A resistência de Dorne escrita por Vitgimenes


Capítulo 2
Capítulo 2 - Mukyf




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Mukyf

Sentia seu sangue pulsar em suas veias, seu coração bater e sua respiração ofegante. O calor do deserto ardia através de suas vestes leves de algodão cru, brancas com uma leve tonalidade amarela. Fez uma aba com as mãos e olhou ao redor em busca de mais corpos. Aquele ali fui eu que matei. Pensou sorrindo. Lembrou do golpe que deferiu nele e do sangue que jorrou por todo o lado. Aquilo o agradava - afinal, passou quase sua vida inteira imerso em cenários de violência. O que para alguns era motivo de medo, para Mukyf era diversão.

Juntou os corpos em duas fileiras conforme gargalhava e sentia orgulho do trabalho que havia feito. Com uma pá começou a cobrí-los com areia enquanto somava-os à sua lista de homicídios. Quinhentos e vinte? Não, acho que quinhentos e trinta. Já estou perdendo a conta, no começo era mais fácil. Quinhentos então. Assim fica mais difícil chegar nos mil. Há pouco estava na tenda com Garth e Ragnar, mas o tédio de esperar o capitão, que havia acordado mas voltou a dormir desmaiado, o obrigou a sair e exercitar seus músculos. Ouviu gritos vindos da barraca e viu Ragnar saindo dela segurando o homem pelo pescoço há trinta centímetros do chão, gritando: “Você está triste pois agora você não tem saco?”. O soldado acordara e se esperneava, tentando tirar as mãos do gigante de seu pescoço, inutilmente.

Entraram novamente na cabana enquanto Ragnar jogava o homem no chão. Sentou-se ao lado de Garth, e juntos tomaram uma dose de vinho. A calça ensopada de sangue do capitão provava que perdera seu órgão. “Barril” se levantou mancando, foi até o arqueiro que jazia morto com uma flecha em seu olho, retirou-o dele e foi em direção ao soldado, que recuou pedindo clemência.

— “Ta vendo isso aqui?”, disse enquanto lhe mostrava o que tinha em suas mãos, “esse é o motivo que você tem que agradecer por estar vivo. Se quiser permanecer assim, nos fale seu nome e quem enviou vocês para cá!”.

— “Por favor, não! Eu suplico!”, dizia enquanto recuava se protegendo com as mãos, “meu nome é Jorel, Jorel!”

— “Ótimo, e quem te enviou?”, replicou o gordo.

— “Foram os Pine!!”, respondeu, após ficar relutante por alguns segundos mas perceber que tinha mais medo das 2 massas de músculo olhando para ele do que honra pela Casa a qual prestava serviços.

— “Pelo jeito estamos sendo super bem recebidos aqui”, disse Garth causando um sorriso nervoso em Jorel, que grunhia de dor a cada movimento

— “Bom, o que faremos com ele então?”, replicou Mukyf, que bebia mais vinho com seus companheiros

— “Eles não permitirão que vocês conversem com os Pine!”, disse Jorel, “eu, eu, eu... posso ser o caminho de entrada de vocês até eles! Eu guio a carroça e..” - risadas tomaram conta da tenda. Os três enviados de Bartolomys riam, também pelo efeito do vinho, do plano que eles haviam acabado de ouvir

— “O gente, vou matar esse filho da puta! Cadê meu machado?”, disse “Quebra-Ossos” após as risadas cessarem e olhando fixamente para Jorel.

— “É sério. Os Pine são uma casa decadente, já faz tempo que não sinto honra em serví-los. Se vocês me deixaram vivo é porque queriam algo de mim. Ofereço esse serviço em troca de viver uma vida sofrida de eunuco. Prefiro isso à morte.”

— “Acho que a pancada no saco esvaziou o cérebro dele”, disse Garth iniciando novas gargalhadas e tomando mais vinho com todos ali. “Se você tão facilmente traiu os Pine, o que garante que vai honrar seu acordo conosco?”

— “Que escolha eu tenho? Imagino que vocês me matariam se eu tentasse alguma coisa estúpida e não conheço alguém nos sete reinos que conseguiria fugir de vocês dois”, replicou Jorel, com a mão onde costumava estar seu saco, grunhindo de dor e olhando para as massas de músculo.

— “Gostei disso”, os dois disseram, dando risada.

