Mistakes escrita por Luc


Capítulo 10
Capítulo 10 - Enfrentando Os Erros




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Intenso, amarelado, saudável, harmônico e caloroso. Esse era o sol de uma manhã perfeita para uma boa prática de exercícios físicos. Max estava sem camisa, usando só uma bermuda folgada bem confortável, e visivelmente animado para jogar bola, já Nicolas, que demonstrou seu cansaço e falta de energia nos primeiros minutos de brincadeira, afinal, é um legítimo sedentário, que trocaria qualquer atividade física por outros tipos de exercícios, que fossem ficar parado, de preferência, ou apenas assistindo televisão, mas nada como uma boa insistência do namorado para se deixar levar e aproveitar a imensidão do gramado para. Foi divertido para Max ver o jornalista se aventurar no futebol. Nicolas não leva o menor jeito para esportes, e apesar do esforço em tentar parecer menos desastroso do que realmente é, suas tentativas foram em vão. Muitas gargalhadas, brincadeiras e gozações de Max marcaram a manhã do casal.  

            - Você não leva o menor jeito, cara...

            - Eu te disse. Você que insistiu. – Sentou no gramado. – Eu não aguento mais. – Respiração ofegante. – Isso é humilhante demais pra mim.

Risos.

            - Fica aí. Vou pegar água pra gente.

Na cozinha, Max pegou a garrafa d’água e optou por beber no gargalho, hábito que carrega desde os dez anos. Logo teve a atenção do celular que tocou ao receber inúmeras mensagens constantes, todas de Christian, que estava desesperado para entrar em contato. Max estranhou, pensou em não lê-las, mas acabou cedendo a curiosidade. Sua reação foi apenas arregalar os olhos quando leu “Seu irmão contou tudo pra polícia. Você precisava voltar, agora!” Imediatamente Max tentou ligar para Christian e encontrou dificuldades com a falta de sinal, rodou toda a cozinha a procura de conexão até que foi na sala, onde lá a localização era melhor e finalmente conseguiu efetuar a ligação.

            - Christian, o que está acontecendo?

            - É cara, o Eric contou para polícia. Ele me mandou uma mensagem hoje pedindo para te avisar... – Christian estava no corredor, usando um tom baixo para falar enquanto Adam dormia no quarto ao lado.

            - Caralho, cara! Eu não sei o que fazer... Eu... – Gaguejou. Desespero. Medo. Ansiedade.

            - Max, relaxa, cara. Eu estou contigo. Conta a verdade. Nós vamos enfrentar isso tudo e te garanto que sua vida vai melhorar. Eu vou conseguir um advogado pra você. Chegou a hora, cara.

            - Eu acho que... – Olhou através da janela e viu Nicolas admirando o céu a sua espera. – Eu vou perder tudo... – As palavras se encontravam com um homem que renegava sentimentos, ao novo homem que aceitou quem realmente é.

Os olhos de Max estavam cheios d’água. Diferente de todas as vezes que controlou suas emoções diante do jornalista, dessa vez não havia nenhuma alternativa a não ser contar a verdade. Dominar seus sentimentos parecia ser tão impossível que Max sentiu como se tudo estivesse em câmera lenta; o descontrole das batidas de seu coração, os movimentos de suas mãos trêmulas, o sútil gosto amargo na boca... Ele poderia estar a um passo de perder o homem da sua vida. 

            - Acho que vou tomar banho. Sem esforço físico por hoje. – Nicolas chegou. – Que foi? Aconteceu alguma coisa? – Perguntou ao ver Max um tanto pálido.

O mundo de Max parou por alguns minutos.

            - A gente precisa conversar. – Disse num tom tão agoniante ao ponto da voz quase não sair.  

Na delegacia, Lydia não poderia estar mais realizada por ter conseguido capturar Eric de uma vez por todas. A confissão do bandido a deixou surpresa, mas pouco se importou pelos motivos que o levaram a tal ato, o mais importante era que ele estava preso e agora ela precisava saber quem era o outro rapaz acompanhado dele no dia em que Caleb foi baleado.

            - Quem estava com você naquela noite. Eu preciso de nomes. Era seu irmão? Algum amigo seu? Você precisa cooperar, ou vai pegar mais anos de cadeia. – Intimidou.

            - Eu estou falando por mim. Eu assaltei aquele mercado. Não faço a menor ideia de quem era o outro cara.

Eric estava nervoso, mas como um bom mentiroso, não deixou que transparecesse. Estava sendo responsável pelos seus atos e deixou que seu irmão decidisse os seus.

            - Quem estava com você? – Confrontou fitando com olhares. – Eric, você não tem nada a perder. Quem estava com você? Diga!

            - Vou deixar você fazer seu trabalho de delegada. – Rebateu num tom sarcástico.

Lydia poderia perder a paciência a qualquer momento, mas era preciso jogar o jogo de Eric se quisesse obter informações.

