Defenceless escrita por Lia Sky


Capítulo 1
Capítulo Um




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/696872/chapter/1

— Sério, Nats, você tem dois minutos!

Natalie ouviu a voz séria de Anna do outro lado da porta. “Droga”, ela pensou. Já era a terceira vez que se atrasava para a aula naquela semana. A verdade é que ainda não havia se acostumado com o novo apartamento. Não havia nem uma semana que ela e Anna haviam se mudado para o novo endereço na Greenwich Village, situada no lado oeste de Lower Manhattan.

— Saio em um minuto! – ela gritou enquanto terminava de calçar a bota e dava pulinhos para alcançar a porta.

— Você disse isso faz dez minutos! Sinceramente, o que está acontecendo com v...— quando abriu a porta do quarto, encontrou Anna gesticulando. A amiga franziu a testa e a puxou pelo pulso na direção da porta de entrada do apartamento. – Vamos logo antes que eu te largue aqui.

Natalie só teve tempo de puxar a mochila que estava jogada no sofá para irem para a aula.

Felizmente, a maior vantagem de se mudar para Greenwich Village foi o fato de que agora moravam perto da NYU (New York University), onde ambas cursavam o segundo ano da faculdade. Diferente das outras universidades, a NYU não possuía um campus fechado com dormitórios, pois esta se localizava no centro da cidade. Os prédios eram espalhados pelo bairro, bem como os apartamentos disponibilizados aos estudantes.

A castanha agradeceu internamente àquele pequeno fato enquanto ela e a amiga apressavam os passos pelas calçadas já tão movimentadas.

Quando alcançaram a altura do arco do Washington Square Park, se separaram para que cada uma fosse para a sua aula, já que Natalie cursava jornalismo e Anna, turismo. Mas isso não as impedia de manter contato. Passavam o dia trocando mensagens e fofocas sobre os amigos em comum.

Aquela sexta-feira havia sido bem esperada, já que as provas de outono finalmente haviam acabado e os alunos estavam em ritmo de festa – com exceção de Natalie, que trazia uma carranca no rosto ao encontrar Anna na escadaria do prédio onde tivera sua última aula.

— Amiga, é sexta-feira, anime-se! – Anna enganchou seu braço no de Natalie, encorajando-a andar.

— Como estar animada quando eu vou ter que trabalhar? – ela deixou os ombros caírem e soltou o ar, frustrada com a própria conclusão.

— Hmm, é mesmo! Você vai pra casa dos DiLaurentis’ hoje, né? – continuavam a atravessar o corredor lotado de universitários. – Mas você pode encontrar a gente mais tarde. A galera toda vai estar no 1OAK!

— Acho que vai ser meio impossível... – Anna a olhou confusa, franzindo o cenho. – Não te contei da última? Lembra que a filha dessa família é uma pré-adolescente de 14 anos aficcionada pela Elite Four? – a amiga assentiu em resposta, prestando atenção. – Pois é... adivinha quem vai ter que acompanhar a querida em um concerto hoje à noite no Madison Square Garden? – Natalie apontou para si mesma com os dois dedos indicadores enquanto torcia a boca.

Anna soltou uma gargalhada. As duas adentraram o refeitório e foram direto para o balcão se servir.

— AH, qual é, amiga?! Como se você não gostasse de Elite Four...

— Eu gosto, oras... Mas gosto como você. Gosto de uma música outra. Não é como se eu fosse gastar meu tão suado dinheirinho para ir a um show deles, por exemplo. Ainda se fosse um show do Ellijah Scott... – ela riu para si mesma e pegou uma garrafinha de suco de laranja.

— E você por algum acaso vai ter que gastar a sua grana? – Anna perguntou já desconfiada da reclamação de Natalie.

— Hm, não! Você sabe que os DiLaurentis tem uma grana preta, né... então eles arranjaram VIPs na primeira fileira e...

— Natalie, vai à merda. – as duas riram enquanto se direcionavam a uma mesa vazia com suas respectivas bandejas. – você vai a um show na área VIP e tá reclamando, gata? Além disso, o único defeito da menina que você cuida é que ela é realmente retardada por Elite Four! Mas de resto... ela é uma fofa, e a família vai te pagar uma bolada, considerando que é uma sexta-feira. Você nunca conseguiria pagar um show VIP e ainda manter a sua grana – super alta, diga-se de passagem –, se ainda fosse au pair.

E o pior é que Anna tinha razão. Ambas foram au pairs nos dois últimos anos, e apesar de não possuírem nenhum gasto com contas por morarem com host families, não era como se elas pudessem fazer muita coisa com o salário que recebiam.

Após o término do programa de intercâmbio, ambas aplicaram por uma bolsa de estudos na NYU para não terem que voltar para o Brasil e decidiram dividir um apartamento disponibilizado pela instituição. Trabalhavam periodicamente na semana como babysitters para pagar os gastos com comida e as próprias mordomias, e a família DiLaurentis havia caído como uma luva. Haviam gostado do trabalho de Natalie desde o começo, e pelo menos uma vez por semana contratavam os serviços dela, o que lhe rendia um bom dinheiro.

— O problema não é nem ir... mas você já foi a um show onde há adolescentes histéricas? Pois bem, eu já. – Anna segurou o riso. – E posso te garantir que não tem graça nenhuma assistir a um show com um cotovelo enfiado na sua costela e um coro de escandalosas no seu ouvido.

