Back to New Orleans escrita por America Jackson Potter


Capítulo 5
V




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Passei semanas na casa de Mary. Foi até legal, pois Jô e Lize puderam saber qual seria o limite de seus poderes. E achar esse tal limite delas foi, basicamente, faze-las absorver quase todos os lobos restantes da matilha dos Crescentes. Não absorver ao ponto de matar, mas deixa-los um pouco mais fraco que o normal.

— O que querem fazer? — Lize perguntou. Nós três estávamos deitadas na grama do jardim de Mary, como três adolescentes normais em um sábado normal.

— Adoraria ver a cidade. — falei me levando. — Não vai haver nenhum perigo.

— Acho que pode ser. — Jô falou dando de ombros. — Mas temos que esperar Hayley e Mary voltar.

— Onde elas foram mesmo? — a loira perguntou.

— Parece que uma jovem ativou a maldição, as duas estão preparando tudo para ficar tudo bem. — Jô explicou depois se virou para mim. — É difícil a primeira transformação?

— Não... sei. — completei por fim. Era meio vergonhoso ter que admitir isso, afinal, nesse estante, eu era apenas uma bruxa com muito poder. — Acho que eu já falei para vocês que nunca usei meu poder para machucar alguém.

— Então você é apenas uma bruxa agora? E depois que matar alguém vai ser uma bruxa metade lobisomem? E assim que você morrer, vai se tornar bruxa metade lobisomem metade vampira? — Lize falou fascinada.

— Bem, acho que sim. — sorri. Ficamos ali encarando umas as outras e a floresta ao nosso redor, até que o som do telefone de Lize preencheu o vazio. A loira se levantou e foi atender.

— Deve ser mamãe. — Jô falou vendo a irmã sair para longe. — Ela sempre liga depois que saímos.

— Mãe coruja? — perguntei.

— Não... — ela respondeu dando de ombros. — É mais preocupação. Nada contra você ou sua mãe, mas sua mãe já tentou matar a minha e ainda não confia muito na sua família.

— Ah. — suspirei alto. — Acho que você não é a primeira que fala isso. Quase todo mundo que encontramos diz isso. De não confiar na nossa família.

— Tia Bonnie diz que não devemos confiar muito em vocês. — Jô afirma sem mudar a postura. — Pelo o que eu posso ver, você não se parece muito com sua família.

— Como assim?

— Bem, acho que você não daria as costas para aqueles que não têm o sobrenome Mikaelson.

— Nunca tive amigos para dar as costas. — falei antes que a morena falasse mais alguma coisa. — Sei que minha família fez várias coisas para a sua, acho que já disse isso, mas eu não vou fazer as mesmas coisas com vocês duas.

— Promete então que não vai nos dar as costas? — o olhar dela brilhou e eu apenas balancei a cabeça.

— Se vocês duas não me apunhalarem. — nós duas rimos, mas alguma mexeu com Jô, pude senti-la nervosa com isso. Não dei tanta importância.

Lize logo chegou com o telefone para Jô ir atender. A morena foi bem mais rápida do que a irmã, não demorou muito no telefone.

— Mamãe mandou um oi para você. — Jô falou com um sorriso entregando o telefone a irmã e voltou a deitar na grama.

Ficamos em um longo silêncio, podendo ouvir o som dos pássaros. Nenhuma parecia querer comentar alguma coisa ou simplesmente se mover. Os sons da natureza pareciam ser bem melhores do que uma conversa.

— Vão ficar largadas ai a tarde toda? — a maldita voz de Pietro quebrou os sons da natureza.

— Talvez. — respondi fechando os olhos para poder sentir o sol contra minha cara. — Te incomoda?

— Talvez. — ele respondeu. — Se não tiverem nada para fazer, eu e meu irmão vamos à cidade, se quiserem ir.

— Você tem um irmão? — Lize perguntou. Um dos pontos da minha conversa com Pietro outro dia foi esse: irmãos. Eu até gostaria de ter essa experiência de ter alguém para eu cuidar e ele cuidar de mim, mas Pietro falou com toda a certeza do mundo que não queria ter mais nenhum irmão.

— Charlie. — ele respondeu como se fosse obvio. — Tem oito anos e é uma peste.

— O que vai fazer lá? — perguntei me levanto e o encarando.

— Nada de mais, apenas passear. — ele deu de ombros. — Os sábados aqui são tediosos. Esperava que vocês já tivessem notado, afinal estão aqui há três semanas.

— Nas ultimas semanas estávamos ocupadas tentando saber o quanto podemos absorver. — Jô retrucou.