O trio se entreolhou e percebeu que ele falava a verdade, e que havia lógica em seu plano. Mukyf não confiava em Jorel, no entanto. Afinal, há poucos minutos era seu inimigo e o apelido “Quebra-Ossos” muito diz sobre como lida com seus rivais. Apesar de sentir seu sangue pulsar de raiva, desejando esmagar a cabeça de Jorel no chão, as lembranças de quando foi recrutado pelos Redthorn o acalmaram. “Seja bem-vindo meu caro! Vamos tomar uma cerveja enquanto você me conta sua história! Gosto de conhecer todos que lutam para mim.”, lhe disse Bartolomys. Pela primeira vez sentiu algo semelhante a um afeto – mesmo com todos no vilarejo de Yronwood lhe encarando assustados pelo seu tamanho e sua má fama.  Viu no canto da cabana sua armadura de cores azul e vermelha. Pintara ela em homenagem à Casa nobre que servia agora. Recordou-se do juramento que fez ao Príncipe. Eu garanto a você, não me descontrolarei em seus serviços. Então se acalmou

— “Minha caravana não esconde dois gigantes e esse meu corpo sexy”, respondeu Barril retomando as gargalhadas, “vamos precisar nos disfarçar então”.

Passaram o resto do dia fazendo curativos em Garth e em Jorel, e descansando para a viagem que se iniciaria quando a luz do sol desaparecesse no horizonte, deixando que a lua pintasse Dorne de prateado. Continuaram sua jornada durante toda a noite e pela manhã.

Avistaram a entrada da cidade quando o sol estava no centro do céu, queimando a pele de todos. Ragnar foi antes para dividir a atenção, os esperaria em uma taverna. Jorel guiava a carroça, Garth ia na parte de trás dela, escondido por entre os barris de vinho que trouxera, Mukyf por baixo, se segurando nas madeiras entre as rodas de forma que a caravana ia mais devagar pela força que ele fazia para se manter ali. Olhou com esforço para frente enquanto gotas de suor pingavam de seu rosto e faziam fumaça ao encostar na areia quente e viu guardas protegendo a entrada da cidade. Foi quando disse para Jorel: “Se tentar fazer algo estúpido, já lhe demos uma amostra do que pode acontecer contigo”.

Estavam chegando em Hellholtz, um dos maiores mercados de Dorne. Boatos corriam o país de que ali haviam as melhores tavernas e bordéis do sul de Westeros. Diversas caravanas entravam e saíam da cidade, ouvia-se os vendedores ambulantes há dezenas de metros e a poeira levantava-se pelas ruas. A carruagem parou e Mukyf viu guardas se aproximando, depois ouviu um deles dizer:

— “Estamos procurando um homem gordo e dois gigantes, você os viu?”

— “Não senhor, apenas estou trazendo alguns barris de vinho para vender. Nada vi na estrada”, respondeu Jorel firmemente.

— “Que pena, quem os encontrar receberá 5 dragões de ouro”

— “5 dragões de ouro?!?!”, disse o eunuco enquanto os guardas que estavam voltando ao seu posto pararam. “Uau, o que será que eles fizeram hein? Para serem procurados assim...”

Até Mukyf que não tinha treinamento em linguagens corporais, habilidade que muitos nobres de Westeros possuíam, percebeu que o tom de Jorel havia fraquejado muito. Viu os guardas se aproximando da carroça e sentiu seu sangue latejar. Sorriu. Sua mão coçava para entrar em ação. Seu corpo já estava enrijecido para caso ele precisasse revelar sua posição. Mesmo já tendo sido avisado por seu primeiro mestre de armas, Jares Coldrin, que não ter medo era diferente de ter coragem, sempre enfrentara perigos irracionalmente.

— “Você sabe quantas vidas precisaria para ganhar 5 dragões de ouro vendendo vinho, charreteiro?", disse o guarda.

— “Acredito que várias, né?”, respondeu Jorel com uma leve risada.

— “Sim.. VARIAS! Você pode continuar essa sua vida medíocre ou nos contar onde eles estão e garantir um futuro descente para voce e sua família”.

— “TEM UM ATRÁS E OUTRO EMBAIXO! O OUTRO FOI PARA A CIDADE!!”, gritou aos guardas, que cercaram a carroça.

