A resistência de Dorne escrita por Vitgimenes


Capítulo 3
Capítulo 3 - Ragnar




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Ragnar

Por baixo de suas vestes de pano leves de cor azulada, sentia o sol castigar sua pele. Seu cabelo negro curto, coberto por um turbante da mesma cor de sua roupa, coçava. Mas suas mãos amarradas ao cavalo o forçava a terminar de subir a colina – muito embora ele talvez tivesse força para puxar o animal. Com um rosto bem delineado, uma barba profunda e olhos pretos que causam medo, Ragnar Sand seria um cavaleiro desejado por todas as princesas nos sete reinos. Mas a tentativa de aborto de sua mãe havia o marcado: o lado direito de seu rosto tem a pele repuxada e enegrecida. As pessoas o temiam. Uma parte dele sempre gostara disso. A outra queria acabar com o seu “pai”. Desgraçado, se um dia eu te encontrar não terei compaixão.

Havia cumprido seu papel na missão muito bem – chegara sem ser reconhecido e esperara na taverna do dente branco. Após alguns minutos comendo pão e tomando vinho notou um alvoroço. As pessoas lhe disseram que eram apenas mais alguns bandidos, mas ele já sabia que o plano havia fracassado. Assim, foi de encontro a seus amigos na entrada da cidade, novamente se escondendo do olhar de todos – teve que se tornar um corcunda assustador para não chamar a atenção com sua altura. Ao notar Garth e Mukyf sendo aprisionados, preencheu-se de ódio de Jorel. Sabia que não podiam ter confiado nele. O procurou mas sem sucesso, a multidão era muito grande. Decidiu se entregar ao ouvir que os soldados iriam à sua procura. Sabia que era sua única opção. Já viví muitos anos de minha vida como fugitivo, não é agora que voltarei a ser um. Cedo ou tarde ele seria encontrado. Assim, se mostrou aos guardas – mas sempre com a pitada de humor clássica de um gigante dornês. Sorriu ao se lembrar da cena.

Já avistava a casa onde os nobres da casa Pine viviam – a única defesa que eles tinham era uma torre ao lado. Os Redthorn não tinham um grande castelo mas com certeza estavam muito melhor protegidos. Não sabia o que aconteceria agora. Ficariam aprisionados em um calabouço ou seriam tratados como bons hóspedes? Ao menos todos os pertences deles estavam sendo levados. Seu raciocínio foi interrompido por Garth:

— “Pare de tratar mal o Godofredo! Eu amo essa mula e vocês vão se ver com os Redthorn se algum mal acontecer à ele!”, fazendo Mukyf e Ragnar gargalharem.

Pouco depois chegaram à um terreno aplainado. Era o topo de uma pequena colina, com diversas arvores ao redor distribuidas irregularmente, o solo raso permitia que um pouco de grama encontrasse espaço para crescer em meio ao montante de areia, um caminho de pedra levava à entrada da casa nobre. Cerca de 50 soldados com roupas leves nas cores branca e amarela estavam no local. Ragnar foi desamarrado assim como seus outros dois amigos, então foram levados pelos soldados até a entrada da casa.

— “Meus convidados queridos enfim chegaram!”, disse, sorrindo, um homem de meia-idade, careca e sem barba, com roupas de seda leve nas cores da Casa Pine, e um chifre de touro estampado no peito. “Se não fosse o maldito código de hóspedes eu já tinha acabado com vocês, afinal, estamos em guerra não?!”, disse novamente, dessa vez sem sorrir e com uma entonação ríspida. “Mas confesso que fiquei curioso quanto ao que vocês querem, apesar de já ter uma boa noção. Vocês devem estar famintos no entanto. Vamos, minha mulher preparou um delicioso assado de porco com especiarias dornesas para vocês. Sirvam-se a vontade”, disse sorrindo novamente.

— “Devo assumir que vocês são Rodrik e Lara Pine, ou eu fui levado ao lugar errado?”, respondeu Garth.

