— Idiota... – Natalie pensou alto enquanto fechava o armário da cozinha com certa violência. Ainda não havia se recuperado da petulância de Hunter. – Quem ele pensa que é? Quem ele pensa que EU sou?

— Não sei, mas acho que você é mais maluca do que Hans havia comentado. – ela viu Luke entrar na cozinha enquanto servia seu café. (GIF)

Natalie sorriu um pouco sem graça. Estava tão brava que nem havia ouvido qualquer barulho que indicava a presença de alguém ali.

— Ah, oi, Luke... – tentou não soar irritada, mas não conseguiu passar despercebida pelo moreno.

— Tá tudo bem? – Luke torceu o rosto e enrugou o nariz.

— Tá sim, só tô um pouco estressada... – Natalie massageou o próprio pescoço, fechando os olhos por alguns instantes para tentar relaxar. – Quer café? Acabei de fazer.

— Uhum. – Luke assentiu enquanto se sentava no banquinho da bancada. – Dia estressante?

— Tudo é estressante quando o Hunter está no meio... – ela respondeu sem perceber enquanto servia uma xícara de café para o rapaz. Quando percebeu o que havia falado já era tarde demais.

— Wow... – Luke soltou uma pequena risada, um pouco surpreso.

— Foi mal... Não tem nada a ver eu ficar aqui falando mal do teu amigo pra você. É que ele realmente me tira dos eixos.

— Relaxa... eu sei como o Hunter é. – Natalie entregou a xícara à Luke. (GIF)

— Tudo o que eu queria era um croissant com cream cheese e a Anna pra me dar uns bons conselhos e... – Natalie falou mais para si mesma do que para Luke, mas quando deu por si já havia mencionado o nome de Anna. Sentiu-se uma idiota. – Ai... me desculpa, Luke! Eu... foi totalmente involuntário, acabei pensando alto, me perdoa. – ela se sentou de frente para ele e apertou-lhe a mão levemente.

O rapaz ficou mais sério e focou seus olhos castanhos no café que Natalie havia acabado de lhe oferecer. Respirou fundo e deu um gole.

— Eu sei, Nats, não precisa se desculpar. Eu só ainda não tô legal pra ouvir o nome dela.

— Luke... fuck. – Natalie respirou fundo. Não se sentia no direito de se intrometer na vida dele, mas precisava dizer alguma coisa. – Eu sei que não é da minha conta... mas te ver cabisbaixo pelos cantos é realmente de cortar o coração. A Anna... ela... ela não é a pessoa mais fácil do mundo... mas você sabe que ela é incrível... – parou por alguns segundos para beber seu café e verificar a expressão de Luke, que a olhava com certo sofrimento. – Eu sou a última pessoa pra falar dela no momento, porque eu estou morrendo de raiva dela... mas eu sinceramente acho que vocês deveriam conversar quando voltarmos.

— Nós já conversamos naquela mesma noite, Nats... e sinceramente não há mais nada para ser dito.

— Mas aquela noite não conta... quer dizer... estava todo mundo com os ânimos alterados... – Natalie afastou os cabelos, meio incômoda. Todos os últimos desentendimentos haviam sido por falta de comunicação e mal-entendidos que só o mundo das celebridades era capaz de criar. Tanto Anna quanto Hunter agiram baseados em fotos que viram por aí e sequer ouviram o outro lado da história. Já estava cansada de coisas mal interpretadas. – Sei lá, Luke. Acho que deveria dar uma chance pra ela se explicar. Todo mundo merece o benefício da dúvida.

Luke ficou em silêncio por alguns segundos como se precisasse daquele tempo para absorver o conselho de Natalie. Anna merecia a chance que ela mesma estava tentando conseguir com Hunter.

Por fim, o moreno assentiu e deu uma risada fraca.

— Acho que estamos todos no mesmo barco naufragado, né.

— Estou fazendo o máximo para me salvar, mas tá difícil. – ela o acompanhou na risada. – Tentei falar com o Hunter, mas ele consegue ser um idiota real quando quer. Na verdade ele nem precisa fazer tanto esforço.

Luke não conseguiu evitar a risada que se formou em sua garganta. Precisava concordar com a garota de sardas.

— O Hunter é meio cabeça-dura... mas não desista dele.

