Angel Melody escrita por Bruno hulliger


Capítulo 1
Melodia do desespero


Notas iniciais do capítulo

Caso gostem da história, escrevam nos comentários para que eu me motive a continuar postando-a!
ESPERO QUE GOSTEM!!!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/698457/chapter/1

 

Para Sophia Melody a vida nunca significou “felicidade”. Ela, aos seus dezesseis anos de idade, nunca havia colocado os pés no chão para andar. Até porque, ela não conseguia; era paraplégica, e nunca soube como era o prazer de correr com os amigos, de andar por novos lugares, e de ser feliz. Coisas que ela nunca teve a oportunidade de experimentar.

  Por toda vida ela foi um estorvo para seus pais, que pagavam suas fisioterapias, que compraram sua cadeira de rodas e que sempre lhe tentavam proporcionar algo próximo à felicidade. Mas não era a mesma coisa... Era diferente... Eles tentavam — mesmo que indiretamente — forçá-la a sorrir, e não é assim que se faz uma pessoa feliz. Esse é um sentimento que surge por conta própria. Não se pode forçá-lo a aparecer. Mesmo nos shows de comédia, as gargalhadas das pessoas por fora não significam que estejam felizes por dentro...

  Ela sempre foi um estorvo... E seus pais morreram por sua culpa. Claro! De quem mais seria a culpa? Os dois estavam indo ao hospital, marcar uma nova consulta médica, quando foram assassinados de maneira cruel e sem chance de autodefesa. Dois projéteis de metal... Levaram a vida de duas pessoas. Como se quarenta anos não tivessem valido nada no final.  Quem os assassinou? Uma pessoa qualquer. Sophia não se importava com quem eram os assassinos, até porque, era inútil. Mesmo que ela os tivesse visto fazendo esse ato, quem lhe garantiria que a polícia iria encontrar os culpados? Ou culpadas... Quem sabe até fosse um “culpado”; uma mulher talvez? Ninguém sabe... Assim como também ninguém lhe garantiria o sucesso policial...

  A partir desse dia, a garota ficou sob os cuidados da irmã mais velha. Linda, alta, com um belo corpo e sempre de bom humor. Era a garota que qualquer homem desejaria com facilidade. Infelizmente, a condição de Sophia impediu que a irmã voltasse a se divertir com os amigos, impediu-a de fazer compras por muito tempo, impediu-a de viver como antes. A pobre garota necessitava de constantes cuidados, e a sua irmã sempre atendia a todos eles. Mas para isso, ela precisou se privar de seus próprios interesses para atender às necessidades da irmã.

  Com a morte dos pais, o dinheiro da casa despencou. Manutenção da cadeira de rodas, fisioterapia, remédios especiais (que eram super caros) são apenas exemplos do que Melody precisava para tentar ter uma vida normal; e isso obrigou sua irmã a procurar algum emprego de meio período. Mas deu tudo errado... Ela não achou nenhum emprego desse tipo, e isso a desesperou, pois as contas da casa começaram a aumentar descontroladamente -- já que antes, quem pagava as contas eram seus pais. Ela precisava de dinheiro urgentemente! Então, desesperada, abandonou os estudos para trabalhar em uma fábrica que estava oferecendo um ótimo salário. Só que isso fez com que (mais uma vez) Sophia se considerasse um estorvo, pois estava aos poucos, destruindo a vida da irmã, Alice.

  Um dia qualquer, as duas tinham ido a um supermercado qualquer que ficava numa esquina qualquer; este, ficava no topo de um alto morro, e a irmã de Melody sentia dificuldades para empurrar a cadeira de roda, uma vez que “educação física” nunca foi o seu “forte” na escola.  Realmente, afinal, uma garota tão linda como aquela jamais precisaria encostar suas mãos em um peso, e jamais precisaria fazer trabalhos braçais.

  Depois das compras, ambas começaram com a jornada de retorno. Alice carregava nas mãos uma sacola cheia de alimentos; e no colo da cadeirante, havia outras duas sacolas. Durante o percurso Sophia faz um comentário inesperado à irmã, que assobiava alguma música, distraída.

  “Alice...” falou, com sua voz meiga e gentil.

  “O que foi Sophi?”, essa era a maneira que a irmã costumava chamar a cadeirante.

  “Eu atrapalho sua vida...?”