— Ah, esqueci que vocês são esponjas de magias. — Pietro riu. Apenas o encarei, não iria falar nada a respeito sobre esse assunto.

— Não sei se quero conhecer a cidade com você... e nem sei se posso. — falei ainda encarando ele.

— Posso não ser o guia turístico perfeito, mas eu sirvo. — ele se sentou na grama conosco. — E se sua mãe não deixar, foge.

— Ah, claro, e colocar a minha vida e a de vocês em perigo? — ele apenas deu de ombros. — Pensei que você não queria estar na listinha.

— Eu só pensei que, já que é o “ser mais poderoso” podia se cuidar sozinha. — ele deu uma última encarada e se levantou. — Se quiserem ir, vou daqui a vinte minutos.

Ele saiu andando calmamente em direção a sua casa. Lize e Jô se entreolharam e depois olharam para mim:

— Você vai com ele? — perguntaram unidas. — A gente pode ir?

— Não vou, não quero desafiar a minha mãe. — deitei na grama e olhei para o céu.

— Vamos, Hope. — Lize me cutucou. — Sua mãe não vai te matar. E além do mais, você está encoberta!

— Não sei... — me levantei e olhei para Jô — Você quer ir?

— Bem, é melhor do que esperar sua mãe voltar sem fazer nada. — Jô sorriu. — Não vamos fazer nada de errado, é só um passeio com Pietro e o irmãozinho dele!

— Bem, pelo que Pietro falou, Charlie deixa qualquer um de cabelo em pé. — falei rindo. — E você não deveria ser a certinha que não faz nada de errado?

— Bem, essa sou mais eu. — Lize falou.

— Não vamos discutir isso. — Jô cutucou a irmã. — Vamos ou não?

— Se vocês querem tanto conhecer a cidade, tudo bem. — as duas ficaram animadas. — Mas por uma condição: vamos depois a uma cidade aqui perto.

— E por quê? — as duas perguntaram unidas.

— Bem, preciso saber como está o meu lar de sete meses. — dei um sorriso. — É só dar uma olhadinha na rua em que morei só isso.

— Tudo bem, vamos. — Jô se levantou e logo depois Lize. — Preciso pegar um casaco.

— Não demore. — Lize gritou.

Passaram uns cinco minutos e nós três fomos em direção à casa de Pietro. Ela não era muito diferente da de Mary, a não ser pelo fato que ela era bem maior. Bati na porta aguardando alguém abrir.

— Uau, as certinhas vão fugir agora? — a porta se abriu e Pietro saiu dela. — Então vocês vão mesmo?

— Claro, por que não? — Lize falou com um sorriso largo.

— Ok, então. — Pietro entrou na casa e saiu com uma miniatura dele. — Garotas, este é o Charlie, o diabo em pessoa.

Charlie deu um sorriso muito fofo e acenou para nós. Ao contrário do irmão, seus olhos tinham um tom incrível de mel. Tirando isso, Charlie era muito parecido com Pietro, dava um pouco de medo.

— Você parece ser um fofo. — Jô se abaixou, ficando da mesma altura que o pequeno.

— Diz isso por não conviver com ele. — Pietro reclamou e fechou a porta. — Vamos logo antes que alguém sinta nossa falta.

— Espera, como assim? — arregalei os olhos.

— Acham que são as únicas que vão fugir? — Pietro riu e pegou o irmão pela mão e foram em direção ao carro.

— Meu Deus, Pietro, por quê?

— Bem... assim é mais divertido. — ele abriu a caminhonete. Charlie pulou para o bando de trás e ficou no meio, ficando entre Jô e Lize. Pietro abriu a porta para mim e eu o encarei sem entrar. — Vamos Hope, não emburre assim.

— Se ninguém sabe que vamos sair, proponho uma condição.

— Qualquer coisa para você entrar e ir conosco. — ele sorriu fraco.

— Me leve a uma cidade aqui perto.

— Vai querer visitar alguém em especial?

— Relembrar do meu lar mais longo, seria o que eu realmente quero fazer lá. — continuei encarando. O mais velho olhou para os três no banco de trás e depois passou às mãos no cabelo.

— Entra então. — dei um sorriso e entrei. Fechei a porta e coloquei o sinto. — Mas se alguma coisa acontecer conosco, você é a culpada.

— Entendido, capitão. — sorri.

...

Tivemos uma tarde tranquila, onde as garotas e eu ficamos encantadas com toda a cidade e Charlie não aparava de encher a paciência de Pietro. Ou seja, uma tarde perfeita!

— A cidade é bem bonita. — Jô falou passando as mãos pelos fios loiros de Charlie. O pequeno estava dormindo, não o culpo, afinal andamos por toda a cidade e ainda iriamos dar uma passadinha em outra.