— Considerando que você vai estar na área VIP, acho que não vai ser tão monstruoso assim... – Anna deu uma garfada no seu purê de batata. Demorou alguns segundos até que ela engolisse a comida e continuasse a falar. – Além do mais, você podia falar com o, abre aspas, GATO, fecha aspas, do seu amigo Aaron.

Natalie riu e rolou os olhos enquanto colocava um pouco de ketchup nas batatas fritas.

— Nem começa, Anna!

— Que é? Ele tá no terceiro ano de jornalismo e já estagia em uma emissora de televisão. Tem trezentos contatos e sempre te conseguiu um monte de coisa de graça. Não seria a primeira vez. Além do mais, o cara só falta lamber o chão que você pisa desde que entramos na faculdade. Não sei porque você ainda não pegou esse deus grego. – Anna falava como se o visse mentalmente em sua frente. Estreitou os olhos de uma maneira sonhadora. – AAAAI, se ele me desse moral que nem ele dá pra você, AI!

Natalie deu um empurrão de leve no ombro da amiga e gargalhou. Ela tinha razão. Aaron Nesbitt era um cara atraente. Alto, olhos verdes... Os cabelos sempre propositalmente bagunçados, apontando para todos os lados. Tinha um jeitinho tímido que arrebatava o coração das garotas facilmente e um sorriso encantador. O único problema, na opinião da castanha, é que eles haviam se tornado muito amigos, e Natalie não queria estragar a amizade. Contentava-se em festejar com os muitos caras que conhecia em suas aventuras com Anna nas baladas de Nova York.

— Cala a boca, vai! – ela finalmente riu do comentário de Anna. - Isso não tem nada a ver com o Aaron. Já abusei muito dele, não acha?

— Você nunca abusa de mim, N. – Natalie sentiu sua pele se eriçar ao ouvir a voz do rapaz às suas costas. Desejou que um buraco no chão abrisse e a engolisse, tamanha era a sua vergonha. Lançou um olhar mortífero à amiga por não tê-la avisado que o rapaz estava chegando, e jurou que pôde ver um sorriso escondido nos lábios dela.

Respirou fundo e girou seu tronco para trás ainda sentada na cadeira do refeitório. Seus olhos cor de mel logo deram de cara com os olhos verdes de Aaron.

— Oi, Aaron. – ela respondeu com um sorriso amarelo.

Aaron deu um sorriso tímido e apoiou o seu corpo na cadeira vazia ao lado de Natalie, inclinando-se.

— Tá precisando de ajuda com alguma coisa?

— Não, eu só...

— Na verdade ela tá, Aaron. – Anna a interrompeu, e Natalie se imaginou pulando no pescoço dela. Aaron sorriu e olhou para a garota do outro lado da mesa. Anna apoiou os dois cotovelos sobre a mesa para descansar o queixo nas próprias mãos. – Ela vai ter que levar uma menininha no show da Elite Four no Madison Square Garden hoje à noite... – os lábios do rapaz refizeram o desenho do sorriso tímido e ele encarou Natalie enquanto continuava a ouvir o relato de Anna.

— Ela vai ficar na área VIP, massss... Você consegue imaginar a histeria e...

— Quer um lugar na área da imprensa? – ele foi direto ao assunto, enquanto Natalie só conseguia sentir vontade de sumir por estar passando por aquela situação.

— Não, claro que não! Eu ficarei bem na área VIP, sério. – ela respondeu da forma mais convincente que pôde. Não achava justo ficar se aproveitando do amigo para se beneficiar de algo.

— Qual é, não é grande coisa. Você é estudante de jornalismo, então não é como se você estivesse me pedindo um favor. Você tem direito a isso.

— É, mas você sabe que existe uma série de pré-requisitos para solicitar uma credencial... e ainda mais no show da Elite Four. Deve ter uma fila enorme de jornalistas tentando, além do quê, existe uma data limite de pelo menos uma semana de antecedência e...

— Você sabe que eu consigo isso facilmente, não sabe? – Aaron a cortou. Anna conteve o sorriso assistindo à cena.

— Eu sei, mas... não precisa, de verdade. Eu agradeço e tudo mais, mas...

— Podemos nos encontrar na frente do Madison Square Garden às 8h pra te entregar a credencial e a permissão da menina? – ele perguntou já se alongando e se desencostando da cadeira, se preparando para sair.

Natalie abriu a boca, fazendo menção de contra argumentar, mas Anna tomou a frente novamente.

— Às 8h parece ótimo, Aaron. A Nats agradece.

Aaron abafou o riso e deu um aceno de cabeça antes de se retirar.

A mandíbula de Natalie parecia ter se desprendido do resto da sua cabeça e a sua boca formava um “o” inconsolável.

— Que porra foi essa? – era impossível não notar a sua frustração. – Quando é que vocês dois começaram a compactuar e decidir as coisas por mim?

Anna se levantou, puxando a bandeja de Natalie para juntar com a sua. Natalie também se levantou, seguindo-a.

— Amiga, para de transformar isso tudo numa grande coisa, você mesma ouviu o Aaron dizendo que é super tranquilo, não vai tomar nada do tempo dele. Você devia era me agradecer. – Anna lhe lançou um olhar sugestivo enquanto colocava as bandejas sobre a lixeira.

— É, mas toma muito da minha vergonha na cara! Fica parecendo que tiro proveito do meu amigo.

— Simples: pare de tratar o cara como amigo e pronto! Todo mundo sai feliz na história! – Anna fez uma expressão divertida, deixando a amiga bestificada para trás.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Defenceless" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.