Teias do Destino escrita por Selene Black


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

"Fus Ro Dah": traduzido como 'Unrelenting Force Shout'. O grito dracônico é conhecido por empurrar e desequilibrar oponentes, lançando-os a uma distância considerável (dependendo da intensidade). Ulfric Stormcloak é conhecido por ter desafiado e matado o Rei Supremo anterior, Torygg, com este grito.

[Uma opinião, por gentileza: vocês acham que devo manter os feitiços com os nomes oficiais no capítulo e traduzi-los/descreve-los nas notas? Acho que o nome em português deixa muito a desejar...]



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Apenas uma das celas estava ocupada, a mais distante da saída. Era vigiada por quatro guardas, alguns entediados, outros bastante abatidos.

Um barulho grave veio de dentro das grades: um homem vestia a armadura de oficial Stormcloak, mas a mesma estava em farrapos. O mesmo podia ser dito dele: seus pulsos e tornozelos estavam em carne viva devido às grossas correntes que os prendiam. Os joelhos sangravam, provavelmente de tanto batê-los no chão. Sua cabeça continha uma atadura manchada de sangue.

— Ele voltou a bater a cabeça na parede – comentou um dos soldados – Devemos chamar o mago novamente?

— Falion passou a madrugada aqui. Vamos deixa-lo descansar um pouco – um Stormcloak ruivo e de porte atlético respondeu; observando as mulheres aproximarem, alertou – E as senhoras, quem são e o que fazem aqui?

Serana sorriu.

— Eu sou Serana e esta é a Thane, Maethorel Verthandi.

O soldado arregalou os olhos.

— Dovahkiin – fez uma mesura, corrigindo a postura largada em que se encontrava – Me perdoe, faz anos que não a vejo. Lady Serana, a senhora continua tão bela como me lembro.

Serana ergueu uma sobrancelha. Para ela era tão comum receber um elogio, quanto um Daedra aparecer oferecendo hidromel.

— Se lembra de mim, mas não se lembra de Sora? – estranhou.

O soldado sorriu. Sua expressão era contida e moderada, embora seus olhos faiscassem de admiração. Sora disfarçou o melhor que pôde; sabia o quanto a amiga não lidava bem com elogios, ainda mais relativos a sua beleza – ressaltados pelo fato de ser uma vampira sangue-puro.

— Vocês lutaram lado a lado na Batalha de Solitude – começou – Eu vivia na Fazenda de Katla, talvez se recordem de mim. Sou Blaise.

As duas lembraram-se imediatamente: Blaise era o garotinho imperial órfão que resolveu entrar na cidade no meio da batalha.

Sua ingenuidade era tanta, que acreditou que poderia se juntar ao Exército Imperial ali mesmo, em tenra idade. Qual não foi sua surpresa quando viu-se refém de um soldado imperial acuado. Sora desarmou o covarde com um Thu’um e pediu a Serana que levasse o menino apavorado a Proudspire Manor – sua residência em Solitude. A vampira encarregou-se de acalmar o menino, enquanto o capítulo final da Guerra Civil desenrolava-se a alguns metros dali.

— Você cresceu, Blaise – Serana afirmou; Sora captou o tom solene e afetivo em sua voz – Nunca vou me acostumar com isso nos mortais.

O soldado sorriu, novamente. Por um momento Sora percebeu que a expressão controlada do rapaz quase falhou.

— Em que podemos lhe ajudar, minha senhora? – ele perguntou diretamente a Serana.

— Temos a permissão de Jarl Sorli para interrogar o Capitão – Serana resumiu.

O soldado olhou para Sora, as sobrancelhas erguidas. A Dragonborn confirmou com um único aceno de cabeça.

— Certamente as senhoras já sabem que tentaram fazer isso antes – avisou.

— Sabemos. Ouvimos os soldados comentarem a respeito – Sora respondeu à pergunta implícita – Mas temos de tentar os nossos meios. Sorli não nos chamou à toa. Afinal, temos mais contato e experiência com esse tipo de situação do que vocês – só então Sora se deu conta que tinha sido insensível e os chamado, indiretamente, de incompetentes – Me desculpe, não quis ofendê-los.

Talvez eles não tenham acompanhado o raciocínio, pois um deles já abria a cela.

