San Peter: A Escola dos Mimimis Amorosos (Vol.1) escrita por Biax


Capítulo 34
Nervoso + Confessando




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Abri os olhos. A luz me cegou por um momento, mas logo enxerguei tudo ao redor.

Lili ainda dormia, de costas para mim.

Olhei para o quarto claro. Era muito mais aconchegante com os raios de sol atravessando a cortina fina.

Vi um relógio em cima do gaveteiro, marcando oito e vinte. Gemi. Queria dormir mais.

Meus instintos acordaram quando senti cheiro de café fresco. Eu não tomava café, mas fiquei com vontade.

Meu estômago roncou. Esfreguei os olhos e me levantei com cuidado para não mexer a cama.

Descalça, abri a porta lentamente e sai para o corredor. Dei alguns passos, seguindo a parede e entrei no banheiro.

E levei um susto.

— Ah!

James estava na frente da pia, sem camisa e com uma seringa na mão.

Ele me olhou, assustado, mas depois relaxou. — Que susto.

— D-desculpa — disse, saindo.

— Não. — Ele segurou minha mão. — Tudo bem, eu já vou sair.

— Mas...

— Relaxa. Aproveita e olha como eu faço.

James cutucou sua barriga, pouco abaixo e ao lado do umbigo, como se procurasse algo. Então puxou um pouco de pele com o dedão e o dedo indicador, tirou a tampinha da seringa com os dentes e empurrou a agulha na pele, já injetando o líquido.

Fiz uma careta.

No mesmo instante que terminou de injetar, voltou a tampar a seringa. — Tô vivo, calma. — Riu da minha cara.

— Assim até parece que não dói.

— Não muito. É o costume.

Como se fosse uma onda, as lembranças de ontem vieram. Da conversa entre ele e sua avó. Me senti sem graça, tanto por isso, quanto por ficar olhando sua barriga, no ponto vermelho onde a agulha perfurou.

Eu não sabia mais o que dizer, e o olhei.

Ele sorriu. — Você fica bonita assim.

Senti meu rosto esquentando. Automaticamente olhei para o espelho a minha frente. Fiz uma careta.

— É sério. — Ele riu.

Dei risada. — Com a cara oleosa e descabelada? — perguntei, irônica.

— Sim. Continua bonita pra mim. — Levantou a mão desocupada e passou em meu cabelo, tentando arrumá-lo.

Não conseguia olhá-lo, mas fiquei com um sorriso no rosto, do tipo de quem estava sem graça, mas ao mesmo tempo achava engraçado.

Ouvi ele rindo. — Tá, vou deixar você lavar seu rosto oleoso. Depois vai lá na varanda. — Passou por mim e saiu, fechando a porta.

Ainda rindo, olhei no espelho, já sabendo que eu estaria vermelha.

Enquanto fazia minhas coisas, fiquei pensando.

Será que se eu não gostasse do Yan, iria gostar do James? Seria fácil se apaixonar por ele, eu acho. Ele é carinhoso e atencioso.

Eu gosto bastante dele, mas seria o suficiente? Para ficar com ele?

Ele meio que sempre demonstrou que gostava de mim. Mas e o Yan? Ele já fez algo que mostrasse interesse por mim? Além de trocarmos olhares, claro.

Lavei meu rosto, e comecei a me sentir nervosa de repente.

James disse para eu ir a varanda. Por que soa estranho?

Será que Lili vai demorar pra acordar?

Fiquei com medo de sair. Minha mão congelou na maçaneta.

Eu não estou com medo dele me fazer algo. De forma alguma. Ele nunca me faria nada. Mas ainda me sentia com medo.

Tipo quando você faz algo errado e precisa encarar seus pais. Talvez fosse um pouco pior.

Não posso ficar aqui o dia todo...

Sentindo as mãos frias, girei a maçaneta e sai para o corredor brilhando com a luz do sol.

Desci as escadas. Assim que virei para entrar na sala de jantar, vi James saindo da cozinha com uma bandeja grande cheia de coisas.

Aquela fome que senti mais cedo se transformou em um redemoinho.

Andei direto até a porta. James havia colocado a bandeja na mesinha de vidro, e estava sentado no sofá de dois lugares, com uma perna dobrada na altura do queixo. Me aproximei e ele me olhou.

— Tinha muito óleo pra tirar? — perguntou sorrindo, pegando um bule branco e colocando um liquido marrom claro em uma xícara.

— Digamos que sim.

Eu não sabia se sentava do seu lado, ou se escolhia uma das duas poltronas.

Das três xícaras que estavam na bandeja, ele pegou uma e a deixou na mesa, do lado da sua. — Chá?

Hmm... Eu tinha sentido cheiro de café...

— Ou café? Apesar de que nunca te vi bebendo café.

— Chá mesmo. — Sentei no sofá, do seu lado.

James serviu o chá, e colocou um potinho com açúcar na beirada da mesa. Colocou três colheres em sua xícara.

Coloquei a mesma quantidade na minha, e a levei até a boca, assoprando antes de dar um gole.

Hmm. Camomila.

O jardim todo parecia brilhar com o sol da manhã. Tudo parecia calmo. Mal parecia que houve uma festa ali, ontem.