— É mesmo. — Lize falou encarando as árvores da estrada.

— Não viram o por do sol em cima do meu telhado então. — Pietro comentou. Ele diria um pouco mais rápido que mamãe. — Pega meu celular, Hope. — ele indicou para o porta-luvas. Peguei o celular e desbloqueei. A foto de fundo era ele com uma mulher um pouco mais velha, deduzi que fosse sua mãe.

— Nenhuma notificação, se era isso que queria. — ele suspirou e continuou de olho na estrada.

— É a minha tia Maggie. — ele falou. Ele tinha percebido que eu encarava sua tela de bloqueio. — Ela era irmã do meu pai.

— Era? — não consegui me segurar.

— Bem, ela morreu ano passado. — ele sussurrou de modo para que apenas eu escutasse. Soltei um suspiro e antes de falar alguma coisa, ele continuou. — Não lamente, por favor. Tia M foi o mais próximo que Charlie teve de uma mãe.

— Por quê?

— Quando Charlie nasceu minha mãe nos deixou. Meu pai ficou muito ruim e só piorou. — ele falou olhando para a estrada, mas dava para sentir que aquilo o abalava, e muito. —             Parece que retirar o veneno dos lobos faz com que eles não possam mais fazer nada, só vegetar.

— Mas minha mãe os curou...

— Não teve o mesmo efeito. Hope, meu pai não se transforma mais em lobisomem depois do que aconteceu há 18 anos.

— Desculpe.

— Falei para não se lamentar. — Pietro olhou para mim. — Mas ele continua sendo o Alpha, não sei como. — e voltou a olhar para a estrada. Passamos de uma placa, onde dizia que nosso destino estava ficando perto.

Olhei para trás e percebi os três haviam dormido.

— Você iria comigo até New Orleans?

— O quê?

— Isso mesmo, Pietro. — olhei para a estrada. — Você iria comigo para New Orleans?

— E por que essa pergunta? — ele procurou meus olhos.

— Porque eu preciso de um lobo das sete matilhas. — respondi o encarando. Virei-me para a estrada e dei um grito, Pietro freou a caminhonete rápido. Ouvi Jô perguntar o que havia acontecido e Lize acordar em um susto.

— Você viu aquilo? — Pietro perguntou tirando o sinto e foi para a estrada. Pedi para as duas ficarem no carro e gritar se virem qualquer coisa e segui Pietro. — Era melhor você ter ficado.

— Desculpe, mas eu vi também o vulto. — respondi. Olhei em volta e não vi nada. — Bem, parece que já foi embora.

— Vamos logo para você ver a sua cidade querida. — ele andou para o carro.

— Me responde. Por favor. — o puxei antes que ele entrasse no carro. Ele abriu a boca para falar alguma coisa, mas a fechou. — Entendi, não quer acabar como seu pai... — o soltei e fui entrar no carro, mas Pietro gritou, gritou de dor. Corri logo para vê-lo, assim como Lize, Jô e Charlie.

— O que está acontecendo? — Charlie perguntou, coçando os olhos, depois de sair do carro. Pietro estava encostado no carro com o nariz sangrando.

— Meu Deus. — comecei a entrar em pânico. Observei ao redor e vi ao longe o vulto se aproximando. — Ele é um bruxo...

Quanto mais o vulto se aproximava, mais Pietro sangrava.

— Pare com isso! — gritei ao vento. — Ele não te fez nada!

O vulto se aproximou e pude perceber que ele, na verdade era ela. Uma bruxa jovem e loira murmurava algo parecido com “Phesmatos em superous animi”.

Lize chegou perto de mim.

— Temos que fazer isso parar. — estendi meu braço para que absorvesse um pouco da minha magia, quando ela fez isso se virou para Pietro e sussurrou: — Asc’inta Mulaf Hinto!

Pietro parou de gemer de dor, mas seu nariz ainda sangrava.

— Alguém faça alguma coisa! — Charlie começou a chorar e Jô o abraçou.

— Calma, sabemos o que estamos fazendo. — Jô falou tentando soar confiante. Charlie a abraçou com força.

Por um momento, o nariz de Pietro parou de sangrar. Fiquei aliviada e com o peso na consciência: havia acontecido alguma coisa conosco, e eu era a culpada. No momento seguinte, meu nariz começou a sangrar e comecei a sentir fortes dores.

Cai de joelhos no chão gritando. Não conseguia ouvir mais nada além do meu grito. Não conseguia ver mais nada além da bruxa que ia me aproximando. Senti duas mãos no meu ombro, mas eu não consegui fazer nada. O sangue começou a aumentar e minha concentração na bruxa também.