Lembrou das palavras de Jares:”Quer garantir a vitória? Derrube seu oponente”. A adrenalina preencheu cada músculo de Mukyf, ele se soltou de debaixo da caravana em direção ao chão e socou o tornozelo de um guarda que passava rente à carroça. O pé do soldado virou e ele caiu na terra, “Quebra-Ossos” aproveitou para puxá-lo para junto de si e o enforcar. Sentia a respiração dele diminuir lentamente e a vida deixar o seu corpo. Jares voltou à sua mente. Vocês, guerreiros do CT Clyberin tem que sentir tesão em ver alguém morrer. Esse é o trabalho de vocês afinal de contas! Mas quando lembrou que ainda precisaria ajudar seu amigo Garth, decidiu afrouxar o pescoço do guarda, que soltou um grande volume de ar. Saiu dali debaixo segurando seu refém e pegando o machado dele para si, procurando por seu amigo. Ele já havia sido pego. Aos poucos notou que cerca de seis homens, usando armaduras de couro e tecidos leves sob as peles, com turbantes marrons, além de escudos nas cores branca e amarela, o cercavam na caravana e mais dez arqueiros estavam em uma colina próxima à onde haviam estacionado. Estavam na entrada de Hellholtz. Também notara que a população começava a se aglomerar ali perto para assistir o que estava acontecendo.

— “Jogue-o para cá agora mesmo!”, ordenou um deles, parecia ser o mais forte dali e o capitão do grupo.

— “Ok!”, respondeu Mukyf com calma, após alguns segundos. Arremessou-o em direção a outros dois, que foram derrubados. Percebeu que dois outros guerreiros recuaram um pouco ao ver uma demonstração da força do gigante.

— “Amarrem-no!”, ordenou o líder deles, agora com uma expressão de raiva no rosto.

— “Não, não! Não quero ser amarrado. Só vou permitir se você conseguir me vencer em um duelo!”, gritou Mukyf, deixando os soldados na dúvida e percebendo que o grupo de pessoas ali presentes começava a rir. A confiança que tinha em si mesmo era tanta que ele adorava constranger nobres – por algum motivo eles nunca tinham coragem de enfrentá-lo.

Notou que o suposto capitão deles ficou carrancudo conforme as pessoas ao redor davam risada e gritavam: “Duelo! Duelo! Duelo!”, lideradas por Garth, que estava sendo segurado por dois homens. Permaneceu olhando para o seu oponente com um sorriso de canto de boca no rosto, imaginando quão vermelho seria seu sangue e se estaria quente quando fosse de encontro à sua pele. Sentia o peso do machado na sua mão, era leve comparado ao mangual que usava normalmente, conseguiria ter mais agilidade ao deferir o golpe. Viu-se correndo em direção à ele. Seu primeiro ataque seria desarmá-lo, depois iria tirar seu escudo acertando as costas da arma nele, de dentro para fora, e então completaria o serviço fincando o machado em seu peito. Já conseguia ouvir os urros de vitória gritados da torcida e o olhar de medo de alguns conforme gargalhava da violência.

— “De forma alguma é o senhor que vai dar as ordens aqui!”, retrucou o capitão, trazendo-o de volta à realidade enquanto ouvia vaias da população. “Vamos, prendam-no já e procurem o outro gigante! Não deve ser tão difícil assim achá-lo”

— “E mesmo assim vocês foram incompetentes à esse ponto!”, disse Ragnar saindo do meio da multidão e mostrando seus braços juntos para que o prendessem, “vamos, me amarrem, imagino que o príncipe e a princesa estão ansiosos para conhecer os três aventureiros que destruíram uma tropa de dez soldados deles”

Mukyf gargalhou e também apresentou seus braços aos guardas, que com relutância os fixaram com uma corda. Sabia que a qualquer momento poderia arrebentá-la, afinal, já quebrara uma corrente de metal quando fora capturado com outro guerreiro, em uma missão do seu primeiro campo de treinamento.“Corra Gareth, eu cuido deles”. E ele cuidara. Eram oito. Porém “Quebra-Ossos” matou todos ficando com uma grande cicatriz nas costas de lembrança – mas não mostrava isso à ninguem. Desejava que seu feito tivesse sido reconhecido, mas não sobraram testemunhas para isso e nunca mais encontrou Gareth. Se enfrentasse esses homens no entanto... com tanta gente assistindo, poderia ficar famoso. Talvez pudesse limpar seu nome pelo crime que cometera anos atrás. Estava cansado de ser mal-julgado por isso. Não. Eu prometi à Bartolomys. Tentou encontrar Jorel mas não conseguiu. O desgraçado já fugiu. E assim aceitou o seu destino de prisioneiro.


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