Escarlate escrita por Anna Borges


Capítulo 11
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

"Perdão, eu não quis
Machucar a minha garotinha
Está além de mim
Eu não posso carregar
O peso do mundo inteiro
Então boa noite"
Goodnight, goodnight - Maroon 5



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Liv subiu os degraus da riquíssima mansão Seabra, Bennie faltara na aula e como uma boa melhor amiga, lá estava ela levando a matéria do dia para ele. Provavelmente tinha pego alguma gripe e estava ocupado demais sendo mimado pela governanta.

   Tocou a campaninha e o som ribombou, poderiam se passar séculos mas aquilo sempre iria a assustar.

   - Liv, meu bem, que bom ver você – Dona Thalita, a governanta abraçou Liv, era uma senhora de quarenta e poucos anos com rosto bondoso, havia criado Bennie e fora também quem lhe dera o apelido do qual Liv se apossou.

— Oi Dona Thalita, o Bennie está aí?

— Está sim meu amor, lá no quarto dele pode subir.

— Okay, obrigada.

   O quarto de Bennie ficava no segundo andar e para chegar até lá uma escada em curva que parecia ter sido tirada de um filme sobre a realeza , Liv lembrava de se encantar por ela na primeira vez que subira aos dez anos de idade.

   - Bennie, trouxe a mat...

   Abriu a porta em um rompante, como sempre fazia, mas dessa vez não encontrou Bennie afogado em pilhas de quadrinhos ou tocando violão que era o que sempre acontecia, dessa vez ele estava agarrado a uma garota e os dois se beijavam, mas a perceberem a presença dela se soltaram, Bennie a olhava parecendo com raiva e a garota tinha um sorrisinho cínico enquanto limpava um pouco de batom do canto dos lábios.

   - Eu... eu... vou indo...

    Sentia os olhos inundados prestes a transbordar, mas fez um esforço para segurar as lágrimas.

   - Olívia o que você está fazendo aqui? Já não basta me encher o saco na escola tem que vir na minha casa também?!

   - Be...Bennie do que você está falando? – Sua voz estava começando a ficar rouca, droga.

— Estou falando que estou cansado de você! Que é uma pobretona que só sabe me encher o saco! Vai embora, me deixa em paz!

    Antes que pudesse calcular exatamente o que estava fazendo sentiu sua mão voar e seus cinco dedos atingirem em cheio o rosto do garoto.

   - Nunca. Mais. Fale. Comigo – Sibilou, a voz fanha, os olhos ardendo pelas lágrimas que imploravam para sair, mas não, ela não iria chorar, não iria dar esse gostinho para os dois.

   Apenas se virou e desceu a escada, agora parecendo mais desencantada do que nunca, ouviu a voz de dona Thalita chamando ela mas não pode dar atenção, tudo o que queria era estar longe daquela casa o mais rápido que pudesse, para só então deixar as lágrimas caírem.

 

   Liv despertou. Tinha vivenciado tudo novamente em sonho, por quê? Agora seria impossível olhar para Bennie, e saber que ele dormia a apenas poucos metros dela, em sua casa, como deixara isso acontecer?

   Na mesma noite do incidente Bennie havia ido a sua casa, pedido desculpas, dizendo que só tinha dito aquilo para impressionar a garota com quem estava, claro ela havia o expulsado da sua casa com um barraco digno de Casos de Família.

   Depois disso se iniciou a convivência baseada em farpas que tinham até hoje, logo depois sua mãe morreu e ela conseguiu a bolsa no Conservatório, não tinha mais visto Bennie desde então, até hoje pelo menos.

   Levantou-se indo atrás de um copo de água, sua boca estava seca, precisava disso antes de tentar dormir novamente.

   Mas parou ao ouvir uma voz que vinha da varanda, era baixa e levemente rouca, apenas cantarolava, não propriamente bonita, mas mesmo que tantos anos houvessem se passado era a voz que ainda fazia o coração de Liv ribombar no peito.

    Ela seguiu o som, Bennie estava sentado na mureta da varanda dedilhando o violão, não parecia nada com o garoto irônico e sarcástico que ela vinha vendo pelos últimos quatro anos, na verdade ele se assemelhava muito com seu melhor amigo.         Resolveu então se esconder atrás da cortina e ficou quieta, apenas escutando e fingindo que ele nunca tinha magoado seu coração.

   Foi quando os murmúrios ininteligíveis de Bennie começaram a ganhar forma e ele começou a sussurrar uma canção.

