Era uma das coisas que Arthur não conseguia explicar. De uma hora para a outra ele sabia que Sombrios estavam vindo, assim como sabia que Scar e Liv estariam seguras dentro do galpão... ele não sabia como, mas algo dentro dele apenas gritava que aquilo era o certo a se fazer.

   Após ele e Bernardo trancarem as garotas lá dentro, surpreendentemente não ouviram nenhum grito. O silêncio era total cortado apenas pela respiração e pelo batimento cardíaco de ambos.

   - Cara o que está acontecendo? – A pergunta do outro garoto saiu em um sussurro aterrorizado.

   Arthur fez sinal de silencio com a boca e olhou de um lado para o outro, aguardando seja lá o que fosse.

    - Vamos fingir que o carro enguiçou, que estamos aqui sozinhos.

   E assim o fizeram, poucos segundos depois ouviram uma agitação vindo do meio do nada e tudo aconteceu em um piscar de olhos. Em um momento estavam sozinhos no seguinte estavam cercados.

    Eram em três. Dois homens e uma mulher, os dois eram praticamente idênticos, altos de olhos e cabelos escuros. Exceto pelo fato de que o primeiro usava um rabo de cavalo e o segundo mantinha um corte rente a cabeça. A mulher parecia a líder, alta e esguia de longos cabelos castanho-escuro e sorriso maldoso.

    - Olá meus queridos – ela mostrou os dentes excessivamente brancos – vocês viram duas moças por aqui? Duas ruivas lindas... acabamos nos perdendo no meio desse grande nada.

   - A senhora poderia dizer o nome das moças? – Arthur levantou a cabeça, respondendo petulantemente.

   - Claro, Scarlett Bernardi... e Olívia Horst...

  Bernardo fez moção de atacar mas Arthur colocou o braço em sua frente.

   - Não as conhecemos.

   - Tem certeza?

   - Absoluta senhora, o carro enguiçou estamos atrás de ajuda.

   - Claro entendo perfeitamente... Arthur... filho de Marina e Fernando Castela e Bernardo filho de Daniela e Willian Seabra.

   - Como sabe o nome da minha mãe?! – Bernardo avançou e a mulher apenas deu um sorriso cínico enquanto disse:

   - Elijah, Tobiah ataquem.

   E novamente tudo aconteceu rápido demais, os dois homens atacaram. Nenhum dos meninos tinha algo para se defender mas lutaram mesmo assim. Arthur havia treinado com o pai quando criança e Bernardo havia sido um encrenqueiro na escola. Ambos sabiam muito bem como lidar com uma briga.

   Um soco acertou em cheio a mandíbula de Arthur e mais outro acertou seu olho direito deixando-o temporariamente cego de um lado.

Socos e chutes de todos os lugares, e ele sabia que Bernardo também não estava indo muito bem. Porém tudo parou de uma hora para a outra.

   - Seus idiotas! – Esbravejou a mulher – brigando como bêbados em um bar! Deixem-me demonstrar como um verdadeiro Sombrio faz.

   Arthur de repente estava imobilizado no chão, assim como tudo em sua volta, apenas a mulher parecia capaz de se movimentar e assim o fez caminhando lentamente até ele.

   - Não se preocupe querido, eu não vou te matar – ela disse com falsa doçura – só quero deixar um recado para sua preciosa Escarlate. Diga para sua Vermelhinha que Sarah está vindo, e não vou parar até conseguir colocar as mãos nela.

    Para o lado de fora deveria parecer uma cena trágica. Pensou Scar, com a cabeça de Arthur aninhada em seu colo, e era realmente. Mas no momento ela não conseguia digerir isso, tudo em que conseguia pensar era em sua dor.

   Ela tentara acordá-lo com seus poderes, mas algo naquele lugar os paralisava, ou ela mesmo estava paralisada, em choque, dolorida.

   Ele não tinha pulso, pelo menos não tinha nenhum que ela pudesse ouvir.

   Era oficial. Arthur não estava mais entre eles, ela tinha perdido seu Caçador, seu melhor amigo, o garoto que ela amava. E o pior, ele tinha ido sem que soubesse como ela se sentia, tinha ido achando que ela o odiava. Era tudo culpa dela, por causa dela ele tinha se envolvido nisso, para protege-la. Como poderia encarar Marina depois disso?

