O presente de Peeta para Prim escrita por IsabelaThorntonDarcyMellark
Por Peeta
Aproveitando que minha mãe não estava por perto, eu e meus irmãos iniciamos uma conversa inusitada com nosso pai após a reunião:
— Pai, conta aí como foi a sua história com a mamãe. Vocês são tão diferentes – pede Michael.
— Bom… – Ele parece pesar as palavras antes de falar. — Mesmo eu sendo um romântico incorrigível, devo confessar que foi a mãe de vocês que me pediu em casamento.
Todos nós rimos ao ouvir essa revelação.
— Isso é bem a cara dela – afirmo.
— Mas, e antes disso, pai? – pergunta Brad.
— Antes do pedido de casamento… Na verdade, eu amava secretamente outra menina, mas ela se apaixonou por outro rapaz – revela ele e olha pra mim.
Essa parte da história eu já conheço desde o meu primeiro dia de aula, quando eu tinha cinco anos e ele me contou sobre sua vontade de se casar com a mãe de Katniss.
— Eu queria muito uma esposa e formar logo uma família. Meu pai estava relutante em me deixar assumir a padaria antes que eu encontrasse alguém que me desse um suporte por aqui – prossegue ele. — Mas meu amor pela moça com quem eu queria me unir não era correspondido. A mãe de vocês me fez ver a possibilidade de começar uma vida a dois, mesmo depois da minha desilusão amorosa.
— Ela não perdeu tempo – comenta Brad.
Meu pai confirma com um movimento de cabeça e continua:
— Eu não tinha mais motivos para esperar. Além disso, sua mãe cresceu com seus avós e seu tio na mercearia. Então, o seu conhecimento de comércio ajudou muito nos negócios aqui na padaria.
— Mas isso não é um negócio, pai, é um casamento! – argumento.
— Você tem razão, filho. Mas não pensem que eu só me casei com a mãe de vocês por… digamos assim… praticidade. Existe admiração e respeito entre nós. Tanto que estamos casados há 19 anos e tivemos três filhos juntos. Eu convivo com a mãe de vocês desde criança e sempre conheci sua honestidade e força.
— Ela realmente é honesta e forte. Até demais pro nosso gosto, que sentimos o peso de sua mão tantas vezes – ironiza Brad.
— Eu sinto muito pelo modo violento como ela trata vocês três. Infelizmente, sua mãe reproduz aquilo que ela mesma viveu e talvez, por isso, ache que é o modo correto de criar seus filhos – diz meu pai com sinceridade. — Antes de vocês nascerem, eu não podia imaginar que ela havia sofrido abusos em sua infância. De qualquer maneira, sempre converso com ela a respeito de como discordo completamente de qualquer agressão contra vocês. Sempre tento acalmar os ânimos de sua mãe nos momentos mais tensos.
— Então, você não está fazendo um bom trabalho, pai – murmuro e dou uma risada fraca, pontuando a brincadeira implícita no meu comentário.
— Não diga isso, filho. Lembre-se que o modo como ela trata vocês poderia ser muito pior, se eu não fizesse nada a respeito e não tentasse convencê-la do contrário.
Após essa frase, eu e meus irmãos engolimos em seco. É difícil pensar que nosso relacionamento com nossa mãe poderia ser pior, assim como é duro saber que ela própria sofreu maus tratos e, provavelmente, não tinha ninguém para defendê-la, como meu pai faz conosco.
— E a menina de quem você gostava, pai? O que aconteceu com ela? – questiona Michael.
— Durante muito tempo, não tive coragem de dizer a ela o que eu sentia e, quando finalmente consegui abrir meu coração, já era tarde demais. Ela já havia caído de amores por um garoto da Costura, que, desde que a conheceu, cantava aos quatro ventos que a amava mais que tudo.
Pelo visto, é a sina de pai e filho: apaixonar-se pelas mulheres daquela família, sem conseguir se declarar para elas.
Sinto em meus ombros o peso dessas confissões de meu pai, pois, apesar de ele aparentemente não carregar nenhuma mágoa, suas palavras transparecem certa infelicidade.
Essa conversa que tivemos agora é mais uma prova de que eu preciso tomar coragem de me dirigir a Katniss.