— Eu moro aqui desde sempre... — James disse com a xicara perto da boca. — Mas nunca me canso de olhar isso de manhã. Até sinto falta quando estou na escola.

— Se eu morasse aqui também sentiria. — Me senti mais relaxada com o assunto.

Ele riu. — Espero ser tão esforçado quanto meus pais. Assim posso comprar uma casa exatamente assim.

— Boa sorte — falei antes de dar outro gole.

James pegou duas torradas pequenas, passando requeijão em ambas e me entregou uma. — A boa sorte. — Levantou a sua torrada.

Sorri. — A boa sorte. — As batemos de leve e as comemos.

Rimos juntos.

É, seria fácil gostar dele. Mas só se eu não conhecesse Yan.

Ficamos um tempo em silêncio, comendo mais torradas.

— Sabe — começou, engolindo mais uma torrada e tomando um gole de chá —, eu queria te perguntar uma coisa, apesar de já saber a resposta.

A comida deu cambalhotas em meu estômago. Esperei.

— Você... gosta do Yan, não é? — Me olhou.

Ai, Deus. Aquilo era a última coisa que eu gostaria de falar com ele.

Olhei minha xícara, sentindo o rosto corar.

— Olha, eu sei que sou a última pessoa que você gostaria de falar isso, mas... Eu precisava perguntar de uma vez... porque... Bem... Você já sabe que eu gosto de você. — Aquilo teria me feito engasgar, se estivesse comendo. — E como as minhas técnicas de sedução não funcionaram... — falou com um tom de piada, rindo, e me fez rir também. — Eu sei que não adianta querer forçar algo. Não vai fazer você mudar o que sente.

Ele conseguia ser gentil até tocava num assunto desses. Me senti mal por não gostar dele da mesma forma que ele gostava de mim.

James tinha um sorriso leve e compreensivo quando o olhei. Eu precisava ser justa assim como ele estava sendo.

— ... Sim, eu gosto dele. — O olhei atentamente, como se eu precisasse juntar seus pedacinhos a qualquer momento.

Balançou a cabeça, e sorriu, tomando mais chá. — Lembra do que eu te contei da Erica? Desde o começo?

— Sim.

— Eu ainda gosto dela. E estava pensando em... ficar com ela.

Aquilo me surpreendeu. — V-você tem certeza disso?

— Eu nunca tive certeza de nada, Bru. — Riu. — Mas acho que seria legal. — Ele viu minha cara de quem estava na dúvida. — Não é algo permanente. Se não der certo, é só terminar.

— Eu sei...

— O que você acha? Devo?

Como você me pergunta isso? — Como eu vou saber?

— Quero sua opinião. A opinião de uma amiga.

— ...bom, sei lá. Você mesmo disse que não é algo permanente. Tentar não custa nada.

— Não custa mesmo. — Começou a encher sua xícara de novo.

— Só promete uma coisa? Se é que eu posso pedir...

— Claro. — Ele parou. — O quê?

— Promete que não vai se afastar? De mim, da gente...?

— Que pedido besta, Bru. Até parece que iria me afastar.

— Ah, sei lá...

James largou o bule na mesa e abriu os braços em minha direção.

Sorri, e me ajoelhei no sofá, o abraçando de volta. Ficamos assim por um longo momento.

— Ora, o que é isso?

Nos soltamos e olhamos para Lili ao mesmo tempo. — Nada — dissemos ao mesmo tempo, e rimos, igual dois idiotas.

Ela estreitou os olhos. — Vocês acham mesmo que me enganam? Se estão escondendo alguma coisa de mim...

— EI, relaxa aí. — James riu. — Vem tomar café, vem. Quer chá ou café?

— ... Café com leite — falou ainda desconfiada.

— Então vou ter que pegar na cozinha. — Levantou, pegando uma xícara da bandeja.

— Não. — Lili parou em sua frente. — Você não sai daqui enquanto não me explicar. Estão com cara de quem está aprontando.

Eu e James nos olhamos, segurando o riso.

— É que... — James começou. — Eu estava pedindo a opinião da Bru, se eu devia ficar com a Erica.

Os olhos dela passaram de mim a ele várias vezes, como se ainda não acreditasse.

Pela cara dela, ela estava bolando toda a história por trás do que ele tinha dito — Então você...

— É. — Ele riu, pegando as mãos dela. — Isso mesmo.

Sua expressão mudou completamente, e ela o encarou com a boca formando um pequeno “o”.

Se eu estivesse no lugar dela, será que entenderia essa informação pela metade? Ela deve estar por dentro de tudo, também.

— Quer saber os detalhes de mim ou dela? — Ele parecia contar uma piada.

Ela o olhou como se dissesse “que tipo de pergunta é essa?”.

— Vou pegar seu café, madame. — James deu de ombros, e entrou.

Lili me olhou, e depois sentou no lugar de James. — Ele se declarou pra você?

Balancei a cabeça, enquanto me servia de mais chá, evitando contato visual para não ficar vermelha.

— É meio a cara dele. Ele é tão sincero... Queria que Júlio seguisse o exemplo.

James voltou com o café com leite de Lili, entregou sua xícara e a enxotou do seu lugar. Ela se sentou na poltrona ao lado dele.


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