Mudanças escrita por Jessy Hell


Capítulo 14
13: Chuva de sorte ou azar




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Luna estava nauseada e vomitava no banheiro. DC e Mike estavam preocupados.

— Mana, tudo bem?! – Mike batia na porta do banheiro mas só recebeu o som de vômito em resposta.

— Ela tá assim tem uns cinco minutos, cara – DC comentava extremamente aflito.

— Sorte tua que a titia não tá aqui, ela já ia pensar besteira desse vômito todo da Luna! – Mike comenta num riso – Ainda mais com o bem te vi cantando de manhã cedo perto da casa

— Para com isso, ô! – DC fica mais nervoso ainda com a insinuação de Mike sobre gravidez – A Luna e eu não fizemos nada ainda pra isso acontecer, caramba!

— Hahahah, eu sei. Mas que a gente pensa merda, pensa. Mas fala sério, nada a ver vocês comprarem aquele lanche zoado do ver o pesinho, cacete! Agora ela tá aí botando o bucho pra fora!

— Não pensei direito, tá? A minha mãe tinha acabado de falar com a Luna por telefone e a minha namorada ficou mais branca que coalhada, zé mané! Quis fazer um agrado... Nem sei o que elas falaram...

DC se refere a ligação que dona Keiko fez na UFPA na hora do almoço, querendo falar com Luna. Ficaram por 20 minutos conversando longe do garoto. Quando Luna voltou, estava calada e muito branca. Nervosa que só. DC comprou uma coxinha com suco para a namorada e voltaram em silêncio o caminho todo. Assim que chegaram em casa, Luna trancou-se no banheiro e começou a vomitar. DC só teve tempo de chamar Mike que estava varrendo a cozinha para ajudar.

— Ela foi legal, mas me deixou nervosa... – Luna aparece do nada, assustando os dois. Cabelo bagunçado e muito fraca – Por isso vomitei. De nervoso... Ela falou que gostou de mim, que fez seu irmão revirar meu facebook e que estava feliz pela gente. Mas que se eu fizesse você sofrer como “aquela outrazinha fez” – Luna falava de Mônica – Eu me arrependeria amargamente.

— HAHAHAHAHAHAHAHAHAH! Tens uma sogra psicopata, se fodeu! – Mike riu até levar uma bordoada de DC.

— Respeita, oxi! – DC correu para Luna – Tá tudo bem? Foi só isso mesmo que ela disse?

— Ah, sim... Algo sobre gravidez precoce e tal... Não lembro muito. Quero tomar banho! – Luna voltou para o banheiro. DC suspirou.

— Caramba, a mamãe não muda! – DC coçou a cabeça. Sua mãe era uma das poucas pessoas que entendiam ele. Até falar ao contrário falava às vezes com ele. Seu pai também o apoiava, mas não tanto quando sua mãe.

— Sua mãe tá assim porque não viu a Luna. Quem não gosta dessa baixinha marrenta? – Mike riu – E sem contar que se tu fizeres a Luna sofrer, a gente vai fazer pior que a sua mãe... – Mike voltou para a cozinha.

***

Assim, à noite...

— Égua do toró, mana!

Pitt chegava em casa completamente encharcado da chuva. Seus dreads pingando pela sala. Luna estudava no sofá enquanto Mike e DC jogavam xadrez (na verdade DC explicava pela décima vez o movimento em “L” do cavalo para o loiro).

— Vai pegar logo um pano de chão e limpar esse aguaceiro. Se a mamãe vê... – Luna comenta sem tirar os olhos do livro de anatomia. Pitt bufou.

— Ela taca fogo no meu cabelo. Eu sei, eu sei – O moreno revira seus olhos verdes para o teto e vai para a cozinha. DC solta uma risada.

— Sabe, minha avó tinha uma espécie de ritual para fazer a chuva passar.

— Tua vó batia um tambor, é? – Mike pergunta até levar uma livrada na cabeça de Luna

— Cala a boca, estrupício!

— Égua, perguntar não ofende! Eu não sei nada de mandiga oriental, Luny! Oxi... – Mike reclama enquanto massageia a cabeça – A Luna também faz umas paradas pra chuva passar. E funciona! Essa pequena liga e desliga São Pedro, é impressionante!!

— Ah é? – DC sorri para a namorada que voltou a enfiar o livro na cara.