Ragnar notou a feição confusa do homem careca se transformar em risada enquanto respondia: “é claro que somos. Vamos, comam”. Disse o Príncipe Pine, apontando para uma mesa de madeira com 6 cadeiras ao seu redor. A casa era pequena, mas bem decorada. As paredes eram feitas de pedras cinzas, e cortinas brancas tentavam impedir o sol de entrar com tanta força no local. Mas o que realmente chamou a atenção de Ragnar foi a princesa. Longos cabelos loiros encaracolados, olhos castanhos sedutores, usava vestidos de seda quase transparentes, deixando à mostra parte de seus seios, magra mas com uma larga cintura. Pouca atenção deu ao resto, não conseguia se concentrar em mais nada. Se um dia eu pudesse possuir uma princesa assim. Tocou sua mancha e voltou a ter raiva de seu nascimento.

— “Espero que esse vinho esteja tão bom quanto o da taverna do Dente Branco!”, disse Ragnar, tentando se concentrar na missão conforme sentava com seus dois amigos à mesa – o príncipe e a princesa sentaram em um sofá naquele mesmo cômodo, no canto.

— “Ha! Não me insulte meu caro”, respondeu Rodrik sarcasticamente.

Lembrou que não fez a reverência ao nobre, então tentou comer com etiqueta. Mas após alguns minutos notou que já estava usando apenas as mãos para limpar o prato e pegar mais comida – era a melhor refeição que havia feito em não sabia quantos anos.

— “Espero que vocês já tenham entendido que se eu quisesse acabar com vocês, eu teria”, disse Rodrik enquanto os três enviados terminavam de comer. Preencheu-se de raiva com a ameaça. Se tivesse liberdade de ação e seu mangual, pularia para cima do nobre e arrancaria sua cabeça. Mas seus pensamentos se esvaíram quando ouviu a doce voz suave da princesa pela primeira vez.

— “Agora que terminaram de comer, que tal eu mostrar os arredores para vocês enquanto Garth conversa com Rodrik”, ela disse sorrindo.

— “Claro, sem duvidas! Eu preciso usar a latrina mesmo. Damas na frente, por favor”, respondeu Mukyf com um olhar hipnotizado para o corpo de Lara, conforme os gigantes saíam sendo escortados por alguns soldados e guiados por ela. “Barril” se sentou no sofá para conversar com o Príncipe Pine enquanto estavam fora.

As duas latrinas do local, que serviam aos soldados, ficavam do lado de fora da casa, próximas à beira da colina. Eram dois cúbiculos de madeira encostados um no outro. Os gigantes se apoderaram de ambas e enquanto se liberavam da deliciosa refeição conversavam sobre como Lara chamara a atenção de ambos. Em Dorne o conceito de traição é vago, a paixão que os homens e mulheres sentem está acima de qualquer proibição. Mas duvidava que uma mulher esbelta como ela iria desejar um monstro de dois metros e dez de altura, marcado por uma tentativa de assassinato mesmo antes de nascer.

— “E aí cara, será que essa princesa não dá uma chance para nós?”, disse Mukyf

— “Como você é estúpido, claro que não.”

— “Mulheres adoram caras musculosos como nós, grandalhão”

— “Se essa for a vontade dos Deuses...”

Para surpresa de ambos, ao saire, da latrina, a princesa estava sozinha na frente deles, os soldados haviam se dispersado, e ela passava a mão entre os seios dela olhando de forma sedutora. Ragnar sentiu seu membro endurecer e olhou desacreditado para Mukyf, que quase babava a olhando, enquanto ela dizia: “Não é todo dia que encontro guerreiros tão virís. Vamos, sigam-me até o bosque”. Automaticamente, os gigantes a seguiram sem pestanejar. Ainda duvidando, disse à Mukyf: “Nada é tão fácil assim”, ao que ele respondeu “Não se preocupe, será divertido aconteça o que acontecer”. Ragnar concordava. Os melhores sons do mundo para um guerreiro era o tilintar de espadas e o gemer de uma mulher.

