Septuagésima Oitava escrita por Clara Cristiane


Capítulo 4
Capítulo 4 – O diferencial




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Era muita informação para absorver, mas ao que tudo indica minha missão era simples: Seja a Rainha e ganhe a competição, caso contrário, minha família morre.

Aparentemente era a substância que estava injetada no meu corpo que me fez esquecer 8 meses de vida, espero sinceramente que as lembranças voltem, gostaria de saber ao mínimo o que eu fiz para magoar tanto os meus amigos...

Enquanto eu pensava sobre o que faria para atingir a perfeição, uma cena chama a minha atenção.

Uma garota com uma coroa estava furiosa, ela estava furiosa e gritava com uma serviçal.

— Você é incapaz de pensar? – Tapa. – Acha que esse ultraje de comida serve para mim? – Tapa. – E, não vai existir uma próxima vez, o imperfeito não tem segunda chance.

E, depois de dizer isso, ela começa a enforcar a pobre serviçal que nem consegue se livrar de suas mãos. Todos ao redor apenas agiam naturalmente, como se ver alguém morrendo fosse normal, eu ia tentar impedir a morte da garota, mas alguém segura a minha mão.

— É a ordem natural das coisas Clara, quanto mais no topo você estiver, mais brutal e impiedosa você será.

Olhei para ver quem estava falando comigo, Vitor! Ele continuou:

— Já vi cenas piores do que a quinta está fazendo. Entre os reis, o primeiro assassinou 4 só nessa semana... E, não tente impedir, ela poderá tentar algo contra você, essa competição nunca foi justa... De qualquer jeito, é muito bom te conhecer! Como você está?

Virada para ele, eu não vi a cena da garota terminar, apenas escutei o baque do corpo no chão. Pobre coitada.

— Não olhe. Como você me disse uma vez: A minha função é manter a sua sanidade.

— Vitor! Também é muito bom te conhecer! – Dei o abraço mais forte que pude nele, finalmente um amigo por perto. – Como você chegou aqui?

— Primeiro, vamos sair daqui, alguém vai vir daqui a pouco recolher o corpo. Vamos para a sala da nossa equipe.

Ele me guiou para perto do quarto em que sai, em cima da porta, tinha o número 78 também, confirmando que aquela seria a sala da nossa equipe.

Ao contrário da sala branca na qual estive com Scar, essa era toda pomposa e cheia de castiçais e quadros de artistas famosos, tudo digno de alguém da realeza. Sentei-me no sofá, e ele começou a explicar.

 - Há uns meses atrás, algo como uma invasão alienígena começou. Em meados de julho, praticamente todo o sudeste estava tomado, os noticiários recomendavam que os humanos ficassem em casa, porque, se saíssem nas ruas seriam capturados. Ao mesmo tempo, passava também a notícia de que jovens do mundo seriam escolhidos para poderem se tornar “Reis e Rainhas”, nesse meio tempo, você veio agindo de um modo esquisito, algo como se quisesse mandar em mim e todos ao seu redor, quando a gente fez uma conferência pelo Skype, vi que seus olhos não estavam mais os mesmos, que aquela não era você. Clara, você só falava sobre o quanto precisava atingir a perfeição, achei que você estivesse ficando louca!

Eu escutava essa história sem acreditar, o sudeste brasileiro havia sido tomado? E Vitor falava, gesticulava e dava ênfase em tudo o que falava, eu acreditava nele, aquilo estava realmente acontecendo.

— Quando eu percebi, o governo brasileiro estava falando sobre recrutar serviçais para ir pro espaço atender os futuros senhores do planeta. E, Scar apareceu na minha casa, ele me contou o que iria acontecer com você e pediu minha ajuda, pediu para que eu me tornasse membro de sua equipe. De primeira eu também não acreditava nessa história, mas tive que aceitar, ele prometeu segurança para minha família...

— Vitor... Eu te entendo, obrigada por estar aqui por mim...

— Depois disso eu vim parar aqui, passei algum tempo me preparando e aguardando o dia da sua chegada. Basicamente, essa é a história, agora preciso lhe mostrar seus concorrentes e o resto da equipe.

Ele foi à mesa e pegou um ficheiro com a informação de todos aqueles que estavam ali.

— Aquela garota que você viu é a quinta. – Ele apontou para a loira dos olhos claros na foto. – Ela é holandesa. Antes que você pergunte como conseguiu entender ela falando, tenho que te dizer que um dos passos no caminho da perfeição era aprender todas as línguas do mundo, você fez isso durante esses 8 meses...

— Caralho! – Não segurei o palavrão. – Quer dizer que eu sei todas as línguas do mundo?!

— Isso mesmo, eu estou usando lentes de contato que mostram a legenda do que as pessoas dizem, mas eu não entendo quase nada. Ainda estou estudando o grego, a garota grega está em primeiro. – Ele apontou para uma garota muito branca, dos cabelos negros e olhos verdes. – Ela está com a coroa já tem 3 semanas, mas seu estado mental está crítico demais, tentou o suicídio ontem mesmo, mas uma de suas ajudantes evitou sua morte...

— Mas porque quem chega perto do topo fica tão doido?

— Basicamente o estresse de ser perfeito, a perfeição é impossível, por isso todos ficam assim...

— Eu vou ficar assim? – Perguntei.

— Infelizmente...

Fez se silêncio por alguns segundos, até que ele continuou a falar.

— Existem algumas reuniões semanais para os aspirantes a “Reis e Rainhas”, é necessário manter o conhecimento sobre todos e manter um bom relacionamento. Geralmente ocorre brigas entre os reis, eles são mais violentos, quanto as rainhas, apenas da vigésima para cima.