— Uhum! Mas primeiro diz a coisa da tua avó que eu digo os vodus da Luna! – Mike fala. Pitt aparece na sala já seco e com um pano na mão. Começa a enxugar as poças de água espalhadas pela casa.

— Não diria que é algo “místico” e tal... É mais uma tradição que temos... Se chama teru teru bozu.

— turu turu bozu? – Mike pergunta – Turu é uma espécie de minhoca que dá no pau aqui. É mó gostoso sopa de turu... Hummmm...

— Jesus, larga de ser gala seca, doido! – Pitt reclama da porta, ainda agachado – O DC disse TERU TERU BOZU, seu surdo!

— Eu não tenho google tradutor no ouvido, Pitt! – Mike responde. Luna ameaça dar com o livro de novo no primo.

— Enfim, o teru é um bonequinho de pano que fazemos e colocamos na janela, pedindo um bom tempo. Quando atendido o pedido, deixamos uma recompensa para o teru. O bonequinho é tipo assim: - DC se aproxima dos papeis de estudo da Luna e afana uma folha e um lápis – Ele é tipo um fantasminha. Aí a gente amarra na janela – DC desenha o boneco enquanto fala.

— Pelo pescoço?? – Mike olha o desenho com curiosidade – Parece vodu esse negócio. O boneco fica enforcado na janela, doido!

— Acho que se tu fizeres, fica melhor DC. Seu desenho tá feio demais – Luna comenta num risinho

— Pra mim parece um zé gotinha suicida – Pitt fala aos risos.

— É que o DC desenha abstrato – Mike ri da própria piada.

— Vocês sabem criticar, hein? – DC ri também enquanto apaga o desenho.

— A Luna também faz boneco pra chuva passar. Mas é de papel – Mike comenta – Ela gruda na parede e fala pro boneco: Bonequinho, se fizer parar de chover eu te levo para passear junto comigo.

— Só funciona quando a pessoa tem que sair para algum lugar – Responde Luna – Se você fizer o boneco mas não levá-lo contigo para o “passeio”, volta a chover e bem mais forte. A minha vó quem me ensinou.

— Olha só, mais uma coisa em comum – DC sorri. Luna fica vermelha e volta a ler.

— Eu tranco a chuva no copo. Sempre funcionou – Pitt entra na conversa animado. DC o olha meio surpreso.

— Como é? – Maurício começa a rir enquanto Mike concorda.

— Fala sério DC, não sabe prender a chuva no copo? Égua, essa é mais velha do que a posição de cagar...

DC gargalhou com essa, fazendo as peças de xadrez se espalharem. Pitt continuou.

— Tu enche um copo com água e coloca um pires em cima. Aí é só virar de cabeça para baixo. A água fica presa e tu só solta quando a chuva passar. Sempre que tenho festa no inverno, faço isso – Pitt comenta.

Alguém batia na porta debaixo daquela chuva toda. Pitt correu para abrir e deu de cara com uma Paula toda molhada e visivelmente assustada.

— Égua, mana! Que tá fazendo nessa chuva?! – Luna pula do sofá e corre para a amiga que está tremendo de frio. E um pouco surpresa de ver Mike ali.

— F-Fui fazer um trabalho na casa do Yuri e...

— TU TAVA SOZINHA COM AQUELE CARRAPATINHO?! – Mike ficou bravo do nada, dando um pulo do chão. Pitt dá um sorrisinho canalha.

— FICA QUIETO, DEMENTE – Luna grita para o primo e corre atrás de uma toalha. Paula ainda estava na porta, temendo respingar a casa.

— N-Não, tinha o-outra menina... – Paula agradeceu quando Luna chegou com uma toalha grande e a cobriu – M-Mas eu tive que vir embora... E-Eu não me senti bem e aconteceu uma coisa... atchim!

— Ih, gripou... – Luna revirou os olhos – Sua cabeçuda! Devia ter me ligado. Pedia um uber pra ti... Vem tomar banho, vou esquentar uma água pra ti... – Luna foi levando a amiga para o banheiro.

Pitt e DC esperaram as garotas sumirem para atacar Mike:

— Pelo visto alguém vai perder a Paulette... – Pitt começa até levar um encarão de Mike:

— Escuta aqui cabeça de novelo, não ouviu o que a Paula disse? Aconteceu alguma coisa. Se aquele fodido tentou algo com a Paula... – Mike rangia os dentes.