Apenas de cueca, Christian estava sentado no sofá da sala enquanto tentava fazer algumas ligações para firmas de advocacia indicadas por um colega do exército. Já havia feito três ligações, porém os preços exuberantes para representar seu amigo num possível julgamento estavam fora de seu orçamento. Foram muitas tentativas, muitas insistências e incontáveis “nãos” quando falava sobre o preço que poderia pagar, até que chegou a hora de ligar para o último dos números indicados. Christian conseguiu falar com um senhor de sessenta anos, que se nomeou como Gerald. Assim como os outros advogados, Gerald chegou a não querer assumir o caso, mas acabou se sensibilizando com a história de Max e Nicolas e o romance que os acompanham. Gerald pediu que Christian levasse seu amigo até o escritório para que pudessem conversar claramente sobre o ocorrido, mas Chris explicou que tudo estava muito confuso e que provavelmente o único lugar para falar com Max seria a delegacia.

            - Bom Dia. – Adam chegou na sala. – Porque acordou tão cedo? Aconteceu alguma coisa ou é a ressaca? – Sentou-se no sofá ao lado, envolveu suas pernas nas de Christian.

            - Preciso te contar uma parada... – Coçou a cabeça demonstrando nervosismo.

Adam, que estava com os olhos fechados, ainda sonolento, logo deu atenção ao ficante.

“Com palavras eu posso transmitir melhor a imagem do homem que eu devia ser para você, mas a verdade é que eu não sei nem por onde começar [...] Eu sabia que você era especial no exato momento em que eu te vi. Tudo que eu consigo ver quando estou contigo é diferente do que eu costumava enxergar sozinho. Eu controlei meus sentimentos durante todos os anos da minha vida até você aparecer. Foi um erro ter deixado. Meu primeiro erro foi ter perdido o controle justamente com você. É como se... se fosse pra ser, sabe? É tão confuso, porque eu simplesmente não consegui tirar você da cabeça. Seu rosto ficou me assombrando desde a primeira vez que eu olhei nos seus olhos... Quando eu vi, já estava apaixonado [...]”

Palavras de algumas partes da extensa carta que Max preparou antes da viagem para entregar a Nicolas quando contasse a verdade. As palavras perambulavam por sua mente, mas nada saia da sua boca. O plano era entrega-la, mas na prática era bem mais complexo.

            - O que aconteceu? Eu não estou entendendo. – Nicolas olhava para Max, sem entender.

Max ficou em pé paralisado, em frente a janela enquanto a claridade iluminava a sala. Ele olhava para Nicolas que estava sentado no sofá, aguardando por palavras.

“Não acredito que vou te perder... Esse moleque conseguiu mexer comigo. Vou perder a única pessoa que fez eu sentir que mereço uma chance de algo melhor.” – Seus pensamentos diante da situação. De fato, a sensação de decepcionar alguém é mais dolorosa do que pensou.

            - Max?

            - Olhe bem nos meus olhos, Nicolas.  – Comentou num tom baixo. Se aproximou em seguida. Silêncio momentâneo. – Quando eu te conheci... Não imaginei que olhar para você fosse uma das melhores coisas que poderia me acontecer. Meu maior erro foi ter conhecido você. Meu maior erro foi ter se apaixonado por uma pessoa tão foda, que... que eu não mereço estar do lado... Mas foi você que mexeu no meu mundo e fez eu sentir o que estou sentindo e eu não consigo me arrepender de nada disso. Eu sei que é errado, mas eu sempre errei. Errei minha vida inteira, errei por motivos idiotas, mas... eu erraria mil vezes pra ter te conhecer novamente. – Nervosismo. Olhos lacrimejando - De todos os meus erros, você é o melhor deles. – A primeira lágrima escorreu. Max nunca esteve tão vulnerável. – Quando eu entrei naquele mercado e...  Eu... – As palavras fugiam. – Olha nos meus olhos. Você sempre soube.

Parados em frente um ao outro. Barulhos confortantes de pássaros cantarolando. Max e Nicolas estavam com os olhos fitados um ao outro. Era mais que troca de olhares, era troca de verdade, de sentimentos.

Nicolas estava atônito. Seu corpo não conseguia se mover. Ele parecia estar em transe diante do que ouvia. Uma parte totalmente cega e surda, sem poder ouvir mais nada do que estava acontecendo ao seu redor, dando atenção somente ao seu ‘eu’ interior que gritava como se soubesse o tempo todo.     

— Max... – Gaguejou. Voz estava trêmula.

FLASHBACK:

Max observava as vítimas enquanto segurava uma arma. 

            - Por favor... Não atira. – Nicolas pediu.

Max olhou profundamente nos olhos de seu refém e pôde ver o medo estampado naquele belo par de olhos azuis.

            - Por favor... – Nicolas enfatizou ao ter atenção do bandido.

            - Eu não vou atirar. – Disse num tom sincero e confortante.

Os olhares se colidiram. Nicolas notou uma verdade peculiar no olhar do bandido.

Fim do FLASHBACK:

— Esse tempo todo. – Lágrimas. – Você... – Engoliu seco.

— Desculpa!

Para Max, ver o jornalista chorar era como ser torturado. Uma ferida foi aberta. Era angustiante ver aquele par de olhos azuis afundado em lágrimas, enquanto o semblante facial era incrédulo.

