Você caminha em meio a multidão sem saber o que te espera. Olha para o relógio em seu pulso pensando que poderia ter saído de casa mais cedo, mas logo se conforma com a situação ao lembrar que o possível atraso se deu pelo nervosismo; passou muito tempo no espelho admirando-se pela roupa que usava. Estava realmente muito bem.

Seu coração dispara no peito, é um sentimento totalmente novo. Os pelos de seu braço se eriçam a ponto de você precisar esfregá-los, pois com eles veio um certo frio na pele. Em seu estômago, mil borboletas. Esta é sua noite, muitas emoções estão por vir. Emoções, estas, inimagináveis.

São sete e cinquenta e cinco da noite. Não está atrasado. No telão do recinto, rostos e mais rostos. Você sorri, meio que sem motivo. Está quase na hora.

O tempo vai passando e tudo parece estranho. Cresce dentro de você algo triste, ruim. Decepção. Mas não dura. Você olha ao redor, várias pessoas sorrindo, alegres, como se estivessem felizes por você. Deve haver um motivo.

E há.

Olha para frente, lá está quem você esperava. Aquele "alguém" surgiu. Bem na hora! Nesse momento há apenas uma certeza, tudo vai mudar. Está cheio de expectativa, esperança, sonho (talvez). É a sua primeira vez nisso. "Primeira de muitas, com certeza!", você pensa. “A espera acabou!"

Quando o "alguém" esperado aparece, tudo muda, realmente. A partir desse momento, cada toque, cada som, cada mínimo detalhe será importante.

E é. Finalmente é.

De repente há milhares e milhares de cores no céu, milhares de vozes e urros de alegria e gozo espalhados, canções, gritos, vivas. E essa excitação permanece por um longo tempo (nesse momento, tudo parece parar, e bem que poderia).

É, sua primeira vez foi mágica. Memorável, eu diria. Para todos sempre é. E você não está sozinho. São pelo menos outros quarenta mil sentindo o mesmo. Para alguns não é a primeira vez, claro, mas para todos é o mesmo sentimento.

Afinal, de tudo isso conclui-se: A primeira vez de um torcedor em um estádio de futebol é como o primeiro beijo de qualquer um. Sente-se medo de errar, nervosismo, borboletas no estômago, coração a mil e paixão; muita paixão. Quando aquele "alguém-esperança do time" entra em campo, as expectativas são renovadas. Respira-se aliviado. A tensão cai e só fica a alegria. Cada toque de bola é arte, cada grito vindo da arquibancada e ecoado no estádio é refletido para dentro de campo como apoio, cada mínimo detalhe e conselho do "professor" no banco é crucial para a vitória.

Só há uma diferença entre "beijo" e "partida"(e não me interprete como alguém que não gosta ou rejeita beijos): O sentimento de um é sempre o mesmo. Até porque só se tem seu primeiro beijo uma vez, e ouso dizer que depois fica repetitivo e natural, mas a emoção de ir ao estádio ver seu time do coração jogar pela quadragésima nona vez é a mesma de tê-lo visto jogar pela primeira. E o melhor de tudo é que o sentimento não é só entre duas pessoas, mas entre milhares. Sejam vinte, trinta, quarenta, sessenta mil. Não só divide-se, reparte-se, ao passo que multiplica-se. E por mais de noventa minutos, alegra-se.

Por essa razão, transmito algo que aprendi com meu pai, meus tios, meus "amigos que considero da família": Passe essa paixão futebolística. Entregue-se e compartilhe alegrias, tristezas, títulos, vices e mais do esporte capaz de parar guerras, criar futuros, unir desconhecidos, desenhar sonhos e construir corações apaixonados e dispostos a se alegrar, como se o espírito do Natal estivesse presente durante todo ano, a cada final de semana, na sala de casa, na mesa do bar, no churrasco de família, nas orelhas grudadas no rádio ou nas arquibancadas de um colossal.  

Fato do futebol e da vida é: Quando o amor é compartilhado, ele é muito mais amado.