— Só saberemos quando ela sair do banho... – DC respondeu catando as peças de xadrez.

Esperaram muito até Paula aparecer na sala, usando um dos blusões de Pitt e uma legging de Luna. Estava visivelmente sem graça pelas roupas. Mike a olhava admirado. Ela estava linda.

— Paula. O que aconteceu? – DC começou quando Paula sentou-se no sofá.

— Atchim, desculpe... – Paula segurava as mãos num nervosismo grande – O I-irmão do Yuri... Ele... – Paula começou a chorar baixinho.

— Paula do céu, o que aconteceu? – Luna estava nervosa, pensando várias coisas. Mike ficou gelado e correu para o lado da garota.

— Estávamos estudando, Lúcia, Yuri e eu quando o irmão de Yuri apareceu, bêbado... Começou a gritar para sairmos dali, pois iria trazer uma garota e não queria pessoas ali. Nos xingou... – Paula soluçou – Foi extremamente rude conosco. M-Me agarrou pelo braço e me levantou – Paula chorou mais ainda – me encarou e disse... Disse...

— Ele te ofendeu, Paula? – DC perguntou já bravo demais.

Ela afirmou com a cabeça.

— EU MATO ESSE CARA! – Mike berrou, assustando todos. Paula se agarrou em Luna.

— E-ele olhou pra mim e d-disse: “Mas você é g-g-gostosa... P-Pode ficar comigo e com a mina q-que vai chegar... D-dou conta... d-d-d...” – Paula começa a chorar de novo – Foi nojento, nojento... As coisas que disse...

— E-Ele tentou m-me tocar mas o Yuri não deixou. C-começaram a discutir e o irmão dele o bateu no rosto. Eu gritei e Lúcia pegou na minha mão e corremos para fora. Viemos correndo na chuva com medo.... Eu, eu... – Paula tremeu e Luna a abraçou. A garota estava em estado de choque – N-Nem sei como o Yuri está, ele nos defendeu... N-Não podia ter deixado ele lá com aquele nojento...

— Calma, flor... Estamos aqui para você – Pitt começou – E a sua amiga, a tal Lúcia?

— N-Não sei... Corremos juntas mas depois nos separamos... E-Eu só queria chegar aqui. Me sentir segura... – Paula foi interrompida pelo toque de seu celular. Luna pegou o aparelho e viu o nome de Yuri piscando.

— Vou atender, tá? – Luna disse e apertou o botão verde – Alô?

— Paula? Meu Deus, me perdoe. Meu irmão... Estou tão envergonhado... – Yuri tinha a voz trêmula e anasalada. “Certeza que o nariz foi quebrado” Luna pensou.

— OUOUOU, Espera! Não sou a Paula, sou a Luna. Explica direito essa parada, minha melhor amiga chega toda molhada e chorosa aqui em casa... – Luna coloca no viva voz.

— Ela está bem? – Yuri pergunta – E Lúcia? Está com ela? Está com vocês?

— Essa Lúcia não tá aqui, não. Depois vejo isso. Onde tu tá? Quer vir aqui em casa pra explicar o que aconteceu?! – Luna tomou as rédeas da situação e se levantou do sofá enquanto Mike era segurado por Pitt. Queria falar ao telefone.

— Outra hora explico, estou indo ao hospital e logo depois irei a delegacia. Farei um BO contra meu irmão. Gostaria de saber se Paula quer ir junto, registrar queixa. O que ele fez com ela é imperdoável! Nem se ele tivesse me quebrado o rosto todo eu sentiria tanta dor quanto agora, quando lembro que ela chorou... Eu... Eu...

Paula empacou. Era tocante saber que ele estava daquele jeito. Mike bufou de raiva:

— Reza pros PM’s acharem teu irmão antes de mim, que eu mesmo vou ser preso pelo que vou fazer com ele, cara!

— Ele deve ser punido pela Lei. Sei que a situação é revoltante, mas... – Yuri começa mas Mike interrompe:

— Revoltante? EU TÔ É PUTO, CARA! A PAULA CHEGA AQUI TODA PERTURBADA E TU ACHA QUE DÁ PRA FICAR SUSSA, CARALHO?! – Mike berrava de raiva, lágrimas aparecendo – EU TÔ COM VONTADE DE MERENDAR TEU IRMÃO DE PORRADA...