Quero um dia ter a alegria de me unir a alguém por amor e desejo, e não apenas com base em admiração e respeito, como aconteceu com ele.
Não quero me contentar com tão pouco, sem ao menos aproximar-me da menina que amo e tentar conquistá-la.
Então, decido não permitir que a história se repita por pura covardia minha.
Levanto-me para ir para casa almoçar e, depois, preparar tudo para fazer as entregas e ir à Campina, determinado a, quando encontrar com Katniss, deixar de ser um completo estranho e dizer nem que seja um: “Oi! Tudo bem?”.
Após a refeição, embalo os bolos e as outras iguarias, guardando tudo no triciclo de carga para levar à casa do Prefeito.
Saio pelas ruas do Distrito e vejo que a cidade já está transformada para a Colheita.
As estruturas das equipes de televisão foram montadas na praça e arredores.
Por todo o canto, há Pacificadores, que são a força policial responsável por assegurar que as leis da Capital sejam obedecidas.
Aceno para alguns conhecidos pelo caminho e observo que eles também estão mais atarefados do que de costume.
Meu amigo Deacon grita quando eu passo em frente à loja de roupas que pertence a seus pais:
— Ei, Peeta? Tudo certo para o encontro com o pessoal da escola no domingo?
— Pretendo ir, mas estou atolado de trabalho! – respondo em voz alta, sem parar de pedalar.
Chegando à casa do Prefeito, é Madge, sua filha, que atende a porta.
— Oi, Peeta, que bom ver você! Por favor, traga alguma sanidade para esses dias de loucura aqui em casa, com essas figuras da Capital – implora, mais falante do que o usual.
Ela deve estar mesmo precisando de contato com alguém que ela considere "normal", pois geralmente é bastante calada.
— Não sei se eu trouxe sanidade, Madge – brinco. — Mas trouxe as encomendas da padaria.
— Quer ajuda pra descarregar? – oferece ela.
— Se você quiser ajudar, eu agradeço.
Começamos, então, a retirar as embalagens da carroceria do triciclo e levar para a cozinha da casa dela. Enquanto fazemos isso, ela me conta sobre os hóspedes de seu pai:
— Imagine um bando de gente esquisita, com aquele sotaque da Capital, querendo cortar seu cabelo, pintar de azul, colocar cílios postiços gigantes…
— Deve ser, no mínimo, irritante – afirmo.
Ainda bem que Madge não se deixou influenciar por essas ideias, pois seus traços delicados e seus cabelos bem cuidados são muito bonitos.
— Quero que chegue logo segunda-feira, para eu me refugiar na escola. Ou quarta-feira, que é quando eles vão embora! – Ela pára e pensa no que acabou de dizer. — O problema é que quarta é o dia da Colheita, e ninguém quer que chegue esse dia…
Concordo com a cabeça e falo:
— É inevitável, Madge… Feliz Jogos Vorazes! E que a sorte esteja sempre a seu favor!
Madge suspira e pega uma vasilha numa prateleira.
— Você aceita morangos?
— Não, obrigado, acabei de almoçar.
— Meu pai os escondeu aqui, senão o pessoal da Capital devora todos. Eles estão frescos. Pegue ao menos um – persiste ela e continuo balançando a cabeça negativamente. — Foram comprados da Katniss, nossa colega de classe.
— Nesse caso… – interrompo o que ia falar para que eu possa reformular a frase e não deixar claro para Madge que o seu último argumento fez toda a diferença. — Já que você insiste, eu aceito.
Assim, digo adeus à Madge e me encaminho para a Campina, saboreando um delicioso morango, colhido pelas mãos da minha amada Katniss.
Atravesso a Costura rapidamente, percebendo os olhares curiosos dos moradores, pois nunca nenhum deles pôde arcar com alguma encomenda da padaria. Então, é mesmo de se estranhar minha presença aqui.
Quando já estou chegando à Campina, avisto uma criança sentada no chão, com as mãozinhas cobrindo o rosto. Desço do triciclo e me aproximo devagar.
Vejo que a criança é Primrose e que ela chora copiosamente.
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Olá!
Inicialmente, achei que a fanfic teria uns quatro capítulos, mas pelo visto vai ficar com o dobro! Parece que as personagens ganham vida própria enquanto escrevo...
Aguardo comentários e, se estiverem gostando, favoritos!
;)