Incondicional escrita por Erin Noble Dracula


Capítulo 14
Warzone




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P.O.V. Jace.

É hora do ataque. Não acredito que vou fazer isso. Que o anjo me perdoe.

Os shadowhunters invadiram, os vampiros não reagiram, porém... aquilo não poderia ter nos pego mais de surpresa.

—Afastem-se todos.

Lá estava. O anjo, com suas asas violetas cintilantes.

—Temos um anjo ao nosso lado.

Um dos membros do exercito inimigo olhou bem para a cara da minha vó e falou em tom de deboche:

—Que presunçosa.

Ele estava apoiado numa pilastra com um canivete suíço na mão. Ele brincava com aquilo totalmente despreocupado.

—Cam!

—Ela é presunçosa. Presumiu que o Daniel estava do lado dela, olha mas a senhora não poderia estar mais enganada. O Daniel só conhece um lado, o da Lucy. Onde a Lucy vai o Daniel vai. Se tentar alguma coisa contra ela... o Daniel vai te matar com as próprias mãos.

—E quem você pensa que é?

Ai o moleque ficou puto. Ele abriu as asas e avançou encima da minha vó. Um anjo.

—E quem Você pensa que você é?! Ein? Me fala! O que te torna tão fodidamente superior? Esqueceu que você abandonou a sua família? Deixou seu filho ser enterrado como desonrado? Ou o fato incontestável de ter abandonado o seu neto e largado ele á mercê de Valentim?

O anjo agarrou a minha vó pelo pescoço.

—Tá vendo? Começa a compreender a sua insignificância? A tão importante Juíza Herondale, sufocando. Como uma qualquer.

Ele a largou como se sentisse nojo.

—Cambriel!

—Ah, irmãozinho... sabe que eu tenho razão. Sabe que ela nunca mais vai ver o filho ou a nora.

—Você não sabe isso.

—Na verdade sei sim. Sua vovozinha querida está se afogando na culpa desde muito antes de você nascer. Se culpa pelo seu pai ter tomado o caminho que tomou, pela morte dele e da sua mãe, se culpava pela sua e agora se culpa por ter te largado. Quando morrer, vai direto lá pra baixo. Se torturar com essa verdade por toda a eternidade.

Ele tirou uma maçã do bolso e mordeu.

—Desculpe, que falta de educação da minha parte. Vai uma maçã?

—Você é o Diabo.

—Não. Só trabalho pra ele. Meu irmão mauricinho, do papai o queridinho. 

Então, falou com raiva.

—Ele sempre vai ser o primogênito, o favorito. Não importa quantas rebeliões ele comece ou quantas maçãs ele faça a Eva comer.

—Os anjos estão do lado dos submundanos?

—O Daniel tá como sempre do lado da Lucy e como a Lucy é uma híbrida agora. É. É isso ai mesmo.

—O meu filho... você disse que ele não foi para onde eu vou. Isso é verdade?

—É. Eu já estive lá, tem uma cela aconchegante pra você lá embaixo.

—Lilith matou Ithuriel.

—Sim, mas ele já voltou. E está na Cidade Prateada tomando chá com bolinhos.

—Voltou?

—Sim. Nós temos almas também, assim como vocês. A única diferença é a nossa Graça angelical. Somos forjados de um jeito diferente só isso.

—Meu filho está no Céu. Pelo Anjo, ele está no céu.

—Mas, o meu pai morreu servindo o Ciclo.

—E dai? Eu sou um anjo e sirvo ao meu irmão que por acaso é o Satã. Olha, deixa eu simplificar pra vocês. A diferença entre um herói e um vilão é só quem tá narrando a história. O tal Valentim pode ser o vilão das suas histórias, mas vocês com certeza são os vilões da dele. É uma questão de perspectiva.

Ele deu outra mordida na maçã.

—A menina deve ser entregue para julgamento.

—E quem é você para julgá-la? Por acaso é o meu pai e eu não to sabendo? Você é o Criador e esqueceram de me avisar? Sim? Não? Talvez?

—Eu...

—Perdeu a língua agora né? Você e todos os outros. Membros do Ciclo, da Clave, todos. São humanos. Nada além disso. Você tem sangue de anjo. E dai? Isso não te torna uma de nós. Se alguém te balear, você morre. Se alguém te cortar você sangra. Como qualquer outro da sua raça. 

O anjo abriu as asas e saiu voando. Ele pousou no telhado.

Os Shadowhunters começaram a se render.  A colocar as lâminas serafim no chão e ajoelhar.

—Acabou.

—Ai graças á Deus, Daniel.

A garota abraçou o anjo.

—Obrigado.

Então, a Clary... quer dizer, Jean apareceu.

—Quem diria que iria funcionar? Prima você é um gênio. Obrigado Daniel.

—Disponha.

Ela estava usando uma jaqueta de couro feminina, jeans de lavagem clara, o cabelo estava mais cumprido e meio desarrumado. E as runas tinham sumido.

—O que houve com as suas runas?

—Meu padrinho me ensinou a mostrar e esconder. Nunca fui muito fã de tatuagem então, quando não preciso delas, eu escondo. Gosto de ao menos parecer normal. Não uma tri-híbrida, shadowhunter com sangue submundano. Agora que já acabou a bagunça, vou sair pra tomar um iogurte. Tá afim?

—Está me convidando pra sair?

—Eu sou mimada e impaciente. E você fica nesse chove não molha. Decidi tomar uma atitude, portanto sim.