— Calma, porra! – Pitt ainda segurava Mike. DC resolveu entrar na conversa:

— E seu irmão, onde está agora?!

— Não sei. Ele me bateu várias vezes e depois foi embora. Nossos pais estão viajando... – Yuri começa a falar – Posso falar com a Paula, por favor?

— Não, não pode! – Mike fala da cozinha, para onde foi arrastado por Pitt. Paula balança a cabeça em forma negativa. Luna repassa:

— Ela não quer falar agora, acho que você entende... Vou desligar. Tenta ligar para a tal da Lúcia e depois nos informe. Boa noite – Luna desligou. DC estava sem reação. Pitt voltou a sala.

— Cadê o... – DC começa mas Pitt responde:

— Tá bebendo água. Pelos fundos ele não sai porque tô com a chave.

— Paula, você tem que prestar queixa. Ele te agrediu, te insultou... – DC se aproxima devagar. Paula nega.

— N-Não posso. Não consigo. Tenho medo...

— Vamos com você – Luna fala voltando a sentar perto da amiga.

— E-Eu... Eu... – Paula chora novamente e corre para a cozinha.

 As coisas que aquele cara disse foram tão sujas. Ela nem teve coragem de dizer tudo. Paula não sabia como dizer que aquele cara foi idiota, machista e preconceituoso. Racista. Ele a chamou de “pretinha suja” quando ela tentou se soltar do aperto dele. Antes de Yuri berrar para ele calar a boca.

— Amanhã vou contigo na delegacia – Mike fala bastante sério, fazendo Paula se assustar – Não pode deixar esse cara impune. Sinto que aconteceu algo mais e sei que vai contar pra gente depois, quando se acalmar...

— M-Michelângelo... – Paula sussurra. Mike se aproxima da garota com um copo com água e açúcar. Oferece para a garota que agradece silenciosa. Bebe devagar enquanto ele continua:

— Eu quero o teu bem, e tu sabe disso...

— N-Não bate nele... E-ele pode revidar, t-te machucar... – Paula estava nervosa desde que Mike disse que bateria no irmão de Yuri. Tinha medo de Mike ser preso.

— Sabe que não é do meu feitio passar pano pra cara que é babaca pra mulher... – Mike dá um sorriso sem graça enquanto mostra a cicatriz na parte interna do braço da surra que levou do pai de Luna – Ainda mais que aquele cara fez isso contigo – Ele aponta para a marca de apertão que ficou no braço fino da garota – Quer gelo pra isso?

— A-A Luna vai cuidar disso... – Ela fala olhando para o fundo do copo. Suas lágrimas caiam dentro dele.

— Senta aqui, vai... – Ele puxa duas cadeiras – Meu pescoço tá doendo de olhar pra cima – Ele se senta em uma enquanto Paula ri e senta em outra – Aeeh, mesmo nível de olhar agora!

Os amigos discutiam na sala, Pitt ligava para Carlos aparecer imediatamente na casa enquanto o estudante de História berrava no viva voz que ele estava num engarrafamento dos infernos e que ia o mais rápido que pudesse. Paula sorriu ao ouvir isso.

— Todos nós nos preocupamos contigo, até o zé ruela desse tal de Yuri, pelo que percebi – Mike fala a contra gosto – Eu principalmente.

— É engraçado... Porque... – Paula iria comentar algo, mas Mike riu.

— Engraçado o cara que mais te machuca falar isso? – Mike sorri enquanto recebeu um olhar assustado de Paula – Sei que parece contraditório, né? Mas me preocupo mesmo contigo e quero teu bem...

— M-Mike, m-me desculpa... Eu... – Mike não deixa ela terminar.

— Se eu pudesse ser lógico, eu te daria todos os motivos do porque eu agir assim, desse jeito... Mas é complicado porque até eu não me entendo às vezes, sabe? Tipo, olha a porra da situação de agora. Era pra eu tá te acalentando e não falando besteira. Puta merda... – Mike coça a cabeça e se levanta – A-Acho que vou falar pra Luna vir e ficar contigo. Vou falar merda...

— Não! Fica, por favor – Paula pede segurando o pulso do loiro. Os dois ficam admirados com o gesto, já que ela sempre evita contato físico com Mike – Me desculpa! – Ela solta com rapidez.