— Tudo bem. Vamos deixa-las a sós com ele. Mas tomem bastante cuidado – alertou um Stormcloak moreno, enquanto girava a chave; os outros foram para o outro lado da sala – O Capitão não causa danos apenas a si, mas costuma ferir gravemente quem tenta detê-lo. Se precisar de ajuda estamos logo ali.

A cela foi destrancada, mas permanecia fechada. Diferente do momento em que haviam entrado, o Capitão agora estava de joelhos, num silêncio absoluto. Parecia estar em transe, os olhos perdidos em algum ponto da parede ao lado. Maethorel observou-o, ainda parada no mesmo lugar.

Serana olhava-a, buscando entender o motivo da hesitação da outra.

— O que há?

— Deveríamos perguntar aos soldados o que já foi indagado ao oficial, antes de entrar.

Era tarde: Serana abria a cela.

O ruído das grades tirou o Capitão de seu transe e, num impulso, ele se jogou contra a vampira. Sora entrou na cela e imediatamente segurou o oficial por trás. O movimento deu liberdade à Serana para se libertar do impacto, caminhando para a lateral.

Sora aproveitou a oportunidade para recorrer a um método extremo. Abaixou a cabeça para o tronco do homem e soltou-o de uma vez.

— Fus Ro Dah! – gritou; as palavras dracônicas ecoando pelas paredes.

O Capitão foi lançado do outro lado da cela, as costas fazendo um barulho surdo contra as pedras frias da amurada.

— Por que você fez isso? – Serana questionou – Não era isso que tínhamos planejado!

Sora nem respondeu. Estava óbvio que nenhuma das duas poderia reagir enquanto se recuperavam de um ataque corpo-a-corpo.

Largado de mal jeito no chão, o oficial levantava-se devagar. Estava ferido, mas raivoso, o que era óbvio. Assim que ele ficou em pé, Serana lançou no mesmo um Feitiço Tranquilizante. Imediatamente os braços do Capitão relaxaram e ele ficou ereto.

— E agora? – perguntou à amiga, observando o oficial mancar pela cela – O que fazemos?

Serana murmurou alguma coisa, e Sora entendeu que ela também não sabia.

A força que ele havia demonstrado apenas naquele empurrão foi descomunal. E isso porque estava com as mãos atadas.

— O efeito está acabando – a vampira avisou.

Assim que o homem voltou ao normal, virou-se para elas. Sora acionou o feitiço calmante novamente e lançou-o.

— Não é possível que vamos ficar assim o dia inteiro – reclamou a vampira – Precisamos interroga-lo!

— Sim, precisamos – Sora concordou, olhando-a – Mas não vamos.

— Tem alguma sugestão, então?

Sora estava controlada, apesar da respiração rápida.

— Vamos nos ater ao que tínhamos concordado no início. Precisamos interroga-lo enquanto você utiliza seu feitiço característico – a Dragonborn encantou-o novamente para tranquiliza-lo – Mas para isso, precisamos deixa-lo imobilizado e sem reação alguma por determinado tempo. Do contrário, você acabará errando e lançando no lugar errado.

Serana lançou-lhe um olhar crítico.

— Como sugere imobiliza-lo?

— Fazendo o que estamos fazendo até agora – Sora referia-se aos feitiços calmantes – E procurando saber o que já foi questionado.

Um pigarro atrás delas chamou a atenção.

— O novo Capitão começou perguntando quem entregou a caixa. Tente evitar fazer isso – Blaise apontou – Essa pergunta leva ele a uma murmuração infinita, falando sobre o... – interrompeu-se, observando o oficial, receoso – Ele fala o codinome do... Ser. Nos outros interrogatórios a questão fez ele se auto-flagelar.

Sora voltou a olhar o pobre homem.

 - O efeito do feitiço está acabando – apontou, rapidamente – Vamos nos revezar na renovação.

Serana mal teve tempo de perguntar o por que. O oficial deu um passo rápido em direção a Sora, pronto para ataca-la. Mas a vampira enfeitiçou-o novamente com o mesmo encantamento.

— Por que estamos desviando de nosso plano original, Sora? – perguntou.