— Não desisto se você não desistir. – Natalie o olhou profundamente. Não estava falando de Hunter.

Luke apenas levantou as sobrancelhas em resposta, bebericando o café.

**

Natalie passou o resto do dia e da noite enfurnada em seu quarto trabalhando na primeira postagem do blog da Elite Four. Editou quase todas as imagens antes de enviá-las à Judith para que ela pudesse escolher quais eram ideais para o site e quais deveriam ser enviadas à divulgação e imprensa. Foram quase umas 40 fotos para a assessora em um único e-mail. Queria mostrar trabalho.

A primeira postagem foi à respeito do vôo até New Orleans, a estação de rádio e o almoço no Ruth's Chris Steak House. Escolheu um compilado de fotos dos garotos no aeroporto, na rádio e no restaurante. Ficou extasiada com o e-mail de Judith elogiando as fotos e a postagem no blog - que logo começou a lotar de comentários. Se surpreendeu com a quantidade de garotas lhe pedindo seu Instagram e viu o seu número de seguidores crescer no aplicativo. Havia virado uma “subcelebridade” da noite para o dia por simplesmente fazer parte da equipe da Elite Four. “Esse povo é maluco”, ela constatou.

A garota deu uma olhada no cronograma do dia seguinte e suspirou pesadamente: photoshoot à tarde e show à noite.

Acabou nem descendo para o jantar. Hans lhe mandou mensagem avisando que os garotos haviam pedido pizza, mas ela logo dispensou. Não estava com a menor vontade de encarar Hunter. Decidiu fazer uma maratona para assistir aos capítulos atrasados de sua série favorita até cair no sono.

No dia seguinte, Natalie recebeu o endereço do estúdio onde seria o photoshoot via mensagem. Judith já estava com os garotos lá quando ela chegou no início da tarde.

— Olá, Natalie, querida. – Natalie soltou uma risadinha. Pensou em contar quantas vezes Judith já a havia chamado de “querida” desde que se conheceram no dia anterior. – Foi fácil de encontrar aqui?

— Nada que a Uber não soubesse. – Natalie beijou a bochecha da assessora que ria da resposta dela.

Judith guiou Natalie até o camarim que os meninos estavam utilizando.

— Sei que não conversamos nada sobre a possibilidade de um photoshoot quando você foi contratada... – a mulher se sentou em uma poltrona e começou a falar enquanto Natalie cumprimentava os garotos. – Mas é que ontem você acabou se tornando um assunto bem comentado na nossa reunião.

— Como assim? – Natalie descansou a mala com os equipamentos da câmera sobre a mesa próxima dos pufes que Hans e Luke estavam sentados. Olhou para Judith com uma expressão curiosa e um tanto tensa.

— Gostamos tanto do seu trabalho que queremos aproveitá-lo ao máximo. E eu pensei que talvez, se esse photoshoot ficasse além das expectativas - o que eu não acho difícil depois de ter recebido suas fotos ontem à noite -, nós poderíamos utilizá-lo para o novo álbum que começará a ser produzido daqui a duas semanas. O Steve não sabe disso, claro. Os garotos já estão trabalhando em algumas letras e...

Natalie simplesmente não conseguiu mais prestar atenção em qualquer outra informação após a parte em que Judith falou que ela poderia ser responsável pela identidade visual do álbum da Elite Four. Respirou fundo algumas vezes e continuou a encarar Judith, totalmente estática. Quando é que a vida dela havia dado um salto tão grande daqueles? Ela, uma estudante de jornalismo, com um trabalho daquela magnitude?

— Espera... – Natalie finalmente se pronunciou sem nem perceber que havia interrompido Judith. Sequer sabia do que a mulher continuava a falar. – Você tá falando sério?

— Mais do que sério. – ela sorriu em resposta.

— Eu... eu não entendo. – Natalie viu os garotos começarem a prestar atenção na conversa com Judith. – Por que estão fazendo isso?

— Desculpe? – Judith a olhou um pouco confusa.

— Me dando tudo isso...! Quero dizer... estou amando essa experiência, trabalhar com vocês tem sido realmente incrível, não estou reclamando. Mas eu sou só uma estudante. Como tem certeza que tenho capacidade pra te entregar um trabalho tão impecável a ponto de se tornar o carro-chefe do novo álbum de uma banda mundialmente famosa? Eu, com certeza absoluta, não tenho nem a metade da experiência do fotógrafo de vocês...

