Teias do Destino escrita por Selene Black


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Sempre vou colocar observações técnicas antes do capítulo, para ajudar a visualizar. A começar pelo nome de nossa Dragonborn:
Maethorel é um nome élfico (sério). Pronuncia-se Ma-e-ço-rel. Apelidada gentilmente de Sora ♥



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Havia o completo breu.

E então sombras. Sombras que antecediam o momento do despertar: manchas marrons e alaranjadas salpicavam seu globo ocular. Soube que estava dormindo. O sacolejar era tão acalentador, tão envolvente, que sentiu o embalo do sono lhe atingir mais uma vez.

Algo acertou as rodas. Provavelmente havia uma pedra no caminho e o cocheiro não havia conseguido desviar. Sentindo uma dor lancinante na cabeça, acordou subitamente, pronta para desferir impropérios ao servo que ia à frente, quando se deu conta que não estava em sua carroça coberta.

Muito pelo contrário. Estava em uma carroça aberta, dividindo espaço com um homem amordaçado, sentado logo à sua frente. Os cabelos castanhos claros estavam penteados para trás e algumas mechas caíam em sua testa. Era impossível descrever o tom de suas íris – verdes ou cinzas, mel ou castanho claro? Era bem mais alto que ela; e forte. Pelas linhas de expressão ao redor dos olhos, era mais velho – talvez uns quinze anos, talvez bem mais que isso.

Havia uma estranha névoa que envolvia tanto a carruagem, quanto as árvores. Mesmo o cocheiro parecia sumir diante da densidade da cerração.

O homem emitiu um grunhido leve e baixo, abafado pela mordaça.

— Ulfric – ela chamou, levantando as mãos algemadas em direção ao rosto conhecido e abaixando a mordaça com dificuldade – Ulfric, o que aconteceu?

O Jarl inclinou-se, apoiando sua testa na dela.

— Você esteve desacordada tanto tempo, que cheguei a pensar que não a veria mais – a voz rica, forte e grave era capaz de fazer um exército marchar o reino inteiro, incluindo ela, em busca de vitórias ante o Império – Em Sovngarde, talvez.

A respiração quente bateu em seu rosto.

— Jarl Ulfric...?

O Jarl de Windhelm afastou-se, encostando-se no apoio da carroça.

— Maethorel – começou ele – Maethorel Verthandi...

Sora percebeu que o assunto era sério. Seríssimo. Ulfric não a chamaria pelo seu nome completo, caso não houvesse urgência na questão.

Olhando para o cocheiro – ainda invisível –, Sora aproximou-se de seu Rei. Não estava realmente preparada para receber notícia alguma, não algemada daquele jeito. Isso lhe trazia péssimas lembranças.

— Sim, Rei Supremo.

Ulfric observou-a, cenho franzido.

— Porque você não me disse que o Devorador de Mundos... ainda estava vivo quando você deixou Sovngarde?

Sora afastou-se de súbito, as costas batendo nas laterais da carruagem.

— Eu o matei!

Um urro inconfundível ecoou ao longe. Não... não podia ser. Aquilo era impossível!

— Você deveria ter me contado, Dragonborn – a voz de Ulfric era pura decepção – Eu teria preparado o povo. Teria treinado o exército apropriadamente.

A face da mulher era puro choque.

— E-eu... Nós... – havia alguma forma de explicar a ele?

Explicar que ela e os valorosos guerreiros de Sovngarde destruíram Alduin. Mas que – sempre havia um “mas” – por alguma razão Sora não havia absorvido a alma do dragão negro?

— Ulfric, não foi isso – começou – Eu o matei. Tive ajuda, claro, como expliquei...

A explanação foi interrompida.

Um corpo voou próximo a eles. Sora abaixou a cabeça, ouvindo gritos de agonia. O Jarl nem sem moveu.

— Vamos ser enforcados – declarou, apático – Alduin retorna e tudo que o Império consegue fazer é aplicar um golpe de Estado, nos enviando para o machado. Por Ysmir, Sora! Quem orientará o povo?! Quem os guiará nesses tempos negros?