Eles ficam calados por muito tempo, só ouvindo as vozes vindas da sala. Algumas vezes, Paula espirrava e Mike sussurrava “saúde” para a garota. Não era de todo desconfortável, mas Mike estava ficando sufocado com o que queria dizer para a garota.

— Sua mão é macia... – Mike olha a mão direita da garota voltar para o copo – Ah Paula... – Ele suspira – O DC me aconselhou uma coisa... Mas não sei bem como fazer isso...

Paula o olha com expectativa. Aquela noite estava sendo uma montanha russa de emoções.

— Não vou fazer isso agora, tu tá toda confusa e assustada com o que aconteceu... Seria babaquice falar o que quero falar, mas sem saber como falar... Podia escrever uma música, mas com o que rima burrice? Eu sou todo pomba lesa, devia tá preocupado contigo. Quer dizer, eu tô! Quero quebrar a cara desse filho da puta mas também quero tanto te abraçar e proteger, ai meu caralho, tô confuso! Tô numa cuíra só de te falar um treco... – O menino falou numa rapidez impressionante, até respirar fundo – Eu gosto de ti, Paula. De rocha. Tipo, muito muito mesmo. Sabe muito? Então...

Paula ficou mais muda do que já estava. Ela o olhava numa espécie de transe. Mike começou a ficar vermelho. Quatro cabeças apareceram na porta, mas o clima estava tão tenso na cozinha que Mike não percebeu.

— Ô pequena, tu ouvistes? – Mike estala os dedos na frente dela.

— S-Sim – Paula sentiu uma bolinha de esperança se encher em seu peito, mas logo murchou – V-Você gosta de mim como amiga, não é?

— Égua, gosto – Mike respondeu e Paula olhou para o chão – Mas não é desse gostar que eu tô falando. Tipo, é gostar de... Meu Deus, isso é tão difícil. Os filmes fazem parecer tão fácil, cacete! – Ele dá voltas na cozinha, fazendo Paula o acompanhar com o olhar – Eu devia era ter lido mais dicionário na infância, assim teria um monte de coisa bonita pra te falar! – Isso arranca uma gargalhada de Paula. Mike sorriu ao ver isso. Ela tinha um sorriso tão belo.

Os quatro espiões também queriam rir, mas seguraram. Estavam perto de testemunhar uma confissão? Uma confissão de amor de Mike?

— Pera, eu vou falar. Me dá um tempo. Esse negócio de falar é complicado. Mas eu não posso chegar te beijando, porque eu faço isso com outras meninas. NÃO, NÃO FAÇO À FORÇA, NÃO PENSA ERRADO! – Mike começa e Luna queria esganar o primo. Ele iria se declarar falando de ficadas anteriores? DC segurou a namorada – Pinta um clima e só avanço quando elas dão brecha, saca? – Mike se cala assustado enquanto Paula o encara um tanto sem entender – Égua, não disse que sou burro? Olhaí eu falando de coisa nada a ver pra ti! Devia ter pedido pro DC ter escrito uns negócios e eu mandava pra ti. Eu não ia conseguir ler na tua frente porque tu sabes como leio mal...

Paula riu de novo e se levantou, assustando Mike. Ela iria embora?

Ele não estava fazendo de propósito. Ele queria falar que a amava. Que para ele, Paula era a garota mais linda do mundo. Que tinha olhos tão brilhantes que as estrelas pulavam redondinho pra competir. Que a voz dela era tão gostosa de se ouvir quanto a iniciação de um PSOne pra ele. Gostosa e arrepiante. Que a risada dela era tão bonita quanto dedilhar um violão e arrancar umas notas. Queria dizer que tinha tentado escrever uma música para ela enquanto tinha que estudar para uma prova. Acabou que não teve música pois letra nenhuma conseguia passar o que ele via naquela garota e uma bela nota baixa para ele. Que gostava quando ela usava rosa, que ela ficava um doce assim. Que queria ser digno de ter um toque dela, um beijo. Que queria ser dela.

— Mike, se você está nervoso assim, pode ser que não esteja pronto para falar o que quer f...

— EU TE AMO PRA CARALHO, PAULA!

Todos ficaram assustados. Mike arregalou os olhos e eles ficaram marejados. Não era assim que ele tinha imaginado se declarar. Ele amava mesmo Paula? Amava. Certeza de que amava.