Nicolas se levantou, olhou pela janela, deixando a claridade tomar seus olhos, virou para Max e disse.

            - Eu preciso ir embora. Eu... Eu... – Olhou para os lados, perdido.

            - Nicolas... – Max se aproximou. O apalpou no ombro e seus olhos colidiram novamente.

Nicolas não estava só perdido, mas também confuso.

            - Foi você que atirou nele? – Trêmulo, temendo pela resposta.

            - Não. – Abaixou a cabeça.

Minutos de silêncio.

            - Eu não vou conseguir dirigir. Você pode dirigir? – Ainda incrédulo e atônito. Como se tudo não passasse de um sonho. A ficha ainda não caiu.

Enquanto isso, a reação de Adam foi completamente oposta à do seu melhor amigo. Em pé, andando de um lado para o outro, ele estava furioso.

            - Eu não acredito que o Max fez isso. Eu estou com tanta raiva que não quero ver ele nem pintado. Ah! Eu não acredito! Parece que eu desconfiei esse tempo todo e não enxergava. Como se fosse um bloqueio. Que idiota! O Nicolas vai ficar acabado quando descobrir. Você não entende, Christian! O Nicolas sempre quis achar alguém para se apaixonar, e quando aparece, é um cara que atirou no irmão dele? Eu vou matar o Max!! – Falava sem parar, demonstrando seu nervosismo e raiva através das veias do pescoço que estavam tão altas ao ponto de parecer explodir.

            - Adam... Calma. – Se levantou. – Eu não tenho muito o que dizer, mas o Max...

            - Não ouse defender ele. Alias, o que você está fazendo aqui? Você sabia disso o tempo todo e não me contou? – Adam foi até o quarto, pegou as roupas de Christian e jogou em sua direção. – Some daqui!

            - Adam... Eu não sabia esse tempo todo, eu...

            - Sai daqui!

            - Posso me trocar pelo menos?

            - Você tem um minuto. Anda! Meu Deus... o Nicolas... – Usou um tom baixo ao pensar no amigo.

            - O Max não atirou no Caleb, o Eric atirou. O Max não é esse monstro. Ele é um cara bom, eu juro.

            - Cala a boca, Christian. Eu não sei quem odeio mais, o Eric ou o Max. Eu quero matar eles! E você! – Gritou. – Sai, anda.

Christian estava colocando a calça quando foi empurrado por Adam que jogou a blusa na varanda, fechando a porta em seguida.

            - Adam! Gritou do outro lado.

Adam o ignorou, procurou pelo celular em seu quarto e quando achou, tentou ligar para Nicolas, mas todas as tentativas caiam em caixa postais.

Já fazia pouco mais de quarenta minutos que Max estava na estrada em alta velocidade pela rodovia em direção ao centro de Seattle e tudo que ouviu durante esse período foi o motor do carro e o vento forte zunindo em seu ouvido ao ser penetrado pelas janelas abertas. Ao seu lado, Nicolas estava com a cabeça virada para seu lado oposto, de olhos abertos, avistando a diferença entre o verde que se despedia e os prédios que começavam a aparecer. Na cabeça do jornalista, tudo ainda estava confuso, como se sua visão sobre tudo a sua volta fosse simplesmente embaçada. Talvez sua maior tortura era o fato de que não sabia se devia parar de amar o homem problemático ao seu lado, ou se era muito culpado por ainda cogitar ama-lo.

Diferente dos sentimentos de Nicolas, Max estava apreensivo. Seu coração continuava disparado, esperando que qualquer fala do jornalista fosse mudar sua vida, e possivelmente mudaria. Ele não sabia o que esperar, mas ao mesmo tempo, nutria a convicção de que fez o que era certo e independente de qual seria seu destino com Nicolas, ele estava enfrentando os erros.  

A mais de uma hora dirigindo, a todo momento em silêncio, até que em alguns minutos finalmente chegaram. Max estacionou o carro na calçada próximo a casa de Nicolas, o viu descer do carro, sem nenhuma expressão concreta no rosto. Nicolas apenas andou pelo curto gramado, subiu a curta escada da varanda e ameaçou abrir a porta.  

            - Nicolas... – Max tomou coragem em chama-lo. Se aproximou – Eu estou indo na delegacia.  Fique com isto. – Entregou a carta.

Por longos segundos, os olhos se conectaram. Um furacão estava acontecendo dentro de cada um deles. De um lado, dor, confusão, decepção, mas lá no fundo, amor. Do outro, medo, apreensão, ansiedade, também dor e coragem. Max virou as costas para partir.

            - Max... – Olhos cheios d’água. Nicolas tentava encontrar palavras, tentava encontrar alguma emoção coerente para aquele momento, mas não conseguiu. Estava paralisado e tudo que fez foi fixar os olhos de Max aos seus. Poderia ser a última vez. Ele abaixou a cabeça, enxugou as lágrimas e virou as costas.

Possivelmente, a última vez que seus olhos se encontrariam.


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