Faltavam poucas semanas para as férias de inverno, e fazia cinco meses que eu não o via.

            Começara a esquecer do seu rosto, e de alguns detalhes. Não lembrava mais do seu cheiro, e a sensação de estar perdendo-o aos poucos era horrível. Acordava a noite, tentando lembrar de como era estar nos braços dele, e percebia que aquela memória não estava mais lá.

            Nós fazíamos planos. Coisas que queríamos fazer juntos. Eu queria ir até ele quando as férias começassem, e queria matar essa saudade esmagadora que morava dentro do meu peito e me impedia de dormir bem á noite. Queríamos ter o que as outras pessoas têm, e muitas não valorizam. Coisas simples, coisas que casais fazem todos os dias e, mesmo com seis meses de namoro, nós ainda não tínhamos tido a oportunidade.

            “Tu vai falar com teus pais logo, não vai?” Ele me mandou.

            “Logo depois da mudança, eu falo”.

            “Eles têm que deixar. Tu vai pagar tudo. Não precisa nem ficar hospedada aqui em casa, pode ficar na casa de algum ex-vizinho de vocês que eles confiem, e eu te pego lá e te levo de volta todos os dias.”

            “Espero que dê tudo certo Guapo”.

            “Vai dar. Eu sei que vai.”

            “Faltam oito semanas”.

            Mantínhamos a crença de que contando com semanas, criávamos a doce ilusão de que era menos tempo. Dizer “oito semanas” parecia ser menos do que dois meses. Pra nós, pelo menos, parecia. E qualquer coisa que fizesse o tempo parecer passar mais rápido, era bem vinda.

            Eu sentia falta dele. Sentia muita falta dele. Sentia falta dos momentos que tínhamos tido e dos momentos que teríamos. Sentia falta de coisas que eu nem sabia como eram, como assistir a um filme juntos num sofá qualquer. E sentia falta daquela risada perfeita.

            Aquela constelação tinha mudado completamente a minha pessoa e a minha vida em muito pouco tempo. Não era mais reversível, e eu nem queria que fosse. Eu só queria que fosse pra sempre.