Best Mistake escrita por SundaeCaramelo


Capítulo 1
Um - Deixá-la ir


Notas iniciais do capítulo

Esse primeiro capítulo é meio que da visão do Remus. A música do título está em um hiperlink aí no começo.
Espero que gostem!



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"Você só sabe que a ama quando a deixa ir." - Let Her Go (Passenger)

                02:30 a.m. Da última vez que consultara o relógio eram 02:27. E ele podia jurar que quando mirasse aquele visor de novo, já seria de manhã. Com a descoberta daquele equívoco, Remus não sabia se devia se alegrar ou se desesperar.

                Por um lado, significava que ele ainda tinha uma noite inteira pela frente. O sono tinha bastante tempo para chegar e dominá-lo por completo, finalmente.

                Por outro, no dia seguinte não haveria motivo algum para ser esperado com ansiedade. Seria apenas mais um dia como qualquer outro, um dia morto, mais um dia longe dela, a menos que decidisse entregar-se afinal ao seu desejo gigantesco de voltar para Tonks e tê-la em seus braços novamente.

                Contudo, essa hipótese não poderia sequer ser cogitada. Ele precisava ser firme. A amava, não amava? E devido à isso, devia optar pelo que garantiria a felicidade dela. Já a havia causado problemas suficientes. 

                  A pior coisa, sem dúvida, era saber que por mais que tudo que ele estivesse fazendo fosse buscando zelar por ela, tinha certeza de que estava fazendo-a sofrer.

                Se não tivessem ficado juntos, se não tivesse correspondido ao sentimentos dela, se tivesse sido mais firme em sua relutância inicial... nada disso teria acontecido, ela não teria ficado magoada, ele não teria lhe causado mal algum. Só que, bom, acontecera, e agora não era possível reverter a situação. Ele amava loucamente Nymphadora Tonks. Casara com ela e faria dela mãe. Mãe de um... monstro.

                Que péssimo homem  ele fora. Inconsequente, burro, pensara apenas em si mesmo. Como pudera se dar ao luxo de ficar com uma pessoa como Tonks, imaginando que a felicidade poderia ser alcançada por alguém como ele? Fora cego e acabara destruindo a vida de sua mulher e seu próprio filho, que ainda nem nascera.

                Apenas pensar naquela criança já fazia com que uma onda de culpa insuportável o invadisse. Passara para um bebê inocente a sua maldição, seu flagelo eterno; tinha certeza. Fora o pior pai do mundo, condenara seu próprio filho a se tornar um lobisomem. Sofreria como ele sofria todos os dias por causa daquilo. Ah, ele jamais seria capaz de se perdoar.

                E se por um milagre tudo desse certo, ele seria uma vergonha para seu filho e isso ele nunca conseguiria suportar.

                Por causa disso tudo, a decisão que tomou lhe pareceu a mais certa: fugir. Deixar Tonks viver sua vida em paz, ser feliz sem ele, que jurara amá-la mas não foi capaz de evitar o prejuízo dela, apesar de todo esse amor. E ele voltaria a sua vida solitária e aceitaria o fardo que lhe fora destinado, sem nunca mais se meter no caminho de ninguém.  Era o melhor a ser feito, o mais justo, pelo bem comum. Estava plenamente certo disso no momento em que saíra por aquela porta naquele fatídico dia e permanecera com esse mesmo pensamento enfurnado no cérebro durante todo o tempo que passara afastado da metamorfomaga desde então, servindo como um incentivo para que continuasse com esse plano todas as vezes em que a saudade, tortura cruel, quase o sabotava.

                Mas então, porque agora lá estava ele, no meio da madrugada, refletindo sobre o grande porquê de estar fazendo tudo aquilo? O que Harry dissera, embora o tivesse deixado extremamente irritado num primeiro momento, agora o perturbava loucamente. Fazia com que ele se sentisse, como o próprio garoto dissera, um covarde.

                Harry tornara-se orfão de pai e mãe por culpa do destino. Nenhum dos dois havia escolhido deixá-lo. James decidira assumir aquela criança, por mais imaturo que seu temperamento fosse. Decidiu ser pai e só foi impedido de realizar tal tarefa porque a vida lhe fora arrancada muito precocemente.

                Remus recebia no presente a mesma tarefa. E recusava-a com veemência, por ser evidente, na sua concepção, que seria o melhor para seu filho crescer sem tê-lo como pai. Mas será que isto era tão evidente assim? Será mesmo que uma criança preferiria perder a presença por um motivo que talvez jamais compreendesse?

                E se realmente Tonks desse a luz a um lobisomem... passariam por tudo sozinhos?  Deixaria a moça enfrentar a mesma exclusão, o mesmo sofrimento que o próprio Remus vira a mãe enfrentar durante todos aqueles anos? Deixaria que o pobre garoto enfrentasse  as noites dolorosas e solitárias de transformação, a exclusão, o medo, a culpa... tudo que ele sempre sentira desde sempre por causa daquela condição, completamente sozinho?