  Essa pergunta foi de uma intensidade e tanto. Sim, ela atrapalhava, mas a irmã não queria dizer essas palavras cruéis a ela. Então, simplesmente respondeu:

  “É claro que não Sophi! De onde você tirou essa ideia maluca?”

  A menina permaneceu em silêncio, mas depois de pensar um pouco, perguntou:

  “Mas... Você é feliz?”

  “Sim. Sou muito feliz” respondeu, quase que instantaneamente.

  “E eu? Eu sou feliz...?”

  “Como assim Sophi? Você é quem tem que me dizer isso, não o contrário.”

  Houve outro instante de silêncio, até que Alice se lembrou que tinha esquecido uma sacola de compras no supermercado. Ela travou as rodas da cadeira e, correndo rumo ao estabelecimento, disse que voltaria logo.

  Melody permaneceu calada, apenas imaginando se ela era ou não um estorvo para a irmã. Mas, seus pensamentos foram interrompidos por um som estranho, similar ao barulho de algo se quebrando. A cadeira se moveu para frente, parou um pouco, mas depois continuou. As travas se quebraram e Sophia lá ia em direção à estrada, que estava muito movimentada naquele fim de tarde. Ela tentou gritar para sua irmã, mas uma agonia estranha a impediu de fazê-lo. Mas depois de certo esforço, ela conseguiu gritar, e o fez com toda a força de sua voz. Alice – que já estava próxima à entrada do mercado -- virou-se, e viu aquela cena horrível. Sua irmã, agonizando por ajuda e chorando de medo. Ela tentava, mas não conseguia parar o giro das rodas. Ela era fraca demais, e a rotação das rodas era rápida demais. Ao longe, uma caminhonete de luxo fazia uma curva em alta velocidade, e ao subir o morro, esta, se encontraria com Sophia e a lançaria no ar.

  Alice não teve tempo de pensar, então ela começou a correr, inconscientemente até a frágil irmã. De alguma forma, ela conseguiu se mover em velocidade suficiente para se aproximar da cadeira de rodas, mas seu esforço seria em vão, ela não conseguiria pará-la. E este pensamento a fez executar o inimaginável. Ela jogou seu corpo em direção à irmã, fazendo com que batesse na cadeira de rodas, e lançando-a para longe do carro, levando Sophia junto. Mas... Alice não teve tempo de fugir, nem de desviar do veículo, que mesmo com o esforço do motorista para frear, ainda mantinha alta velocidade. Ela somente teve tempo de falar: “tchau”, para a irmã...

  No chão, alimentos de todos os tipos e variedades que antes estavam nas sacolas, agora estavam caídos e formavam uma longa fileira colorida. Curiosos começaram a se reunir, e estes iam até Melody para ver o estrago do acidente... E lá eles encontravam, além de um carro com o capô amassado, uma garota, de dezoito anos, deitada no chão ensanguentado. E ao seu lado: uma garota, de dezesseis anos, caída; tentando se arrastar na direção do corpo da irmã; em vão, pois não tinha forças...

  Ela queria ter ouvido a voz de Alice mais uma vez. Queria ter sido chamada de Sophi mais uma vez. Queria que sua irmã tivesse tido uma vida melhor, sem ter que cuidar dela o tempo todo...

  Sophia nunca conheceu a felicidade. Mas ironicamente, ela se sentiria feliz de novo só por ter o prazer de ter sua irmã ao seu lado.

  No dia do enterro, uma forte tempestade castigava a cidade. O céu estava completamente escuro, exalando um ar pesado; o clima perfeito para a chamada “depressão”.

  Um homem bondoso segurava um guarda-chuva sobre a cabeça de Melody, para que ela não se molhasse. As flores que eram deixadas no túmulo por sua vez, não tinham tanta sorte, e estavam encharcadas.

  A todo o momento uma lágrima tentava sair dos olhos da cadeirante, mas essa custava a sair, pois parecia que caso ela chorasse acabaria sentindo uma dor ainda mais intensa, chamada “saudade”.

  Parentes e vizinhos rodeavam o túmulo, cabisbaixos. E de tempos em tempos começavam a se lamentar. Mas a tristeza no olhar de Sophia, em especial, era muito mais depressiva do que nas outras pessoas... A partir daquele dia, a garota sentiu que nunca mais teria a oportunidade e nem a capacidade de ser feliz...

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Angel Melody" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.