   Agora realmente havia perdido tudo e aquilo sangrava de dentro para fora.

   - Scar – sentiu uma mão em seu ombro, Liv – eu queria ligar para a mãe dele mas nem eu nem Bennie temos o número dela... e acho que ela pre-precisa saber.

   Lágrimas escorriam pelo rosto de Liv também, e tudo que Scar pode fazer foi esconder o rosto no peito da amiga, desmoronando totalmente.

   - Ele achava que eu o odiava Liv’s.

   - Não... não pensa nisso.... ele sabia que você o amava.... ele sabia.

   Ficaram assim por um tempo que Scar não conseguiu determinar, poderiam ter sido minutos, horas, ou até mesmo dias, não importava, nada mais importava, Arthur não existia mais, a vida não devia existir também.

   - Temos... temos que falar com a Marina – levantou tentando se recompor mesmo que tudo dentro dela sangrasse – ela precisa saber, deixa só... eu me despedir dele e eu já te dou meu celular.

   - Okay, demore o tempo que precisar – Liv plantou um beijo na cabeça dela a deixando novamente sozinha com o corpo de Arthur.

    - Me desculpa – disse sinceramente tirando alguns poucos fios de cabelo bege da testa dele – eu fui horrível, eu devia ter entendido, que tudo o que você fez foi por mim, eu fui egoísta, eu deixei... eu deixei... você... me desculpa, eu te amo, me desculpa.

   Beijou a testa dele, colocando um pouquinho de cada sentimento em sua despedida, saudade, arrependimento e principalmente amor, ela não era mais uma Escarlate, muito menos uma Pura, era apenas a Vermelhinha de Arthur e isso era suficiente.

   - Scar!

   Em um impulso ele se levantou, como se estivesse acordando de um pesadelo.

   Scar estava paralisada. Por um momento pensou que estava louca, era impossível... mas então suas mãos gentilmente tocaram o peito dele como se para certificar que era realmente ele ali, e ao encontrar sólido como sempre fora tudo o que pode fazer foi jogar seus braços envolta de seu pescoço, aspirando seu cheiro, tendo certeza que não estava sonhando, ele retribuiu a apertando forte contra ele.

   - Você está bem – sussurrou a voz abafada – você está bem.

  - Fica tranquila Vermelhinha, eu estou bem.

   Depois de passado o susto de Bernardo e Olívia também os quatro decidiram ir para o galpão, aquele lugar havia protegido as meninas, devia proteger os quatro durante a noite também.

   - Estamos no programa de hoje com o maior cosplay de Harry Potter que vocês respeitam, isso mesmo senhoras e senhores ele ressuscitou dos mortos, conte sua experiência para nós Arthur Castela – Bennie mesmo cheio de machucados não perdia a piada.

   - Cala a boca Bennie, deixa o menino descansar.

   Os quatro estavam sentados em volta de uma lanterna a gás que Bernardo havia achado no porta-malas do Range Rover, Scar estava agarrada ao braço de Arthur como se temesse que o garoto escapasse, e os quatro dividiam um pacote de Passatempo.

   - Não, eu vou contar como foi, pode ser útil, até que parte se lembra Ben?

   - Foi confuso, em uma hora a gente estava lutando com aqueles cara e na outra você estava no chão parecendo... você sabe... morto.

   - Aquela Sombrio... a mulher, o nome dela é Sarah, e eu não sei como mas ela conseguiu congelar o tempo, eu fiquei imobilizado, eu só conseguia ouvir a voz dela, ela disse que não ia me matar, que tudo aquilo era só um recado para a Scar...

   - Um recado pra mim? Que recado?!

   - Ela disse que está vindo. E não vai parar até por as mãos em você... mas não se preocupe ela não vai conseguir chegar perto, eu estou aqui Vermelhinha eu vou te proteger.

   - E eu vou te deixar morrer de novo? NÃO! Se ela me quer e isso for deixar vocês livres talvez eu devesse...

   - NEM PENSE NISSO!

  Dessa fez foi Liv a gritar, Scar levantou-se decidida a começar uma discussão, porém o barulho de fogo crepitante a fez olhar para trás horrorizada.

   Na parede atrás dela, nomes se formavam com fogo, queimando lentamente apenas as letras e nada mais.

Pura

Protetor

Amigo

Segurança.