                Todos esses pensamentos, essas perguntas, passeavam de forma incessante por sua mente cansada, trazendo-lhe a insônia. Mais uma.

                Desde que a deixara, noites muito mal dormidas eram frequentes. Não havia um dia sequer em que não refletisse sobre o que estava fazendo, ou que não sentisse falta dela. Às vezes, a saudade era tanta que parecia impedi-lo de respirar. Estar longe de Tonks doía. E de forma dilacerante.

                E essa dor, aliada ao fato de Harry ter conseguido fazer com que ele enxergasse aquele outro lado da moeda eram ótimos motivos para voltar. Mas uma pequena parte sua ainda confiava nas suas ideias iniciais, e isso tornava-o completamente confuso. 

                Que seria melhor, afinal, fazer?

                Levantou. Iria sair para esfriar a cabeça. Sabia que havia, na rua trouxa em que a entrada do Caldeirão Furado ficava, uma lojinha de conveniência que permanecia aberta por 24 horas. Talvez comprasse um chocolate. Sempre fora seu doce favorito. E dela também.

                Quando ela era pequena e Sirius ia visitá-la junto dos amigos, ele sempre se lembrava de levar um para agradá-la. E ela ficava radiante. Por causa dele. Ah... ok, talvez comprar um chocolate não fosse exatamente a melhor ideia para tentar esquecer aquele assunto por um tempo.

                Talvez nem sair fosse a melhor ideia. Em tempos como aqueles, qualquer coisa era perigosa, principalmente para um lobisomem, ainda que ele soubesse muito bem como se defender.

                Por fim, decidiu fazer a melhor coisa que poderia fazer para se distrair enquanto aguardava o sono vir (se é que ele viria), pretendendo deixar para pensar melhor em toda aquela história quando a manhã já tivesse chegado: decidiu que leria um livro.

                Isso, um livro. Sempre gostara de livros e eles sempre foram seus maiores companheiros, além dos Marotos, é claro.

                Pegou a varinha e utilizando um feitiço convocatório, tirou de dentro da mala um livro qualquer que tirara de cima da mesa da sala e jogara lá no dia em que se fora. Sequer sabia o título. Aliás, sequer sabia o porquê de ter pego aquele livro naquele momento, naquele dia. Apenas decidira pegá-lo, como se ele fosse ser útil alguma hora. Bom, essa hora talvez tivesse chegado.

                - Lumus - murmurou, iluminando o pequeno quarto com a luz fraca que irradiava da varinha.

                Ao ver a capa, descobriu que se tratava do livro que ele pensara ter perdido havia pelo menos umas três semanas, quando ainda morava com ela.

                Abriu o livro. Alguma coisa caiu sobre seu colo, logo em seguida. Segurou-a para ver o que era. E ao fazer isso, não conseguiu evitar que um sorriso fraco e derrotado tomasse lugar em seus lábios. Só podia ser brincadeira.

                - Tudo bem, eu vou ceder. - declarou para o nada, como se tivesse sido vencido por "ele".

                Não adiantava fugir. Seus pensamentos sempre seriam conduzidos ao mesmo lugar.

                Era uma fotografia. Tirada no dia do casamento deles, que não tinha ocorrido há muito tempo, inclusive. Mas como, COMO aquela foto fora parar lá? Antes que continuasse a questionar, notou algo que talvez explicasse esse fato:

                Havia um pequeno bilhete nela, escrito em uma caligrafia que ele conhecia muito bem. Destacou-o da foto e leu-o:

    Remus Lupin, você é o lerdo mais amável deste mundo! O livro não tinha sumido, você mesmo disse que ia emprestá-lo ao papai da última vez que veio aqui e acabou se esquecendo. Descobri isso ontem, quando o encontrei nas coisas do meu pai. Ele me disse que já leu e me autorizou a devolvê-lo, portanto, estou deixando-o aqui. Tem uma foto também que eu precisava te entregar. Olha como estamos lindos! Foi Ginny quem tirou, ela me mandou esses dias. Eu também tenho uma igual. Carregue sempre com você, quero que mostremos isso para nossos filhos um dia (sim, no plural, porque eu quero uma família bem grande!).

Bom, é isso.

PS: Poderia estar te dizendo isso pessoalmente, mas eu vou precisar sair daqui a menos de cinco minutos e você está no banho, então, tive que ir na base do bilhete mesmo.

Ah, quase me esqueci: Eu te amo.

Nymphadora Tonks Lupin (é tão legal poder escrever esse último sobrenome!)