Chegaram à um pequeno bosque que ficava à noroeste da casa nobre, a princesa caminhou entre as árvores deixando seu vestido cair e ficando nua em meio a natureza. Ragnar poucas vezes havia visto algo tão belo quanto aquilo. Um pequeno pedaço de verde em meio à imensidão desértica de Dorne, a sombra suavizava o poder do sol, de forma que raios de luz se alternavam com pontos de sombra, uma nobre mulher se oferendo aos dois totalmente nua. Se este não era seu dia de sorte, não sabia quando seria. O desejo da princesa era tanto que os dois a possuíram ao mesmo tempo, e ela não teve vergonha de fazer barulho – provavelmente estava até atrapalhando a conversa diplomática lá dentro, afinal a casa era próxima do bosque. Os gigantes com certeza tiveram os melhores momentos de paixão de suas vidas. Ragnar colocou sua semente dentro dela, e se em sua vida não conquistasse terras ou castelos, pelo menos a possibilidade de ter um filho nobre ele havia conquistado. Estava extasiado.

Retornaram à casa após colocarem suas roupas, a princesa indo na frente com seus longos cabelos loiros tocando a base de sua cintura. Notou os soldados aprontando a caravana de Garth conforme entravam na casa. Ao adentrar o local, “Barril” e Rodrik saíam dele. As negociações já acabaram? Ou eu demorei mais com ela do que pensei? Não, no máximo eu demorei na latrina...O gordo estava com um olhar chateado

— “Por mais agradável que tenha sido a estadia de vocês, já está na hora de irem embora”, disse Rodrik sarcasticamente.

— “Obrigado pela refeição, príncipe”, respondeu Garth fazendo reverência. “Espero para o seu bem que não encontre esses dois no campo de batalha”

A última coisa que viu ao olhar para trás foi Lara dando um longo beijo em Rodrik, enquanto Ragnar pensava: “Bom seria levá-la para o Salão das Velas!”

O sol estava se pondo conforme os três enviados saiam do território Pine, com uma certa pressa para evitar mais ataques surpresas. “Barril” contava que Rodrik tinha argumentos válidos. Os Pine e os Cantell, são as Casas mais antigas de Dorne, se não caíram até agora, não é o momento disso acontecer; também valorizam muito a honra, e não deixarão de proteger seus suseranos sendo que fizeram tal juramento; e por último nada demonstra que os Cellarys de fato irão cair. Todos esses argumentos superaram os de Garth, que mostrou como a rebelião estava cada vez mais forte. “Barril” se agarrou às ultimas gotas de vinho que tinha em seu barril, na parte de trás da caravana, conforme dizia “talvez eu não tenha nascido para ser diplomata mesmo”, e lentamente ia dormindo ao lado de Mukyf enquanto Ragnar dirigia a caravana.

O pôr do sol alternava tons laranja, escarlate e amarelo, o céu tingido no meio da imensidão desértida dornesa. Ragnar o olhava, lembrando da ultima coisa tão linda assim que vira. Lara. A Princesa na qual ele plantou a sua semente há tão poucas horas. Seus pensamentos giravam em torno dela. Passou a mão em seu rosto sentindo sua pele enegrecida. Sua marca o lembrou de que jamais uma dama como ela iria desejá-lo. Foi um momento de paixão dornesa, apenas isso. Quem sabe se um dia fosse um famoso guerreiro. Mas seus pensamentos foram interrompidos quando ouviu fortes tossidas vindo de dentro da caravana. Parou os cavalos e olhou para trás. Garth cobria sua tosse com as mãos, e após terminar e grunhir de dor olhou assustado para elas e para os dois. Sangue escorria de sua boca e enxarcara seus dedos.


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