando com sarcasmo.

James revirou os olhos, começando a subir as escadas. — Para de reclamar.

— Não paro.

— Em vez de reclamar por que não faz alguma coisa? Enquanto ele tenta conquistar ela com os bilhetinhos, você fica assistindo?

Júlio ficou quieto por alguns segundos. — Eu já te falei sobre isso.

— Falou e não se decide nunca.

Júlio fez uma careta e passou a mão pelo cabelo de forma nervosa. — E você? Se decidiu?

— Com o quê?

— Não se faça de desentendido — resmungou.

James riu com o mau-humor do amigo. — Não tô com opções pra escolher.

— Desistiu de vez?

— Mais ou menos. Mas acho que vou conversar com a Erica.

— Tem certeza? E o teatro?

— É justamente sobre isso que quero falar, mas vou pensar mais um pouco.

Júlio suspirou. — Boa sorte.

— Pra você também.

...

Após o jantar, Lili e eu resolvemos subir, cheias demais para ficar batendo papo. Quando chegamos no nosso andar, vi Micaela prestes a começar a subir as escadas para o terceiro andar, mas ela parou assim que passamos e nos chamou.

— Ei! —  Correu e parou na nossa frente. — Oi. Desculpa, eu esqueci de perguntar seu nome e o do seu namorado.

Namorado?! — E-ele não é meu namorado. É meu amigo... Ele chama Yan, e eu sou Bruna. E essa é a Lilian.

— Muito prazer. — Sorriu para Lili, que retribuiu. — Foi legal aquela partida, mas fiquei curiosa pra ver como você joga.

— Nem queira ver. Eu sou péssima.

— Ah, então você tava aprendendo?

— Isso.

Ela deu uma risadinha. — Quando estiver melhor, quero uma partida com você.

— Quando eu estiver muito, muito melhor, sim — brinquei.

— Claro. Boa noite pra vocês. — Acenou e voltou para a escada.

— Boa noite — desejamos juntas, voltando ao corredor.

— Ela é simpática... — Lili comentou. — E é esquisito você me chamando de Lilian. Só gente mais velha me chama assim.

— Tá bom, vou te apresentar como Lili da próxima.

— Agradeço.

Me despedi dela, e entrei no meu quarto. Olhei para a cama, que me chamava, e eu fiquei ansiosa para me juntar a ela.

Ela era minha confidente, tipo um diário. Mas vou tomar banho primeiro, não se mexe.

Rapidamente, tomei banho e arrumei o material para o dia seguinte. Apaguei a luz e corri para deitar, sendo grata por ter um colchão tão confortável e quentinho para deitar. Era incrível como uma cama tinha o poder de nos acolher tão bem.

Me ajeitei dentro da coberta e comecei a relembrar o dia, desde o momento que acordei até pouco tempo atrás. Era um costume meu desde que me entendia por gente. Repassar o dia inteirinho na cabeça, mas os momentos com Yan eram mais especiais. Se repetiam várias e várias vezes, e eu não me cansava de rever ele sorrindo na quadra, ele sério e concentrado no xadrez, ou quando ele me segurou quando estava prestes a acertar a bola no aro.

Até conseguia lembrar do seu perfume, mesmo que parecesse algo distante.

Claro que eu não deixava de criar outras coisas. Fazia parte de mim sonhar acordada, imaginando tudo o que meu eu romântico queria. E sempre quando chegava nos momentos em que eu imaginava que seria beijada, eu caía no sono.

E quando acordava, tentava terminar o que comecei, e geralmente acabava me atrasando. Igual hoje.

Quando Lili entrou no quarto, eu ainda estava colocando a saia do uniforme.

— Acordou atrasada, é? — Ela estranhou.

— Mais ou menos. Fiquei enrolando na cama. — Vesti as meias e calcei os sapatos.

Lili pegou minha mochila na cadeira. — Aposto que ficou sonhando acordada... — Meu rosto corou e ela riu alto. — Sabia!

— Isso não é nenhum crime — resmunguei indo ao banheiro.

— Eu sei, todo mundo faz isso.

Por conta dos meus devaneios, estava morrendo de vontade de ver Yan e sentir seu perfume, só para fixá-lo melhor na minha mente.

Terminei de me arrumar e descemos. Os meninos estavam nos esperando.

— Tá melhor? — Lili perguntou ao Júlio, com um sorrisinho provocativo e um tom de voz inocente.

Ele hesitou por um momento e deu uma rápida olhada para James. — Como assim?

James fez uma cara de “não fiz nada”.

— Você não tava mal ontem? Quando chegou.

— Eu tô bem. — Puxou James, andando na frente. Eles cochichavam algo entre si.

Era engraçado como a Lili adorava provocar ele.

Entramos na fila da cantina e aproveitei para dar uma olhada pelo refeitório, procurando aqueles cabelos escuros que eu tanto queria ver, mas Yan não estava por ali, pelo jeito.

— Acho que ele não chegou ainda... — Lili sussurrou no meu ouvido. — Olha. Os amigos dele estão ali. — Apontou para o fundo do refeitório.

Mateus e Gabriel estavam sentados com mais dois meninos que eu não conhecia, conversando.

Meu estômago deu uma apertada de nervoso. Onde será que ele estava?

Pegamos o café e nos sentamos. Nem prestei muita atenção na conversa. Estava concentrada em ficar olhando a entrada na esperança de ver Yan chegando. E mesmo quando terminei, nem dez minutos depois, nada dele, o que já estava me deixando uma pilha de nervos achando que alguma coisa tinha acontecido.

Lili se aproximou e cochichou de novo. — Por que não vai lá perguntar pra eles?

Olhei para onde eles estavam, mais uma vez. — Eu não conheço aqueles dois.

— Só pergunta. Qualquer coisa fala que queria perguntar algo pro Yan.

Respirei fundo. Minha preocupação estava mais forte do que a vergonha.  — Tudo bem... Já venho.

Caminhei até a mesa deles e Mateus foi o primeiro a me ver. — Oi, Bru!

— Oi, gente... — Me esforcei em levantar o tom de voz, ou eles nunca iam me ouvir. — Cadê o Yan?

— Na enfermaria... — Gabriel falou, fazendo meu coração parar por dois segundos.

— O que aconteceu?

— O machucado dele abriu — Mateus respondeu tranquilamente. — Ele ficou um tempo no banheiro tentando fazer o sangue parar, mas aí empurramos ele pra enfermaria agora há pouco.

— Mas ele tá bem?

— Acho que sim, tirando a dor. Queria falar com ele?

— É... Queria perguntar uma coisa. Mas obrigada. — Acenei e voltei à mesa.

Contei a Lili o que os meninos me disseram.

— Vai lá ver ele, então.

— Quê?

— Vai na enfermaria. Ainda tá cedo.

Em situações normais, eu ficaria pensando na possibilidade por pelo menos cinco minutos, em todos os prós e contras, mas levantei e andei rápido para o jardim.


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