                Sua primeira reação ao ler o bilhete foi rir. Podia ouvir a voz dela naquelas palavras. Na verdade, talvez fosse capaz até de captar as expressões que seu rosto tomara ao dizê-las. Releu-o mais umas duas ou três vezes (talvez bem mais que apenas duas ou três vezes a parte do "eu te amo"), apenas para ter a sensação agradável de que ela estava ali.

                Depois, decidiu pegar a foto. No momento em que o fez, tudo ao redor pareceu sumir. Seus olhos âmbar só conseguiam focar naquela foto. Pôs o livro e o bilhete de lado e dedicou-se a passar um bom tempo analisando a imagem que se mexia, percorrendo com o olhar cada mínimo detalhe e vendo os mesmos movimentos se repetindo dezenas e dezenas de vezes.

                Tonks sorria. Um sorriso meio riso, meio gargalhada que era radiante, lindo. Pouco, em toda a sua vida, Remus vira sorrisos tão verdadeiros quanto aquele. E o melhor era o fato de que aquele sorriso se dirigia a ele. Na verdade, a maior parte dos tais poucos sorrisos verdadeiros que já vira tinham sido dela, e geralmente, ela os dava na companhia dele.

                Os olhos escuros dela estavam cintilantes, brilhando intensamente. Tinham uma expressão calorosa e pareciam transmitir um amor tão forte que era quase pálpavel. Dirigido a ele.

                Seu rosto em formato de coração era emoldurado pelos cabelos curtos e espetados rosa chiclete, parcialmente cobertos por aquele véu de noiva que a senhora Weasley fizera questão que ela usasse. As mãos delicadas seguravam um pequeno buquê de violetas, colhidas no jardim dos Weasley.

                A cerimônia não fora nada espalhafatosa, contando com a companhia de poucas pessoas; apenas os amigos mais próximos e alguns familiares, tudo o mais simples possível, até porque, não podiam chamar atenção, com o Ministério se mostrando tão antilobisomens.

                Mesmo assim, toda a a figura dela parecia transbordar alegria, beleza, brilho. Como sempre. Nymphadora era o tipo de pessoa que tem a alma "colorida". E não era pelo fato de ser metamorfomaga, não, isso não tinha nada a ver. Era porque, ao menos na opinião de Lupin, ela conseguia "colorir" o dia de quem estava ao redor, apenas por aparecer. Essa era mais uma das coisas das quais ele sentia falta, também: ser "colorido" por ela.

                Por fim, depois de admirá-la ali pela maior parte do tempo, voltou o olhar para si mesmo na imagem. Surpreendeu-se ao notar que sua felicidade ali também parecia irradiar. Sabia que estava muito feliz naquele dia, mas não imaginava que aquilo ficaria tão óbvio.

                Ele também olhava para ela, com igual intensidade. Também sorria, um sorriso um pouco mais discreto que o dela, mas era impossível dizer que aquilo também não era um sorriso plenamente verdadeiro.

                Em suma, qualquer um que visse a foto chegaria logo a conclusão: Eles se amavam. Muito, muito mesmo.

                O próprio Remus chegou àquela conclusão. E isso foi o suficiente para que ele percebesse que estava cometendo um erro, provavelmente o maior de sua vida.

                Ela não se importava se ele era um lobisomem. Ela não se importava se ele podia trazer perigos a ela. Sempre fizera muita questão de deixar isso bem explícito.  Porque ela o amava. E ele também, mais do que já imaginara que podia amar. E  se ele a amava, por que deveria deixá-a, e não suportar tudo ao lado dela?

                 O amor deles era mais bonito do que ele jamais poderia sonhar para si mesmo.

                E esse amor... esse amor tinha dado frutos. Eles teriam um filho, Remus seria pai! E ele queria ser o melhor dos pais. Não importava como aquela criança nascesse, ele a amaria da mesma forma e sabia que Tonks também. E mesmo que passassem por todos os tipos de problema, aquele amor lhe parecia tão forte que o bruxo tinha certeza absoluta de que enfrentariam e superariam absolutamente tudo. Juntos.

                Quantas pessoas na face da Terra sonhavam com um amor como aquele? E quantas tinham a sorte de conseguir?

                Encontrar e amar uma pessoa como Tonks não era algo negativo, como ele pensara ser por muito tempo. Era quase uma benção.

                E ele não podia e nem iria deixá-la ir.


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Notas finais do capítulo

Então, gostaram? ^^
Ah, peço perdão se tiver algum erro de escrita, coerência ou qq coisa assim. Tem um tempo que terminei de ler a saga e posso não me lembrar de certas coisas, mesmo que eu tenha pesquisado. Peço que me avisem caso isso aconteça.
Bom, o próximo capítulo será meio q do ponto de vista da Tonks.
Até lá!
Beijos de caramelo!



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