Judith levantou a mão na altura do rosto, fazendo um gesto para que Natalie parasse de falar. A garota o fez prontamente.

— Nós não estamos “te dando” nada, Natalie. – a loira começou. - Nós, Steve e eu, trabalhamos há anos com os mais variados tipos de profissionais. Lidamos com todo o tipo de área, e hoje nosso foco é a Elite Four, uma banda jovem para os jovens. Esses garotos são a prova viva de que a nova geração está vindo com tudo pra nos ensinar. Nós vivemos da atualidade, precisamos estar sempre de olhos abertos para oportunidades e novos talentos. E se o Steve escolheu você, querida... pode ter certeza de que você não está aqui por acaso, porque o Hans gostou das suas fotos ou porque você tem um rostinho bonito. Nós acreditamos no seu trabalho e queremos te dar a oportunidade de crescer. Mas o potencial você já tem. – Judith cruzou as pernas e apoiou o seu braço sobre o encosto da cadeira na qual estava sentada, sorrindo. – Agora vamos parar de papo furado e trabalhar? Temos um photoshoot arrasador pra fazer. – Natalie sorriu timidamente e concordou, já pegando a sua mala de volta para sair do camarim e começar a preparar o equipamento e a iluminação do estúdio. (GIF)

Judith girou a cadeira na direção dos rapazes.

— Okay, crianças. Hora de começar a se trocar. A maquiadora já chegou!

**

Paris – The Chainsmokers

Judith saiu para um café, pois achou que os meninos se sentiriam mais à vontade ficando apenas com Natalie. E ela acertou em cheio.

Natalie decidiu realizar a sessão de fotos individualmente. Se tudo desse certo, havia pensado em utilizar o rooftop do prédio para as fotos em grupo.

O primeiro a sair do camarim foi Luke. Para variar, ele ficou pronto muito antes dos outros integrantes. Mais responsável do que Luke, só Luke mesmo.

— Olá, fotógrafa. – ele brincou. Tentou descontrair o clima, pois percebeu que Natalie nunca havia feito algo do tipo, ao contrário dele.

— Olá, modelete. – Natalie respirou fundo, regulando a configuração da câmera e se concentrando ao mesmo tempo. – Bora começar?

O moreno assentiu iniciando suas mais variadas poses enquanto Natalie o clicava. Ouviram os meninos adentrarem o estúdio enquanto os dois trabalhavam.

— Ok, vamos fazer o seguinte... – Natalie checou algumas fotos na câmera, parecendo um pouco insatisfeita. -  Não quero pose manjada, não quero caras e bocas. – os meninos todos se entreolharam. - Quero... o Luke. O Luke e nada mais que ele. Quero fazer algo diferente se esse photoshoot for mesmo escolhido para fazer parte do álbum. – dessa vez ela olhou para o resto da banda, que estava próxima dela. – A Anna me disse que naquele ensaio da banda ela escutou vocês dizerem que queriam fazer algo totalmente diferente de tudo o que haviam feito antes, que queriam mostrar a verdadeira identidade de vocês. Então é essa a minha proposta para essa sessão. Quero vocês limpos, sendo quem vocês sempre foram.

Todos eles sorriram diante do discurso dela. Era exatamente o que queriam, e Natalie parecia ser capaz de realizar aquilo.

Começou a fazer novos cliques de Luke, que parecia ter assumido sua própria identidade, e as fotos ficaram completamente diferentes.

— Tão sério...! – a castanha brincou, fazendo Luke rir estrategicamente para um novo o clique. Tratou de favoritar as que mais estava gostando dentre os muitos cliques para poder mostrar à Judith mais tarde.

Natalie tirou fotos individuais e em grupo, dentro do estúdio e no rooftop. Julgou ter realizado um trabalho mais do que satisfatório, não só profissionalmente, mas pessoalmente falando. O que ela mais gostava era de trazer a essência das pessoas de volta à vida, fosse através da sua escrita, fosse através da sua câmera. Gostava do que era real, verdadeiro. E havia descoberto em tão pouco tempo o quão dessa verdade existia dentro daqueles garotos. Ela queria que o mundo conhecesse a Elite Four que ela conhecia, sem defesas. Defenceless.