Faça a sofrer também. — uma mulher morena apareceu atrás dela. — Você consegue, Hope. Você é poderosa para fazê-la sofrer. Você é uma Mikaelson, o legado da família. Se você morrer, a esperança da família reunida morre. Você conhece o feitiço. Use-o.

A mulher parecia alguém que eu conhecia. Lembrava-me minha avó, mas ela não era a versão bem mais velha de Rebeka. Era alguém mais forte que minha avó.

Dahlia. O nome veio como um raio na minha mente. Não sei se ela era, mas por que Dahlia queria me ajudar? Não me importei com isso, me importei com o que ela tinha dito.

Meus olhos começaram a pesar, não tinha muito tempo. Parei de gritar e tentei me levantar, mas a dor era muita. Levantei a mão em direção à bruxa loira e gritei:

Le Specto tre colo ves bestia. — agora era ela que gritava. Quando ela caiu de joelhos, consegui me erguer e falei mais uma vez: — Le Specto tre colo ves bestia.

O coração da bruxa saiu voando para minha mão. O soltei no asfalto e o corpo da garota caiu no chão morto.

— Precisamos voltar... — sussurrei antes de cair para trás. Sentia-me fraca. Muito fraca.

— Calma. — Pietro me segurou. — Vai ficar tudo bem...

— Você se machucou, eu me machuquei e ainda eu matei alguém. — disse num sopro.

— Alto-defesa.

— Minha maldição vai ser ativada... — e fechei os olhos. Senti Pietro me pegar no colo e me deitar no banco de trás. Demorou muito para ele dar a partida e ir de volta para a Great Falls. Acho que ele colocou o corpo da bruxa na carroceria.

— Chegamos. — abri meus olhos e vi o por do sol se iniciar. Olhei em volta e não parecia com a casa de Mary ou de Pietro. — Te prometi que te levaria até aqui.

Pietro estendeu a mão e eu me levantei do banco. Percebi que seu rosto já estava limpo e o meu também.

— Deveria ter me levado de volta para casa. — respondi o fitando. — Eu ativei minha maldição e você me trás aqui? E cadê as garotas e seu irmão?

— Estão indo para casa, liguei para meu tio e ele buscou os três e o corpo da bruxa. — ele falou. — É provável que eles já tenham chegado.

Meu celular tocou e o de Pietro também. Era minha mãe.

— Preciso atender...

— Não, Hope, não atenda. — Pietro pegou meu telefone e desligou.

— Por que fez isso? Se me odeia, poderia muito bem ter falado isso! — comecei a gritar.

— Ei. — ele segurou meus ombros e me encarou. — Posso ter um leve ódio sobre você, mas isso não importa agora. Você me ajudou e agora eu vou te ajudar.

— Iria ajudar muito mais se me levasse para minha mãe. — resmunguei.

— Ela já deve estar vindo. Hayley é esperta e já colou uma das suas amigas para te rastrear. — ele deslizou as mãos por meus braços.

— Ainda não entendi como vai me ajudar. — o encarei. Seus olhos pareciam cansados, não havia alegrias neles.

— É costume todo Alpha da matilha conversar sobre o que vai acontecer daqui para frente. — ele falou com sinceridade. — Não sou um Alpha e nem da sua matilha, mas lobos se ajudam.

“Sei com certeza que sua mãe gostaria de te falar isso, mas ela não vai chegar a tempo. Então, posso ter a conversa com você, claro se quiser.

Você não vai esquecer isso nunca, sempre vai lembrar-se da cena do coração da bruxa voando para sua mão, vai sentir ódio de si mesma por ter feito isso, mas isso acontece com todo mundo. Quando ativei a maldição, meu pai me ajudou com isso tudo. Minha primeira Lua Cheia foi terrível. E vai ser assim com você. Você pode ser uma Mikaelson, mas vai sentir dor com essa transformação, vai ficar com peso na consciência de ter matado alguém.”

Fiquei escutando as palavras dele em silêncio. Quando terminou, o abracei por impulso.

— Obrigada. — sussurrei no seu ombro.

— De nada, lobinha. — ele retribuiu o abraço. — Agora vamos, precisamos achar algum lugar para você enterrar isso daqui e ter certeza que não mate mais ninguém. — ele foi até a caminhonete e tirou o coração da bruxa enrolado em um pano.

— Acho que vamos precisar de sal... talvez isso me segure. — suspirei alto. Olhei para a rua onde eu passei sete messes. Aquela rua seria a última coisa alegre que eu veria antes da transformação.


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