— Seu feitiço do funciona uma vez por dia e não sabemos se há como prolonga-lo com poções tranquilizantes – Sora respondeu; virou-se para Blaise – Deixa ver se entendi: há perguntas que devemos evitar?

===8===

Duas horas mais tarde, Serana e Sora estavam esgotadas. Haviam se revezado durante todo aquele período, apenas lançando feitiços tranquilizantes no oficial.

Perceberam tardiamente que se tivessem conversado com Blaise ou qualquer um dos soldados antes de entrar na cela, teriam poupado tempo, energia e algumas poções de restauração de magia.

— Acho que... agora sim, temos um material suficiente para saber o que não perguntar – ironizou Serana, mesmo sabendo que uma palavra poderia por tudo a perder.

Os efeitos do Feitiço Tranquilizante chegavam ao fim.

A vampira preparou-se, posicionando-se como se estivesse diante de uma presa. Em sua mão direita havia uma espécie de globo esverdeado, semitransparente e  etéreo. Essa era uma descrição simples da forma física que alguns feitiços assumiam quando apenas acionados.

Assim que o Capitão voltou a si, Serana lançou o encantamento vampiresco.

O oficial parou imediatamente, brilhando momentaneamente num distinto tom de verde ante a luz das tochas.

— Quais eram as diligências de sua tropa na manhã de ontem, Capitão?

A voz do homem saiu grave e levemente rouca.

— Conduzir um grupo de quinze soldados para o Forte Snowhawk – começou – E, se fosse necessário, escoltar um carregamento de provisões.

— A que horas chegaram ao forte?

— Por volta de meio-dia.

As perguntas de Serana eram rápidas, a as respostas do Capitão, bastante precisas.

— E a que horas saíram do forte?

— Três da tarde, com outro grupo de soldados.

Sora cutucou Serana. Já haviam transcorrido metade do tempo necessário.

— O que impediu-os de chegarem aqui no horário previsto?

O Capitão hesitou.

— Havia uma névoa densa e escura na estrada - sua voz estava baixa, como se dissesse algo proibido – a ao seu lado algo esperava.

— Era um homem? – Serana questionou.

— Vestia muitas capas e andava curvado. Impossível dizer se era humano – explicou – O ser nos mostrou um pano amarrado e ordenou que fosse entregue ao Conselho.

— O que houve com os soldados nos pântanos, Capitão?

O homem emitiu um suspiro.

— Estavam com medo. Não eram seus campeões.

A palavra soou familiar aos ouvidos de Sora, entretanto ela nada disse. O tempo era curto e, pelas tecnicidades do feitiço, era Serana quem deveria questionar o outro.

— Campeões de qu...

Serana começou a perguntar, até perceber que o feitiço já havia se encerrado

— Agora só amanhã – observou – Isto é, se você pretender esperar até lá.

A Dragonborn pensou a respeito.

— Ter trinta segundos por dia para questionar alguém na situação dele é complicado - Sora caminhou para fora da cela – Poderíamos pedir a Falion para tranquiliza-lo, enquanto investigamos o caminho até Snowhawk.

— Ele sozinho? – a vampira perguntou.

— Se houver problema nisso, posso ensinar o feitiço a um dos soldados – houve um burburinho entre o grupo atrás delas; Sora virou-se para Blaise, preocupada: – Algum problema?

O jovem sorriu.

— Não é todo dia que a Arquemaga da Escola de Winterhold oferece ensinar algo.


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Notas finais do capítulo

Olá, pessoas!
Gostaria de pedir desculpas a todos os que acompanham essa história. (E as minhas outras também.) Estou muito relapsa com meus escritos (leia-se *fanfics*) pois estou escrevendo três histórias originais. Para variar - e mais importante - estou na faculdade e me dedicando o máximo que consigo.
O máximo nada. Deveria estar estudando para Direito internacional agora, mas enquanto procurava meus materiais encontrei um capítulo pronto! Olha que mara!
Tava prontinho só esperando pra ser publicado!!!
Gente, fiquei besta... Me descuidei à toa.

No próximo capítulo:
Maethorel e Serana decidem investigar o caminho para o Forte Snowhawk e encontram pistas e vestígios que indicam que Ser, na verdade, não veio de uma fortaleza. E sim de uma ruína dwemer ocupada por necromantes.



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