Scar estava deitada no sofá, Arthur e Bennie sentados em extremos da sala de estar enquanto Liv terminava de ferver um chá para Scar quando ela acordasse. 

    O silencio era sepulcral, Arthur permanecia com os olhos fixados na garota que ainda dormia, Bennie parecia entretido em um jogo da velha invisível com ele mesmo e Liv não se atrevia a dizer uma única palavra. Tudo era loucura demais para que dissesse alguma coisa, ela era uma espécie diferente que dependia do Bennie – BENNIE! – para continuar viva, qual era a parte normal disso?

    - Arthur, o chá está pronto – avisou – ela já acordou?

   - Não mas não vai demorar muito. Eu acho – ele pegou uma caneca e se sentou do lado de Scar.

   - Uma coisa eu não entendi, ela falou que nó... as Escarlates não podem se defender, mas ela jogou aquele Sombrio longe.

   - A Scar é diferente. Ela é Pura, os poderes dela são mais fortes.

   - ESPERA AÍ A SCAR É PURA? – Bennie pulou do seu cantinho.

   - O que é ser Pura?

  - É ter uma pai Caçador e uma mãe Escarlate, são extremamente raros.

  - Eu também sou, meus pais são Escarlate e Caçador, só que isso não me afeta, parece na verdade que é por isso que não existem muitas Puras a relação entre uma Escarlate e um Caçador quase sempre geram Caçadores, o que deixa a Scar mais rara ainda. Ela tem ataques de poderes desde antes dos pais dela morrerem, por isso escondemos durante tanto tempo dela, tínhamos medo que a consumisse.

    - Isso melhorou alguma coisa? – Proferiu Liv.

    - Oi?

    - Você disse que os poderes iriam consumir ela se soubesse, e não é exatamente isso que está acontecendo?

    - O que você quer dizer?

   - Que a Scar está desmaiada nesse exato momento pelo fato de vocês terem escondido dela, se ela soubesse desde sempre teria aprendido a controlar.

   - Se não a tivesse consumido antes!

   - Está consumindo agora, o máximo que fizeram foi atrasar um pouco!

    - Hm... Ruivinha, Arthur, sei que vocês estão na maior vibe, mas acho que a Scar está acordando.

   Liv voltou o olhar para Scar e ela estava acordada, os dois olhos azuis presos no teto.

   - Vermelhinha – Arthur soltou em um sussurro, Scar fingiu não ouvir e se sentou.

   - Onde eu estou?

   - Minha casa – Liv respondeu lhe entregando o chá – você está bem?

   - Só um pouco de dor de cabeça, o que aconteceu?

   - O Arthur tem um jeito bizarro de te rastrear, então eu segui ele acabei encontrando a Srt.Incapaz ali – Liv lançou um olhar matador a Bennie – no fim acabamos com o Sombrio e te trouxemos aqui. Basicamente você está viva por causa desse ser aqui – apontou para Arthur.

   - Ele falou algo sobre não querer me matar. Disse que precisava me levar para alguém.

   - Eu ouvi isso, ele disse que ia te levar e que iria me... me saborear – Liv estremeceu e abraçou os próprios braços.

    - Os meus pais foram perseguidos por Sombrios por boa parte da vida, eu acho que ele tem algo a ver. E faz sentido já que estamos onde estamos.

    - O que aqui tem a ver? – Liv questionou entendendo cada vez menos do que se passava.

    - Minha mãe me deixou alguns cartões postais, com lugares que ela achava serem pistas. O primeiro trazia para cá, o segundo leva a uma cidade chamada Bastão, fica a alguns quilômetros daqui, eu só preciso perguntar para as pessoas se elas conhecem a minha mãe. Acho melhor começar a fazer isso agora.

    - Hey, hey, hey calma aí Scar – Arthur segurou seu ombro – você ainda não está bem o suficiente para sair por aí.

   - E quem disse que você manda em mim?

   - Scar acho que o Arthur está certo – apaziguou Bernardo – você acabou de desmaiar acho melhor beber o chá que a Srt.Ranzinza ali fez e ficar de boa por um tempo.

   - Nunca achei que eu ia dizer isso mas concordo com o Bennie,fica aqui em casa por um tempo, beba seu chá, tome um banho, pode dormir no quarto da minha colega hoje. Acho que ela não ia se importar. Todos vocês podem ficar se quiserem, o sofá é confortável e eu tenho alguns edredons que podem servir de colchão.