—Acho que eu nunca comi iogurte.

—Menino, você tá mais morto que o meu pai. E ele é um vampiro. Vamos. Mãe, pai vou sair.

—Vamos sair também. Tomar sorvete o que acha?

—Por mim tudo bem.

O anjo e a garota saíram. Cada um foi para um lado.

Fomos parar numa loja de iogurte congelado.

—As pessoas na rua podem te ver não é?

—Sim.

—E como funciona essa coisa de invisibilidade?

—É um encantamento, uma runa que me deixa invisível para os mundanos.

—Encantamento? Então é um bruxo.

Ela tomou uma colherada do iogurte de morango cheio de condimentos.

—Não.

—Mas, é um encantamento. Encantamentos são coisa de bruxo.

—De certa forma.

—E porque eu posso te ver quando a sua runa de invisibilidade tá ligada?

—Porque você tem sangue de anjo Clary.

—É Jean.

—Certo. Jean.

—Essa Clary é sua namorada?

—Ela era. Mas, ela morreu.

—Sinto muito.

—Isso é mesmo bom.

—E é mais saudável que sorvete.

Um grupo de garotas veio em nossa direção.

—E ai Virgem Maria? Decidiu finalmente dar pra alguém?

—Você acha que me ofende me chamando de Virgem Maria? E desde quando se eu transo ou não é da sua conta?

A garota ficou em silêncio por alguns minutos.

—Que cara iria querer dormir com você?

Jean respirou fundo e comeu mais uma colherada do seu iogurte.

—Sabe de uma coisa, Lana? Esse seu uniforme de líder de torcida é tão lindo, mas... não sei, tem alguma coisa faltando.

—É? O que?

—Isso!

Jean virou o pote inteiro de sorvete na roupa da menina e ainda meteu a mão espalhando aquilo.

—Pronto. Agora ninguém vai perceber que você é mais rodada que vitrine de loja.

A outra ficava gritando, as pessoas em volta rindo. E Jean tinha um sorriso diabólico no rosto.

—Eu vou lavar a minha mão.

Jean saiu do banheiro, foi direto para o caixa. Pagou a conta e voltou por mim.

—Já paguei. Vamos?

—Vamos.

—Tchau Lana. Boa sorte tentando tirar o iogurte da roupa. Odeio quando isso acontece comigo.

Nós saímos da loja e a Jean começou a rir, a gargalhar.

—Eu adorei fazer aquilo. Então, o que vocês shadowhunters fazem pra se divertir? Você se diverte, certo?

—Sim. Me divirto. Tem um bar que tá mais pra Pub. O Hunter's Moon, todo o submundo vai pra lá.

—Parece divertido. Você só tem essa roupa?

—Eu troco de roupa.

—Eu sei. Mas, ainda assim... parece estar sempre vestido igual, mas vai ver é coisa de moleque. Ai que ódio que eu tenho do sexo masculino.

—Porque?

—Porque nós, as garotas ficamos tipo umas duas horas em frente ao espelho, combinando a roupa com o sapato, os acessórios e a maquiagem para quando chega a hora do encontro o dito cujo do indivíduo aparece na nossa porta de Jeans e camiseta! Ai que ódio.

Eu ri.

—Não tem graça, eu falo sério. E tem uns caras que... pelo amor Deus eles não sentem frio nas pernas. Deve ser algum tipo de mutação ou sei lá o que. Estão de moletom, mas de bermuda e chinelo. Nem sendo telepata dá pra entender a mente masculina.

Eu ri. Então, peguei na mão dela. Suas mãos eram mais frias que as minhas, as unhas compridas, perfeitamente lixadas e esmaltadas de vermelho.

—Como consegue fazer qualquer coisa com essas unhas?

—A gente se acostuma. Se eu fico com a unha curta ou se ela quebra parece que me arrancaram um pedaço. A ponta do meu dedo dói.

—É a sua unha de verdade?

—Sim. Mas, teve um tempo em que usei unha de porcelana. Só que tinha que tirar direto para a minha unha respirar.

—E desde quando unha respira?

—Desde sempre. Todo nosso corpo é feito de células e as células respiram. Nunca teve aula de biologia não?

—Não frequentei a escola.

—Mas, sabe ler e escrever não é?

—Sei.

—Ainda bem. Não queria estar errada sobre você.

—Em que sentido?

—É sempre a mesma coisa. A rixa estúpida e eterna. Ou o cara tem músculos ou tem massa encefálica. Seria bom achar um que tenha os dois pra variar.

—Eu tenho cérebro... Cla... Jean.

—Porque continua me chamando de Clary?

Perguntou ela cruzando os braços.

—É complicado.

—Acho consigo lidar. Desembucha.

—Porque você é a Clary.

—Não. Eu não sou.

—Em parte, você é. É ela, é a alma dela. Por isso você sonha com a morte dela.

—O que?

—O seu pesadelo, do prédio. A luz azul, a explosão... foi como a Clary morreu. Como você morreu.

—Bom, mesmo que eu tenha sido essa tal de Clary... não sou mais. Porque ela morreu. Lamento informar. Sou a Jean agora. E quero alguém que me ame por quem eu sou e não como uma substituta bizarra para quem não sou.

—Então quer que eu te ame?

Perguntei rindo.

—Pare de rir da minha cara, imbecil!

—Pelo menos isso continua igual. Ela também era autêntica, corajosa, altruísta. Como você.


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