— O... O que... D-D-Disse...? – Paula sentou-se novamente

— Eu amo esse teu jeitinho meigo, amo como é inteligente, amo sua voz, seu cheiro de tangerina, adoro quando fica vermelha perto de mim. Você é justa, doce, sempre quer ajudar alguém. Tu és tipo uma tapioca quentinha com o café da tarde, sabe? Perfeita...

Paula estava em choque. Aquilo estava mesmo acontecendo?

— Gosto de ti desde moleque, e eu te juro, nem pra Luna falei isso. Eu... Eu não me acho suficiente pra ti, sabe? Olha tu! Toda linda, inteligente pra caramba, toda fofinha... E eu? Sou um mané enorme. Eu... Eu ficava com todas aquelas garotas porque eu não tinha coragem de chegar junto. E vou confessar, acabei pegando gosto de ser safado desse jeito. Sei lá, meio que pra tapar o buraco do meu coração. Ih rapá, tá parecendo enredo de letra de sertanejo! – Mike continua:

— Lembra quando a Anne falou aquelas merdas pra ti? Quando tínhamos 13 anos? Bicho, fiquei muito puto. Quem aquela doida pensava que era pra falar daquele jeito contigo? Oxi. Tu mó bonita, altona, um mulherão mesmo naquela época... Eu... Sei que também gosta de mim, e não tô falando por convencimento. Sério. Claro que dependi do DC pra notar umas coisas... Sou mega feliz em saber disso agora... Mas se quiser dizer que gosta, deixa eu gravar? Vou querer colocar como despertador, sabe?

Paula riu abertamente agora. Ela estava serena. Calma. Numa felicidade gritante.

— Eu só... Não vou pedir uma chance porque seria canalhice, né? Logo hoje. Mas... Posso mostrar que quero mudar e te provar que te mereço? Não quero que se arrependa. Quero ser o melhor que posso ser por ti, Paula. Tu merece esse meu esforço – Ele a olha nos olhos. Como queria beijá-la, mas não faria isso. Não agora.

— M-M-Mike... Hoje é o dia mais feliz da minha vida... – As lágrimas desciam gordas pelo rosto fino. Ela tremia de emoção. Mike sorriu:

— É o dia mais feliz até agora! Juro que vou fazer todos os teus dias serem felizes, lindona. Mas primeiro preciso te passar confiança. E merecer ouvir que gosta de mim do mesmo jeito que gosto de ti. Mas quer mais um copo d’água com açúcar? Tu tá tremendo de novo e...

Ela o abraçou pelo pescoço, cobrindo-o completamente. O garoto ficou vermelho e só aí viu os quatro enxeridos na porta da cozinha mandando beijos pra ele. Mike não correspondeu ao abraço de tanta raiva pelo atrevimento daqueles quatro.

— EU VOU SOCAR VOCÊS TUDINHO, SEUS SEM-MÃE! – Mike berra, assustando Paula. Quando ela se virou, viu seus amigos correndo para a sala. Ela sorriu.

— Mike, eu também tenho tanto para lhe falar... Eu...

— Não agora. Eu espero. Nada mais justo, né? Tu esperou um monte pra eu me tocar do quanto gosto de ti... Eu aguento, de rocha. Vou fazer valer a pena essa expectativa. Eu só tô meio chateado de como foi, pensei em fazer algo mais bonito. Mas o calor do momento e das circunstancias foram o suficiente pra tomar essa decisão. Quero te proteger e cuidar de ti. Zelar pelo teu bem. Desculpa ter demorado e ter sido hoje.

— Não peça desculpas, foi lindo... De verdade – Paula suspirou, sentindo o perfume de Mike na sua blusa – Bom... Agora o que somos?

— Sei lá, ainda amigos, eu acho. Que se gostam. Mas que eu quero te provar que valho a pena, quero. Só posso ficar contigo depois disso. Não quero que pensem que tá comigo por pena, égua.

— Hahahahah!

— EU PENSARIA ISSO – Carlos gritou da sala

— TU VAI É FICAR SEM DENTE, ISSO SIM! – Mike respondeu de volta.

— Vamos pra sala? – Paula pergunta.

— Contigo vou até pra casa do cacete, lindona... – Mike sorria de um jeito tão bonito.

 

 


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Notas finais do capítulo

Olha só as bebês da fic (faltou o Carlos, mas ele estava dando aula na hora)



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