Manchas vermelhas voaram além – soldados Imperiais. Momentos depois era a vez de Stormcloaks. Maethorel sentiu o coração apertar ao perceber pessoas de robes cinzentos voarem também – membros do Colégio de Winterhold. Ouviu gritos infantis, seguidos de ruídos pastoris; homens e mulheres gritavam nomes desconhecidos para ela, ao mesmo tempo que corpos continuavam voando, em meio à névoa e ao vento. Enquanto isso, zunidos de bater de asas ecoavam com violência acima deles. O brado continuava, aparentando estar em todos os lugares.

— A vitória foi uma ilusão – Ulfric inclinou-se, a expressão apática – Foi bom servir ao seu lado, Dovahkiin.

Os lábios do Jarl caíram sobre os dela. Um beijo triste, de despedida. A constatação queimou. Queimou da cabeça aos pés.

Alduin os observava de cima e havia escolhido aquele momento para atacar.

— Toor... Shul – foi o último grito dracônico que Sora ouviu antes de processar toda a cena.

Empurrou Ulfric com força para fora da carroça. Seus braços fortes agarraram-na, segurando os ante-braços da mulher e mantendo-a firme no local, impedindo-a de se mover. O ato não fez sentido, pois minutos antes ele estava acorrentado, exatamente como ela, logo não poderia contê-la como fazia.

— Sora! – gritou, a voz distante mesclando-se aos gritos de Alduin – Sora! Pare!

— Deixe-me – falou, a voz estranhamente rouca e fraca para alguém que havia mantido toda aquela conversa – Salve-se... Vá embora!

Uma risada suave soou próximo de si.

— Idiota – ouviu.

Um sacolejo leve e a carroça quebrou, levando Alduin, Ulfric, a névoa e o cocheiro invisível para o vazio.

Sora levantou o corpo de súbito, batendo a testa no corpo de alguém.

— Ouch!

— Você gritou por Ulfric.

A voz feminina leve e aveludada era familiar. Tão familiar que Sora soube que estava em um local seguro.

— Deve ser saudades – zombou.

Abriu os olhos e se deparou com Serana, a amiga vampira que a acompanhava há anos. Olhando ao redor, percebeu que estava nos porões de Windstad Manor.

— Quer que eu envie um mensageiro a Windhelm? – desdenhou, um sorriso afetado desenhando seu rosto.

Sora preferiu não responder. Um dos passatempos favoritos da vampira era observar a amizade íntima que a Dragonborn tinha com o Rei Supremo.

— Tive um pesadelo horrível. Alduin havia retornado, enquanto Ulfric e eu fomos condenados a ir para o bloco por mentir para o povo – pensou por um instante – Mas morremos antes disso.

Levantou-se aos poucos, massageando a testa levemente dolorida. Olhou para o queixo pálido de Serana que não possuía sinal algum da colisão que tiveram há poucos instantes.

A vampira, entretanto, estava com o cenho franzido.

— Algum problema? – Sora questionou.

Serana apenas caminhou pelo cômodo, brincando de acender e apagar velas no pequeno santuário aos Nove Divinos.

— E ele está? – perguntou.

Dez anos atrás a dúvida de Sora foi momentânea; resumiu-se a uma leve preocupação sobre uma alma não absorvida. A tensão sobre o fino fio da mortalidade havia desaparecido e a mulher contentou-se com o desaparecimento do Devorador de Mundos. Voltou a Tamriel com dúvidas, mas sobretudo com o peso de uma Guerra Civil para vencer.

— Nem mesmo Paarthunax e os Greybeards souberam me dizer – respondeu – Os Honrados de Sovngarde que me ajudaram na batalha também estranharam, mas perceberam que sua presença havia desaparecido – olhou para a vampira – Ele se foi. Entretanto, como toda visita indesejável, é possível que volte.

Serana acenou, compreendendo.

— Talvez isso seja daqui a muito tempo – abriu o alçapão no teto que dava acesso à sala de troféus – Se eu disser que porventura, dessa geração, somente eu esteja viva e testemunhe isso, estarei exagerando?

Maethorel pensou a respeito.

— Só se você achar necessário viver tanto tempo – as duas riram.

Fazia sentido que Serana quisesse gastar mais alguns anos de sua imortalidade em Skyrim. Ela havia passado centenas deles trancada no subsolo, resguardando-se de uma profecia que havia sido criada especialmente para ela.