   — You left me hanging from a thread

We once swong from togheter

I lick my wounds but I can’t

Never see them getting better

Something’s gotta change

Things cannot stay the same

   Her hair was pressed against her face

Her eyes were red with anger

Enraged by things unsaid

And empty beds and bad behavior

Something’s gotta change

It must be rearranged, oh

   I’m sorry, I did not mean

To hurt my little girl

It’s beyond me, I cannot carry

The weight of a heavy world

So goodnight, goodnight, goodnight, goodnight

Goodnight, goodnight, goodnight, goodnight

Goodnight, hope that things work out all right, yeah

   Foi quando não conseguiu esconder um soluço que Liv percebeu que estava chorando, por que ele estava cantando aquilo? Não ouviria mais, precisava voltar para sua cama de onde nunca devia ter saído.

   - Liv?

  - Droga – praguejou baixinho, limpou algumas lágrimas que escorriam e se virou assumindo uma postura firme – o que você quer?

   - O que eu quero não você que estava me olhando.

   - Eu não estava te olhando, eu só estava indo na cozinha pegar um copo de água, porque que eu me lembre isso ainda é minha casa – okay, isso era uma meia verdade – com licença.

    - Me desculpe, eu não quis magoar a minha garotinha, isso está além de mim, eu não posso carregar o peso de um mundo opressivo, então boa noite.

   Ela continuou de costas, fungou mais uma vez, agora ela não tinha mais controle sobre as lágrimas que caíam, se virou, precisava sair dali. Mas antes tomou fôlego, precisava perguntar algo.

   - Maroon 5, essa música é do Maroon 5, você não ouve nada que veio do século XXI.

   - Bom digamos que uma pessoa me ensinou que coisas vindas desse século podem sim ser boas.

   Scar levantou no outro dia pouco depois da 8h00m, um tanto quanto cedo levando em consideração que havia ido dormir passando das 3h00m, mas simplesmente seu corpo não agüentava mais ficar na cama, muita coisa estava acontecendo para que ela conseguisse.

   Pegou um prendedor e amarrou os rebeldes cabelos ruivos em um coque no alto da cabeça, não tinha paciência para penteá-los, não agora, escolheu um short qualquer e sua camiseta da Arlequina e saiu pé ante pé do quarto, provavelmente todos ainda estavam dormindo.

   - Scar?

   Ouviu de repente, deu um pulo e um gritinho agudo sentindo o coração bater rápido contra o peito.

   - Arthur! – Ralhou – Quase me matou de susto garoto!

   - Desculpa – ele levantou as mãos em sinal de rendimento – é que todos estão dormindo ainda e achei que pudéssemos conversar.

   - Não temos nada para conversar.

    - Temos sim! Por favor Vermelhinha, não podemos ficar assim para sempre!

   - Eu já disse para não me chamar assim.

   - Eu te chamo assim a seis anos, acha mesmo que eu ia conseguir parar de um dia para o outro.

   - Mas devia! Não é como se ainda fossemos melhores amigos, na verdade eu nem sei por que você está aqui.

    - Você pode não me considerar mais seu melhor amigo, mas eu ainda sou seu Caçador, e é por isso que eu estou aqui porque...

   - Seu trabalho é me proteger. Pode cortar essa. Porque toda vez que você fala isso parece que não passou disso para você, toda a nossa amizade não passou de um trabalho seu, de você tentando me proteger!

   - Scar – Arthur segurou-a pelo braço e a puxou lentamente até ele – você realmente acha que foi isso? Quantas vezes eu preciso repetir? Eu te amo Vermelhinha.

   - E quantas vezes eu preciso repetir? Amor não é a resposta para tudo! Você mentiu para mim durante toda a nossa amizade! A confiança que eu tinha em você caiu por Terra! E apesar de doer ficar sem falar com você, e acredite dói mais do que você imagina, eu simplesmente não posso!

   - Ontem – ele fechou os olhos e respirou fundo – eu senti você, não me pergunte como, mas eu senti você, eu sabia onde te encontrar eu sabia qual caminho seguir, não me diga que isso é nada, não me diga que não temos uma conexão.

   - Nós temos, como você mesmo fez questão de salientar, eu sou sua Escarlate e você é meu Caçador, mas você fez com que não passássemos disso, eu não posso te perdoar, não agora, talvez nunca, você era a pessoa em que eu mais confiava no mundo, e destruiu tudo isso.

— Scar  – sem aviso prévio Arthur puxou-a tomando-a em um abraço forte.

      Ela se permitiu abraçar, pelo menos por um momento se permitiu sentir o coração dele bater contra sua orelha, o cheiro reconfortante, apenas por um momento... e depois empurrou-o levemente.

   - Desculpe, mas eu não posso.

   Limpou algumas lágrimas do canto dos olhos e tentou esquecer tudo aquilo.


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Notas finais do capítulo

:)