O Tempo aqui na amizade é inexistente.

Ele é sempre um só: nuvens finas dançando no céu, uma brisa gostosa e um sol morninho. Como se estivéssemos numa eterna primavera.

O humor também é único. E como diria a previsão do tempo, a Amizade está numa inquebrável chuva de sorrisos e gargalhadas, com chances de abraços quentes, calorosos.

Se fosse em qualquer outra época de minha vida, eu não teria entendido a piada. Não havia ambiguidade na Franqueza. Só conheço a palavra “metáfora” por ter lido algo assim na escola.

Mas veja onde me encontro agora: numa grande metáfora. Uma louca, estranha e irônica metáfora.

Enquanto caminho ao lado de Brian, minhas mãos suam. Elas estão entrelaçadas às dele, e mal acredito no que fazemos.

Brian sorri e finalmente entendo a metáfora do “tempo”.

Os segundos congelam comigo e Brian.

— Você foi trocada na maternidade, não foi?

— Por que acha isso? — pergunto, sem entendê-lo.

— Você transborda amizade. Os olhos, o sorriso, o cabelo. Tudo em você parece daqui. Como foi parar na Franqueza?

— Eu só nasci, Brian.

Meu então namorado dá uma risadinha.

Sentamos no chão, nos pomares. Ele coloca a cesta de piquenique bem na nossa frente. O cheiro de pão fresquinho e maçãs recém-colhidas me deixa contente.

Brian despeja vinho em duas taças e fazemos um brinde antes do primeiro gole. Isto é o suficiente para me trazer a boa sensação de estar apaixonada.

Poderia demorar horas, dias, meses. Eu não saberia dizer. Não saberia contar.

Talvez se passasse o tempo necessário para me adaptar àquela nova vida na sede da Amizade.

E mesmo assim, diria que aquele dia não teria acabado.

Ainda estaria com Brian no pomar, tomando vinho e contando piadas cheias de metáforas.

Ele diria:

— Linda como uma margarida.

Eu responderia:

— Gentil como um beija-flor.