   - Esperem, ninguém aqui é obrigado a ficar, isso é uma coisa minha, eu posso resolver. E Arthur, acho melhor você ir embora sua mãe deve estar preocupada com você.

    As últimas palavras de Scar deram a Arthur uma pitada de esperança era a coisa mais gentil que havia saído dela desde que o segredo havia sido revelado. E isso lhe deu coragem para dizer:

   - Quando você vai entender Vermelhinha que eu nunca vou deixar você?

   - Eu não preciso.

   - Scar eu me sinto na obrigação de ajudar você – Liv interrompeu – você me disse o que eu era, me ajudou, eu vou com você amanhã te ajudar a procurar, e depois vamos para Bastão. Estou de férias no conservatório mesmo.

   - Liv não precisa...

   Liv fez um som de silêncio.

   - Se vocês estão esperando que eu faça um discurso bonitinho sobre o quanto eu quero ajudar a Scar, esperem sentados, eu estou no tédio, uma pequena caça a Sombrios será interessante, levando em consideração que eu nunca estive em uma, além do mais, vocês precisam do carro. Eu levo os três amanhã para dar uma investigada e depois vamos para Bastão.

   - Nem um pouco convencido, como sempre – desdenhou Liv revirando os olhos.

   - Estou falando algo errado? Que eu saiba ninguém aqui tem carro e andar de ônibus é meio dureza vamos combinar.

   - O pior é que ele está certo Liv’s – apaziguou Scar – ninguém aqui tem carteira muito menos carro, a gente vai precisar do Bernardo.

   - Eu tenho 18 anos, poderia ter carteira.

   - E tem?

   - Não, mas me dêem um tempo que eu consigo uma.

   - Você realmente me odeia né?

  - Por que o espanto? Achei que estava óbvio.

  - Hey, hey, hey, acho melhor todo mundo ir dormir porque amanhã é melhor sairmos cedo, quanto mais cedo conseguirmos alguma pista é melhor.

    - Eu vou buscar os edredons para os meninos e te levar no quarto da Babi, vem comigo Scar.

  Scar seguiu Liv pelo pequeno apartamento, era apenas mais um corredor com três portas que Scar achou serem os quartos da amiga, da tal Babi e o banheiro.

   - É aqui, não tem quase mais nada porque ela está se mudando para São Paulo então acho que ela não vai achar ruim de você ficar por aqui hoje.

   - Pelo menos ela tem bom gosto – comentou Scar ao visualizar um pôster de Star Wars na parede.

   - Scar, eu conversei com o Arthur hoje, ele me falou sobre eles terem escondido sobre seus poderes o tempo todo de você.

    - Tenho certeza que ele fez o discursinho sobre tudo ter sido para me proteger e com certeza você vai concordar com ele, todos concordam.

    - Não, pelo contrário, ele e todo mundo que escondeu de você quem você realmente é erraram feio, eu dei uma dura no Arthur, ele disse que se você descobrisse antes seus poderes iriam ter consumir, mas ele não vê que estão te consumindo agora.

    Os olhos de Scar começaram a lacrimejar e pela primeira vez em dias ela não se sentia a pessoa mais solitária do mundo, pelo menos agora sabia que tinha Liv do lado dela.

   - Liv’s obrigada, sério, eu realmente precisava disso – Prendeu Liv em um abraço forte.

   - Hey, hey tudo bem, é estranho, eu nunca tive muitos amigos, sempre fui fechada, mas em você eu sinto que posso confiar, e te conheço a só um dia.

   - Eu sinto que posso confiar em você também – as duas se olharam, as íris azuis de Scar ainda brilhavam com algumas poucas lágrimas.

   - Momentos – soltou Liv como em um suspiro – agora deixa eu levar os edredons para os meninos, amanhã continuamos o festival de lágrimas, boa noite.

   - Boa noite, mas Liv, posso perguntar? O que aconteceu entre você e o Bernardo?

   A garota abaixou os olhos, como se lembrasse de algo doloroso.

   - Ele também era meu melhor amigo. E também me magoou e não foi apenas para me proteger.

    - Liv eu sinto muito.

   - Tudo bem, boa noite.

   Liv saiu do quarto, seus olhos lacrimejavam, não queria lembrar do que Bennie tinha feito a ela, seria mais difícil olhar para ele se as lembranças a tomassem, provavelmente daria um show melhor ainda do que aquele que dera no dia em que tudo aconteceu. Era melhor fingir que esquecera e seguir em frente.