— Nossa, depois disso tudo, algum conselho? Tipo, ‘cuidado com o que você bebe’ ou ‘veja se tem alguém está com uma faça por perto’?

— O que eu posso dizer, é que sua equipe está aqui para garantir seu bem. Como por exemplo Beth.

— Beth está aqui?! – Perguntei com emoção.

— Sim e não, sua mente está, mas seu corpo não é mais o mesmo. Digo, sua mente foi removida e colocada no corpo de uma sósia sua...

— O que? Vocês mataram Beth para colocá-la num corpo parecido com o meu? Explique isso!

— Calma... Não é bem assim, pelo o que você me disse, Beth é uma rebelde, também constatei isso com meus próprios olhos, mas eu soube que ela não aguentou a repressão de ficar em casa e saiu. Nessa saída dela, ela sofreu um acidente de carro, ocasionando a perca completa de seu corpo, então, como a construção da sua sósia já estava no processo, Scar decidiu colocar ela dentro dele.

— Caralho!

— Mais uma coisa, não xingue tanto, isso pode descer sua classificação. Acho que Scar já te contou o que acontece caso você fique no fundo por muito tempo...

— Sim, ele me disse. E as pessoas que morrem? Se a centésima morrer, quer dizer que ficam 99?

— Não exatamente, apenas tempo o suficiente para que outra garota chegue da Terra, vem naves todos os dias de lá. Essa base é quase um pequeno país, e fica perto do lado oculto da Lua, os aliens a temem, então não se aproximam tanto.

— Compreendo...

— Bem, pronta para ver o resto de sua equipe?

 - Como se eu tivesse muita opção, ou a morte ou a loucura me aguardam de qualquer jeito!

— Não seja tão pessimista, você ainda tem chances de gerar o “ser perfeito”, se é que isso existe, é claro.

A primeira pessoa que ele trouxe foi Beth, mentalmente era ela, mas o exterior era exatamente igual a mim. Mesmo rosto, mesmo corpo, mesmos cabelos negros, penteado e roupa. Tudo era igual!

— Clara! – Até a voz era igual! – Cheirinho!

— Como é bom ver você Beth, esse cheirinho prova que é você mesma...

— Bem, me sinto um pouquinho mais alta com esse corpo, e me desculpe, mas mais gorda também.

Eu ri.

— É bom rir novamente contigo, estava com medo de ter estragado a nossa amizade também...

— Na verdade você estragou, mas tanto faz, agora eu sei os motivos.

— E o resto do povo do Bios?

— Eu não sei muito, só sei que Anderson virou um cachorro. – Ela riu. Não contive o riso também.

— Como assim?

— É que ele estava comigo no acidente, a gente estava indo arranjar comida e roupa para os pobres desabrigados, quando o carro bateu na árvore. Velho, ele dirige muito mal! Dai, eu implorei para Scar pelo menos colocar ele em um cachorro para não deixar ele morrer, então ele virou nosso mascote.

— Que coisa! Agora até um mascote a gente tem!

— Obrigado Beth, vocês terão mais tempo de conversar depois. – Vitor falou. – Volte para os seus aposentos e descanse, na reunião de hoje a noite é você que vai no lugar dela.

— Entendido, bem, foi bom falar com você Clara, mas tenho que voltar a dormir...

Dei um abraço de despedida nela, e ela partiu.

— Quem vai ser agora, Victor? – Perguntei.

— Seu irmão. Ele também está aqui.

Sinceramente, meu coração não sabia se pulava de felicidade por saber que ele estava aqui, ou se desesperava por ele estar aqui.

— Por que ele não veio primeiro?!

— Você sabe como seu irmão é, ele estava enrolado no banho.

Quando ele terminou de falar, meu irmão chegou correndo na sala e pulou no meu colo.

— Vinho! Eu não te aguento! Você está muito pesado!

— Estou nada, é a mesma coisa de sempre, você que é gorda...

— Por que está aqui?

— Digamos que eu vim de penetra quando o Scar te trouxe. Não ia aguentar a saudade.

— Vitor, é impressão minha ou todo mundo da minha equipe está aqui mais por azar do destino?

— Não... Bem, temos que admitir que as pessoas das outras equipes são mais preparadas, mas pelo menos todo mundo aqui é amigo. – Ele explicou. – E de conhecido só temos esses mesmos, o outros 10 são voluntários do Brasil.

— E pensar que alguém se voluntariaria para isso. – Revirei os olhos.

— Digamos que a situação não está muito boa lá em baixo, muita gente se voluntariou na esperança de um pouco de paz, esses 10 foram sortudos por pararem na sua equipe. O resto virou serviçal, e está sujeito a receber todo tipo de punição que lhes for imposta, até mesmo a morte.

— Bem Álvaro, vá para o seu quarto, eu não quero que você veja esse tipo de brutalidade por ai.

— Não se preocupe irmã, tendo a sua pulseira, não podem mexer comigo. E mais, estou aqui para ajudar a desenvolver o seu intelecto, pelo visto, você vai ter que voltar a praticar xadrez.

— Ai Meu Deus! Eu não aguento mais xadrez, sério que isso é preciso?

— Sim, e outros jogos de raciocínio lógico. – Explicou Vitor.

— Vai doer muito?

— Sim, vamos estuprar seu cérebro, mas, estamos aqui para manter sua sanidade... Esse é o diferencial da nossa equipe.

— Obrigada...


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