Angel Melody escrita por Bruno hulliger


Capítulo 6
Música dos segredos




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  Por muito tempo ela havia se perguntado algo: “por que eu nasci?”, questão que nunca lhe foi respondida até então. E lá estava ela, servindo de brinquedinho para uma pessoa qualquer, que se divertia ao ver sua incapacidade. Sim, a vida nunca lhe foi justa; afinal, por que seria? Ela nasceu para atrapalhar a vida dos outros, não é? Talvez sim, talvez não, nunca se sabe o que o destino guarda para nós. Nesse caso, ao ver que Sophia corria perigo, um príncipe encantado surgiu da escuridão e devolveu a luz para ela. Ricardo, que estava a conversar com o diretor, foi o último a sair da escola e viu o que sua namorada estava fazendo.

  —Isabelle! — gritou. O corpo da garota estremeceu e se arrepiou. Ricardo era uma boa pessoa, mas podia ser irredutível quando visse alguém maltratando um inocente.

  —A... Amor...?! O que você está... Olha, não é o que parece! — Ela parou de balançar a cadeira de Melody, e a soltou no chão. O movimento foi tão pouco premeditado quanto calculado, o que fez da ação de alívio, um novo desespero para a infeliz Sophi. O aparelho desceu escadaria abaixo a toda velocidade; lembrando um pouco do incidente que levou a morte de Alice.

  Ricardo tentou, mas não pôde socorrê-la a tempo. Sophia caiu da cadeira, ao chegar à parte mais baixa, e bateu a cabeça no cimento. Tudo perdeu a cor. O mundo monocromático ficou ainda mais cinza que antes.

  — O que você fez!!! — gritou Ricardo, furioso e assustado ao mesmo tempo.

  — Desculpa... Eu não queria... — tentou se explicar Isabelle; ela estava realmente assustada, e seu corpo simplesmente se estatizou. Não havia mais ninguém andando pela escola ou passando pela rua, então apenas o casal chegou a ver o acidente. Bem, isso se a relação dos dois ainda prosseguir depois de tudo...

  Enquanto estava desacordada, Sophia teve um sonho: nele, ela estava na cadeira de rodas e em frente à sua irmã, Alice, que estava de costas para si. A cadeirante tentou se mover, mas as rodas da cadeira não saiam do lugar. Ela chamou por sua irmã, que se voltou para trás. Ao ver a caçula da família, Alice não se aguentou, queria abraçar Melody, então pediu para ela que se aproximasse. Mas ela não conseguia sair do lugar... Seu esforço para fazer qualquer movimento foi tanto que a menina caiu da cadeira de rodas. Suas frágeis pernas tentaram forçar um “engatinhamento” na direção da familiar, mas não puderam sequer sair do lugar.

  —Alice! Por favor... Ajude-me a levantar... Ponha-me na cadeira. — falou a garota caída. No sonho, a irmã simplesmente ignorou-a e começou a caminhar para longe. —Alice? Alice! Por favor... — suas frases eram forçadas em meio a berros e soluços.

  A frase “eu não consigo levantar!” encerrou o pesadelo, juntamente com o caminhar de desprezo da irmã, que parecia ignorar os berros da deficiente.

  A menina, ao presenciar tal sonho, acordou. Ela estava em um lugar desconhecido e ao seu redor, cerca de duas ou três pessoas (sua visão ainda estava se adaptando à luz, portanto não podia enxergar muito bem) — e após algum tempo, quando seus olhos já estavam mais bem acostumados, ela pôde perceber que sua cadeira de rodas jazia ao lado de si, aparentemente intacta. Aquilo parecia ser uma sala de hospital, o que faria muito sentido, já que todas as paredes e uniformes das pessoas ali presentes eram brancos. Uma terrível dor de cabeça lhe fazia gemer e se contorcer. Ao ver essa reação, uma mulher que estava observando deu-lhe algo de gosto horrível para beber.

  —Não se preocupe; isso é apenas um remédio para aliviar suas dores. — explicou a mulher.

  — É ruim... — disse a menina, com dificuldade. Um homem de vestes brancas, um possível médico, se intrometeu na conversa:

  —Estávamos preocupados com o seu estado... Você foi empurrada de uma escadaria? Que ato desumano de se fazer... — desabafou, alterando seu foco entre sua assistente e um celular apoiado numa mesa. — Mas a sua saúde permanece boa... Seus batimentos estão bons. Você está em perfeito estado! Mas ainda não posso lhe dar alta. Temos que fazer alguns exames e... Bem, não se preocupe... Você vai ficar boa.

  O médico dizia essas palavras como se augurasse algo. Melody ficou um pouco perturbada com o profissional, mas se negou a reclamar sobre isso.

  Algum tempo se passou desde esse diálogo entre médico e enferma. A menina, com seus olhos pequenos e curiosos, vasculhava algo interessante para se olhar; em vão. Todo aquele lugar era muito quieto, além de agonizante. Não há ninguém para conversar, nada para fazer e nem o que observar. “Pelo menos eu vou ficar aqui por pouco tempo”, pensava, otimista “Hm... Espero que Décio não esteja preocupado...”. Ele muito provavelmente já estaria bem distante de todo e qualquer contato com aquela cidade.

  Outro pensamento que lhe tomava a mente de vez em quando era: “quem será que me trouxe até aqui?” A resposta era fácil: Ricardo. Segundo o próprio doutor, ele ligou para o serviço de ambulância, mas todas estavam ocupadas no momento. Sabendo que lá havia um pequeno hospital próximo, ele pegou a garota em seus braços cuidadosamente e levou-a até o estabelecimento. Tal ação poderia acarretar uma lesão ainda maior, todavia não houve sequelas.

  Enfim, ela estava bem, e é isso que importa, não é? Não é...? Bom, algo de errado estava acontecendo no hospital... Graças à batida, os profissionais da área decidiram fazer nela inúmeros exames para comprovar que ela estava bem. Sua noção temporal já estava praticamente nula. “Será que fiquei desacordada por horas? Dias? Ou mais?”, questionava enquanto era analisada por radiografias e pelos olhares insatisfatórios daqueles “homens de branco”. Segundo a intuição de Melody algo, além dos possíveis machucados da queda, não estava certo. O que ela não sabia era: o que há de errado consigo? Pois os médicos ainda não lhe revelaram nada...”.  Seus pressentimentos eram quase como premonições, e todos eles possuíam pessimismo indiscutível. Ela estava certa daquilo, entretanto, se negava a aceitar sua própria teoria.

 


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