Abro minhas asas o máximo que posso para que sejam banhadas pelos últimos raios de Sol e quando ele se vai, fico com o som das ondas como companhia.

Por que um lugar como esse para viver e construir um ninho? Veja esse mar... É a sensação da mais pura liberdade, que é o que busco, o que me move, liberdade.
Eu sou Drogon, o dragão negro que recebeu esse nome por conta do falecido marido de minha mãe, porém, pelo que ouvi ele era admirável, gostaria de ter podido conhecê-lo. Há quem concorde com Aggo, dizendo que sou a reencarnação de Balerion, mas Balerion era macho, e eu não possuo esse defeito.

Mas é fácil perceber essa diferença entre mim e meus irmãos, meu fogo é mais quente, meus olhos mais flamejantes, minhas presas mais afiadas, sou mais perigosa e praticamente invoco trovões ao bater minhas asas. Convencida? Talvez, mas é o que dizem, e claro, eles estão certos. Sou sim, mais selvagem, mais perigosa, mais difícil de controlar e inteligentes são aqueles que percebem logo isso.

Olho para cima, para as estrelas aparecendo conforme a noite se estabelece. É preciso valorizar essas pequenas belezas do mundo, e é por isso que sou assim. O mundo não deve ser privado de mim, nem eu dele.

O som do mar, o brilho das estrelas, o cheiro da relva...

Meus irmãos não entendem porque sou assim, eles são dominados por muitos sentimentos humanos, mas não somos como eles. Eles deveriam se curvar a nossa vontade e não nós as deles! Com exceção é claro, daqueles que são como nós, os Targaryen, como nossa mãe.

Ela tem um dragão dentro de si, é impossível negar, mas como ela não pode por exemplo cuspir fogo, ajudamos como possível nessa parte. Viserion e Rhaegal sempre tiveram certa inveja de minha proximidade com ela, por mais que neguem. Talvez por sermos fêmeas e parecidas em diversos sentidos tenhamos tanta cumplicidade. Porém, mesmo assim ela não me entende por completo, e do mesmo modo não a compreendo totalmente.

Quando eu queimei o filhote de um humano e ela tentou nos prender... Por que? Não é minha culpa se a criança estava entre as ovelhas no momento errado. Tive de fugir, não me colocariam em nenhum buraco no chão, eu possuo asas, meu lugar é no céu.

Sim, fiquei brava naquele dia, mas quando fui atraída por todo aquele alvoroço e cheiro de sangue na arena, e vi minha mãe entre aqueles bípedes ingratos... Eu não podia deixa-la ali. Especialmente quando ela se preocupou quando fui ferida (não que ele graveto pudesse fazer muito estrago), eu tive que salvá-la.

Ela é brava, assim como eu e respeito isso. Se existe alguém que mereça nossa lealdade é ela. Gosto de imaginar que um dia, ela terá todo um exército de dragões para comandar. Espero realmente que hajam mais ovos em algum lugar, para que ela possa chocá-los como fez conosco, porque procriar com Viserion ou Rhaegal... Argh! Não, fora de cogitação, nenhum deles é digno.

Não me leve a mal, claro que os amo, são meus irmãos, mas não vou fingir que acho que um deles seria um bom companheiro para mim. Somos amigos, lutamos juntos (comigo no comando, óbvio), mas se o futuro de nossa raça depender de nós, será uma problema.

Preciso de um companheiro como Kal Drogo foi para nossa mãe. Alguém para ser meu Sol, quando o de verdade se pôr, alguém que também queira ser livre e conhecer o mundo muito além do que o horizonte nos permite, mas até o momento, tal dragão não existe.

Olho para a direção, que se me lembro bem, é a que ficam Os Sete Reinos. Esse lugar de que tanto ouço falar desde que nasci. Westeros e o Trono de Ferro. Como será lá? Lugares novos me encantam, em especial, aqueles com lendas e histórias como as que ouvi.

Iremos para lá em breve, sinto em minha espinha. Só então o jogo vai começar. Como será que reagirão ao nos ver? As cidades livres reconheceram nosso encanto e praticamente nos adoraram, será que lá será do mesmo modo ou teremos que mostrar quem manda?

E depois de Westeros o que virá? Falam de uma tal beira do mundo e eu adoraria encontrá-la, voando deve ser fácil de achar.

Lembro de quando soube da morte do rei Baratheon. Não pude evitar ficar de luto, apesar de ele ser um usurpador, aparentemente ele trouxe anos de paz e não era puramente uma má pessoa. Ao contrário de seu herdeiro, que pelo o que soube, não passava de um desprezível saco de carne.

Ah Westeros... Acho que deve ser minha casa, é estranho não saber onde nasci.

De todo modo, quero chegar logo lá. Um lugar novo afinal, e um novo lugar para me temer e se curvar perante os dragões.

Já se curvaram perante mim os dothrakis, os valirianos, os escravos... Chegou a hora dos habitantes dos Sete Reinos fazerem o mesmo.

Eu estava com minha mãe quando ela enfrentou os imortais, os filhos da harpia e os comerciantes de escravos. Estarei lá quando ela tomar o Trono de Ferro para si, ela merece governar e o que ousar dizer que uma mulher não o pode... Bem, apenas ossos restarão dele. Isso se algo restar.

Assim como Balerion queimou Harenhall por Aegon, o mesmo farei com a Fortaleza Vermelha por Daenerys, se não a aceitarem.

Não deixarei pedra sobre pedra, nem osso sobre osso.

Sentirão todo o fogo que tenho guardado para eles e ouvirei seus gritos enquanto as chamas os consomem.

Os dragões retornaram e não a nada que possam fazer para nos parar agora.