Enquanto caminhava pela casa, Sora pensou no quanto as duas tinham em comum: ela e a vampira eram lendas ambulantes, profecias vivas que caminhavam pela terra dos vivos. As pessoas apenas não imaginavam que elas tinham sentimentos, que queriam construir alguns laços, pois os seus, há muito, estavam desfeitos (ou aos poucos se desfaziam).

Serana e Maethorel eram amigas que se completavam.

A vampira, por vir de um lar que aos poucos se destruiu, até ruir completamente – culminando com a morte de seu pai, Lord Harkon, um lorde vampiro puro-sangue, que desejava extirpar a luz do Sol. Isso era uma parte resumida – de maneira tosca e feia – de história originalmente bem mais profunda.

Maethorel, por sua vez, havia crescido num lar amoroso: seu pai era um nórdico de família nobre e tradicional, os Verthandi, que havia se casado com uma altmer, uma alto elfa. A história dos dois sempre foi a mais bonita que havia ouvido; encantava-a que nem mesmo uma Guerra Civil pôde separa-los. Sua mãe lhe ensinou línguas diversas; seu pai introduziu-lhe nos conceitos mercantis. E assim, negociando suprimentos no empório da família em Cyrodiil, ela havia conhecido o rapaz imperial que um dia seria seu noivo. E ele, por nunca saber pronunciar seu nome élfico, lhe apelidou de Sora. Aquele foi o ano de 197 da 4ª Era, a última memória concreta que possuía.

Pois tudo o que Sora se lembrava depois disso era acordar no décimo sétimo dia de um verão do Último Semear (o oitavo mês do ano), no ano de 201. E hoje, oito anos depois, o mistério ainda permanecia.

Uma voz grave apareceu no salão de jantar.

— Agraciada seja, Senhora Maethorel e Senhora Serana – Valdimar aproximou-se – É uma honra vê-las novamente.

Ela sorriu. O nórdico administrava a mansão desde que Sora tornou-se Thane de Morthal. Era um excelente funcionário – e boníssima pessoa.

Não questionava a presença de Serana, nem o caixão que havia no porão, dedicado à mesma. Se reparava nas constantes visitas de facções diversas ao local, não demonstrava; era um homem ponderado e confiável. Também não se opunha ao fato de Sora ter construído uma cama no porão; lá era o único local que conseguia abafar os gritos que a mulher emitia durante seus pesadelos. O nórdico também parecia saber lidar com fantasmas, pois assim que a Dragonborn acordava, ele sempre preparava uma infusão de ervas capaz de acalmar o coração.

Como era o caso agora.

— Quais são as novas, Valdimar? – Serana sentou-se à mesa, observando Sora comer.

O administrador não alterou sua postura.

— Jarl Sorli enviou um mensageiro durante a madrugada.

As mulheres entreolharam-se. Era muito raro que Sorli entrasse em contato com a Thane. Em primeiro lugar porque Sora não precisava receber ordens para agir. Em segundo, porque a nobre (que não gostava de ser chamada assim) tinha outros soldados e funcionários à sua disposição.

— Um grupo de Stormcloaks recebeu uma encomenda de um... ser misterioso – o nórdico caminhou até o hall de entrada e trouxe um baú pequeno num dos braços, depositando-o na ponta da mesa – O pessoal da corte estava com tanto medo, que mandou colocar dentro de uma caixa e pediu para que Engar trouxesse consigo na carruagem.

Sora continuou comendo, a testa franzida.

— E os soldados? – Serana questionou.

O administrador crispou os lábios.

— Apenas o Capitão poderá dizer algo.

— Como assim?

— Alguns tiveram alucinações e se jogaram nos pântanos. Aqueles que não se afogaram, cortaram a própria garganta – explicou – O capitão foi contido e preso por precaução, até que explicasse todo o ocorrido.

Serana olhou para Sora, lançando um olhar sugestivo para o baú.

— E então? – parecia na expectativa – Vamos abrir?

Sora fez um gesto com a mão. Ainda não havia acabado de comer.

— Tenho certeza que o que quer que esteja aí dentro, pode esperar mais um pouco.


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Notas finais do capítulo

Enjoy! :D



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