Já era manhã quando Tenten correu mais uma vez para vomitar seu desjejum. Sua cabeça girava, mal conseguia manter o que punha na barriga durante as manhãs. Seus tornozelos estavam levemente inchados, algo que parecia perfeitamente comum para todo o restante do seu corpo igualmente inchado.

Levantou a cabeça, seguindo para escovar os dentes quando ouviu a batida característica na porta do banheiro.

"Quando será que isso vai acabar, Sakura-san?", perguntou à moça que acabava de entrar no banheiro de sua casa.

"Quando o pequeno Hyuuga deixar o seu ventre, Ten-san.", respondeu, com um meio sorriso.

Lee havia começado a provar que cumpriria a promessa até o fim. Havia pedido a Sakura para acompanhar Tenten durante a gravidez: a garota agora era presença assídua em todas as manhãs depois de Tenten voltar de uma missão. As últimas de Rank A ou B que ela poderia fazer, pelo menos por um tempo.

"Você sabe que Tsunade-sama não é boba, Tenten.", começou Sakura, mais uma vez. Tenten já sabia o que ela ia dizer.

"Por isso eu preciso cumprir essas missões e juntar recursos para o meu filho enquanto eu puder.", respondeu Tenten.

Sakura suspirou. Tenten não cedia a nenhum argumento. Aquela conversa já estava sendo iniciada há pelo menos três semanas e a conclusão era sempre a mesma.

Quando Tenten estava saindo do banheiro, ouviu uma sequência de batidas ritmadas na porta do apartamento.

"Já vai, Lee!", gritou Tenten, indo até a porta. "Lee, eu achei que tivesse dito que só viria de tar...".

"Tenten-san.", interrompeu um homem que não era o Lee. Ele estava vestido com uma yukata (1) simples e o cabelo escuro descia liso pelos ombros, os olhos fitando a kunoichi com muita atenção. Olhos cor de pérola. Abaixo de um selo verde.

"Pois não?", respondeu Tenten, confusa.

"Trago uma mensagem do Clã Hyuuga.", e estendeu um pergaminho para a moça.

"Obrigada."

Sakura a observou ler o pergaminho com a testa franzida logo após o Hyuuga da Bouke (2) partir. Sua expressão só piorava a cada linha, os nós dos dedos que seguravam o pergaminho embranqueciam conforme ela aumentava a pressão sobre o papel.

"O que tem escrito?", perguntou.

Tenten respondeu com um sorriso triste e amargurado.

"Aqui diz... Que Hyuuga Hiashi solicita uma reunião comigo."

~*~

"Aquela garota tola!", bufou Tsunade, ao ouvir o rapaz terminar de falar.

"Ela está irredutível, Tsunade-sama. Disse que precisa prover o filho de alguma estabilidade."

A Hokage suspirou.

"Obrigada, Lee-san. Creio que terei de pôr alguma coisa naquela cabeça de vento. Dispensado."

E o ninja de verde saiu de sua sala rapidamente, seguindo para a outra missão a que havia sido designado.

Tsunade massageou as têmporas, nervosa. Era a segunda vez que o rapaz Rock Lee vinha lhe prestar relatório da situação de Hyuuga Tenten. A cada dia que passava, ela se arriscava mais - tanto a própria  vida quanto a de seu filho. Não podia deliberadamente evitar lhe dar missões de Rank mais elevado, pois ela era uma das kunoichis de elite de Konoha, mas essa situação já estava insustentável. As equipes não podiam ser apoiadas ou lideradas por uma gestante. Não era prudente.

Tsunade suspirou outra vez e estava abrindo um pergaminho em branco quando ouviu algumas batidas em sua porta.

"Entre!".

A porta foi delicadamente aberta quando a figura doce entrou na sala da Godaime. Os olhos cor de pérola fixavam-na com um misto de tristeza e determinação.

Hyuuga Hinata.

"Tsunade-sama. Há algo muito importante que eu preciso tratar com a senhora."

~*~

"Você vai, Tenten?"

Os olhos esmeralda fitavam-na preocupados. Tenten mexeu-se desconfortável, causando um pouco de dor em suas pernas cheias de escoriações e de hematomas da última missão, tentando recuperar a calma. Olhou novamente para o pergaminho em suas mãos. Aquilo não era nenhum pedido gentil.

Era uma ordem.

"E eu tenho alguma escolha, Sakura-san?"

~*~

"Eles já sabem, Tsunade-sama. Desde o funeral de Neji-nii-san eles sabem."

A Hokage suspirou.

"Eu imaginei. Alguém realmente precisa falar com aquela tola. Ela não consegue nem imaginar aonde estão indo as consequências de seus atos."

"Isso", interrompeu Hinata, "é exatamente o que eles querem fazer.". Seu rosto estava aflito.

Tsunade olhou para a Hyuuga, sem entender. A garota estava olhando para baixo e girando os polegares outra vez. Mau sinal.

"Não compreendo."

"Eles querem conversar com ela, Hokage-sama. E mais que isso", disse, com o fôlego quase lhe faltando, "eles querem que ela abra mão da criação do herdeiro do maior gênio que os Hyuuga já tiveram em muitas gerações."

E o murro de Tsunade na mesa ecoou pelas paredes da sala, a rachadura fazendo com que a madeira se partisse ao meio.