Crônicas de uma galáxia escrita por Mrs Dewitt


Capítulo 5
Tempo




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Com o passar do tempo, eu fui me acostumando à presença dele. Não me acostumando a ponto de não reagir mais a ele, sua voz e a sua presença em si, mas me acostumando a sentir meu coração bater mais forte sempre que aqueles olhos se voltavam pra mim.

Sempre que aquela constelação aparecia no meu céu.

Com o passar das horas, dias e semanas, eu fiz quinze anos e uma amiga. A constelação dela tinha algumas estrelas semelhantes a minha, e nos demos bem. E, graças a ela, eu me tornei mais próxima ao Marco.

Entenda: ela tinha algumas estrelas muito simpáticas. Elas tinham um brilho rosado e suas órbitas eram gigantescas. Fazia as pessoas sorrirem, e era por si só uma fofa. Com pouco tempo de convívio, ela já era minha melhor amiga, e já tinha estabelecido uma meta própria que envolvia a mim, ela mesma e ao Marco. Ela queria fazê-lo sorrir.

As estrelas daquela constelação estranhamente boa eram todas introvertidas. Ele não falava muito, não era muito social e com certeza não ria. Algumas vezes, alguma estrela se iluminava um pouco mais e era possível ver seu brilho naqueles olhos escuros, mas nunca passava disso.

— Sorri. – Ela disse, a voz doce e infantil demais para uma menina de 15 anos.

— Não. – Ele resmungou de volta, braços cruzados. Óculos escuros.

Sentada no sol, eu só observava a conversa, e a cor do cabelo dele.

— Sorri, vai. – Ela insistiu.

— Não vou sorrir, já disse. – Respondeu, descruzando os braços e se sentando ao meu lado. Quase vomitei meu coração, mas externamente continuei comendo minhas bolachas.

— Sorri. – Disse, olhando pra ele e já rindo. Gosto muito de rir.

— Não. – Ele respondeu, voltando seus olhos para mim. Me perdi naquele olhar por alguns segundos, antes de balançar a cabeça e fitar meus tênis brancos e sujos, corando.

— Tá bom então. – Peguei mais uma bolacha. – Quer?

— Você sempre desiste assim fácil? – Ele perguntou, pegando o pacote que eu oferecia.

— Só estou com preguiça. – Resmunguei. – O sol me deixa lerda.

— Por isso que não fico muito no sol. – Ele continuou.

— Achei que você queimasse no sol. – Retruquei, rindo e oferecendo o pacote de bolachas à Isabella, a constelação fofa.

— Que engraçada você. – Ele respondeu com um ar de riso, porém não pude ouvir nenhuma risada. Em pouco tempo, a causa de Isabella era a minha também. Tinha se tornado pessoal.

Nós duas falávamos bastante idiotice na esperança de fazê-lo sorrir, e só uma parte de mim estava preocupada com a possibilidade dele realmente me achar uma idiota.

A princípio, muitas coisas que ele dizia eu não sabia como interpretar. Não sabia se ele estava sendo sarcástico, irônico ou realmente cruel. Depois de um tempo, me sentia muito orgulhosa ao admitir que já sabia diferenciar os tons da sua voz e os significados das suas palavras.

Havia uma menina que era profundamente apaixonada por ele, e estudava na minha sala. Ela inventava todo tipo de boato sobre os dois, e espalhava por toda a escola. Descobri que mais de uma vez isso já havia causado problemas, e em pouco tempo já nutria um ódio parecido com o dele por ela.

Nós nos esforçávamos em ridiculariza-la o máximo possível, além do que ela já fazia a si mesma.

Minha estrela responsável pela minha ética não ficava nem um pouco feliz com isso, e me lembrava constantemente de que não era certo. Mas eu respondia a mim mesma que nem ela parecia perceber que estávamos sendo irônicos quando comentávamos o ‘quão inteligente ela era’, e que então estava tudo bem.

Fui descobrindo algumas coisas que me faziam gostar ainda mais daquela constelação. Ele era inteligente, determinado, bilíngue, já tinha morado no exterior, era leitor e admirava grande parte dos livros que continham a minha admiração e ainda, normalmente concordava com todas as críticas que eu fazia a escola, ao país, ao mundo e a humanidade.

Eu me sentia confortável perto daquela constelação. E nunca tinha me sentido assim antes.

Um ou dois meses depois de entrar na escola, fiquei sabendo que haveria um passeio a um parque de diversões dali a algumas semanas. Eu e Isabella ficamos animadas, e confirmamos presença.

As estrelas de Isabella começaram a me fazer uma descrição completa do parque, de suas atrações, do evento e de quem estaria lá. Uma quantidade enorme de estudantes da rede estadual.

Veja bem, uma das minhas estrelas tem uma variação de sociofobia ou síndrome do pânico que me impede de ficar em algum Lugar que esteja absurdamente lotado de desconhecidos sem me fazer passar horrivelmente mal.

Então, eu precisava de alguém que fosse ao passeio e estivesse totalmente disposto a passar o dia inteiro ao meu lado e me proteger de qualquer indivíduo suspeito que parecesse querer me apunhalar.

— Marco, só queria dizer que tu vai no passeio, tá? – Soltei, no intervalo. Como se não estivesse pedindo nada demais, mas implorando por dentro.

— Eu vou? – Ele perguntou, virando para mim.

— Aham. – Continuei, mãos nos bolsos, escorada na parede.

— Vai Marco, daí vamos todos. – Isabella emendou. Santa Isabella intercedendo por mim, sem saber.

— Tá bom então.


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